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sábado, 21 de janeiro de 2012

O Al – Andaluz III


De 1146 a1228 - O Período almóada.
Com a queda dos Almorávidas em 1145, a Península estruturou-se em duas zonas divididas por um profundo fosso: as Estremaduras.
Com a chegada dos almóadas, o novo povo que veio substituir os almorávidas esses fossos entre a península cristã e a muçulmana ficam definidos.
O movimento almóada (de al-muwahhidun, os unitários), foi fundado por Ibn Tumart e organizado depois dele por Abd al-Mumin, cuja dinastia reinou desde meados do sec. XII até meados do sec. XIII. Com a queda do califado de Bagdad, todo o pensamento muçulmano se concentrou no Al-Andaluz, onde reinava um ambiente de liberdade.
Em 1170 os almóadas transferiram a sua capital para Sevilha, onde fundaram a grande mesquita, posteriormente convertida em catedral cristã. A torre da mesquita, a Giralda foi construída em 1184 para assinalar a ascensão de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur (Almançor).
Yakub I, ou Almançor, foi o terceiro califa da dinastia almóada de Marrocos. Anteriormente feito emir pelo seu pai, subiu ao trono do império em 1184, aquando da morte deste após a derrota na batalha de Santarém, frente a Fernando II de Leão. O seu reinado coincidiu com o período de máximo esplendor do império almóada na Península Ibérica.
A zona entre o Tejo e o Guadiana, tantas vezes conquistada pelos reis cristãos e várias vezes perdida, constituía uma fronteira tão perigosa, que levou à criação das ordens militares.
Em Portugal, a tomada do Castelo de Silves em 1189 por D. Sancho I suscitou uma contra-ofensiva muçulmana que resultou não só na perda de Silves como de grande parte da região do Alentejo, até à margem esquerda do rio Tejo, permanecendo apenas Évora em poder dos cristãos. Entre 1190 e 1191, Ya'qub al-Mansur tomou as cidades de Alcácer do Sal, Palmela, Almada, Torres Novas e Abrantes e tentou invadir Tomar, mas os cavaleiros templários de Gualdim Pais resistiram e travaram a sua invasão. Em 1195, à frente de um poderoso exército, passou novamente o estreito de Gibraltar e derrotou as forças cristãs de Afonso VIII de Castela na batalha de Alarcos.
Em 1212, na batalha de Navas de Tolosa (conhecida simplesmente como “A Batalha”, nas crónicas da época), as forças conjuntas dos reinos cristãos de Castela, Aragão, Navarra e Portugal, apoiadas pelas Ordens Militares, infringem uma pesada derrota aos exércitos muçulmanos, contribuindo para a desarticulação do império almóada.
De 1228-1262 - Terceiro período de reinos de taifas.
Em Múrcia estala uma revolta contra o poder já em declínio dos almóadas, dando origem a um terceiro período de reinos de taifas. Em 1249, com a conquista do Algarve, - último reino do Gharb Al-Andalus - por D. Afonso III, acabou o domínio muçulmano no território português.
No resto da Península, perante o avanço cristão, o senhor de Jaen declara-se vassalo do rei de Castela, ajudando-o na luta contra os outros senhores de taifas, e fixa-se em Granada, onde inicia a dinastia nasrida.
De 1238-1492 - A dinastia nasrida do reino de Granada.
A partir desta altura e com a reconquista dos territórios pelos cristãos, a denominação de Al-Andaluz passa a referir-se apenas ao reino de Granada, quando no século XIV, o domínio muçulmano na península se reduz ao reino dos Nazaries, sediado nessa cidade. Este reino foi fundado por Mohamed ben Yusuf, senhor de Jaen, que ficaria conhecido na História por Mohamed I.
Um dos grandes legados arquitectónicos desta dinastia foi a construção do palácio do Alhambra.
Em 1491 o último rei nasrida, Abu Abd Allah (Boabdil), capitulou perante os Reis Católicos, Fernando e Isabel. No ano seguinte o reino de Granada seria integrado na Espanha. As famílias muçulmanas de posição social mais elevada deixaram a península, fixando residência no norte de África. Os muçulmanos que permaneceram foram obrigados em 1502 a converter-se ao cristianismo ou então teriam de abandonar o país. Por sua vez, os muçulmanos que se tinham convertido à fé cristã (os mouriscos) foram acusados de seguir o islão secretamente, tendo sido expulsos da Espanha entre 1609 e 1614.

