sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Manuel da Fonseca


Comemorou-se no dia 15 deste mês (Outubro), o centenário de um dos melhores representantes do movimento neo-realista português e um dos grandes escritores da literatura portuguesa.
Nascido em Santiago do Cacém a 15 de Outubro de 1911, Manuel Lopes da Fonseca vai viver com a família para Lisboa em 1923, começando a publicar os seus primeiros poemas em 1925 num semanário da sua terra. Frequenta o Liceu Camões onde conhece Álvaro Cunhal, também aí aluno como ele, e mais tarde, a Escola de Belas-Artes. Apesar de não ter sobressaído na área das Belas-Artes, deixou alguns registos do seu traço sobretudo nos retratos que fazia de alguns dos seus companheiros de tertúlias lisboetas como é o caso do de José Cardoso Pires.
Em 1937 casa-se com Mabilde Matias e em 1940 publica o seu primeiro livro de poesia, “Rosa-dos-Ventos”, seguindo-se “Planície”, no ano seguinte. Estreia-se em ficção com os contos “Aldeia Nova”, em 1942, e em 1943 publica o romance “Cerromaior”, que foi transposto para o cinema em 1980, pelo realizador Luís Felipe Rocha.
Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos. Autor de uma obra ancorada na realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras marginais como o "maltês" ou o vagabundo.
Além de romancista, poeta, contista e cronista, foi também argumentista (o filme “Os Três da Vida Airada” é disso exemplo), e esteve também ligado à música através de poemas que escrevia para alguns dos cantores portugueses. Escreveu também para jornais e revistas e fez parte do grupo do Novo Cancioneiro.
Era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores quando esta atribuiu o Grande Prémio da Novelística a José Luandino Vieira pela sua obra Luuanda, o que levou ao encerramento desta instituição e à sua prisão pela PIDE.
Em 1972 casa com Arlete Ventura e em 1983 é condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada. Em 1985 casa com Hermínia Matos e morre a 11 de Março de 1993 no Hospital de S. José, devido a uma queda na sua residência, em Santiago do Cacém.
No prefácio de uma das edições dos contos “O Fogo e as Cinzas” (1951), Manuel da Fonseca escreve:
“As pessoas de quem escrevo são as que houve na minha vida. Gente de família ou conhecida. Nelas me fui descobrindo e sendo eu próprio as vidas que contei. É isso, eu. Até quando escutava a vida de algum desconhecido, logo descobria que esse desconhecido era dois ou três indivíduos que já conhecia, um dos quais, com o tempo, começava a ser eu”.
As suas obras, para além das já citadas, são:
Poemas Completos – 1958
Um Anjo no Trapézio – 1968
Tempo de Solidão – 1973
Antologia de Fialho de Almeida - 1984
Crónicas Algarvias – 1986, escritas no jornal “A Capital”, de quem era colaborador.

Fontes: www.wikipedia.org
www.infopedia.pt
Jornal Expresso – semanário semmais




ANTES QUE SEJA TARDE

Amigo,
Tu que choras uma angústia qualquer
E falas de coisas mansas como o luar
E paradas
Como as águas de um lago adormecido,
Acorda!
Deixa de vez
As margens do regato solitário onde miras
Como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
Desse país inventado
Onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
Do barco ao deus-dará
E esse ar de renúncia
Às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
Liberta-te dessa paz podre de milagre
Que existe
Apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
Abre os braços e luta!
Amigo,
Antes de a morte vir
Nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca – Poemas Completos


