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quarta-feira, 22 de abril de 2015

A TERRA


O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Cora Coralina


O Dia da Terra foi criado pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, um activista ambiental, tendo por finalidade criar uma consciência comum para os problemas que afligem a Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Na primeira manifestação que teve lugar no dia 22 de Abril de 1970, para a criação de uma agenda ambiental, participaram duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e centenas de comunidades. A pressão social teve sucesso e o governos dos Estados Unidos criaram a Agencia de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) e uma série de leis destinadas à proteção do meio ambiente. Em 2009 as Nações Unidas instituíram o Dia Internacional da Mãe Terra.
...A informação sobre as possíveis ameaças em resultado do desenvolvimento insustentável parece não assustar a humanidade. Afinal, a Terra continua a dar-nos água, alimento (mais para uns do que para outros), recursos vários.
O ponto de não retorno ainda não foi atingido e a “teoria de Gaia”, proposta por James Lovelock, parece continuar a resultar: o planeta Terra mostra resiliência, como se se tratasse dum superorganismo, apesar de todos os riscos que o Homem lhe faz correr. Lembra a história de Pedro e o Lobo. Os lenhadores não acreditavam nas partidas que o Pedro pregava, porque não havia lobo, o problema foi quando ele apareceu mesmo. No caso do nosso planeta, os cientistas avisam, não para pregar partidas, mas para alertar para os riscos e consequências das nossas opções...” - (Excerto de um Artigo publicado no Jornal “O Público” na coluna Opinião, pela Prof. Dra. Maria Amélia Martins-Loução).
Astronomicamente, a nossa Mãe Terra é o terceiro planeta a contar do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar, sendo também conhecido por Planeta Azul. É também o maior dos quatro planetas telúricos e (até agora), o único onde é conhecida a existência de vida tal como a concebemos.
Mitologicamente, a Terra é a substância universal Prakriti, o caos primordial, a matéria-prima separada das águas, segundo o Génesis; trazida à superfície das águas pelo javali de Vixnu; coagulada pelos heróis míticos do xintoísmo; matéria com que o Criador (na China, Niukua) molda o homem.
A Terra simboliza a função maternal: Tellus Mater. Ela dá e tira a vida. Prostrando-se no chão, Job escreve: Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para ele (1, 21), identificando a terra-mãe com o colo maternal. Na religião védica, a terra simboliza também a mãe, fonte do ser e da vida, protectora contra todas as forças do aniquilamento. Segundo os ritos védicos dos funerais, no momento em que a urna funerária contendo os restos da incineração é enterrada, são recitados versos:
Vai para esta Terra, tua mãe,
para as vastas moradas, para os bons favores!
Suave como a lã a quem a soube dar,
que ela te proteja do Nada!
Forma uma abóbada para ele e não o esmagues;
recebe-o Terra, acolhe-o!
Cobre-o com uma orla do teu vestido
como uma mãe protege o seu filho”. (Rig Veda, Grhyasutra, 4, 1)
Segundo a Teogonia, de Hesíodo, ela (Gaia) deu à luz o próprio Céu (Úrano), que deveria cobri-la a seguir para dar origem a todos os deuses. Os deuses imitaram esta primeira hierogamia, depois os homens, e os animais; a Terra revelou-se a origem de toda a vida, e foi-lhe dado o nome de Grande Mãe.
No Japão supõe-se que a terra é transportada por um enorme peixe; na Índia, por uma tartaruga; entre os Ameríndios por uma serpente; no Egipto, por um escaravelho; no Sueste da Ásia, por um elefante, etc. Os sismos explicam-se pelos movimentos repentinos desses animais geóforos que correspondem às fases da evolução.
Na literatura identifica-se muitas vezes a terra fértil com a mulher: sulcos semeados, lavoura e penetração sexual, parto e colheita, trabalho agrícola e acto gerador, colheita dos frutos e aleitamento, a relha do arado e o falo do homem.
Paul Diel esboçou toda uma psicogeografia dos símbolos na qual a superfície plana da terra representa o homem enquanto ser consciente; o mundo subterrâneo com os seus demónios e os seus monstros ou divindades malevolentes, representa o subconsciente; os cumes mais elevados, mais próximos do céu, são a imagem do supraconsciente. Ela é a arena dos conflitos da consciência do ser humano.


Poema da Terra Adubada

Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.

António Gedeão, in 'Linhas de Força'

Fontes: www.wikipédia.org
Jornal “O Público”
Chevalier, Jean, Alain Gheerbrant – Dicionário dos Símbolos
Imagem: internet