É de um dos poetas do Andaluz, Abú Aláçane Alcartajani, nascido em Cartagena e falecido em Tunes em 1285, o poema que se segue:

Os rios de Espanha choram de tristeza em fluído pranto
Pela sede de sangue que não foi saciada.

Chorou sua pena o Guadalaviar
Como lágrimas correntes incessantes.

Guadalquivir seu irmão chorou por não poder saciar
A sede das sanguessugas que grasnaram. (1)

O Jucar esteve a ponto de secar quando se encolerizou
Pelos danos que os ruivos causavam por toda a parte.

Gemeu o Guadiana em seu Ocidente cheio o saco lacrimal
De copioso pranto.

Os dois rios da Fronteira Superior, o Tejo e o Ebro,
Queixavam-se ambos e a própria fronteira se queixava de sede

Encadeada de tristeza
Embora tivesse a água dos rios entre a boca e as fauces.

(1) Segundo uma lenda pré-islâmica, se colocassem sanguessugas na cabeça de um assassinado que não tivesse sido vingado, estas pediam: Dá-me de beber (o sangue do assassino).

Fontes www.wikipedia.org.
Coelho, António Borges – Historia de Portugal e Portugal na Espanha Árabe
Alves, Adalberto – Al – Mu’tamid, Poeta do Destino
Saraiva, José Hermano – História de Portugal
História Universal - jornal O Público


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Al-Andaluz – II

“O país do Andaluz é, como dissemos, de forma triangular. O mar rodeia-o pelos seus três lados: ao sul, o Mediterrâneo; a ocidente, o oceano Atlântico; ao norte, o mar dos Ingleses, que se contam entre os cristãos. O comprimento do Andaluz, desde a igreja do Corvo (Cabo de S. Vicente), que está situada no Atlântico, até ao monte chamado Templo de Vénus (Port Vendres), é de 1100 milhas. A sua largura é de 600 milhas. (Texto de Ibn Abd Al-Munin, finais do sec.XIII).

