sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Poesia Árabe

ABÛ – L – WALÎD AL – BÂJÎ
De seu nome completo Sulaimân ibn Khalaf ibn Sa’ad ibn Ayyûb ibn Wârith at-Tughîbî Abû –l-Walîd al-Bâjî, nasceu em Beja, em 28 de Maio de 1013, e foi estudar para Córdova onde viveu, tendo visitado Meca e Bagdade, permanecendo no Oriente treze anos. Poeta e teólogo, trabalhou como relojoeiro e ourives para se poder sustentar. Morreu a 23 de Dezembro de 1081, legando-nos uma imensa obra, sobretudo como jurista.


ELEGIA PElA MORTE DE SEU FILHO MUHAMMAD

Filho: a tua perda é-me pesada
Apesar de ser enorme a resignação
Antes de ti perdemos o Profeta, e então?
Sua falta ainda é mais lamentada.
Pensei que me seguisses na jornada
Quem te seguirá afinal sou eu.
Não deixa a tua imagem o olhar meu
E molda-se o humor como ela quer:
A meu lado, se olho julgo te ver
E creio ouvir a tua voz quando escuto.
A dor não finda, se vagueio, um só minuto
E em cada tumba me detenho e paro
Se outrem chamo, teu nome vem-me à boca,
Diferente chamamento é muito raro.

Fontes: Alves, Adalberto – O meu coração é árabe

domingo, 25 de setembro de 2011

Lalibela, ou a Nova Jerusalém


Nas montanhas escuras de Wallo, no norte da Etiópia, ergue-se uma obra-prima de pedra viva. Onze igrejas monolíticas escavadas nas rochas de basalto vermelho dos montes de Amhara por volta do ano de 1200, construídas com a intenção de representarem a Terra Santa. Divididas em dois grupos, estão separadas por um canal simbolizando o Rio Jordão, mas unidas entre si por redes de trincheiras e túneis, decoradas internamente com deslumbrantes pinturas na parede.
Ainda hoje lugares de peregrinação e de culto assinalam o ponto culminante da arte aksumita.


O reino de Aksum ou Axum, situado na costa meridional do Mar Vermelho, foi cristianizado por volta do sec. IV, quando o rei Ezana se deixou baptizar por S. Frumêncio, seu perceptor e fundador da Igreja Copta da Etiópia.
Com a invasão muçulmana no sec. VII, o reino ficou isolado do mundo bizantino, mas manteve a sua ligação com Alexandria conservando-se fiel à sua religião.
Em 1187, com a conquista de Jerusalém por Saladino, as peregrinações dos etíopes tornam-se difíceis. Nos princípios do sec. XIII, governava em Aksum o rei Lalibela (1190-1225), da dinastia Zagwe, que, segundo uma lenda concebeu o plano de construir uma nova cidade santa depois de Cristo lhe ter aparecido em sonhos. Uma grande quantidade de anjos e querubins desceu dos céus para ajudarem na construção das onze igrejas monolíticas escavadas na rocha, por volta do ano de 1200. Por este motivo uma das igrejas está dedicada aos arcanjos Gabriel e Rafael. S. Jorge, patrono do reino, foi quem dirigiu os trabalhos de escavação para edificação dos templos, tendo-os dotado de um eficiente sistema de drenagem à sua volta. A sua igreja, Bet Giyorgis, escavada de cima para baixo, é a única em forma de cruz.


Esta cidade, então chamada Roha, passou a designar-se Lalibela em homenagem aos trabalhos realizados pelo rei. Embora haja mais destes templos espalhados pelo interior da província, não se podem comparar com os de Lalibela em ornamentação e acabamentos.
O padre português Francisco Álvares, o primeiro europeu a visitar a Abissínia e que por lá ficou entre 1520 e 1526, ao descrever mais tarde aqueles monumentos, disse que em mais nenhuma parte do Mundo existiam igrejas assim! A descrição continua válida…
Construídas no estilo bizantino com as naves e as três entradas rituais, calcula-se que tiveram de ser retiradas da rocha a escopro cerca de 100.000mts. cúbicos de pedra, estando quatro das capelas totalmente separadas da encosta.
Segundo a Kebra Negast ou Nagast (uma epopeia gloriosa escrita em ge’ez por volta do sec. XIV que conta a história dos soberanos etíopes), a dinastia reinante era também herdeira da tradição israelita, pois o imperador Menelik I, sendo filho de Salomão e da Rainha de Sabá, descendia pela linha paterna da Casa de David. Além de que, no retorno da única visita que fez ao reino de Israel para conhecer o seu pai, trouxera consigo a Arca da Aliança onde se encontravam guardadas as Tábuas da Lei dadas por Deus a Moisés. Estas relíquias da Cristandade foram encerradas na Igreja de Santa Maria de Sião, em Axum, onde, segundo a tradição ainda se mantêm.


chegada da Arca da Aliança (fresco)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dia Internacional da PAZ

Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!

Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990
)"

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Favila e o Urso

Desconhece-se quase tudo sobre Favila ou Fafila, o “Urso”, segundo rei das Astúrias e filho de Pelágio, o iniciador da Reconquista Cristã e de sua esposa Gaudiosa.
Ascendeu ao trono em 736 d. C., após a morte de seu pai, estando já casado com Froiluba ou Froiliuba, de quem teve filhos que não lhe sucederam no trono e uma filha chamada Favínia, que casou com o Duque Luitfred III de Suevena.
Era um amante da caça e reinou durante um período de paz com os árabes, que nessa altura guerreavam em França.
O seu nome foi herdado de seu avô paterno, o du que Favila, mas o seu cognome advém-lhe da luta que travou com um urso e da qual resultou a sua morte prematura em 739, reinando apenas dois anos e poucos meses.
Conta-se que o rei, durante uma caçada numa montanha, num lugar onde actualmente se encontra a aldeia de Lluelves, se defrontou com um urso a quem irritou ou feriu gravemente. A fera, furiosa, contra-atacou, mas as barbas do rei enredaram-se num ramo, e incapaz de fugir, foi dilacerado pelo animal. Sobre a rocha onde se desenrolou o drama, foi gravada uma Cruz da Vitória com a inscrição “Um urso matou aqui o rei Favila. Ano de 739”.
Foi sepultado na igreja de Santa Cruz de Cangas de Onis, que tinha mandado reedificar em 737.
No mosteiro de San Pedro de Villanueva (sec. XII), também se pode observar, talhado em pedra a história do último dia de vida do rei.
Da esquerda para a direita, pode ver-se Favila montado no seu cavalo, despedindo-se da sua rainha com um beijo e com um falcão numa das mãos, à direita, o beijo da despedida e a seguir a luta fatal com o urso.

Não se sabe se a lenda é verdadeira ou se foi inventada para encobrir um assassínio político, ou se não passou de uma das provas de virilidade frequentemente exigidas à nobreza principal.
Foi a partir desta lenda que nasceu o ditado espanhol”espabila, Flavila,
que viene el oso”, usado quando se quer incitar alguém a acabar uma acção.
O que nem Favila nem o urso poderiam imaginar é que passados séculos, um grupo, o Ateneo Republicano Asturiano (ARA), realizasse desde 2004 uma peregrinação ao local da morte de Favila, para homenagear “o urso regicida, o primeiro republicano espanhol”.

Fontes:www.wikipedia.org
www.cangasdeonis.com
www.elmundo.es
www.elcomercio.es

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Manhãs de Verão



Ah, como eu gosto
Sentar-me de manhãzinha
À mesa, na minha varanda
A tomar o meu café
E sentir a aragem branda
Que ao de leve toca o meu rosto!
Já o meu velho cão anda
De roda da minha cadeira
Para encontrar a maneira
De melhor se acomodar.
E o Sol, pé ante pé
Risonho vai começar
A sua longa viagem
Iluminando o azul do céu,
E ao ver-me ali sozinha
Envia-me um raio seu
Que me conforta e aquece!
Ao mesmo tempo não se esquece
Da Terra que estremunhada
Acorda do seu torpor…
Mantendo-a sempre abraçada
Desperta-a com quentes afagos
Num longo beijo matinal.

O Tempo pára encantado…
E eu sinto um deslumbramento
Que me faz sentir por dentro
Como aquele passarinho
Que numa árvore do quintal,
Canta em tom apaixonado
Desdobrando-se em trinados
Num hino à vida e ao amor…
N.G.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Boudicca, A Rainha Guerreira - II