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Dama da Fonte – III

Depois de várias aventuras pelo caminho, o Rei e os seus cavaleiros encontraram finalmente Sir Owein, sendo recebidos por ele com um grande banquete, onde ele apresentou a sua mulher, a Dama da Fonte, ao rei.
Depois de alguns dias de repouso, Artur e a comitiva voltaram para casa, mas antes, o rei convidou o cavaleiro a regressar com ele para tomar parte nas caçadas que se iriam realizar. Contrariada, Laudine deixou-o partir na condição de o marido se apresentar no castelo ao fim de um certo tempo. Owein prometeu cumprir o prazo estabelecido e a Dama da Fonte deu-lhe um anel que o protegeria de todos os ferimentos que pudesse receber.
E o tempo foi passando em festas, torneios, caçadas e aventuras onde o seu manejo das armas lhe trouxe fama e glória. Apenas Sir Gawain, o seu melhor amigo, o conseguia igualar. E Sir Owein, no meio de tudo isto, esqueceu Castelo, Dama da Fonte, a promessa de voltar…E o prazo foi em muito ultrapassado, até que um dia, um mensageiro se chegou ao pé dele e em nome da Dama pediu-lhe de volta o anel, chamando-o de traidor e banindo-lhe para sempre o acesso ao Castelo.
Cheio de vergonha e remorsos, Owein abandonou a Corte, internando-se pelos bosques, onde, num acesso de loucura e vagueando sem rumo, se tornou num homem primitivo. Os cabelos e a barba cresceram tornando-o irreconhecível, as roupas foram apodrecendo, até que faminto, com o corpo nu e imundo, cheio de feridas, se acercou de um castelo, caindo desfalecido no jardim.
Recolhido pela dona do castelo e graças a um unguento maravilhoso que lhe foi administrado, ao fim de algum tempo o cavaleiro achava-se completamente restabelecido. Despedindo-se da castelã, jurou a si mesmo que a sua espada passaria a ser usada não para sua glória pessoal, mas em socorro dos fracos e indefesos, a fim de ganhar de novo o amor da sua Dama.
Passando por uma floresta ouviu uns rugidos medonhos, indicando que um leão se encontrava próximo. Com cautela e a espada desembainhada, o cavaleiro avançou até deparar com um leão que se debatia nos anéis de uma grande cobra. Era ele que soltava aqueles urros ao sentir-se cada vez mais apertado por aquele abraço mortal e do qual não se conseguia libertar. Owein, não hesitou e cortou a cabeça da serpente, mas ficou em guarda aguardando o ataque do leão. Este, depois de sacudir a juba, dirigiu-se mansamente até junto do cavaleiro, deitando-se-lhe aos pés, com que em agradecimento. E a partir daí, a fera acompanhou-o para todo o lado como se fosse um grande cão, correndo ao lado do cavalo durante as viagens, ajudando-o nos combates ou vigiando-lhe o sono durante a noite, protegendo-o de qualquer perigo.
Desde então, Owein passou a ser conhecido como o Cavaleiro do Leão, e as suas aventuras como um paladino da justiça, granjearam-lhe grande fama e reconhecimento. O tempo foi passando e Owein achou que já poderia regressar aos seus domínios. Durante o percurso, ainda conseguiu salvar Lunet de ser queimada e com a sua ajuda entrou no Castelo, onde conseguiu que Laudine o perdoasse e o aceitasse de novo como seu marido e Guardião da Fonte.


Nota: Owein, também conhecido por Ivain, o Cavaleiro do Leão (em francês: Yvain, le Chevalier au Lion) é um poema de Chrétien de Troyes, poeta e trovador francês dos finais do sec. XII e autor de romances de cavalaria, que inspiraram toda a literatura ocidental durante a Idade Média. Foi escrito provavelmente nos anos 1170, sendo o personagem principal, Ivain baseado numa figura histórica, Owain mab Urien.
Este poema inclui o conto da Dama da Fonte, que, por sua vez, é um dos três romances do Mabinogion, colectânea de contos celtas escritos em língua galesa e onde constam as aventuras de Owein ou Yvain. Como quase toda a obra de Chrétien de Troyes gira em volta do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, pôs-se a questão se estes romances não seriam versões galesas dos contos de Chrétien, mas o mais provável é que sejam versões diferentes da mesma história, com origem em tradições célticas bem mais antigas.

