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Ilustração de Dante
Gabriel Rossetti para a
capa de Goblin Market and Other Poems (1862), primeiro de poemas de
Christina Rossetti
Song
When I am
dead, my dearest,
Sing no
sad songs for me;
Plant thou
no roses at my head,
Nor shady
cypress tree;
Be the
green grass above me
With
showers and dewdrops wet;
And if
thou wilt, remember,
And if
thou wilt, forget.
I shall
not see the shadows,
I shall
not feel the rain;
I shall
not hear the nightingale
Sing on,
as if in pain;
And
dreaming through the twilight
That doth
not rise nor set,
Haply I
may remember
And haply
may forget.
Quando
estiver morta, querido amor,
Não
cantes canções tristes por mim,
Não
plantes rosas sobre a minha cabeça,
Nem um
ombroso cipreste;
Que nasça
a verde erva sobre mim
Regada de
gotas e orvalho;
E se te
apetecer, recorda,
E se te
apetecer, esquece.
Eu não
mais verei as sombras,
Não
sentirei a chuva,
Nem
ouvirei o rouxinol
A cantar
como se sofresse;
E sonhando
num crepúsculo
Que não
nasce nem se põe,
Talvez
possa recordar
Talvez
possa esquecer.
Christina
Rossetti – in Goblin Market and Other Poems
Fontes:
wikipedia org.
Os Poetas
Pré-Rafaelitas, Antologia Poética – Círculo de Leitores
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Christina Georgina Rossetti
terça-feira, 7 de abril de 2015
Gabriela Mistral
Gabriela
Mistral,
pseudónimo da poetisa chilena Lucila
de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu
a 7 de Abril de 1889, na pequena vila de Vicuña, no Vale de Equi, a
norte do Chile, filha de
Juan Jerónimo Godoy Villanueva, e de Petronila Alcayaga Rojas, de
ascendência basca. Foi
criada na aldeia de Monte Grande, no mesmo vale, por sua mãe e uma
irmã mais velha. O pai, um professor primário, que escrevia
pequenos poemas para ela e lhos cantava à guitarra, abandonou a
família quando ela tinha 3 anos de idade. Dele, como diria mais
tarde Gabriela, herdou a veia poética e a alma nómada.
Poetisa,
educadora, diplomata e feminista chilena, foi a primeira escritora
latino-americana a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1945,
sendo comparada a Unamuno por alguns críticos. Eugénio d'Ors
chamou-lhe o “Anjo da Guarda da República do Chile”. Ninguém
como ela sentiu e descreveu os contrastes da paisagem chilena.
Tida como um
exemplo de honestidade moral e intelectual e movida por um profundo
sentimento religioso, a tragédia do suicídio do noivo marcou toda a
sua poesia com um forte sentimento de carinho maternal,
principalmente nos seus poemas em relação às crianças. Na sua
obra aparecem como temas recorrentes: o amor pelos humildes, um
interesse mais amplo por toda a humanidade.
Iniciou
a sua vida aos 15 anos, dando aulas e em 1914 obtém o 1º Prémio
nos Jogos Florais de Santiago do Chile com “Sonetos de La Muerte”,
sob o pseudónimo de Gabriela Mistral, formado a partir do nome dos
seus dois poetas preferidos – o italiano Gabriel D'Annunzio e o
francês Frederico Mistral - e com o qual se tornou universalmente
conhecida. Os “Sonetos” foram inspirados pelo suicídio do seu
noivo em 1909. Gabrielle nunca se casaria mas em 1946
conheceu a escritora estadounidense Doris Dana, com quem estabeleceu
uma relação de amizade que se manteve até à sua morte e a quem
confiou a sua obra, para que os direitos obtidos pela sua venda
fossem destinados às crianças de Montegrande.
Os temas centrais
nos seus poemas são o amor, o amor de mãe, memórias pessoais
dolorosas, mágoa e recuperação. A mãe de Lucila faleceu no ano de
1929 e a escritora dedicou-lhe a primeira parte de seu livro Tala, a
que chamou: Muerte de mi Madre.