Por mais corajosa que Boudicca fosse, e por muito numeroso que fosse o seu exército (segundo algumas fontes seriam entre 200 a 230.000 homens, mas admite-se que este número esteja sobrevalorizado a fim de glorificar ainda mais a vitória do governador), nem ela nem nenhum dos seus chefes teria a experiência militar necessária para defrontar em campo aberto um general experiente como Suetónio Paulino.
Depois de uma oração a Andraste, pedindo o auxílio da deusa para o seu povo e um último discurso aos seus homens conforme nos conta Dion Cássio:
Fui açoitada pelos Romanos quando nos tentaram tirar as nossas terras - mas agora estou a lutar pela minha liberdade. Pensem quantos de nós estão a combater e porquê. Teremos de vencer esta batalha ou morrer. Que os homens vivam como escravos se assim o quiserem. Eu, não…
Boudicca, confiada na sua superioridade numérica atacou!
A sua descrição, feita também por Díon Cássio, revela o terror que ela inspirava aos Romanos:
Tinha um tamanho gigantesco, um aspecto aterrorizador, uma voz rude. Uma grande massa de brilhantes cabelos vermelhos tombava-lhe até aos joelhos; usava um enorme colar de ouro entrelaçado e uma túnica com inúmeras cores, sobre a qual usava um espesso manto, preso por um alfinete de peito. Acariciava uma longa lança para inspirar medo a quem a olhava”.
De pé, em cima de um carro de guerra, liderou o seu exército na batalha final. Ao som das trombetas de guerra, cerca de 200.000 homens em carros de guerra ou a pé, armados de lanças e das suas espadas de ferro de fio duplo, provavelmente nus e com o corpo pintado com desenhos feitos de tinta vegetal azul que segundo a sua religião os protegia, usando ao pescoço os torques de que nunca se separavam, lançaram-se ao ataque com grande algazarra, colina acima, enfrentando os romanos com o seu tradicional desprezo pela morte.
Mas Andraste não atendeu o pedido de Boudicca e por uma ironia do destino, o seu exército sofreu uma derrota estrondosa onde cerca de 80.000 celtas pereceram, quase o mesmo número das suas vítimas!
Quando os Romanos depois de dispararem duas salvas de dardos certeiros carregaram com os gládios desembainhados, protegidos pelos seus escudos, as duas primeiras vagas de assalto dos Bretões foram dizimadas. A retirada era a única saída possível, mas os Icenos estavam tão convencidos da sua vitória, que tinham trazido as famílias consigo em autênticas caravanas estacionadas na sua retaguarda…
A batalha transformou-se numa autêntica confusão, em que os Romanos massacraram indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. Os sobreviventes foram escravizados e a Icénia passou a ser mais um protectorado romano.
Do lado dos Romanos houve apenas 400 baixas, mas esta foi uma das revoltas mais difíceis que tiveram de controlar, a tal ponto que Nero pensou em retirar as suas legiões da Britânia. Apesar de Suetónio Paulino advogar uma série de medidas drásticas para acabar com os rebeldes, o Imperador Nero não acatou as suas sugestões e mandou-o regressar a Roma assim como ao procurador e alguns dos seus conselheiros, substituindo-os por homens menos duros e mais justos.
Quanto a Boudicca não se sabe ao certo o seu destino. Cássio atribuiu-lhe a morte a causas naturais, mas Tácito, que também relatou este evento, diz que a rainha voltou para casa onde, juntamente com as filhas, se suicidou com veneno, evitando assim ter de figurar no desfile dos vencedores, e sofrer depois uma morte ignominiosa, o que está mais de acordo com o seu carácter.
A Bretanha manteve-se romana até meados do sec. V, quando as guarnições romanas foram chamadas para defenderem a própria Roma, deixando a ilha à mercê das invasões dos Anglos, dos Saxões e dos Jutos.
Os Icenos estão registados como "civitas" da Britânia Romana na Cartografia de Cláudio Ptolomeu que assinala Venta Icenorum como uma das suas cidades. Venta, que também se encontra mencionada na Cosmografia de Ravenna e no Itinerário Antonino, foi um assentamento que pode ser localizado perto de Casiter St.Edmunds, a cerca de 7,5 Km a sul da actual Norwich e a cerca de dois Km. de um assentamento da Idade do Bronze em Arminghall.
Na Idade Média, a rainha guerreira tinha sido completamente esquecida. O seu nome não aparece na Historia Brittonum de S.Beda, nem no Maginobion, nem na História dos Reis Britânicos, de Geoffrey of Monmouth. Mas a descoberta da obra de Tácito durante o Renascimento, fez com que historiadores britânicos em 1534 e 1577 a fizessem constar nos seus trabalhos.
Elizabeth I, a rainha que também comandou um exército foi-lhe comparada, mas, ironicamente, foi sobretudo na era vitoriana que a fama de Boudicca, cujo nome em celta significa “Vitória”, tomou proporções lendárias.
A Rainha Vitória, chefe do Império Britânico, foi considerada sua homónima, apesar de Boudicca se ter notabilizado pela sua acção anti-imperialista, e o seu monumento em bronze, executado por Thomas Thornycroft, e inaugurado em 1905 junto à Ponte de Westminster, em Londres, pelo Príncipe Alberto, marido da rainha, representando Boudicca no seu carro de guerra acompanhada das filhas, parece montar guarda, à cidade que ela um dia arrasou até aos alicerces …