Fontes: www.wikipedia.org
O Mabinogion





quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Dama da Fonte – II

Tudo aconteceu tal como a jovem dissera, e quando o sentiu junto de si, levou-o para um magnífico aposento onde lhe serviu uma copiosa refeição, indicando-lhe depois um leito luxuosamente ataviado onde o cavaleiro poderia descansar.
Ao romper do dia, um imenso e lamentoso clamor reboou pelo castelo. Abrindo uma janela, Owein observou um grande cortejo de damas, cavaleiros, homens de armas e clérigos acompanhando o féretro do senhor do castelo, que tinha falecido dos ferimentos recebidos. A fechar o cortejo, seguia uma dama cujos lamentos soavam mais alto que os cânticos fúnebres entoados pelos sacerdotes. A sua beleza era tal, que ao vê-la, mesmo no estado desalinhado em que se encontrava, Owein se sentiu perdidamente apaixonado.
Lunet informou-o que se tratava de Laudine, a Dama da Fonte, a viúva do Conde Esclados, o Cavaleiro Negro.
“A Deus eu digo”, exclamou Owein, “que esta é a dama que eu mais amo”.
“Deus também sabe, que a ti ela não ama, nem muito, nem pouco, nem nada”, respondeu-lhe a donzela.
No entanto, prometeu interceder por ele e recomendando-lhe que não abandonasse o quarto, saiu dos aposentos para ir servir a sua senhora.
Laudine, ao vê-la, mostrou-se sentida pela sua ausência no funeral, mas Lunet respondeu-lhe que mais lhe valia pensar em como iria conseguir defender a Fonte e o Castelo, agora que o Cavaleiro tinha morrido.
“Por mim e por Deus te digo”, respondeu a condessa, “que eu jamais poderei recompensar a perda do meu senhor, pondo outro homem no seu lugar!”.
“Pois deverias”, retorquiu a jovem, “ e alguém tão bom ou melhor que ele. Se não puderes defender a Fonte, também não poderás defender os teus domínios, e isso só se consegue pela força das armas. E quanto mais depressa o fizeres melhor para todos. Irei à corte do Rei Artur e trarei um dos seus cavaleiros.”
Repugnada com a ideia, mas sabendo que Lunet estava cheia de razão, a Senhora deixou-a partir.
Voltando para junto de Owen, a jovem ali ficou escondida de todos, o tempo suficiente para a viagem de ida e volta a Camelot. Quando achou que deveria ter chegado ao seu termo, apresentou-se perante Laudine, que lhe perguntou pelo êxito da viagem.
“Trago boas-novas, Senhora, achei o que procurava. Quando quereis ver o cavaleiro que trouxe comigo?”, perguntou Lunet.
“Amanhã pelo meio-dia”, respondeu a Dama da Fonte.
No dia seguinte, à hora marcada, os dois jovens apresentaram-se perante a Senhora do Castelo, que os recebeu com muita gentileza.
“Senhora, apresento-te Sir Owein o cavaleiro do Rei Artur que trouxe comigo”.
A condessa olhou o cavaleiro com muita atenção. Vestido com uma túnica, uma cota de malha e um manto de brocado de seda amarela e calçando uns borzeguins, Owein não tinha aspecto de quem tivesse feito uma grande jornada… Desconfiando da verdade, Laudine perguntou se aquele não teria sido o cavaleiro que lhe tinha morto o marido!
“Melhor para ti, Senhora”, respondeu Lunet, “Se ele não fosse o melhor dos dois, não estaria agora à tua frente. O que está feito, feito está!”.
A condessa mandou reunir os seus vassalos e com a aprovação dos membros do seu Conselho, tomou Sir Owein como marido.
Durante três anos, a felicidade reinou no Castelo de Landuc. Owein, o novo guardião da Fonte, derrubava qualquer cavaleiro que o desafiasse, mantendo-o prisioneiro até receber o seu resgate, distribuindo depois o dinheiro pelos seus vassalos, que retribuíam a sua generosidade com amor e lealdade.
Mas…e há sempre um mas…ao fim deste tempo, o Rei Artur que nada sabia do que poderia ter acontecido ao seu cavaleiro, reuniu os seus companheiros da Távola Redonda e foram no seu encalço…

terça-feira, 18 de outubro de 2011

F.Pessoa - Poema

Dizem que há entre a folhagem

Dizem que há entre a folhagem
Quando tudo está dormindo
Uma coisa como a aragem
Mas que é viva e está sentindo.

