Bem menos
conhecido que o dos Gregos e Romanos, é igualmente fascinante e rico.
Como todas as
religiões politeístas, a dos Celtas venerava todo o tipo de deuses, fadas,
génios, anões bons ou maus, heróis valorosos e também os defuntos. Como
ocupavam uma extensa área que ia de Espanha até à Turquia, passando por França,
Boémia, Hungria, norte de Itália, Suíça, os Balcãs, a Grã-Bretanha e a Irlanda
pode ver-se a razão de haver tantos deuses. Podem demarcar-se três grupos de
crenças, as dos Europeus, as da Cornualha e do país de Gales, e as da Irlanda
(também denominadas Goidélicas ou Gaélicas), Ilha de Man e Escócia.
Prestavam culto
a elementos da natureza e seus ciclos, como a Lua, o Sol, as florestas, o
vento, a fertilidade, os rios, não tendo um deus chefe que reinasse sobre um
panteão divino. Os ciclos naturais representavam o equilíbrio entre as forças
contrárias (Céu e Terra, por exemplo), daí que para povos que viviam da
agricultura fossem tão importantes. Veneravam também as fontes, cujas águas
consideravam curativas de doenças para as quais não conheciam tratamento, e
sítios sagrados.
Os seus deuses não
viviam em comunidade ou num habitat colectivo como o Olimpo; partilhavam
grutas, dólmens, túmulos, nascentes, o interior de montanhas, um conjunto de
moradas diversas, constituindo o Outro
Mundo, um mundo de paz e felicidade a que os irlandeses davam o nome de Sid (o próprio substantivo significa
Paz).
Também não
tinham forma física, eram espíritos puros que não podiam ser representados sob
a forma humana. Breno, o chefe gaulês que ocupou o templo de Delfos, riu às
gargalhadas ao entrar no templo e ver ali os deuses gregos representados por
estátuas antropomórficas, todo o prestígio que a cultura grega lhe merecia,
desapareceu naquele instante.
Só depois da
ocupação romana, e para agradar aos ocupantes, é que os gauleses, tornados
Galo-Romanos começaram a esculpir estátuas e baixos-relevos onde apresentavam
as divindades sob aspectos humanos.
Ao contrário dos
deuses gregos e romanos perfeitamente organizados e com laços de parentesco
perfeitamente definidos, os deuses celtas podiam ser conhecidos por diversos
nomes, ou alguns partilharem o mesmo nome, os seus laços de parentesco eram
conforme as narrativas onde entravam, tanto podiam ser numa delas um pai, como
noutra aparecer como filho, tornando o Sid bastante confuso.
Da religião dos
povos que os tinham precedido no Ocidente, conservaram o culto da deusa-mãe, à
qual fora atribuído o nome de Dana, mas
que também é conhecida como Belisama (A Muito Brilhante), ou ainda Nantosuelta.
Ela é também a tripla Brigitte, a
deusa una em três pessoas representando a força, o poder e a fertilidade.
A Grande Deusa
era a mãe de todos os deuses, mas também a distribuidora de toda a vida. O seu
emblema era a lua, ou melhor, a lua era uma das teofanias que a manifestavam. O
seu culto era muito anterior aos celtas; quando estes se espalharam pela
Europa, encontraram povos pré-indo-europeus adoradores da deusa-mãe.
Segundo Júlio
César no livro 6 da sua Guerra das Gálias, o grande deus dos Gauleses teria
sido Dis-Atir, de quem os Celtas afirmavam descender, mas os irlandeses
chamavam o grande deus de Dagda, o
Deus Bom, um personagem gigantesco, de apetite insaciável, idêntico ao deus do
malho dos gauleses do continente, chamado Sukellos,
(O Bom Malhador).
Já Lucano na sua
Pharsalia nomeia três divindades celtas – Teutates, Táranis e Esus – que
exigiam aos homens sacrifícios humanos.
Teutates
significa “o deus da Tribo”, da palavra celta teutã (tribo). As vítimas a ele destinadas eram afogadas.
Táranis, talvez
um deus celeste cujo nome deriva do termo celta taran (o trovão), exigia que as suas vítimas fossem queimadas.
Quanto às que
pertenciam ao deus Esus, que significa “ bom ou omnicompetente”, eram enforcadas.
Ao tentar
explicar aos romanos as virtudes dos deuses celtas, Júlio César teve de os
equiparar aos deuses romanos, o que seria muito útil para quem viajasse pela
Gália no sec. I a.C., pelo que assim temos: Táranis (Júpiter),
Lug (Mercúrio),
Maponos (Apolo), Brigitte (Minerva), Ogmios (Hércules ou Marte). Quanto a
Dis-Atir (Dispater) deus romano dos mortos, na qualidade de primeiro homem, foi
também o primeiro a morrer e a tomar o controlo do mundo subterrâneo, e era
para ele que regressavam os espíritos dos mortos depois da sua passagem pela
terra. Na mitologia celta e na tradição insular irlandesa, onde é chamado Donn – o castanho ou o preto – está
afastado dos outros deuses.
Além destes,
temos Épona “a Grande Égua” a quem
os povos britónicos chamavam de Rigantona (a Grande Rainha) que se transformou
em galês em Rhiannon, uma deusa-égua ou seja, uma condutora de almas, já que o
cavalo é simbolicamente a montada que transporta os defuntos para o Outro Mundo,
ou Beleno, o deus-Sol. Há também Cernunnos ou Kernunnos, o deus cornudo,
senhor da Natureza, provavelmente o mais antigo dos seus deuses, e as grandes
deusas tríplices: Morrigan, Brigitte e Macha. A tríade ocupava um lugar muito
importante na religião celta, embora também de uma maneira muito diferente da
trindade cristã.
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