Em 1922, o
Instituto Hispânico de Nova Iorque publicou uma colectânea das suas
poesias dispersas, sob o título de “Desolação”,
na qual está incluído o poema “Dolor” onde
fala da perda do seu amado. O sentimento de maternidade frustrada
aparece nos trabalhos seguintes, Ternura (1924)
e Tala (1938). Escreve depois Nuvens
Brancas (1930), A Oração da Mestra,
que lhe valeu o título de Cantora da Raça
(1930), Leituras para Mulheres (1932), Vidas
de Artesãos Franceses, obra-prima de prosa, e Vida
de S. Francisco de Assis uma obra excepcional, que
reflecte tendências para o misticismo e religiosidade. Antologia
(1941), Lagar (1954), Recados Contando
a Chile (1957), Poema de Chile
(1967).
Em 1922, foi
encarregada de estudar, no México a organização de bibliotecas.
Representou o Chile no Congresso dos Educadores, em Lucarno, e na
Conferência International das Universidades, em Madrid.
O Prêmio Nobel
transformou-a em figura de destaque na literatura internacional o que
a levou a viajar por todo o mundo e representar seu país em
comissões culturais das Nações Unidas. A notoriedade a obrigou a
abandonar o ensino para desempenhar diversos cargos diplomáticos na
Europa. Foi Secretária do Instituto de Cooperação Intelectual da
Sociedade das Nações; desempenhou funções consulares em diversos
países: Génova, Madrid, Lisboa, Petrópolis, Los Angeles. Conhecia
Portugal, sendo admiradora de Gil Vicente.
Sofrendo de
diabetes e com problemas cardíacos faleceu em 1957 numa clínica em
Hempstead, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Três anos
depois de morrer, o seu corpo foi trasladado, do Cemitério Geral de
Santiago para a sua aldeia natal, onde a população prestou uma
comovida homenagem à sua memória. O Governo chileno determinou que
a casa onde nascera e vivera fosse considerado monumento nacional.
Foi sepultada por sua expressa determinação numa colina junto do
Monte Grande, em cripta aberta na terra, apenas coberta por uma
pedra, na qual se encontra o seguinte epitáfio:
“Gabriela
Mistral – Prémio Nobel, 1945 – 7-4-1889 – 10-1-1957. O que a
alma faz pelo seu corpo é o que o artista faz pelo seu povo. G.M.”.
LOS SONETOS DE LA
MUERTE
Del nicho helado en que los hombres te pusieron,
te bajaré a la tierra humilde y soleada.
Que he de dormirme en ella los hombres no supieron,
y que hemos de soñar sobre la misma almohada.
Te acostaré en la tierra soleada con una
dulcedumbre de madre para el hijo dormido,
y la tierra ha de hacerse suavidades de cuna
al recibir tu cuerpo de niño dolorido,
Luego iré espolvoreando tierra y polvo de rosas,
y en la azulada y leve polvoreda de luna,
los despojos livianos irán quedando presos.
Me alejaré cantando mis venganzas hermosas,
¡porque a ese hondor recóndito la mano de ninguna
bajará a disputarme tu puñado de huesos!
Del nicho helado en que los hombres te pusieron,
te bajaré a la tierra humilde y soleada.
Que he de dormirme en ella los hombres no supieron,
y que hemos de soñar sobre la misma almohada.
Te acostaré en la tierra soleada con una
dulcedumbre de madre para el hijo dormido,
y la tierra ha de hacerse suavidades de cuna
al recibir tu cuerpo de niño dolorido,
Luego iré espolvoreando tierra y polvo de rosas,
y en la azulada y leve polvoreda de luna,
los despojos livianos irán quedando presos.
Me alejaré cantando mis venganzas hermosas,
¡porque a ese hondor recóndito la mano de ninguna
bajará a disputarme tu puñado de huesos!
LA MAESTRA
RURAL
La maestra era pura. "Los suaves hortelanos",
decía, "de este predio, que es predio de Jesús,
han de conservar puros los ojos y las manos,
guardar claros sus óleos, para dar clara luz".
La maestra era pobre. Su reino no es humano.
(Así en el doloroso sembrador de Israel.)
Vestía sayas pardas, no enjoyaba su mano
¡y era todo su espíritu un inmenso joyel!
La maestra era alegre. ¡Pobre mujer herida!
Su sonrisa fue un modo de llorar con bondad.
