Évora, 29 de
Julho de 1808
Quando as revoltas alastraram no
Alentejo, formaram-se várias juntas governativas que acabaram por se submeter –
com a excepção de Beja e Campo Maior – às decisões da Junta de Governo do
Alentejo que se formou em Estremoz. A 17 de Julho de 1808 o Tenente-general
Francisco de Paula Leite de Sousa aceitou a direcção do governo militar que, a
partir do dia 20 de Julho, passou a ter sede em Évora, sendo solicitada
ajuda às juntas espanholas que enviaram espingardas e artilharia e alguns
corpos militares.
Para pôr fim ao movimento
insurreccional e garantir a posse da linha de comunicações entre Lisboa e Évora,
o general Junot decidiu enviar uma expedição comandada pelo general Henri-Louis
Loison (o Maneta) que, saindo de Lisboa a 25 de Julho, chegou no dia 29 a Évora,
tendo antes derrotado em Montemor-o-Novo um destacamento comandado pelo coronel
Aniceto Borges.
Na manhã do dia 29, prosseguiam em Évora os
trabalhos de defesa da cidade, recebendo-se ainda reforços de Vila Viçosa e
Jerumenha. O tenente-general Paula Leite decidiu combater as tropas francesas
em campo aberto, fora das muralhas da cidade, contando para isso, com as
seguintes tropas:
Forças portuguesas (700)
Batalhão de voluntários de Estremoz - 380
Companhia de miqueletes de Vila Viçosa - 100
Companhia de caçadores de Évora - 100
Companhia de cavalaria de Évora - 60
Companhia de cavalaria organizada com éguas – 60
Forças espanholas (1.070)
Legião de voluntários estrangeiros - 400
Duas companhias de granadeiros provinciais - 200
Uma companhia de tropas ligeiras - 100
Cavalaria
(Hussards de Marie-Luise) - 250
Artilharia a cavalo - 90
Artilharia de guarnição – 30
Além destas forças existia uma
multidão de habitantes de várias povoações que foram colocados sobre a muralha.
As forças francesas tinham um
efectivo aproximado de 7.000 homens, assim constituídos:
3º batalhão do 12º Regimento de Infantaria Ligeira;
3º batalhão do 15º Regimento de Infantaria Ligeira;
Um batalhão do 58º Regimento de Infantaria de Linha;
Um batalhão e meio do 86º Regimento de Infantaria de Linha;
Legião Hanovrienne;
Dois batalhões de granadeiros;
4º Regimento Provisório de Dragões;
5º Regimento Provisório de Dragões;
8 bocas de fogo de artilharia.
Às 11H00 os franceses avançaram em
três colunas e, assim que chegaram ao alcance da artilharia portuguesa e
espanhola, esta abriu fogo. A cavalaria francesa dirigiu o ataque para o flanco
esquerdo das forças luso-espanholas. Estes abriram fogo muito cedo e só a
artilharia provocou baixas significativas aos franceses. A cavalaria, que devia
enfrentar o ataque da cavalaria francesa, retirou desordenadamente sem
combater.
A dificuldade
para o inimigo foi a de passar a Porta de Alconchel, defendida pelos atiradores
que guarneciam a desaparecida capela de Nossa Senhora da Ajuda, edificada sobre
a referida porta. Durante uma hora a porta foi defendida, destacando-se a
bravura dos monges do Convento dos Remédios.
A infantaria e a artilharia também acabaram
por retirar mas só após algum tempo de combate em que tiveram um comportamento
que mereceu referências positivas do próprio Loison e fizeram-no em boa ordem.
Uma parte importante destas forças, no entanto, já não conseguiu entrar na
cidade seguindo então para Juromenha e outras direcções.
Évora ficou então à mercê dos
franceses que, apesar da resistência oferecida pelos defensores, ali entraram
pelas 16H00.
«Vendo-se
os franceses já senhores do campo, não tiveram a lembrança de enterrar os seus
mortos, nem mesmo a de perseguirem alguns fugitivos, porque a sede do saque, os
fez com a cavallaria cercar a cidade, em quanto a infanteria, com bastante
custo, investiu as portas e as muralhas, que por muito arruinadas e mal
guarnecidas, lhes deram entrada; e immediatamente aquelles vencedores, tocando
à degola, foram matando gente pelas egrejas, pelas ruas e praças.»
Escreve Frei
Manuel do Cenáculo Villas Boas, então arcebispo da cidade:
“...no dia fatal de 29 de Julho fomos atacados
pelo numeroso exercito de nove para dez mil homens francezes, commandados pelo
general em chefe conde do Imperio, Loison, [...] Corri para a minha cathedral e
no meio do confuso alarido, do estrondo dos canhões mandei propôr capitulação;
[...] Então foi que elles á vista das minhas humilhações e supplicas deram
indicios de que mudavam o parecer em que vinham [...]”
O saque da cidade prolongou-se por
toda a noite perdendo-se o
riquíssimo recheio das igrejas, tal como o próprio anel do arcebispo e só no dia seguinte, pelas 11H00, Loison deu ordem para reunir as suas
tropas.
Na Catedral, foi
hasteada a bandeira francesa na mais alta das três torres e Loison juntamente
com os oficiais superiores ficaram nos aposentos do palácio arquiepiscopal.
O ataque à cidade de Évora tinha
provocado nos portugueses e espanhóis, tropas regulares e civis, um número
indeterminado de mortos e feridos que, entre os diversos autores oscila entre
2.000 e 8.000. Os franceses sofreram 90 mortos e 200 feridos.
Esquema da defesa de Évora em 29 de
Julho de 1808, segundo um desenho feito por J. C. Barreto, publicado na
"História Popular da Guerra Peninsular" de J. J, Teixeira Botelho.
Fontes e imagem:
www.Wikipedia.org
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