Não se sabe se é alguém
De outro mundo ou de outro ser,
Nem se está por mal ou bem
Entre as folhas a tremer.

Mas como é que alguém conhece
O que há quando ninguém vê?
Alguma coisa acontece
Quando ninguém está ao pé?

Não sei; sei que entre a folhagem
De uma noite e dum lugar
Mexe-se mais que a aragem…
Oiço, sinto, essa passagem
Sonho? Mas o que é sonhar?

Fernando Pessoa

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Queda dos Templários

Madrugada de sexta-feira, 13 de Outubro de 1307:
Cumprindo as ordens do rei Filipe IV, o Belo, também conhecido como Rei de Mármore ou Rei de Ferro, Guillaume de Nogaret ministro do Rei, acompanhado do Inquisidor-mór e do tesoureiro real, apresentou-se na fortaleza do Templo e deu voz de prisão a todos os Templários que aí se encontravam, incluindo o seu Grão-Mestre, Jacques de Molay, que ainda estava deitado. Os próprios calabouços do Templo serviram para aí se encerrarem alguns dos cavaleiros, mas o Grão-Mestre e os seus principais foram encerrados na prisão do Louvre.
À mesma hora, por todo o Reino de França, os senescais, presidentes das câmaras e os prebostes reais, acompanhados pelos seus soldados, prenderam em massa todos os Templários que encontraram nas Casas da Ordem.
Praticamente não houve resistência, mas nalgumas, como em Arras, os soldados degolaram metade das pessoas que lá se encontravam.
Davam assim cumprimento às instruções reais contidas numa carta que todas as autoridades foram recebendo desde Setembro desse ano, com a condição expressa de só ser aberta no dia 12 de Outubro e à mesma hora, em todos os locais do reino, guardando-se o mais rigoroso sigilo da mesma.
Não se sabe com precisão quantos cavaleiros foram presos, mas estima-se que fossem cerca de mil, embora também se fale em 4.000. Grande parte dos cavaleiros fugiu para países que os acolheram ou fixaram-se noutros lugares onde a Igreja os não pudesse alcançar. Gerard de Villiers, perceptor de França, foi um dos cavaleiros franceses que conseguiu escapar.
Todos os imensos bens da Ordem em França foram imediatamente confiscados!
Acusados de heresia (práticas demoníacas, adoração de ídolos e vícios contra a natureza), os interrogatórios começaram logo no dia seguinte, 14 de Outubro, dando-se início a um dos processos mais vergonhosos e sinistros da História, o chamado “Processo dos Templários”, que acabará com a supressão da Ordem, pela bula papal Vox in Excelso, de 22 de Março de 1312 e com a morte de alguns dos seus membros, incluindo o Grão-Mestre, condenado à fogueira a 18 de Março de 1314.
Torturados, alimentados a pão e água, instalados em condições sub-humanas e ainda sujeitos ao pagamento da sua prisão, foram-lhes recusados os sacramentos e o sepultamento em terra da Igreja. Não se sabe ao certo quantos terão morrido na fogueira, ou durante os interrogatórios, ou dos ferimentos recebidos, ou dos que ficaram estropiados para o resto da vida física e moralmente.
Quanto a Filipe IV, assim que soube que as prisões tinham sido feitas, dirigiu-se à Torre do Templo e instalou-se lá, levando consigo o seu “tesouro”, que juntou ao que encontrou no local.