Os anos que se seguiram à conquista da Península Ibérica não foram fáceis para os muçulmanos. Dependente do Califa de Damasco, o Al-Andaluz tornou-se um emirato, onde, entre 711 e 756, foram nomeados mais de vinte emires para seu governo. Á anarquia política, seguiram-se as lutas internas pelo poder, entre berberes e árabes, a que se juntou uma terrível vaga de fome entre 751e 753.
Podemos definir cinco etapas na história deste território:
De 711 a 756 - Emirado dependente do Califa de Damasco.
Em 718 ocorreu a Batalha de Covadonga, na qual os muçulmanos saem derrotados pelo grupo de cristãos refugiados nas Astúrias e comandados por Pelágio. As forças islâmicas levam a cabo várias expedições contra a Gália, mas a sua expansão é detida em 732, na batalha de Poitiers, por Carlos Martel. Até 756 o Al-Andaluz teve vinte governadores dependentes de Damasco, sendo Sevilha, e mais tarde, Córdova, a sua capital.
De 756 a 929 - Emirato de Córdova.
A queda dos Omíadas em Damasco e a tomada do poder pelos Abássidas em 750 teriam repercussões políticas no Al-Andaluz. O único sobrevivente do massacre da família omíada, o príncipe Abd ar-Rahman, chega à península em 756 e instala-se em Córdova, onde toma o título de emir, declarando-se independente do califado dos Abássidas, mas mantendo a ligação religiosa. Dará início a uma dinastia que governa o Al-Andalus até 1031, mas que tem de enfrentar, além das inúmeras revoltas internas, o avanço dos reis cristãos.
De 929 a 1031 - Califado de Córdova.
Em 929, o emir Abd al-Rahman III declarou-se califa, título que lhe conferia independência não só política, mas também religiosa em relação aos Abássidas, cortando todos os laços com o califado do Oriente. Neste período, destaca-se a figura de Almançôr, o Vitorioso, o que não impede que durante os últimos vinte anos sejam nomeados 15 califas, mostrando bem a anarquia reinante, pelo menos desde o fim da hegemonia da família de Almançôr. No entanto, o califado corresponde ao período de maior esplendor da civilização islâmica na Península Ibérica.
De 1031 a 1090 - 1º Período dos reinos de Taifas.
Surgidos da desagregação do califado de Córdova, após o domínio de Almançor, o Vitorioso, e da sua família, os reinos de taifas eram unidades políticas que partilhavam uma afinidade de origem étnica. Independentes e rivais, muitos deles tiveram uma existência efémera. Os que duraram mais tempo foram os de Saragoça, Toledo, Granada, Sevilha e Badajoz.
Os reis cristãos aproveitaram esta fragmentação para avançarem sobre os territórios do sul. Foi durante este período que o território do Al-Andaluz atingiu o seu apogeu cultural, mas a batalha de Zalaca, em Outubro de 1086, contra Afonso VI, de Castela, e os seus aliados, embora se saldasse com uma derrota para os cristãos, selou o fim dos reinos de taifas e a subida ao poder dos almorávidas.
Com a conquista de Toledo por Afonso VI, e o crescente sucesso dos exércitos cristãos, além do valor sempre crescente do pagamento das parias em ouro por parte dos reinos de taifas, o rei de Sevilha, Al-Mu’tamid, sentindo-se ameaçado, chama em seu auxílio, os almorávidas, sediados no norte de África, assinando assim a sua própria perda.
A figura do rei-poeta Al-Mu’tamid, nascido em Beja e rei da taifa de Sevilha, destaca-se, não só pela excelência da sua poesia, como também pelo seu final de vida trágico.
De 1090 a 1146 - Império almorávida.
Os almorávidas, conhecidos pela sua intolerância religiosa, e comandados por Yussuf ibn Tâshfin, o fundador da cidade de Marraquexe, lançam-se à conquista do Al-Andaluz, apoderando-se dos reinos de taifas, a quem acusavam de infringir a lei islâmica com a cobrança ilegal de impostos e a vassalagem aos cristãos. Cerca de 1111, conquistam Santarém, avançam para Coimbra e chegam aos arredores do Porto. Milhares de cristãos são deportados para África, e o Al-Andaluz é integrado no império africano almorávida, sendo governado por Yussuf e os seus descendentes, a partir do norte de África.
Nesta altura, a coexistência das três religiões do Livro fica fortemente ameaçada. As relações muitas vezes pacíficas entre uns e outros, os períodos de paz e de intercâmbio económico e cultural existente, embora interrompidos por frequentes confrontos armados, deram lugar a uma guerra sem quartel, com os almorávidas proclamando a guerra santa, e do lado dos cristãos, a um espírito de cruzada, reforçado com a chegada de cavaleiros francos e dos monges de Cluny, apoiados por Roma.
Devido a revoltas internas, o império almorávida deixa de existir, dando origem a um breve período de reinos de taifas, sendo as mais importantes Mértola, Córdova, Valença e Múrcia.