Por sobre la sandalia rota y enrojecida,
era ella la insigne flor de su santidad.
¡Dulce ser! En su río de mieles, caudaloso,
largamente abrevaba sus tigres el dolor.
Los hierros que le abrieron el pecho generoso
¡más anchas le dejaron las cuencas del amor!
¡Oh labriego, cuyo hijo de su labio aprendía
el himno y la plegaria, nunca viste el fulgor
del lucero cautivo que en sus carnes ardía:
pasaste sin besar su corazòn en flor!
Campesina, ¿recuerdas que alguna vez prendiste
su nombre a un comentario brutal o baladí?
Cien veces la miraste, ninguna vez la viste
¡y en el solar de tu hijo, de ella hay más que de ti!
Pasò por él su fina, su delicada esteva,
abriendo surcos donde alojar perfección.
La albada de virtudes de que lento se nieva
es suya. Campesina, ¿no le pides perdón?
Daba sombra por una selva su encina hendida
el día en que la muerte la convidò a partir.
Pensando en que su madre la esperaba dormida,
a La de Ojos Profundos se dio sin resistir.
Y en su Dios se ha dormido, como en cojín de luna;
almohada de sus sienes, una constelación;
canta el Padre para ella sus canciones de cuna
¡y la paz llueve largo sobre su corazón!
Como un henchido vaso, traía el alma hecha
para dar ambrosía de toda eternidad;
y era su vida humana la dilatada brecha
que suele abrirse el Padre para echar claridad.
Por eso aún el polvo de sus huesos sustenta
púrpura de rosales de violento llamear.
¡Y el cuidador de tumbas, como aroma, me cuenta,
las plantas del que huella sus huesos, al pasar!
La maestra era pura. "Los suaves hortelanos",
decía, "de este predio, que es predio de Jesús,
han de conservar puros los ojos y las manos,
guardar claros sus óleos, para dar clara luz".
La maestra era pobre. Su reino no es humano.
(Así en el doloroso sembrador de Israel.)
Vestía sayas pardas, no enjoyaba su mano
¡y era todo su espíritu un inmenso joyel!
La maestra era alegre. ¡Pobre mujer herida!
Su sonrisa fue un modo de llorar con bondad.
Por sobre la sandalia rota y enrojecida,
era ella la insigne flor de su santidad.
¡Dulce ser! En su río de mieles, caudaloso,
largamente abrevaba sus tigres el dolor.
Los hierros que le abrieron el pecho generoso
¡más anchas le dejaron las cuencas del amor!
¡Oh labriego, cuyo hijo de su labio aprendía
el himno y la plegaria, nunca viste el fulgor
del lucero cautivo que en sus carnes ardía:
pasaste sin besar su corazòn en flor!
Campesina, ¿recuerdas que alguna vez prendiste
su nombre a un comentario brutal o baladí?
Cien veces la miraste, ninguna vez la viste
¡y en el solar de tu hijo, de ella hay más que de ti!
Pasò por él su fina, su delicada esteva,
abriendo surcos donde alojar perfección.
La albada de virtudes de que lento se nieva
es suya. Campesina, ¿no le pides perdón?
Daba sombra por una selva su encina hendida
el día en que la muerte la convidò a partir.
Pensando en que su madre la esperaba dormida,
a La de Ojos Profundos se dio sin resistir.
Y en su Dios se ha dormido, como en cojín de luna;
almohada de sus sienes, una constelación;
canta el Padre para ella sus canciones de cuna
¡y la paz llueve largo sobre su corazón!
Como un henchido vaso, traía el alma hecha
para dar ambrosía de toda eternidad;
y era su vida humana la dilatada brecha
que suele abrirse el Padre para echar claridad.
Por eso aún el polvo de sus huesos sustenta
púrpura de rosales de violento llamear.
¡Y el cuidador de tumbas, como aroma, me cuenta,
las plantas del que huella sus huesos, al pasar!
Fontes:
www.wikipedia,org.
Lopes de
Oliveira, Américo – Dicionário de Mulheres Célebres
Poemas:
www.los-poetas.com.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
GOETHE
Johan Wolfgang
von Goethe, nasceu em Frankfurtam Main, a 28 de Agosto de 1749, sendo
considerado não só o maior escritor alemão, como também um dos maiores vultos
do Renascimento.