Foram também expedidas cartas aos soberanos europeus para que procedessem de igual modo nos seus reinos, contra a Ordem.
Na Europa a Ordem foi extinta, mas com uma ou outra excepção os cavaleiros não foram molestados, sendo integrados em novas Ordens menos expressivas, como foi o caso da “Ordem de Cristo”, fundada em Portugal pelo rei D. Dinis, com os bens e os efectivos templários residentes no país ou que por cá se refugiaram.
Jacques de Molay esteve sete anos na prisão, antes de morrer aos setenta anos de idade. No dia 12 de Outubro, véspera da sua prisão, tinha-se encontrado com o rei, de quem era compadre (Molay era padrinho do filho mais novo de Felipe IV), no funeral da cunhada do monarca, Catarina de Courtenay, esposa de Carlos de Valois, tendo-lhe sido dada a honra de carregar o féretro, o que torna a perfídia do rei ainda mais ignóbil…
Mas como é que uma Ordem tão poderosa como a dos Templários, carregada de glória e riqueza, com uma tradição de dois séculos de existência e que apenas dependia do Papa, pôde ser aniquilada de um dia para o outro?
Na sua juventude o “Rei de Ferro” tinha pedido para ser admitido a título honorário na Ordem, o que lhe foi recusado, acontecendo-lhe o mesmo quando poucos meses antes do aniquilamento dos Cavaleiros Templários, tinha pedido o ingresso na Ordem para o seu filho mais novo. A sua ideia seria tornar hereditário o cargo de Grão-Mestre, reformar a Ordem e mantê-la na dependência directa dos reis franceses. Também em 1306, durante uma sublevação em Paris, o rei tivera de pedir asilo ao Templo onde ficara alguns dias à espera que o motim acalmasse…Demasiadas humilhações para alguém como ele!
Além de que, do seu palácio, o rei todos os dias avistava a Torre, uma lembrança permanente de um Estado dentro de outro Estado, com as suas liberdades, privilégios, a sua alta, baixa e média justiça e o seu direito de asilo, que nem o Rei se atrevia a quebrar.
Portanto, as razões para a queda foram muitas e diversas, mas situam-se principalmente na luta feroz que se desenvolveu entre a França e o Papado, entre Filipe IV e Bonifácio VIII, sem esquecer a aura de imensa riqueza que a Ordem possuía, o chamado “Tesouro dos Templários”, que para um rei sempre esfomeado de dinheiro como o monarca francês, e que tinha uma enorme dívida para com o Templo, se tornava numa tentação irresistível que o não faria recuar perante nada…
Com esta medida, Filipe IV consegue equilibrar as finanças reais, e ao destruir o exército da Igreja, com a ajuda do Papa Clemente V que ele próprio tinha elevado ao trono pontifício, e que se estabelece em 1309 em solo francês na cidade de Avinhão, abandonando Roma (o que dará início ao Cisma de Avinhão, também conhecido como o Cativeiro de Babilónia), o rei consegue tornar-se no senhor absoluto do reino de França.
É a partir deste acontecimento, que tanto o dia 13 como a sexta-feira entraram para a superstição popular como azarentos.
Em outros episódios, (o tema “Templários”é inesgotável), tentarei descrever as principais personagens envolvidas nesta mesquinha trama, digna das melhores tragédias gregas!