Fontes: Vários autores – Os Celtas – Pergaminho Distribuidora, Lda
As Grandes Civilizações – Os Celtas, conquistadores da Europa – Selecções do Reader’s Digest
Grinberg, Carl – História Universal
en.wikipedia.org
www.bbc.co.uk
imagem:
Thistleandbroom.com


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Boudicca – A Rainha Guerreira – I


Também conhecida como Budicca ou Boadiceia, pouco se conhece da sua vida. Nascida provavelmente por volta do ano 30 d.C., casou aos 18 anos com o rei Prasutag, rei nominal dos Icenos a quem deu duas filhas, Isolda e Siora.
Os Icenos - uma tribo celta que habitou o leste da Bretanha (a Britania dos Romanos), entre os sec. I a.C a I d.C, onde hoje se situa aproximadamente o actual condado de Norfolk – depois da invasão do imperador Cláudio em 43 d.C., revoltaram-se contra o domínio romano cerca de 4 anos depois. O Imperador, depois de sufocada a rebelião, ofereceu o trono a Prasutag, um chefe local, em troca da sua fidelidade. A partir daí, os Icenos tornaram-se apoiantes leais dos Romanos, beneficiando dos direitos e privilégios que o Império concedia aos reis-clientes.
Quando Prasutag morreu, deixou em testamento uma parte do seu reino à mulher e às duas filhas e a outra ao Imperador Nero.
Dado que o poder era apenas nominal e não havia um herdeiro varão, o procurador romano Catus Decianus apressou-se a tomar conta deste “legado”, agravando o tributo que os Icenos tinham de pagar, tratando os nobres com escravos e anexando a maior parte do território. Por sua vez, os credores romanos apressaram-se a cobrar as suas dívidas e muitos perderam as suas casas ou foram reduzidos à escravidão.
…O reino e as propriedades foram arrestados como presas de guerra. Os principais chefes dos Icenos foram privados das suas terras ancestrais como se todo o país tivesse sido doado aos romanos. Os parentes do Rei foram tratados como escravos…Tácito, nos seus Annais.
Quando a rainha protestou contra este abuso, recusando-se a pagar o tributo, o procurador deu instruções para que ela fosse publicamente açoitada. Como punição adicional, as filhas foram violadas pelos soldados.
Cheia de fúria pela afronta sofrida, Boudicca, que além de corajosa devia ser dona de uma personalidade bastante forte, conduziu os Icenos, a uma rebelião armada contra o domínio romano. Não eram só os Icenos que se queixavam dos romanos, outras tribos também se ressentiam com os abusos da administração romana, como os Trinovantes,a quem tinham retirado a sua capital, e assim, os povos do Leste da ilha responderam ao apelo da rainha icénica, juntando-se-lhe.
Com um exército de muitos milhares de homens, os rebeldes puseram-se em marcha contra os três centros populacionais do Leste que mais colonos romanos e “colaboradores” bretões possuíam: a colónia de Camulodunum (a antiga capital dos Trinovantes e onde os romanos tinham erigido um templo ao Imperador Cláudio), a cidade de Veralumium e o porto de Londinium (actualmente Colchester, St. Albans e Londres).
Aí chegados, devastaram tudo o que encontraram pela frente com extrema crueldade, saqueando, incendiando e chacinando não só os homens, mas também as mulheres e as crianças, principalmente as que viviam com os romanos. Nos seus relatos, o historiador Díon Cássio diz que os rebeldes “penduraram nuas as mais nobres e distintas mulheres, cortaram-lhes os seios e coseram-lhos à boca, para que as vítimas parecessem devorá-los; em seguida empalaram-nas em estacas aguçadas – tudo isto acompanhado de sacrifícios, festejos e comportamentos dissolutos”.
A IX Legião Hespana, comandada pelo futuro governador Quintus Petillius Cerialis, tentou vir em auxílio das populações afectadas, mas foi completamente desbaratada, tendo apenas sobrevivido o comandante e alguns cavaleiros. Após esta derrota Catus Decianus fugiu para a Gália.
Embora a rainha celta tivesse escolhido a ocasião certa para se revoltar, aproveitando o facto do governador da Britânia, Caius Suetónius Paulinus, estar ocupado numa campanha muito mais a ocidente com o grosso das suas tropas (o momento da revolta coincidiu com o ataque romano ao santuário druida da ilha de Mona, hoje Anglesey), este, alertado para o que estava a acontecer, regressou a toda a pressa para acorrer a Londinium e esmagar a rebelião.
Mas ao chegar, vendo que a cidade não estava fortificada e que as suas tropas não eram suficientes, deu ordem para evacuar Londinium e retirou-se. Os que não quiseram ou não puderam fugir, foram totalmente massacrados e Londinium arrasada. A totalidade dos mortos nas três localidades rondou os 70.000, pois os Celtas não faziam prisioneiros.
Corria o ano de 61 a.C…
A rainha esperava encontrar alimentos para as suas tropas nos armazéns de víveres romanos que encontrasse pelo caminho, mas Suetónio Paulino depois de os mandar queimar a todos para que o inimigo não se pudesse abastecer, e depois de reforçar as suas tropas com mais duas legiões vindas de Gales, o que lhe daria cerca de 10.000 efectivos, dispôs os seus homens em Watling Street, numa estreita garganta, com a retaguarda protegida por denso arvoredo e campo aberto à sua frente. Aí, em filas ordenadas, os Romanos aguardaram os Bretões…