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Al-Andaluz - I

Al-Andaluz, foi o nome dado à península Ibérica pelos seus conquistadores islâmicos, a partir do ano de 711 (século VIII), tendo o nome sido utilizado para se referir à península, independentemente do território politicamente controlado pelas forças islâmicas.
A origem do nome Al-Andalus é incerta. O nome fez a sua primeira aparição em 716, num dinar bilingue cunhado na Península Ibérica e que se encontra hoje em dia no Museu Arqueológico Nacional em Madrid. Nessa moeda a palavra Span(ia), em latim, corresponde a Al-Andalus, em árabe. O termo Al-Andaluz é ainda usado no século XV para designar os árabes fugidos da península, expulsos durante a Reconquista Cristã, que se refugiam no Norte de África.
A região ocidental da península era denominada Gharb Al-Andalus ("o ocidente do Al-Andalus") e incluía o actual território português. De uma maneira geral, o Gharb Al-Andalus foi uma região periférica em relação à vida económica, social e cultural do Al-Andalus.
As circunstâncias que marcaram a chegada dos muçulmanos à Península Ibérica, foram deturpadas pela lenda, embora contenham um fundo de verdade.
Quando o rei visigodo Vitiza morreu, os seus seguidores nomearam seu filho Agila, de dez anos de idade, herdeiro do trono, mas os mais conservadores, elegerem por sua vez como rei, a Rodrigo, duque da Bética, o que deu origem a uma guerra civil.
O irmão de Vitiza, o conde Oppas, refugiou-se em Ceuta, governada pelo Conde Julião, possivelmente seu parente, e ambos resolveram pedir ajuda aos muçulmanos para consolidarem no trono de Toledo o jovem Ágila.
Em Abril de 711, o berbere Tarik Ibn Ziyad, governador de Tânger e lugar-tenente de Mussa Ibn Nusayr (698-714), desembarca à frente dos seus homens no monte que em sua honra se passará a chamar Jebal Tariq (Gibraltar), e derrota o rei Rodrigo na batalha do rio Guadarranque, entre a torre de Cartagena e Gibraltar, segundo algumas versões, noutras, a batalha dá-se junto ao rio Guadalete.
A vitória árabe sobre Rodrigo vai derrubar toda a organização central de defesa do estado visigodo, e em vez de uma simples intervenção estrangeira num confronto civil, como pretendiam Oppas e Julião, os muçulmanos iniciam uma invasão em toda a linha, acabando em poucos anos com a escassa resistência apresentada pelos antigos senhores.
Toledo perde o seu título de capital do império, que passará para Córdova, e a Espanha passará a designar-se AL-ANDALUZ!
Apenas nas montanhas cantabro-asturianas um grupo de nobres visigodos comandados por Pelágio, primo do rei Rodrigo, resistia aos invasores, dando começo a uma luta que durou cerca de oitocentos anos, a que se deu o nome de RECONQUISTA…
Os árabes, ao conquistarem a Península não se romanizaram, continuaram sendo árabes, seguiram sendo muçulmanos, regendo-se pelas leis do Corão. A religião dos povos dominados era-lhes indiferente, mas não houve perseguições nem conversões forçadas.
A tolerância inicial do estado islâmico permitiu a sobrevivência das raízes clássicas e cristãs durante vários séculos. No entanto a nova orientalização ibérica tem também o seu preço: após Poitiers o choque entre a Europa cristã e o islamismo difundirá entre as gentes peninsulares o sentimento de cruzada e guerra santa, destruindo qualquer possibilidade de convivência.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Consequências das invasões árabes