Filho mais velho
de Johan Caspar Goethe, jurista e homem culto que não exercia o cargo, vivendo
dos rendimentos da sua fortuna pessoal, e de Catharina Elizabeth Goethe,
oriunda também de uma família abastada, teve, juntamente com sua irmã, uma
educação esmerada.
Embora preparado
para ser advogado, foi um exímio cientista, especialista em morfologia
biológica; dirigiu orquestras e uma ópera; pintor de mérito, foi ministro
principal do seu Estado alemão de Weimar e jornalista ocasional; falava alemão,
francês, inglês, italiano, latim, grego e hebraico e traduziu para alemão
Cellini, Voltaire e Byron.
A multiplicidade
dos seus interesses e a variedade dos seus escritos faz com que escape a uma
classificação definitiva. Se, por um lado, Goethe herdou do Iluminismo um certo
olhar sobre a existência dominado pela razão e a curiosidade científica, os
seus trabalhos sobre a Natureza revelam a descoberta de um espírito marcado
pela instabilidade e pela metamorfose. Se, por um lado, manteve a sua fé na
capacidade humana, a sua obra realça o que no Homem existe de desordem
interior, cuja vivência acentua uma qualidade trágica semelhante à dos gregos,
só que agora são os sentidos e os sentimentos que abrem os abismos por onde se
resvala.
Em Goethe, a
vida e a obra têm tão íntima ligação que se tornou célebre a afirmação que
todas as suas obras são “fragmentos de uma grande confissão”.
A sua biografia
– dos amores às viagens – é essencial para a total compreensão da sua obra
multifacetada.
Apreciava todas
as formas de arte e definiu uma vez a arquitectura como “eine erstarrte Musik” (música
congelada).
Grande poeta e
dramaturgo, foi, juntamente com Herder e Schiller, o criador do movimento
literário conhecido como Sturms und Drung (tempestade e pressão), antecipando
já então os grandes temas do Romantismo europeu.
Em 1774, a
novela epistolar Die Leiden des jungen Werther (Os Sofrimentos do Jovem Wether)
– que parece ter resultado do seu amor frustrado por Charlotte Buff – se
constitui um verdadeiro estudo de uma sensibilidade doentia, fez desta um
emblema romântico, tornando esta encenação do sofrimento amoroso uma espécie de
imagem de culto, que esteve aliás na origem de uma sucessão de suicídios.
Em 1775 muda-se
para Weimar, a convite do duque Carlos Augusto, onde exerce funções
ministeriais e mantém um romance com Charlotte von Stein, do qual restam
documentados duas mil cartas e bilhetes.
Em 1786, depois
do desgaste da sua relação com Charlotte e farto do seu trabalho, entra em
crise e sem avisar ninguém parte para Itália, onde se mantém até 1786, viajando
pelo país, que adorou. Retorna a Weimar e conhece Christiane Vulpius, uma jovem
de 23 anos, de origem simples, com quem casa em 1806, no mesmo ano em que a
cidade é invadida pelos franceses. O casamento só termina com a morte dela em
1816.
A sua poesia
lírica, desde as canções aos hinos, são de uma simplicidade profunda. Foi,
porém, no drama que Goethe realizou algumas das suas obras mais significativas,
nomeadamente nos casos de Egmont (1787), Iphigenie auf Tauris (1787), Torquato
Tasso (1789), e principalmente “Fausto”, (Fragmento, 1790; I Parte, 1808; II
Parte, 1832).
Esta
actualização do mito fáustico constitui uma das peças fundamentais da cultura
europeia, na medida em que nos dá uma representação simbólica da tragédia do
homem ocidental, animado pela sede de experiencia, entusiasmado pela ideia do
conhecimento – que é, de algum modo, o ímpeto para se igualar a Deus – mas que
o leva, para o conseguir, a estabelecer um pacto demoníaco
O seu talento e
celebridade foram tão grandes, que no seu próprio tempo muitos chefes de Estado
fizeram questão de lhe serem apresentados. Quando Napoleão o conheceu em
Erfurt, em 1808, e o condecorou com a grande cruz da Legião de Honra, observou:
“Voilá un homme!” (Eis um homem!).
