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domingo, 24 de julho de 2011

A Alcachofra


Originária do sul do Mediterrâneo, provavelmente das regiões do Norte de África, era já conhecida dos egípcios, tendo sido trazida para a Europa pelos gregos, que introduziram o seu cultivo também na Sicília.
A alcachofra (cientificamente conhecida como Cynara cardunculus, subs. Scolymus), é uma planta robusta, de folhas espinhosas e cor de um cinza pálido, que pode atingir até 1,20 mts. de altura. As flores são cor de púrpura, envoltas em grandes brácteas carnudas, que são a parte comestível da inflorescência. As folhas da alcachofra contêm diversas substâncias de efeitos benéficos para a saúde quando consumidas nos níveis recomendados.
Ricas em cinarina (a principal substância activa), que estimula as secreções do fígado e da vesícula é diurética, contendo também tanino assim como vários flavonóides, designadamente a luteolina. Cada 100g contém cerca de 60 calorias e também contém cálcio, ferro e fósforo, vitaminas do complexo B, potássio, iodo, sódio, magnésio e ferro.
Planta exótica, aparentada com o cardo comum, dizia-se que tinha propriedades afrodisíacas. Muito utilizada na Antiguidade pelos nobres gregos e romanos, caiu um pouco no esquecimento, continuando contudo a ser utilizada em Itália. Catarina de Médicis, que era uma grande apreciadora desta iguaria, introduziu o seu consumo em França, quando casou com o rei Henrique II.
À volta do seu nome científico Cynara, existe uma bonita lenda mitológica:
Havia em tempos uma belíssima jovem mortal, chamada Cynara, que vivia com a sua família numa ilha. Ora num belo dia que Zeus tinha ido visitar o seu irmão Poseidon ao seu reino, viu, ao emergir, aquela beldade a olhar para ele, sem parecer nada assustada por estar na presença do rei dos deuses.
Como não podia deixar de ser, Zeus não perdeu tempo a tentar seduzi-la.
Decidido a tê-la ao pé de si, aproveitou uma das ausências da sua esposa Hera, e tornando Cynara imortal, levou-a consigo. Mas a jovem, certo dia, sentiu saudades do seu mundo antigo e da sua família, e, às escondidas, deixou a morada dos deuses e foi visitar a sua mãe. Ao voltar, Zeus, cheio de cólera pela sua atitude, mandou-a de regresso às origens, mas transformada numa alcachofra!
Muito mais real, é o quanto os árabes apreciavam este legume. Além de lhe darem o nome porque a conhecemos, alcachofra (al-kharshûf), o grande poeta Ibn ‘Ammar, nascido em 1031, perto de Silves, dedicou-lhe este poema:

A ALCACHOFRA

Filha das águas e da terra,
Para quem lhe almeja os dons
Fecha-se numa veste de recusa.
E, na sua beleza obstinada
Bem no cimo lá da haste
Lembra uma jovem cristã
Que cota de espinhos usa.