O Adeus à Virgem

HINO

Louvada seja na terra
A Virgem Santa Maria:

Quer nas horas de tristeza,
Quer nas horas de alegria;
Quer sobre as ondas do mar,
Lá com a morte à porfia;
Quer nos escuros caminhos
Pelas noites de invernia;
Quer no lume da lareira,
Quer no sol quando alumia;
Quer no amor de toda a hora,
Quer no pão de cada dia…

Louvada seja na terra
A Virgem Santa Maria!



Imagem: paroquiasarouca.blogspot.com


terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Dama da Fonte – I


Owein, filho do rei Urien e um dos Cavaleiros da Távola Redonda, ouviu um dos seus companheiros contar uma aventura que lhe tinha acontecido na Floresta de Brocéliande, onde ao defrontar o Cavaleiro Negro, guardião da Fonte de Barendon, fora derrotado e para sua maior humilhação, o seu adversário nem sequer se tinha dignado aprisioná-lo, apenas lhe tinha ficado com o cavalo.
Resolvido a defrontar ele mesmo o desconhecido Cavaleiro, Owein aprontou o seu cavalo e partiu em direcção a um castelo de que o seu companheiro tinha falado, a fim de se informar do caminho a percorrer. Lá chegado, o dono do castelo convidou-o a entrar. Encontrou na sala vinte e quatro donzelas. Seis delas cuidaram do seu cavalo, outras seis limparam as suas armas, mais seis trouxeram-lhe uma muda de roupa e as restantes seis puseram a mesa. Assim que todos se sentaram, o anfitrião perguntou-lhe qual a finalidade da sua viagem.
“Quero encontrar alguém que me possa vencer, ou eu mesmo triunfar sobre todos.
- Se eu não acreditasse que te aconteceria algum mal, indicar-te-ia o que procuras”.
Vendo a decepção estampada no rosto do seu convidado, o castelão continuou:
“Bem, uma vez que preferes que eu te indique algo desvantajoso para ti, em vez de algo vantajoso, podes dormir aqui esta noite. Levanta-te cedo e toma o caminho do vale até ao primeiro entroncamento à direita. Numa grande clareira, encontrarás um gigante negro no cimo de um outeiro. E descrevendo o homem negro, o dominador dos animais, fácil é reconhecer nele o deus Kernunnos”.
De manhã, o cavaleiro tomou o caminho do vale. No cimo do outeiro, o gigante pareceu-lhe bem maior do que o seu anfitrião dissera e os animais selvagens bem mais numerosos. Para mostrar o poder que detinha sobre eles, o deus bateu com o seu bordão num veado que logo soltou um grande bramido. Logo acorreram milhares de animais aos quais ordenou que fossem pastar. Eles inclinaram a cabeça e obedeceram. Owein perguntou-lhe qual era o caminho. Ele respondeu de mau modo, mas mostrou-lhe um caminho que subia uma colina, dizendo-lhe que quando chegasse ao cimo, avistaria ao fundo do vale, a Fonte de Barenton, com a sua grande árvore verde, a sua laje de mármore e a sua bacia de prata, presa com uma corrente.
Owein chegou lá facilmente e, aos pés da árvore, imagem de vida e traço de união entre o céu e a terra, lembrando-se da conversa do seu companheiro, tirou a água da fonte com a bacia e derramou-a sobre a pedra. Desencadeou-se uma violenta tempestade, depois o sol brilhou e, sobre o carvalho despojado das suas folhas, veio pousar um bando de aves que se puseram a cantar.
Enquanto escutava o seu canto, ouviu gemidos e viu Esclados, o Cavaleiro Negro vir ao longo do vale. Baixaram ambos as suas lanças e atacaram-se furiosamente, de tal maneira que as lanças se quebraram. Desembainharam então as espadas e tão bem se bateram que Owein acabou por desferir tamanho golpe no seu adversário que a lâmina atravessou o elmo atingindo o crânio. Sentindo-se ferido mortalmente, o cavaleiro negro fugiu e Owein foi-lhe no encalço.
O ferido alcançou a entrada de um castelo e desapareceu. Owein quis entrar atrás dele, mas os habitantes baixaram a grade que atingiu a patilha da sua sela e cortou o cavalo ao meio. Ao fecharem também a pesada porta, o nosso herói viu-se prisioneiro entre ela e a grade.
Sem saber como se libertar, o cavaleiro viu uma linda jovem aproximar-se dele estendendo-lhe através da grade um anel ao mesmo tempo que lhe dizia:
“Chamo-me Lunet e sirvo a senhora do Castelo de Lundoc. Daqui a pouco os homens virão buscar-te para te matar pois o Guardião da Fonte com quem combateste pouco mais tempo terá de vida. Quando os vires, põe este anel e ficarás invisível. Como
terão que abrir a grade para te procurar lá fora, entras e vais ter comigo junto àquele muro.”