Morreu aos 82
anos de idade, a 22 de Março de 1832, na cidade de Weimar, que se tornou o
grande centro da cultura europeia. Está sepultado no Cemitério Histórico, ao
lado do seu grande amigo Friedrich Schiller.
Fontes: www.wikipedia.org
Jornal “O
Público” – Enciclopédia, vol.10
Marsh, B. e
Bruce Carriuck – 365 Grandes Histórias da História.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
François Villon
Considerado um
dos maiores poetas do seu tempo, François
Villon (pseudónimo de François de
Montcorbier ou François des Loges), nasceu
em Paris no ano de 1431, no meio da mais extrema pobreza, quando a França, no
rescaldo da Guerra dos Cem Anos, se encontrava ocupada pelos ingleses.
Orfão de pai aos
12 anos, sua mãe entregou-o a um parente, o padre Guilhaume de Villon que o
adoptou, dando-lhe o seu apelido e custeando-lhe os estudos na Universidade de
Paris, onde em 1452 se licenciou em Artes. O seu tutor tencionava fazer dele um
sacerdote, mas Villon depressa se cansou dos frios tratados de Teologia, preferindo
a vida nocturna e boémia, fazendo parte de uma pandilha de ébrios que gastavam
até ao último tostão em vinho, mulheres e canções.
Deste grupo
fazia parte um padre, Philippe Sermoise. Numa noite de Verão de 1455 e durante
uma briga por causa de uma rapariga, Villon apunhala Sermoise que, ao cair
ferido de morte, ainda consegue ferir o seu rival no rosto, cortando-lhe um
lábio e desfigurando-o para o resto da vida.
A questão era
séria. Villon já adquirira uma reputação detestável pela vida desregrada que
levava, tendo já comprometido seriamente as suas oportunidades na carreira
eclesiástica. Acusado agora de assassínio, o poeta esconde-se fora da cidade
durante uns meses, mas, felizmente para ele, Sermoise, no seu leito de morte
perdoa-lhe, e graças ao seu tutor é-lhe concedido um indulto real. Mas lançado
já numa vida completamente dissoluta, em 1456 na companhia de alguns
assaltantes conhecidos ajuda a roubar a caixa da Faculdade de Teologia.
Desta vez julgou
mais prudente desaparecer de Paris, mas antes, escreveu o seu poema Le Lais, um
conjunto de versos sardónicos que dedicou à cidade e que se tornou conhecido
como O Pequeno Testamento.
Associou-se a
uma quadrilha de assassinos e ladrões que operavam em França, a que era dado o
nome de coquillards, não se sabendo
exactamente o número de roubos de que foi cúmplice.
Aparece em
Blois, em 1457,na corte de Carlos, Duque d'Orleães, príncipe-poeta e
mais tarde pai de Luís XII de França. No manuscrito
onde Carlos regista os seus poemas e os da sua corte, encontram-se três poemas
assinados por Villon (provavelmente escritos ali por ele próprio). O mais longo
deles celebra o nascimento Marie d'Orléans em 19 de dezembro de 1457, filha de
Carlos e Marie de Clèves. Este manuscrito contém ainda a Ballade des contradictions e a Ballade franco-latine, uma sátira a
Fredet, o favorito de Carlos, fazendo com que seja expulso da corte.
Nos fins de 1458, Villon tenta em vão
retomar o contacto com o seu antigo mecenas, aproveitando a vinda deste a Vendôme
para assistir ao processo de traição de seu genro Jean II d'Alençon, fazendo-lhe
chegar duas das suas obras, a Ballade des proverbes e a Ballade
des Menus Propos, mas sem sucesso.
Em 1461,
devido a um crime menor, vai parar à prisão de Meung-sur-Loire,
onde provavelmente compôs o Épître à ses amis e o Débat
du cuer et du corps de Villon. É indultado alguns meses mais tarde,
por alturas da coroação de Luís XII, de França. Compõe então a Ballade
contre les ennemis de la France com o interesse de chamar a atenção
do rei sobre este fato, assim como Requeste au Prince, a Carlos
d´Orléans. Como os dois rejeitam o seu pedido, decide voltar para Paris.
Pode ter
composto a Ballade du bon conseil neste retorno a Paris, mostrando-se
como um delinquente regenerado e depois a Ballade de Fortune, que exprime
sua decepção com o universo parisiense dos letrados que o rejeita.