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Macieira

Paul Ranson

Podendo atingir excepcionalmente 10 mts. de altura, a macieira é uma árvore da família das Rosaceae, pertencente ao género Malus. De porte pequeno a médio, folha caduca, copa mais ou menos arredondada, ramificada, as suas belíssimas flores de um branco-rosado que surgem durante a Primavera, são um regalo para a vista.
Conhecida desde o Neolítico, é originária da Ásia, preferindo os climas temperados uma vez que necessita de baixas temperaturas no Inverno para obter uma abundante floração, é provavelmente a árvore cultivada há mais tempo.
Mito ou não, conta-se que foi à sua sombra, ao cair-lhe na cabeça uma maçã, que Isaac Newton, descobriu a lei da gravidade…
O seu fruto, a maçã, do ponto de vista científico, não é um fruto, mas sim um pseudo fruto. O facto de se poder conservar muito tempo em boas condições, sem perder o seu valor nutritivo, especialmente durante o Inverno quando os frutos não abundam, fez dela uma reserva alimentar através dos tempos.
Além disso, contém vitaminas B1, B2, Niacina, sais minerais, fósforo e ferro, sendo rica em pectina, que ajuda a baixar os níveis de colesterol, e também em quercetina, que ajuda a evitar a formação de coágulos sanguíneos. Como em quase todos os frutos, a maioria destas propriedades encontram-se na sua casca.
Todos conhecemos o provérbio “Uma maçã por dia, teu coração alivia” ou “Uma maçã por dia mantém o médico longe”.
É também utilizada na confecção de bebidas alcoólicas como a sidra.
Fruto simbólico da juventude, da renovação e da regeneração, ela é o alimento dos deuses nórdicos, que se têm de manter jovens e fortes até ao dia do Ragnarok. Quando Iduna, a guardiã do pomar sagrado, encarregada de dar a cada um dos deuses uma maçã por dia é raptada com a conivência do deus Loki, os Aesir começam a envelhecer e é o próprio Loki que a vai resgatar, para que os frutos comecem de novo a ser distribuídos e a juventude retorne aos seus membros.
É também com 3 maçãs douradas que vai deitando pelo caminho, que Hipomene vence Atalanta na corrida, conseguindo assim casar-se com ela.
Deslumbrada pela beleza dos pomos dourados que lhe vão aparecendo, a jovem, que tinha feito voto de nunca casar, ao abaixar-se para os apanhar atrasa-se, tendo assim de renunciar à sua promessa!
O 11º trabalho de Hércules, era roubar uma maçã do Jardim das Hesperides, guardado pelo temível dragão Ládon.
Na mitologia celta e germânica a macieira é considerada a árvore da imortalidade. A ilha de Avalon, ou ilha das Macieiras, era a morada dos reis e heróis míticos falecidos. É aí que o Rei Artur descansa até chegar a hora do seu retorno, enquanto à sombra de uma delas, Merlin ensina as suas artes.
Nas lendas celtas, a Mulher do Outro Mundo envia a Bran um ramo de macieira, antes de o levar para o outro lado do mar.
Mas também é conhecida como o pomo da discórdia, quando, durante um jantar oferecido por Zeus aos deuses, e para o qual ele se esqueceu de convidar Érin, a deusa da discórdia, esta, aparecendo de surpresa, atirou para a mesa uma maçã com a inscrição “Para a mais bela”…
A disputa generalizada entre Hera, Afrodite e Atenas, que disputavam o título, foi de tal ordem, que o pai dos deuses, sem saber para que lado se virar, astuciosamente convidou Páris, o príncipe troiano, para servir de juiz… O resultado foi a Guerra de Troia e Helena é que ficou com a culpa…
Na religião cristã está associada à queda do Homem. Símbolo do conhecimento e da sabedoria, estava colocada no centro do jardim do Éden, como a árvore da ciência do Bem e do Mal, sendo proibido a Adão e Eva comerem do seu fruto. Ao fazê-lo, provocaram a sua expulsão do Paraíso, mas no livro do Génesis, na descrição do Paraíso, nada consta sobre qual seria a espécie dessa árvore. Porquê então a macieira?
Em latim, maçã diz-se “malum” a mesma que serve para designar “mal”, e a sua utilização generalizada como símbolo de amor, fertilidade e imortalidade, contribui para que ela se tornasse conhecida como o fruto da tentação!
E que o diga a Branca de Neve, que não conseguiu resistir ao encanto da maçã vermelhinha que a Bruxa Má lhe oferecia…Mas ao invés de a matar, e apesar do veneno que continha, as suas propriedades benéficas foram mais fortes, e a princesa entrou num sono benéfico que protegendo-a do envelhecimento, a manteve sempre bela, jovem e saudável até à chegada do seu Príncipe Encantado…
Dizem que na Arménia, quando um narrador acaba de contar a sua história, acrescenta: “E do céu caíram três maçãs, uma para quem a contou, outra para quem a pediu e a terceira para quem a ouviu…”

Fontes: Dicionário dos Símbolos – Jean Chevalier
Revista Inatel
O Simbolismo das Plantas – Frank J. Lipp
Revista Jardins