Depois da conquista da Península, que passará a ser designada por “Al-Andaluz”, as terras foram repartidas pelos conquistadores, cabendo um quinto das mesmas ao califa como presa de guerra.
Em apenas cinco anos (711 a 716), os árabes completaram a ocupação do território, com excepção da região montanhosa das Astúrias, onde se refugiaram os cristãos, comandados por Pelágio.
Os nobres visigodos que se submeteram ao novo poder puderam conservar os seus domínios com autonomia política e em alguns casos especiais, a prática da sua religião; os que opuseram alguma resistência foram obrigados a uma completa submissão em condições mais ou menos duras, consoante o grau de oposição.
Quanto à população não muçulmana (moçárabes, cristãos e judeus), os árabes mostraram-se em geral tolerantes para com os usos e costumes locais, incluindo a prática da religião, mas impondo para isso, um tributo.
Sob o ímpeto do islamismo a Península recupera a sua vocação mediterrânica, voltando às antigas rotas comerciais, as cidades e os negócios florescem; a indústria renova-se. Artesãos e comerciantes associam-se em grémios, abrem-se mercados e novas redes comerciais. Os judeus, sob a protecção dos califas, dedicam-se ao comércio e á indústria, à diplomacia, à medicina e à administração, onde alcançam cargos elevados.
Na sequência das várias lutas pelo poder, estabeleceram-se também na Península vários grupos étnicos como os negros, os eslavos e também sírios e iemenitas.
As cidades árabes do Al-Andaluz no sec. X alcançam grande esplendor, com destaque para Córdova, que chega a possuir 250.000 habitantes.
Sob a influência da brilhante civilização árabe, traduzem-se obras científicas, desenvolvem-se a filosofia, a medicina e as matemáticas, cujos princípios foram buscar a Euclides. A eles devemos o nosso sistema de numeração, com a introdução do uso dos algarismos árabes. A álgebra, a trigonometria, a física, a química, a arquitectura e a arte decorativa também sofreram um grande avanço sob o seu domínio. Além das matemáticas, tinham uma grande predilecção pela astronomia, sendo também excelentes geógrafos e navegadores.
À língua árabe fomos buscar palavras como álcool, arabesco, algodão, sofá, almofada, azul, algarismo, anilina, açúcar, garrafa, jasmim, açafrão, espinafre, ou termos comerciais: bazar, armazém, tarifa. Termos marítimos: almirante, barca, fragata, arsenal…Nomes de terras: Almada, Alcácer do Sal, Algeciras…
Retomaram a exploração das minas de prata e ouro, mas é principalmente na área da agricultura e da propriedade rústica que a influência árabe mais se fez sentir na Península Ibérica. O desenvolvimento das técnicas de regadio e a construção dos moinhos de água e das azenhas, assim como a introdução da nora e da cegonha para extracção da água dos poços, transformaram por completo o aspecto agrícola do Sul andaluz:


Deus meu! A nora transborda de água doce num jardim cujos ramos estão cobertos de frutos já maduros.
As pombas contam-lhes as suas penas, e ela responde repetindo notas musicais…
Sad al-Khair, de Valência, em A Nora.


O centro da produção agrícola do Al-Andaluz foi constituído pelas principais culturas mediterrânicas: cereais, videiras e oliveiras. Mas trouxeram-nos, entre outros, o cultivo do algodão, do arroz, deram-nos a tamareira, a cana-de-açúcar, a beringela, a alcachofra, a amendoeira (que ainda hoje nos deslumbra com as suas flores brancas), e as sumarentas laranjas cantadas pelo poeta Ibn Sara, nascido em Santarém:


Serão brasas que mostram sobre os ramos as suas cores vivas, ou rostos que assomam entre as verdes cortinas dos palanquins?
Serão os ramos que se balançam, ou formas delicadas por cujo amor sofro o que sofro?
Vejo que a laranjeira nos mostra os seus frutos, que parecem lágrimas coloridas de vermelho pelos tormentos de amor…


Apesar de tudo isto, os vestígios da arquitectura islâmica em Portugal são relativamente escassos, ao contrário do que sucede em Espanha, principalmente em Córdova, Sevilha ou Granada, e estão centrados principalmente no sul do país, onde a ocupação efectiva foi mais prolongada. Os vestígios da Cerca Moura em Lisboa, os castelos de Santa Maria da Feira e de Silves com a torre datada de 1227 e um poço-cisterna do sec. XII são alguns dos que chegaram até aos dias de hoje. Mas é na antiga mesquita de Mértola, transformada depois na Igreja de Santa Maria da Assunção que esses traços são mais visíveis, dando-nos uma ideia do que seria a arquitectura religiosa.
O seu domínio durou cerca de oito séculos, mas a derrota árabe em Poitiers, o avanço da Reconquista Cristã e principalmente as frequentes lutas internas pelo poder, levaram a que em 1492 o reino nasrida de Granada, ultimo reduto árabe na Península, fosse conquistado pelos Reis Católicos, Isabel e Fernando de Aragão.
Em Portugal, esse domínio terminou com a conquista do reino do Algarve (Gharb Al-Andaluz) em 1249, quando o rei D. Afonso III tomou Silves.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Coelho, António Borges – Portugal na Espanha Árabe
Alves, Adalberto – O meu coração é Árabe
História Universal, vol IX, editada pelo Jornal “Público”




