quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A Origem da Via Lactea

O Nascimento da Via Lactea – Peter Paul Rubens
 
A formação da Via Lactea, uma enorme galáxia espiral constituída por um imenso aglomerado de estrelas (200 a 400 biliões), incluindo uma grande variedade de gases e poeiras astrais e onde num dos seus braços, o Braço de Oríon, o nosso sistema solar orbita, era definida pelos Antigos como um caminho celeste, dando origem a muitas lendas através dos séculos e das diversas civilizações que tentaram explicar a razão da sua existência.
A faixa brilhante e sinuosa da Via Láctea instiga a curiosidade humana desde a antiguidade. Pelo fato de se estender por todo o céu, a galáxia foi tida como análoga a caminhos ou rios, como no caso de lendas antigos egípcias, em que era comparada ao Rio Nilo, contudo corria nas áreas habitadas pelos espíritos. Na China e no Japão a galáxia também recebe a denominação de Tien Ho (Rio celestial ou rio prateado), enquanto que, para os hindus, a Via Láctea representa o "curso do Ganges celestial". Os turcos conheciam a galáxia como Hadjiler Juli ou a "estrada dos peregrinos". Na Idade Média na Europa recebia a denominação de "estrada de Roma", em alusão à sede da Igreja Católica através da qual se conseguiria o acesso ao paraíso. Na Península Ibérica a Via Láctea é conhecida também como Caminho ou Estrada de Santiago. Os indígenas que ocupam o Sul do Pará, os Tembés, por exemplo, a batizaram de ‘Caminho da Anta’. Segundo algumas crenças de povos esquimós dentre outros, a faixa brilhante forma o "caminho das cinzas". Para os cheyennes e outras tribos dos Estados Unidos, a Via Láctea é a trilha de poeira deixada pela corrida entre o búfalo e o cavalo. Para os povos da Estónia era o caminho das aves, ou dos gansos. Era pela estrada da via láctea que se chegava ao Olimpo, e era também por aí que os heróis entravam no céu.
Para os gregos e os romanos o seu aparecimento foi atribuído à projecção de um rasto de leite caído do seio de uma deusa...e que deusa! Nem mais nem menos que a própria rainha do Olimpo!
Que Zeus, o Rei dos deuses e seu divino esposo, a enganava constantemente com as belas mortais que povoavam a Terra, já Hera estava farta de o saber, assim como todo o Olimpo já estava habituado às tremendas cenas de ciúmes da sua rainha, cujas vitimas eram sempre as desditosas mulheres que atraíam a sua ira e os seus descendentes. Mas que ele levasse a sua ousadia até ao ponto de tentar que ela amamentasse um dos seus “rebentos” isso é que Hera jamais imaginaria!
Ora aconteceu, que mais uma vez Zeus se encontrava perdidamente apaixonado desta vez pela belíssima Alcmena, mulher do rei Anfitrião, de Tirinto, de quem o Pai dos deuses tomou a aparência para a poder seduzir. A rainha engravidou, mas como também tinha partilhado a sua cama com o marido verdadeiro, ao fim dos meses previstos deu à luz dois rapazes: Héracles ou Hércules, filho de Zeus e Íficles, filho de Anfitrião.
Muito satisfeito com o seu rebento, um bébé robusto, cheio de força e vitalidade, o rei do Olimpo sentiu-se atormentado pelo facto de o seu filho ser apenas um semideus, e portanto, mortal. Uma noite, aproveitando o facto de Hera já estar a dormir, Zeus, muito sorrateiramente, desce ao palácio de Anfitrião, tira o pequeno Hércules do berço e volta aos aposentos da esposa.
Seminua, Hera, dorme um sono profundo, com os seios pesados do leite destinado ao seu pequenino Ares. Sem ruído, Zeus deita o seu bébé encostado ao peito da esposa e esconde-se à espera. Héracles aninhando-se junto da mulher que pensava ser a sua mãe, começa sofregamente a mamar o leite da deusa que lhe proporcionará poderes divinos. Ao princípio, Hera não reage pensando estar a amamentar o seu pequenino, mas a criança mama com tanta sofreguidão que a magoa e a deusa acorda.
Chocada, ao ver que não é o seu filho a criança que tem ao peito, a deusa tenta afastá-la, mas Hércules, já dotado de uma força prodigiosa agarra-se! Ela tenta de novo, mas em vão! Furiosa, Hera puxa-o violentamente, mas o gesto é tão brusco, a libertação tão súbita, que do seu seio jorra um poderoso jacto de leite divino e uma chuva fina e branca estende-se pelo céu escuro, uma longa e sinuosa esteira que cintila na noite...
E foi assim que a Humanidade ganhou a sua Via Lactea, o Pai Zeus a imortalidade para o seu filho querido e Hércules o ódio destruidor da Rainha dos Deuses até ao fim dos seus dias na Terra!

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