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Bétula



Também chamada de vidoeiro, a bétula é uma árvore muito vulgar nas florestas setentrionais tanto do Velho como do Novo Mundo. Após a recessão dos glaciares plistocénicos, foi ela juntamente com o freixo, a primeira a reflorestar o continente euro-asiático, pelo que em todas as línguas indo-europeias existe um termo para a designar.
Tanto a principal espécie europeia, a bétula verrucosa como a bétula macia, têm propriedades medicinais, conhecidas desde a Antiguidade, mas foi Santa Hildegarda de Bingen (verão de 1098-17 de Setembro de 1179), monja beneditina, naturalista, médica informal, e mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha, que chamou a atenção para os efeitos cicatrizantes das suas folhas.
A seiva é recolhida na Primavera e as folhas e a casca apanham-se na Primavera e no Outono, sendo depois secas à temperatura ambiente. Os povos antigos da Eurásia costumavam mascar casca de bétula para afastar o mau hálito. O chá das folhas é bom para cálculos renais, inflamações na bexiga, e as folhas também se empregam nos tónicos sazonais para a gota e reumatismo.
O chá também é bom para a lavagem do couro cabeludo a fim de eliminar a caspa e a queda do cabelo. A seiva, que é adocicada e rica em vitamina C, pode ser destilada, fabricando-se uma cerveja de sabor agradável e tonificante. O aromático óleo de bétula contém o mesmo ácido acetilsalicílico da aspirina, eficaz contra o reumatismo, sendo usado também, na fabricação de sabonetes medicinais.
O seu tronco fibroso descasca-se em lâminas tão finas como papel e com o carvão que produz, fabricam-se lápis de desenho.
O seu nome provém da palavra alemã “bircha”, que quer dizer branco luminoso. Nos países nórdicos os seus troncos brancos iluminam as noites longas e escuras do Inverno, pelo que é considerada sagrada.
Na mitologia nórdica, é a árvore consagrada ao deus Thor, o deus germânico da trovoada, e representa a chegada da Primavera e da fertilidade. Na Alemanha medieval, os conselhos distritais reuniam-se nos bosques de bétulas.
Até há pouco tempo, nalgumas regiões da Europa era costuma plantá-las à frente das casas para as proteger dos relâmpagos, e queimavam-se folhas nos estábulos para que o fumo afugentasse pragas e feitiços. A primeira vez que se levava o gado para as pastagens da Primavera, batia-se-lhe com varas de vidoeiro para lhes assegurar saúde e fertilidade.
Os fasces, emblema da magistratura romana, eram feitos de ramos de bétula.
Na Finlândia usam-se ramos de vidoeiro nos rituais dos banhos a vapor, e também para provocar a transpiração.
As bétulas muito antigas eram consideradas moradas de duendes e para o povo iacute da Sibéria davam acesso a um espírito terrestre belo e benfazejo. O lenhador lapão tinha de informar a árvore de que ia cortá-la, para que os espíritos que a habitavam tivessem tempo de se mudar, mas algumas eram consideradas tão sagradas que ninguém as podia abater.

Fontes: wikipedia.org
Lipp, Frank J. – O Simbolismo das Plantas.

