quinta-feira, 31 de julho de 2014

Poemas M. de Sá-Carneiro

Estátua Falsa

Só de ouro falso meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram.
Como Ontem para mim, Hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida cobre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar…

Mário de Sá-Carneiro

Provérbios sobre o Tempo



Dado que o clima este ano se tem mostrado um tanto “perturbado”, será talvez melhor consultarmos os antigos ditados populares sobre o assunto, já que “homem prevenido vale por dois”:

A um pôr-do-sol de magia, seguir-se-á noite fria.

Quando o cheiro das flores invade o ar, grande temporal está p’ra rebentar.

Se os mosquitos e moscas se põem a zumbir, uma tempestade deverá surgir.

Se vires um anel luminoso á volta do sol ou á volta da lua, não sejas teimoso, não saias à rua.

Benvindo o som do cabelo a estalar, anuncia bom tempo, muto seco o ar.

Se te doem os ossos ou doem os queixais, virão muitas nuvens, chuvadas e mais…

Nuvens negras no Ocidente, tempestade de repente.

Quando as nuvens cinzentas não param de andar, grande aguaceiro se está a aproximar. 

4º Aniversário



Olá amigos,

O “Baú da História” completou mais um aniversário, e cá estou eu a agradecer-vos a vossa preferência, embora tanto por motivos pessoais como por problemas do meu velhinho PC, nestes últimos sete meses a quantidade de mensagens publicada e os temas das mesmas se tenham ressentido um pouco…e assim irão continuar por mais alguns meses, uma vez que estes serão os dois últimos “posts” que publicarei através do meu amigo “latinhas”, que teve a amabilidade de me informar que dada a sua provecta idade, se deseja retirar definitivamente destas lides!
Assim, e até lhe arranjar um substituto, tentarei sempre que possível voltar ao vosso convívio.
Um abraço e até breve
Cassandra

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Poemas F. Espanca

Fumo
 
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas;
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu amor pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos...

Florbela Espanca, in "Livro de Soror Saudade"