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Pequeno Herói de Haarlem


A Holanda, ou mais propriamente, Os Países Baixos, são um pequeno país europeu banhado pelo Mar do Norte, geograficamente de baixa altitude e em que uma boa parte do seu território se situa abaixo do nível do mar. Para se defenderem das constantes inundações provocadas pelo mar e pelos rios, os holandeses construíram diques, para susterem as águas, e ao mesmo tempo, conseguirem recuperar mais terras, ampliando assim o seu território.
Estes diques, símbolos da luta tenaz entre o homem e a natureza, deram origem a algumas lendas que fazem parte do folclore holandês, da qual esta foi retirada e adaptada…
…Perto da cidade de Haarlem, situada na margem do rio Spaarne e também conhecida como a cidade das túlipas, o pequeno Hans e o seu irmão Dieting apanhavam violetas junto do dique que a protegia, quando Dieting, que era o mais novo, exclamou de repente:
- Hans, anda cá ver! Não vês este buraquinho? Parece que dele saem bolas de sabão…
Hans aproximou-se do seu irmão para ver o buraquinho. Este era ainda insignificante, mas um fiozinho de água escapava-se por ali…Olhou em torno de si e não viu ninguém até aos últimos limites do horizonte. Que fazer? Lembrou-se que os homens tinham partido para a pesca e só voltariam no dia seguinte. E então teve uma ideia: aplicou o seu pequeno indicador à abertura, vedando-a, e disse ao irmão:
- Corre depressa, Dieting! Vai dizer a toda a gente que há uma abertura no dique. Eu vou tapá-la com a mão até chegar alguém.
E a criança começou a correr o mais depressa que as suas pequenas pernas lhe permitiam em direcção à aldeia.
Hans estava agora sozinho, ouvindo o gorgolejar da água que a sua mão heróica não deixava passar, sentindo a espuma das vagas que se despedaçavam contra o dique humedecer os seus cabelos.
Pareceu-lhe de repente, que a sua mão se fatigava, que estava muito rígida e ia ceder. Um grande frio subia-lhe ao longo do braço, percorria-lhe todo o corpo, inteiriçando-o…
E olhando ao longo da estrada, não via ninguém. Na sua fadiga crescente, na sua crescente ansiedade, parecia-lhe que a imensa voz do mar lhe dizia:
- Eu sou o Oceano. Ninguém pode lutar contra mim. Como queres tu, pobre criança, impedir-me de passar?
E o coração de Hans batia num grande tumulto. E os seus braços inteiriçavam-se mais e mais. E a voz do mar, ameaçadoramente, clamava:
- Hei-de passar, hei-de passar, hei-de passar!
Então o pequeno Hans, cerrando os dentes, crispou a mão com mais força vedando a abertura do dique, e no meio da sua dor, gritou ao vasto mar:
-Não. Não passarás!
Nesse momento, o pequeno herói ouviu gritos, e viu um bando de homens que corria rapidamente pela estrada abaixo, para consertar o dique. Uma hora depois, voltavam todos à cidade trazendo aos ombros o intrépido Hans.
Ainda hoje se conta em Haarlem a bela história do rapazinho, que com a sua coragem salvou a cidade onde as túlipas são tão belas…

Imagem: Internet