quarta-feira, 27 de julho de 2011

A destruição de Santiago de Compostela


Muhammad Ibn Abi Amir, mais conhecido pelo nome que adoptou de Al-Mansur Billah (o vitorioso pela graça de Deus), e a quem os cristãos chamavam de Almançor, começou o seu governo em 981, durante a menoridade do califa Hisham II, de apenas onze anos de idade.
A sua acção militar conta cerca de cinquenta e sete expedições, quase todas destinadas a destruir os grupos cristãos do norte da Península, sendo duas delas de grande importância.
A primeira foi realizada contra Barcelona, em 985. A segunda teve um carácter muito mais simbólico: a destruição de Santiago de Compostela, o mais importante santuário cristão da Espanha e grande centro de peregrinação para toda a Europa.
“A expedição (a sua 48ª campanha), saiu de Córdova no sábado 23 de Jumada II de 387 (3 de Julho de 997), entrando primeiro na cidade de Cória, dirigindo-se depois para Viseu, a capital da Galiza. Aí juntaram-se-lhe grande número de condes com os seus guerreiros, ao mesmo tempo que em Alcáçer do Sal se reunia uma importante frota para transporte de armas, víveres e diversos corpos de infantaria.
Chegados ao Porto, a frota subiu o rio até ao local designado por Almançor para a travessia do resto das tropas e as naves serviram de ponte junto ao castelo que aí se erguia, procedendo-se depois à distribuição dos víveres pelos diferentes corpos do exército. Assim apetrechados entraram em país inimigo.
Tomada a direcção de Santiago, Almançor atravessou extensas regiões até chegar a uma montanha elevada, sem vias nem caminhos. Por sua ordem, grupos de obreiros trabalharam no alargamento das picadas para o exército poder passar (…).
Chegaram assim à ria de Padrón, onde se erguia um dos templos consagrados a Santiago que, para os cristãos, seguia em importância o que encerra o seu sepulcro. Depois de o ter arrasado por inteiro, foram acampar ante a orgulhosa cidade de Santiago a 2 de Xabane (10 de Agosto).
Tinham-na abandonado os seus habitantes e os muçulmanos apoderaram-se de todas as riquezas que nela acharam e derrubaram as construções, as muralhas e a igreja de tal maneira que não ficaram vestígios. No entanto, os guarda, colocados por Almançor para fazer respeitar o sepulcro do santo, impediram que o túmulo recebesse qualquer dano. Mas todos os formosos palácios solidamente construídos, que se erguiam na cidade foram reduzidos a pó, e não se teria suspeitado, depois do seu arrasamento, que tivessem existido ali na véspera.
Levou-se a cabo a destruição durante os dias que se seguiram à quarta-feira, 2 de Xabane (…).”
A cidade tinha sido evacuada pelo bispo Pedro de Mezonzo. O facto de Almançor não ter destruído o túmulo do apóstolo, permitiu a continuação dos Caminhos de Santiago. Existe uma lenda que narra que os prisioneiros cristãos carregaram com os sinos do templo de Santiago até Córdoba e que, segundo parece, fizeram o caminho de regresso dois séculos e meio mais tarde, transportados por prisioneiros muçulmanos, quando Fernando III, o Santo os recuperou para a cristandade.
“Hoje o Diabo retrocedeu, desembaraçando-se da causa dos inimigos. Os partidários da heresia souberam então no Extremo Oriente onde estão e no Extremo Ocidente que o fetichismo era apenas uma mentira. Em Santiago quando chegaste com as espadas brancas semelhantes a uma lua que se passeia pela noite entre as suas estrelas…Que bela é a vista da religião frente à sua fealdade e a frescura da fé do partido de Allah comparada à sua chama…” Ibn Darray, Louvor a Almançor pela sua vitória em Santiago.