sábado, 20 de novembro de 2010

A Tília - II

A sua madeira macia, leve, de cor castanho claro, fácil de esculpir, foi muito utilizada na manufactura de estatuetas religiosas e instrumentos musicais. Andrei Rublev, o famoso pintor russo, utilizava a madeira de tília para pintar os seus ícones. Além disso do romeno ou casca interior da tília, eram feitas umas tábuas finas de madeira, utilizadas como material de escrita, e quando cortado em tiras servia para adivinhação, o que nos leva a outra lenda:
Cronos, o deus Saturno dos romanos, apaixonou-se perdidamente por Philyra ou Filira, ninfa de uma extrema beleza, filha do Oceano e de Tétis, acabando por conseguir seduzi-la. Acontece que Reia, sua esposa, foi procurá-lo e Cronos para não ser apanhado em flagrante delito de adultério e evitar assim a sua ira transformou-se num cavalo. Tempos depois, Phylira teve um filho, metade humano, metade cavalo, a quem chamaram Quíron. Desesperada por ter um filho centauro, abandonou-o e os deuses compadecidos transformaram-na numa tília, a árvore que dava flores e folhas medicinais. Era a deusa do perfume e da escrita, ensinando aos homens o fabrico do papel. Quanto a Quíron, criado por Apolo, a sua fama de médico, sábio e profeta fez com que fosse conhecido por Filho de Philyra (Tília).
Na mitologia eslava, a tília (Lipa) é também considerada uma árvore sagrada e na Polónia há varias aldeias cujo nome é uma derivação de Lipa. Na Croácia, a moeda nacional, a Kuna é dividida em 100 Lipa. Na Hungria, também tem um valor espiritual e cultural e chama-se Hars.
Mas a Tília não entra só na mitologia pagã. Um dos grandes santuários na Checoslováquia, o de Nossa Senhora da Visitação, na fronteira deste país com a Alemanha e a Polónia tem também uma lenda relativa à sua fundação:
Um pobre artesão, necessitando de madeira para trabalhar, pôs-se a caminho à procura dela, deixando em casa a sua pobre mulher doente e uma filha pequenina. Já de regresso, fez um descanso debaixo duma tília e adormeceu. Teve um sonho muito estranho. A árvore iluminou-se e sentados na sua copa estavam dois anjos que lhe disseram: «Tu encontras-te num lugar lindíssimo que agradou a Deus. Vai e traz uma estatueta da Mãe de Deus, para que cada um que por aqui passe no futuro pare e possa agradecer a Deus». O homem acordou, hesitou por um momento e decidiu ir até à próxima cidade para aí comprar a estatueta, e assim cumprir o que os anjos lhe haviam dito. Foi a um entalhador em Zita, comprou a estatueta da Virgem Maria e regressando ao local fixou-a à tília, onde havia estado. Mais tarde trouxe até à tília a sua mulher e filha, para juntos orarem, e a sua família como por milagre foi curada. A notícia sobre o milagre espalhou-se rapidamente. E a este local começaram a afluir peregrinos de longínquas paragens. Em vez da tília foi construída uma capela de madeira, em que o carpinteiro deixou gravada a data da sua construção, 1211. Mais tarde foi construído um convento de franciscanos. A Basílica que hoje lá se encontra foi construída entre 1722/29, sendo ali criado depois da 2ª Guerra, um centro internacional de renovação espiritual, onde todos os anos se realiza uma peregrinação de reconciliação.
A sua longevidade é também lendária. No pátio do Castelo Imperial de Nuremberga havia uma tília que conta a tradição, foi plantada pela imperatriz Cunegundes, esposa de Henrique II da Alemanha, falecida em 1040. Em 1900, embora doente, ainda dava folhas nos três ramos que lhe restavam. Em Baden-Württemberg, na Alemanha, caiu uma tília cuja idade foi calculada em mil anos.
Alta, elegante e perfumada, representa também a graça e a feminilidade, não admirando portanto, que na literatura e poesia tenha sido cantada por poetas e escritores, desde os primeiros trovadores, como Walther von der Vogelweide (1170-1230), que escreveu uma canção “Sob a Tília”, até, Christian Bobin, nascido em 1951 e ainda vivo, que no seu livro “Ressuscitar” comenta:
“A tília em frente da janela é o mestre que escolhi para escrever e sei de antemão que não poderei igualá-lo: nem mesmo os maiores escritores alguma vez escreveram com tanta graça como esta árvore inscreve delicadamente a luz e a sombra em cada uma das suas folhas e renova a sua inspiração a cada segundo
Homero, Plínio, Horácio e Heródoto também escreveram sobre esta árvore e as suas virtudes.
Jan Kochanowski (Sycyna, 1530 - Lublin, 22 de agosto de 1584) foi um poeta renascentista polaco, geralmente considerado o maior poeta do período anterior ao sec. XIX. Um dos seus poemas intitula-se, “A Tília” e diz:
“Peregrino senta-te debaixo da ramagem, descansa;
Eu prometo – sequer o sol selvagem aqui pode avançar.
Porém os raios justos deverão as sombras aquietar nos arbustos.
Aqui sempre sopram brisas frescas do campo,
Rouxinóis e negras aves cantam seu canto.
Abelhas obreiras recolhem mel das flores perfumadas
Para brindar as mesas dos nobres.
E a todos os homens meu murmúrio sereno
Cobre facilmente de adocicado sono…