Aparentemente
é nesse período de andanças por Paris que ele teria escrito sua obra-prima Le
Testament (com algumas baladas possivelmente anteriores). Nesta
obra, Villon finge despedir-se da vida e volta as costas a toda a literatura
que o precedeu. O Grande Testamento só tem de comum com a poesia do seu tempo,
a forma. O conteúdo da obra e o seu espirito são perfeitamente modernos. É o
próprio poeta, com os seus sentimentos, que constitui o centro deste grande
poema, de cerca de 200 versos.
Novamente
preso em 1462 sofre a tortura da água e mais uma vez é condenado à forca. Na
prisão escreve um dos seus mais célebres poemas, a Ballad du Pendus (A BALADA DOS ENFORCADOS):
Irmãos
homens, que após nosso tempo vireis,
Contra nós,
não volvais um duro coração,
Pois se
alguma piedade destes pobres haveis,
Mais depressa
de vós Deus terá compaixão.
Aqui nos
vedes presos, juntos, cinco, seis;
Quando de
nossa carne, antro de tentação,
Comida e
putrefacta, nada mais restar
E nós os
tristes ossos, formos cinza e pó,
Ninguém de
nosso mal queira rir ou folgar,
A Deus, pra
todos nós, rogai absolvição e dó.
Se a vós,
irmãos, clamamos, por nada devereis
Desdenhar destes
pobres cuja execução
A justiça
ditou. De resto, bem sabeis
Que os homens
não têm todos um juízo são;
Já que mortos
estamos, por nós intercedei
Junto d’O que
nasceu de virgem concepção
P’ra que ele
nos preserve da fogueira infernal
E sua graça
infinita não se afaste de nós,
Mortos, que
às nossas almas não venha qualquer mal
A Deus, pra
todos nós, rogai absolvição e dó.
A chuva nos
lavou, em bátegas cruéis,
E secou-nos o
sol e queimou-nos então.
Olhos e
sobrancelhas, cabelos e anéis
Da barba,
tudo foi para os corvos bom quinhão.
Em tempo
algum quietos achado nos haveis
Pois que, pra
cá, pra lá, consoante a viração,
Rígidos oscilámos,
picados pelas aves
Mais ainda do
que um dedal num dedo só,
Não queirais
de nós outros ser míseros confrades,
A Deus, pra
todos nós, rogai absolvição e dó.
Ó príncipe
Jesus, que tens o senhorio
De todos os
mortais, defende-nos do Inferno,
Que é pena
demasiado dura para nós
Homems, não é
motivo pra troça o fogo eterno.
A Deus, pra
todos nós, rogai absolvição e dó.
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Afresco da
Igreja de Santa Anastácia em Verona
Mais uma vez
devido à interferência do padre Guillaume Villon, o poeta escapou a um justo
castigo e a pena de morte foi-lhe comutada por um exílio de Paris por 10 anos.
Deram-lhe três dias para se preparar para a jornada, e, num dia de Janeiro de
1463, pobre como Job e miserável, Villon desapareceu para sempre, não se
sabendo mesmo a data exacta da sua morte.
Tinha pouco
mais de trinta anos e apesar da vida sórdida que levou, a sua alma de poeta
podia produzir obras-primas de ternura, como a Balada à Virgem Maria, escrita para a sua mãe:
(…)
Mulher sou,
pobrezinha de Cristo e anciã,
Nada sei, não
conheço uma letra sequer.
No mosteiro
onde vou rezar pela manhã,
Vejo pintado
um Céu com harpas e alaúdes
E um Inferno
onde são queimados os perdidos.
Este me mete
medo, dá-me alegria aquele.
A bênção da
alegria concede-me alta Deusa,
A quem todo o
que peca deve recorrer
À força de
uma fé que nunca desfaleça.
Nessa fé meu
desejo é viver e morrer.
Os escritores
do Romantismo consideraram-no o primeiro poeta
maldito da história da literatura. O autor desta expressão foi o poeta
Alfred de Vigny que a utilizou pela primeira vez em 1832.
Fontes: Wikipédi. org
Grinberg, Carl - História Universal, vol.8
|
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