Fontes:
www.wikipedia.pt
História Universal do Público
Alves, Adalberto - O meu coração é árabe

sábado, 14 de maio de 2011

Canto de Espanha


Granada dos altos cumes…

Boabdil chora de mágoa,
Boabdil chora de pena,
Tem os olhos rasos de água…

Granada, rubi de Espanha!

E os seus olhos vão chorando,
E os seus olhos são dois lumes,
Doidas saudades lembrando…

Granada, a dos mil jardins…

Sonha em seu reino perdido,
Sonha, na pena tamanha,
De todo o mundo esquecido!

Granada, a dos azulejos…

Oh sonhos das tardes quentes
Onde gritam os Jasmins
E os lábios doces e ardentes…

Granada, rainha moura!

Oh pátios de águas cantantes…
Oh doido vibrar dos beijos…
Oh caravanas distantes…

Granada, reino perdido…

Em doridos sobressaltos,
Nos cumes que o Sol mal doira,
Vê, nos minaretes altos,

Granada, a dominadora!

Ai – Boabdil, Boabdil!
Vai nos longes de Alpujarra,
Rever no céu cor de mel,
Cantar na tua guitarra
Esse reino, que foi teu.

Já no céu brilham mil lumes
E o luar adormeceu…

Granada, a dos mil perfumes!

Albertina Saguer

Fonte: Almanaque Bertrand, 1952

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

As invasões árabes


Faz este ano de 2011, exactamente 13 séculos que o berbere Tariq Ibn Zeyad, mais conhecido por Tarique, atravessou à frente de um exército de 7000 homens o estreito que separa os dois continentes, desembarcando no rochedo que desde então tem o seu nome (Gibraltar: Djebel al Tarik = montanha de Tárique), dando início a 800 anos de domínio árabe na Península Ibérica, a que deram o nome de Al-Andaluz.
Mas isto só foi possível, devido às dissenções existentes no seio do império visigótico, também eles invasores e que após um domínio de três séculos na Península, já não conseguiam dominar as divisões internas que o minavam.
Com o andar dos tempos, os Visigodos tinham acabado por se integrar na população romana até formarem um povo de raiz românica, o povo hispânico, que falava línguas ou dialectos originários do latim. Mas, internamente, o Império Visigodo estava dividido. Os reis eram joguetes nas mãos dos aristocratas ávidos de poder e a fanática intolerância dos sacerdotes hispânicos tornava a vida impossível a quem não tinha a mesma fé. Os numerosos judeus e os camponeses oprimidos receberam os Árabes e os Mouros como libertadores, ajudando-os a apoderarem-se das povoações.
Quando os dois exércitos se defrontaram na batalha de Guadalete, os godos foram completamente desbaratados e o seu último rei, Rodrigo, parece ter morrido na batalha ou durante a fuga. Apenas um punhado de homens sobreviveu, procurando refúgio nas montanhas das Astúrias, onde fundaram um pequeno reino.
Em seguida, tornou-se relativamente fácil aos Árabes conquistarem o resto da Península, mas em 720, atraídos pelos tesouros das igrejas galo-romanas atravessaram os Pirinéus, assaltando o reino dos Francos, mas Carlos Martel, em 732, na batalha de Poitiers, acabou definitivamente com o seu avanço na Europa.
Os poucos godos que sobreviveram e se refugiaram nas Astúrias, comandados por Pelágio, deram início a uma série de ataques, a que hoje chamaríamos uma “guerra de guerrilhas”, e que, culminando na batalha de Covadonga, em 722, marcou o início do longo processo de retomada do território ocupado, ao qual se deu o nome de Reconquista, que atravessando toda a Idade Média, só terminou em 1492, com a conquista do reino de Granada, pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel, o que levou à expulsão definitiva dos muçulmanos.
Mas quem foram estes visigodos e estes árabes, que constituem, afinal, como diz Herculano, as fontes da nossa civilização?
Temos o ano inteiro para o descobrir…