Goethe, em “Os infortúnios do jovem Werther”, faz enterrar o seu personagem principal debaixo de uma tília.
Conta-se que Mihai Eminescu, o maior poeta romeno, escrevia os seus poemas à sombra de uma, e Samuel Taylor Coleridge, encerrava-se numa pérgola, à sombra desta árvore, a quem dedicou o seu poema “Este Lime-tree Bower, minha prisão”.
Franz Schubert no seu ciclo” Winterreise”, (Viagem de Inverno) de 1827, Opus 89, compôs 24 canções sobre poemas de Wilhelm Müller, sendo uma das mais célebres a 5ª canção, chamada “Der Lindenbaum” (A Tília). Escrita em 1822, conta a história de um caminhante que passando junto a uma tília existente junto ao portão da cidade, onde ele algumas vezes adormeceu e em cuja casca gravou palavras de amor, sente os ramos da árvore chamarem-no, convidando-o a descansar entre eles, o que é tomado como uma insinuação de suicídio. Ele passa de largo, sem olhar para trás, com o vento gelado a bater-lhe na cara, mas muitas horas depois e longe dali, ainda recorda o sussurro dos ramos da tília dizendo-lhe:” Aqui encontrarás descanso”.
Miguel Torga, num dos seus contos, escreve:
"Por lhe ter receitado inalações de flor de tília, o homem cuidou que eu atraiçoava o progresso. E conversámos longamente..”
Termino com um soneto de Florbela Espanca:


A Voz da Tília

Diz-me a tília a cantar: “Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça;
Deu ao meu corpo, o vento quando passa,
Este ar escultural de bayadera…

E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça…
Trago nas mãos as mãos da Primavera…
E é para mim que em noites de desgraça

Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nú,
Diz à chuva sonetos de Verlaine…”

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
“Já fui um dia poeta como tu…
Ainda hás-de ser tília como eu sou…”


Fontes:pt.wikilingue.com
Abrigodossabios-paulo.blogspot.com
www.czechtourism.com
Grave, Robert - Mitos da mitologia greco-romana
Espanca, Florbela – Sonetos, Bertrand editora
Lipp, Frank J. – O Simbolismo das plantas
Olivrodaareia.blogspot.com