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Como o Ouriço-cacheiro ganhou os espinhos

Conto adaptado:

Há muitos, muitos anos, lá no Norte distante, nasceu pela primeira vez um castanheiro.
Os animais do bosque não conheciam tal árvore, e quando um dos seus ouriços caiu, correram a abocanhá-lo…
- Ai! – gritaram todos, afastando-se.
- Esperem! – disse uma vozinha lá de dentro – olhem…
E, espantados, os animaizinhos viram a casca abrir-se e mostrar dois lindos frutos acastanhados, deliciosos ao paladar.
A notícia correu veloz por todos os bosques e todos ficaram a saber que o castanheiro dava frutos muito saborosos, mas encerrados numa casca com espinhos.
O Ouriço-cacheiro, que nessa altura era um bichinho pequeno e tão careca como a palma da mão, pôs-se a caminho para ir provar essa maravilha, sem se aperceber de que a Raposa, farejando uma boa refeição, o seguia disfarçadamente.
Chegando lá, o Ouriço cravou os dentes numa linda castanha caída no chão…quando apavorado, viu à sua frente a Raposa de boca aberta, pronta para o saborear…
- Socorro! – gritou o pobre, angustiado.
- Espera! – exclamou compadecido o castanheiro.
E uma casca vazia, coberta de espinhos, caiu sobre o ouriço cobrindo-o da cabeça aos pés, no preciso momento em que a sua inimiga o abocanhava!
- Aiiiiiiiii…uivou a Raposa, dando pulos de dor e fugindo dali a sete pés, para gáudio dos restantes bichos, que, encolhidos de medo, assistiam à cena.
- Foge, foge! – disse o Ouriço a rir, já refeito do tremendo susto que tinha apanhado – Muito obrigado, castanheiro, por me teres ajudado, e quanto a ti, ouriço da castanha, já não te deixo…Embora por fora estejas cheio de espinhos, por dentro és macio e quentinho como um cobertor de lã, e não posso encontrar melhor agasalho do que tu!
- Com queiras – disse a casca – assim ainda tenho utilidade, em vez de ficar por aí a apodrecer…
Desde então, o corpo do Ouriço fixou cheio de espinhos aguçados, o que lhe permitiu defender-se dos seus inimigos e alimentar-se melhor, pelo que cresceu e engordou.
A Raposa é que nunca mais se chegou ao pé dele…

Fontes: Vérité, Marcelle – Contos do Sol, Ed. Verbo.
Imagens: arcadenoe.sapo.pt
Castanhadosmontes.wordpress.com

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia Mundial dos Animais

O homem é o único animal que cora, ou melhor, que tem motivo para corar”.
Mark Twain





Porque me abandonaste?

