domingo, 29 de julho de 2012

O Massacre de Évora

Évora, 29 de Julho de 1808
 Durante a primeira invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, vários massacres foram perpetrados pelos ocupantes em consequência das revoltas populares que alastraram por todo o país contra a ocupação francesa. Os mais tristemente célebres foram, possivelmente, o das Caldas da Rainha e o de Évora.
Quando as revoltas alastraram no Alentejo, formaram-se várias juntas governativas que acabaram por se submeter – com a excepção de Beja e Campo Maior – às decisões da Junta de Governo do Alentejo que se formou em Estremoz. A 17 de Julho de 1808 o Tenente-general Francisco de Paula Leite de Sousa aceitou a direcção do governo militar que, a partir do dia 20 de Julho, passou a ter sede em Évora, sendo solicitada ajuda às juntas espanholas que enviaram espingardas e artilharia e alguns corpos militares.
Para pôr fim ao movimento insurreccional e garantir a posse da linha de comunicações entre Lisboa e Évora, o general Junot decidiu enviar uma expedição comandada pelo general Henri-Louis Loison (o Maneta) que, saindo de Lisboa a 25 de Julho, chegou no dia 29 a Évora, tendo antes derrotado em Montemor-o-Novo um destacamento comandado pelo coronel Aniceto Borges.
 Na manhã do dia 29, prosseguiam em Évora os trabalhos de defesa da cidade, recebendo-se ainda reforços de Vila Viçosa e Jerumenha. O tenente-general Paula Leite decidiu combater as tropas francesas em campo aberto, fora das muralhas da cidade, contando para isso, com as seguintes tropas:
Forças portuguesas (700)
Batalhão de voluntários de Estremoz - 380
Companhia de miqueletes de Vila Viçosa - 100
Companhia de caçadores de Évora - 100
Companhia de cavalaria de Évora - 60
Companhia de cavalaria organizada com éguas – 60

Forças espanholas (1.070)
Legião de voluntários estrangeiros - 400
Duas companhias de granadeiros provinciais - 200
Uma companhia de tropas ligeiras - 100
Cavalaria (Hussards de Marie-Luise) - 250
Artilharia a cavalo - 90
Artilharia de guarnição – 30
Além destas forças existia uma multidão de habitantes de várias povoações que foram colocados sobre a muralha.
As forças francesas tinham um efectivo aproximado de 7.000 homens, assim constituídos:
3º batalhão do 12º Regimento de Infantaria Ligeira;
3º batalhão do 15º Regimento de Infantaria Ligeira;
Um batalhão do 58º Regimento de Infantaria de Linha;
Um batalhão e meio do 86º Regimento de Infantaria de Linha;
Legião Hanovrienne;
Dois batalhões de granadeiros;
4º Regimento Provisório de Dragões;
5º Regimento Provisório de Dragões;
8 bocas de fogo de artilharia.

Às 11H00 os franceses avançaram em três colunas e, assim que chegaram ao alcance da artilharia portuguesa e espanhola, esta abriu fogo. A cavalaria francesa dirigiu o ataque para o flanco esquerdo das forças luso-espanholas. Estes abriram fogo muito cedo e só a artilharia provocou baixas significativas aos franceses. A cavalaria, que devia enfrentar o ataque da cavalaria francesa, retirou desordenadamente sem combater.
A dificuldade para o inimigo foi a de passar a Porta de Alconchel, defendida pelos atiradores que guarneciam a desaparecida capela de Nossa Senhora da Ajuda, edificada sobre a referida porta. Durante uma hora a porta foi defendida, destacando-se a bravura dos monges do Convento dos Remédios.
 A infantaria e a artilharia também acabaram por retirar mas só após algum tempo de combate em que tiveram um comportamento que mereceu referências positivas do próprio Loison e fizeram-no em boa ordem. Uma parte importante destas forças, no entanto, já não conseguiu entrar na cidade seguindo então para Juromenha e outras direcções.
Évora ficou então à mercê dos franceses que, apesar da resistência oferecida pelos defensores, ali entraram pelas 16H00.
«Vendo-se os franceses já senhores do campo, não tiveram a lembrança de enterrar os seus mortos, nem mesmo a de perseguirem alguns fugitivos, porque a sede do saque, os fez com a cavallaria cercar a cidade, em quanto a infanteria, com bastante custo, investiu as portas e as muralhas, que por muito arruinadas e mal guarnecidas, lhes deram entrada; e immediatamente aquelles vencedores, tocando à degola, foram matando gente pelas egrejas, pelas ruas e praças
Escreve Frei Manuel do Cenáculo Villas Boas, então arcebispo da cidade:
 “...no dia fatal de 29 de Julho fomos atacados pelo numeroso exercito de nove para dez mil homens francezes, commandados pelo general em chefe conde do Imperio, Loison, [...] Corri para a minha cathedral e no meio do confuso alarido, do estrondo dos canhões mandei propôr capitulação; [...] Então foi que elles á vista das minhas humilhações e supplicas deram indicios de que mudavam o parecer em que vinham [...]”
O saque da cidade prolongou-se por toda a noite perdendo-se o riquíssimo recheio das igrejas, tal como o próprio anel do arcebispo e só no dia seguinte, pelas 11H00, Loison deu ordem para reunir as suas tropas.
Na Catedral, foi hasteada a bandeira francesa na mais alta das três torres e Loison juntamente com os oficiais superiores ficaram nos aposentos do palácio arquiepiscopal.
O ataque à cidade de Évora tinha provocado nos portugueses e espanhóis, tropas regulares e civis, um número indeterminado de mortos e feridos que, entre os diversos autores oscila entre 2.000 e 8.000. Os franceses sofreram 90 mortos e 200 feridos.


Esquema da defesa de Évora em 29 de Julho de 1808, segundo um desenho feito por J. C. Barreto, publicado na "História Popular da Guerra Peninsular" de J. J, Teixeira Botelho.


Fontes e imagem:
www.Wikipedia.org

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