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Tília - I

Nativa da Europa mas cultivada em todo o mundo, a Tília é uma árvore de grande porte e grande valor ornamental, podendo atingir entre 20 a 40 mts. de altura dependendo da espécie. Pertencendo à família das Tiliáceas, possui bonitas flores brancas, cremes ou amareladas em forma de coração, medindo cerca de 10 cm., que exalam um aroma suave e agradável, muito atractivo para as abelhas. As suas copas frondosas podem atingir os 50 mts. de perímetro e o seu tronco pode alcançar 1,30 mts. de diâmetro. Os frutos são arredondados e de casca acinzentada.
Símbolo da amizade e da fidelidade, é considerada uma árvore sagrada pelas antigas civilizações, que lhe reconheciam qualidades protectoras (afastava o relâmpago e curava quem a tocasse), bem como pela sua longevidade e perfume, tendo várias lendas associadas, sendo uma das mais conhecidas a que conta o seguinte:
No tempo em que os deuses se misturavam com os mortais, Zeus e Hermes resolveram testar a hospitalidade dos homens e foram percorrendo a terra disfarçados de viajantes, pedindo abrigo onde parassem. Mas as portas fechavam-se e encaminharam-se então para a Frígia onde apenas numa cabana muito humilde, habitada por dois velhos puderam encontrar abrigo. O idoso casal era muito pobre, mas dividiram o pouco que tinham com os seus hóspedes, sem saberem quem eram. Como não tinham filhos, viviam um para o outro, tendo por companhia apenas um velho ganso que lhes guardava a casa.
Durante a parca refeição, Filémon e Báucis assim se chamava o casal, notaram com algum temor que o vaso do vinho à medida que se esvaziava enchia-se novamente sem lhe mexerem. Reconhecendo a divindade dos dois homens, pediram humildemente desculpa pela pobreza com que os recebiam e quiseram matar o ganso para prepararem uma refeição melhor… Mas o bicho que não estava pelos ajustes de perder o pescoço depois de tantos anos de trabalho, fugiu e foi esconder-se entre os hóspedes!
Zeus não permitiu que matassem o animal, deu-se a conhecer e convidou-os a segui-lo até ao cimo de um monte. Chegados lá, viram que todo o lugar estava submerso, à excepção da sua pequena cabana que se encontrava transformada num templo.
O deus prometeu conceder-lhes tudo o que pedissem, mas os dois velhos desejaram apenas ser os guardiões daquele templo e não morrer um sem o outro. Os seus pedidos foram aceites e durante o resto das suas vidas que chegou a uma velhice muito avançada, ali viveram. Um dia, estando os dois juntos a conversar, Báucis notou que Filémon se estava a cobrir de folhas, transformando-se num carvalho, e Filémon ficou pasmado ao ver que Báucis se transformava em tília, tendo apenas tempo de se dizerem adeus! O que espantava os visitantes do templo eram verem um carvalho e uma tília nascendo do mesmo tronco…
Para os germânicos representava o infortúnio e a ressurreição, pertencendo à deusa Freya, a Vénus nórdica, chefe das Valquírias e Senhora da magia e da adivinhação. No “Mito dos Nibelungos”, um conjunto de lendas nórdicas e germânicas, Siegfried, o herói, depois de matar o dragão que guarda o anel, banha-se no seu sangue para se torna invencível, mas uma folha de tília ao cair, cola-se-lhe entre as omoplatas impedindo o contacto do sangue com a sua pele, tornando-o vulnerável à lança de Hagen. O seu corpo é enterrado debaixo de uma destas árvores.
É debaixo das suas copas que as fadas aparecem nas noites de Verão sendo também o esconderijo dos duendes. Na antiga Grécia e entre os povos eslavos era a residência da deusa do amor, e na Irlanda diz-se que aquele que adormecer debaixo de uma árvore destas será transportado para a terra das fadas.
Frequentemente plantada em locais de peregrinação ou junto às igrejas, e também em jardins e alamedas, em tempos ainda não demasiado antigos era à sua sombra que se faziam os julgamentos na praça central das aldeias, pois também estava associada à justiça. Ainda hoje é normal verem-se nos centros das povoações. Antes da 1ª Guerra Mundial era costume no Somme, os noivos caminharem debaixo de duas dessas árvores que tivessem crescido juntas, para terem um casamento feliz, e até à 2ª Guerra, a cidade de Berlim orgulhava-se da sua Unter den Linden (Sob as Tílias), uma alameda ornada de filas destas árvores seculares e imponentes. Em inglês o seu nome é Lime tree ou Linden tree, em francês tilleul e em espanhol tilo. São também chamadas de árvores de cal.
Conhecem-se para cima de 30 variedades algumas delas híbridas, mas as propriedades e partes utilizadas são as mesmas em todas as espécies. A Tília é composta quimicamente de óleo essencial, flavonóides mucilagem, ácidos fenólicos), taninos, manganês e vitamina C. As flores e brácteas devem ser colhidas mal comece a floração e secas a baixa temperatura, sendo amplamente usadas em infusões calmantes Uma infusão bem quente de chá de tília constitui um excelente sudorífico (que estimula a sudação), muito recomendado em estados febris, gripes e catarros, especialmente em crianças devido à sua acção levemente calmante e ao seu sabor agradável e adocicado. É um bom calmante do sistema nervoso e muito utilizado em crianças hiperactivas. Tradicionalmente em França, o chá das cinco para as crianças era de tília, tomado à sombra da própria árvore, para que assim o efeito fosse ainda mais eficaz. O mel feito com as flores da Tília é considerado um dos melhores tipos de mel.
É ainda útil no alívio de dores de cabeça e insónias. Combate a arteriosclerose, a tosse, a bronquite, digestões difíceis e cólicas gastrointestinais. Funciona ainda como sedativo, ansiolítico e anti-espasmódico. A casca emprega-se nas infecções hepático-biliares e no combate à celulite.
Dadas as suas propriedades curativas, na Idade Média era utilizada para todas as doenças e já por volta de 1930, o Dr. Samuel Maia, no seu Manual de Medicina Doméstica, dizia que “o chá de tília, agradável e inofensivo, serve nos momentos em que o sentimento ordena aplicar um remédio, sem se saber bem qual escolher”, o que ainda hoje em dia é praticado, pelo menos por quem prefere os produtos naturais.