domingo, 2 de outubro de 2011

A Queda de Jerusalém

Mapa de Jerusalém no tempo das Cruzadas.
A 2 de Outubro de 1187 (o vigésimo sétimo dia do Rajab do ano de 583), aniversário da elevação de Maomé aos céus levado pelo Arcanjo S. Gabriel, Saladino (Salah al-Din Yusuf ibn Ayub), à frente das suas tropas entrou em Jerusalém terminando com 88 anos de domínio cristão, e tornando-a de novo muçulmana.
Ao contrário de 1099, quando a cidade fora tomada pelos Cruzados num autêntico banho de sangue resultante da carnificina feita pelos cristãos durante dois dias, desta vez não houve nenhum massacre.
Desde 20 de Setembro que o Sultão cercara a cidade com o seu grande exército, mas apenas a 26 desse mês começou o ataque, inicialmente em frente à Torre de David, com uma chuva de flechas tão densa, que, segundo o relato de um cristão, não se podia erguer um dedo acima das muralhas sem se ficar ferido. Mudou depois a sua força principal para junto da Porta de Santo Estêvão, atacando com catapultas e mandando minar as muralhas.
Os defensores da cidade aptos para combate eram poucos, pois por “cada homem havia cinquenta mulheres e crianças” estando a chefia entregue a Balian de Belin, um cavaleiro respeitado até mesmo por Saladino, e ao Patriarca de Jerusalém, Heraclio, que poderiam contar com a experiência e tradicional coragem de alguns cavaleiros Templários e Hospitalários.
Balian de Belin tinha saído de Tiro, onde combatia, para ir a Jerusalém retirar da cidade a sua mulher e filhos, tendo para isso a permissão de Saladino, na condição de não se envolver na batalha pela cidade. Ao aceitar a chefia da defesa de Jerusalém mandou pedir a Saladino que o libertasse da palavra dada, ao que o Sultão acedeu.
Uma das suas primeiras medidas foi armar cavaleiros todos os rapazes com mais de 16 anos, para que pudessem combater, mas de pouco serviu, pois as máquinas de assédio do Sultão causaram tal estrago, que a 30 de Setembro, Balian foi encarregado de negociar uma rendição.
Ao princípio, Saladino recusou, o sangue cristão deveria lavar o sangue muçulmano derramado oitenta anos antes, mas o cavaleiro, mantendo a calma, ameaçou:
“Se temos de renunciar a toda a esperança, então bater-nos-emos desesperadamente, deitaremos fogo às casas e aos vossos santuários, destruiremos a Cúpula e derrubaremos o Rochedo, passaremos à espada os cerca de 5.000 prisioneiros muçulmanos que temos em nosso poder e mataremos as nossas mulheres e filhos de modo a não ficar ninguém vivo”.
Sabendo que Balian cumpriria a sua ameaça, o Sultão exigiu então a rendição incondicional da cidade senão “ tomaria Jerusalém pelas armas acontecesse o que acontecesse”.
As negociações continuaram e Saladino, para demonstrar a sua generosidade, aceitou que os cristãos pagassem pela sua liberdade, sendo dez denários por cada homem, cinco por mulher e um por cada criança. Os que não pudessem pagar seriam escravizados.
No entanto havia dentro da cidade cerca de vinte mil refugiados pobres que não teriam qualquer hipótese de pagar o seu resgate. Saladino pediu cem mil denários por eles, mas depois de informado que não havia esse dinheiro, aceitou trinta mil por 7.000 pobres. Fizeram-se então colectas para reunir o dinheiro, tendo os Templário e os Hospitalários contribuído com parte do dinheiro existente nos seus cofres.
Os cristãos ortodoxos preferiram ficar na cidade pagando uma taxa, e dos restantes pobres, o Sultão deixou sair mais alguns, especialmente as viúvas dos soldados mortos, as mulheres dos que estavam prisioneiros e os anciãos, mandando-lhes distribuir esmolas. O irmão de Saladino e alguns nobres muçulmanos também libertaram mais alguns milhares, restando por fim, cerca de oito mil refugiados, cujo destino foi a escravatura…
Nenhum edifício foi saqueado, ninguém foi molestado e a Igreja do Santo Sepulcro só esteve fechada durante três dias, depois foi aberta ao culto, podendo os cristãos visitá-la pagando uma pequena quantia. Os Lugares Santos ficaram sob a jurisdição da Igreja Ortodoxa.
A Mesquita de Al-Aksa e o Domo da Rocha foram limpos e purificados de qualquer sinal cristão que ostentassem e a cruz de metal dourado que encimava o Rochedo foi retirada e enviada de presente ao califa de Bagdad que a mandou cravar nos degraus da mesquita principal da cidade para ser pisada pelos fiéis quando lá fossem fazer as suas orações.
Quando os portões de Jerusalém se abriram para deixar passar os refugiados, estes foram divididos em três grupos, escoltados por soldados de Saladino, como protecção, até à fronteira com o condado cristão mais próximo.
O historiador árabe Abu Shâmah, professor da Universidade de Damasco em meados do sec. XIII, diz o seguinte: “Saladino à cabeça de um grupo de homens vindos do Paraíso combateu os enviados do Inferno com um tal sucesso que a Terra Santa foi purificada e, com a ajuda de Alá, liberta dos seus sofrimentos”.
A notícia da queda de Jerusalém provocou uma tal dor e indignação no Ocidente, que ao apelo dos Papas Gregório VIII (que entretanto faleceu), e do seu sucessor Clemente III, os três maiores reis da Cristandade, o Imperador Frederico I Barba Roxa, Filipe Augusto de França e Ricardo I Coração de Leão, de Inglaterra, tomaram a cruz e rumaram ao Oriente dando início à Terceira Cruzada, a mais famosa de todas, devido às personagens nela envolvidas.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Godes, Jesús Mestre – Os templários
Reston Jr, James – Os Guerreiros de Deus
www.wikipedia.org
Imagens:
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Pierre Tetar van Elvan