Fontes: commonswikipedia.org
Jardins, revista nº 61, texto de Fernanda Botelho
Magno, Albino Pereira – Mitologia
Agroatlas.ru
Wikipedia.org
Maia, Samuel – Manual de Medicina Doméstica, Livraria Bertrand


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mitologia vegetal


Quase todas as culturas antigas representavam a Terra e a Natureza como a grande Deusa-Mãe. Se pensarmos que a vida na terra depende das plantas e que directa ou indirectamente é a elas que vamos buscar alimentos, combustíveis, oxigénio, medicamentos, materiais de construção e uma série de outras coisas necessárias à nossa existência, não é de admirar que desde os primórdios da Humanidade, os seres humanos acreditassem que possuíam uma energia divina.
Representando o ciclo da vida (fertilidade, morte e renascimento), as suas flores são símbolos de juventude e vitalidade, mas também de fragilidade e transitoriedade. A sua forma em receptáculo torna-as essencialmente femininas e o seu desabrochar é por vezes associado ao parto. Noutras, a abertura da flor em botão representa a criação e a energia do sol, representando a natureza-morta pintada pelos artistas, a recordação da brevidade da vida.
As plantas sagradas podiam ser boas ou ruins, tanto podiam dar a vida como a morte. Na maioria das lendas sul-americanas as plantas importantes são feitas do sangue, ossos e carne de seres ancestrais, heróis míticos ou espíritos da floresta.
Os frutos tinham geralmente um forte simbolismo de fertilidade e eram muitas vezes associados às deusas da maternidade e do amor. A ingestão de um fruto tanto poderia representar o dom da imortalidade como o oposto. Adão e Eva foram expulsos do paraíso por comerem uma maçã…
Dentro deste reino vegetal, as árvores são um dos símbolos mais poderosos da humanidade. Formada por matéria lenhosa e aquosa, ela personifica a união dos três reinos (céu, terra e água) e os quatro elementos: as suas raízes mergulham na terra, a água em forma de seiva percorre-as, as suas folhas respiram o ar, e o tronco dá-nos o fogo. Embora considerada como símbolo maternal (madeira em latim é do género feminino e tem a mesma raiz comum à da mãe e à da matéria - mater), muitas delas são masculinas. No entanto, os significados atribuídos às árvores, pelas diferentes culturas são muitos e variados. As de folha persistente representam longevidade e imortalidade e as de folha caduca representam regeneração e renascimento. Umas possuíam poderes mágicos, outras possuíam o poder de curar. Tal como as plantas, umas são boas, outras nem tanto. Podiam também ser habitadas pelas divindades, fantasmas dos antepassados, ou espíritos, a quem se deviam fazer oferendas, sacrifícios e orações.
A imagem da árvore cósmica ou da vida faz parte dos mitos e contos de todos os povos, sendo algumas representadas invertidas. Este símbolo tão antigo aparece no cristianismo associado à Virgem Maria, que nos deu o seu fruto, Jesus. Maria aparece muitas vezes em árvores ou troncos ocos, e Jesus por sua vez é crucificado numa cruz feita com a madeira da árvore da ciência que brotou no paraíso, e que na tradição medieval, tinha raízes que chegavam ao inferno e cujo topo alcançava o céu.
As florestas e os bosques eram muitas vezes a morada de duendes, fadas, magos e feiticeiros, onde nalguns considerados sagrados, não se podia entrar, cortar madeira, nem caçar qualquer animal. Eram também o centro da vida religiosa e política dos povos germânicos, e na Lituânia, no sec. XI, os cristãos não se podiam aproximar dos bosques sagrados porque podiam contaminá-los.
Era à sombra das árvores que Buda meditava e os índios da América do Norte enterravam os seus mortos em troncos ocos, ou em caixas de madeira colocadas em cima de árvores.
A cor verde que ostentam é também sinónimo de vitalidade contínua, e a sua fecundidade fizeram com que se tornassem focos de antigos ritos de fertilidade. Os costumes populares em que as mulheres estéreis abraçavam certas arvores ou se deitavam por debaixo delas para engravidar são por demais conhecidos.
Com o passar dos tempos a linguagem dos símbolos foi-se perdendo e hoje, florestas inteiras desaparecem sob a mão impiedosa do Homem esquecido por completo do quanto lhes deve!

Fontes: Fontana. David – A linguagem dos símbolos
Lipp, Frank J. – O Simbolismo das Plantas
Espírito Santo, Moisés – A religião popular Portuguesa