sexta-feira, 20 de março de 2015

O Mito das Estações





Um dos mais belos e antigos mitos que se conhecem sobre as estações, teve origem na Babilónia e diz respeito à bonita história de amor entre a deusa Ishtar e o jovem Tammuz.
Entre as divindades babilónicas de menos categoria, contava-se um jovem deus, belíssimo e bondoso, que vagueava pelos campos a tocar flauta, protegendo os pastores e os seus rebanhos, tornando as colheitas fartas e velando pela saúde e pelo vigor de todos os seres vivos, homens, animais e plantas.
Graças a este deus jovial, a Natureza mostrava-se permanentemente risonha; as plantas floriam, as famílias aumentavam e, nos apriscos, o gado multiplicava-se.
Não admira, pois, que um belo dia, Ishtar, a deusa da beleza e do amor, começasse a suspirar por tão bonito moço, acabando por casar com ele.
A escolha foi acertada, pois Ishtar também protegia o desabrochar da vida e a ela se encomendavam as mães para que os filhos nascessem formosos e robustos e as fêmeas do gado tivessem crias saudáveis.
Mas...uma vez que Tammuz passeava por uma floresta próximo da cidade sagrada de Eridu, um feroz javali saiu, inesperadamente, de uns silvados e atacou o jovem deus, que acabou por morrer dos graves ferimentos infligidos pelas presas do animal.
Por toda a terra se espalhou uma enorme tristeza, como se um véu cinzento envolvesse todas as coisas e escondesse a claridade do sol. Lamentavam-se as plantas, carpiam-se as searas, que perderam as espigas; os rios deslizavam tristonhos e as suas águas foram secando.
Mas a mais confrangedora de todas as tristezas foi a de Ishtar, que assim se via privada do amor da sua vida. Inconformada com a sua perda, resolveu descer a Aralu, o mundo subterrâneo para onde Tammuz fora levado, um lugar sombrio onde os mortos eram alimentados com pó, usavam penas, o tenebroso reino dos mortos, dominado pela sua irmã e rival, a deusa Ereshkigal.
Paredes maciças protegiam este submundo de múltiplas camadas, umas dentro das outras, com portões fechados a cadeado e monstros a servir de guarda que lhe recusaram a entrada apesar das suas súplicas. Irritada, a deusa gritou:
-Guardião, abre ou despedaçarei estas portas, libertarei os mortos e levá-los-ei comigo para a Terra, a fim de devorarem os vivos!!!
Assustado, o guarda correu a pedir instruções à rainha do Inferno que autorizou a entrada da deusa, com a condição de esta se despojar de cada uma das suas vestes e adornos, à medida que transpusesse cada uma das sete portas que davam acesso ao interior do submundo.
Ishtar concordou com esta condição e, na primeira porta depôs a coroa; na segunda, os brincos; na terceira, o colar; na quarta, as pulseiras, e assim sucessivamente até que ao chegar junto de Ereshkigal estava nua e indefesa, pois como deusa da formosura e do amor, os adornos eram parte integrante da sua personalidade e do seu poder. Apenas conseguiu ter um vislumbre do seu amado marido antes que a rainha a mandasse aprisionar.
Depois disto, como poderia a vida continuar na Terra, se as duas divindades que a sustentavam estavam uma morta e a outra presa? O solo não era semeado nenhum útero podia conceber, as plantas murchavam, enfim, toda a Natureza caminhava para a extinção.
Preocupados, os deuses recorreram sem perda de tempo para Ea, o qual, por meio de um dos seus enérgicos encantamentos obrigou a rainha dos Infernos a libertar Ishtar. Reintegrada no seu poder, a deusa obrigou a sua rival a aspergir Tammuz com a água da vida, para que este a acompanhasse e a abrir-lhe as portas do Inferno para que os dois pudessem de novo regressar à Terra.
À medida que saíam, a Natureza ia-se regenerando e quando, por fim, Ishtar já na posse de todas as suas vestes e jóias, chegou com o esposo à superfície e deparou com a luz brilhante do Sol, entoou este hino de orgulhosa alegria:

Rejubilo com o meu esplendor e regresso à Terra a transbordar de felicidade excelsa e divina! Sou Ishtar, a deusa da noite estrelada; sou Ishtar, a deusa da manhã e da alvorada; sou a deusa sempre triunfante no Céu e na Terra”

Mas não era impunemente que se descia ao reino dos mortos; Ishtar reconheceu-o tempos depois, quando Tammuz, como se lhe tivessem inoculado o vírus de uma atracção maléfica pelas trevas em que caíra, começou a descer, todos os anos, aos abismos infernais, passando aí metade do ano no torpor do sono do Inverno, despertando na estação primaveril para cumprir novo ciclo renovador!


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A Origem da Via Lactea

O Nascimento da Via Lactea – Peter Paul Rubens
 
A formação da Via Lactea, uma enorme galáxia espiral constituída por um imenso aglomerado de estrelas (200 a 400 biliões), incluindo uma grande variedade de gases e poeiras astrais e onde num dos seus braços, o Braço de Oríon, o nosso sistema solar orbita, era definida pelos Antigos como um caminho celeste, dando origem a muitas lendas através dos séculos e das diversas civilizações que tentaram explicar a razão da sua existência.
A faixa brilhante e sinuosa da Via Láctea instiga a curiosidade humana desde a antiguidade. Pelo fato de se estender por todo o céu, a galáxia foi tida como análoga a caminhos ou rios, como no caso de lendas antigos egípcias, em que era comparada ao Rio Nilo, contudo corria nas áreas habitadas pelos espíritos. Na China e no Japão a galáxia também recebe a denominação de Tien Ho (Rio celestial ou rio prateado), enquanto que, para os hindus, a Via Láctea representa o "curso do Ganges celestial". Os turcos conheciam a galáxia como Hadjiler Juli ou a "estrada dos peregrinos". Na Idade Média na Europa recebia a denominação de "estrada de Roma", em alusão à sede da Igreja Católica através da qual se conseguiria o acesso ao paraíso. Na Península Ibérica a Via Láctea é conhecida também como Caminho ou Estrada de Santiago. Os indígenas que ocupam o Sul do Pará, os Tembés, por exemplo, a batizaram de ‘Caminho da Anta’. Segundo algumas crenças de povos esquimós dentre outros, a faixa brilhante forma o "caminho das cinzas". Para os cheyennes e outras tribos dos Estados Unidos, a Via Láctea é a trilha de poeira deixada pela corrida entre o búfalo e o cavalo. Para os povos da Estónia era o caminho das aves, ou dos gansos. Era pela estrada da via láctea que se chegava ao Olimpo, e era também por aí que os heróis entravam no céu.
Para os gregos e os romanos o seu aparecimento foi atribuído à projecção de um rasto de leite caído do seio de uma deusa...e que deusa! Nem mais nem menos que a própria rainha do Olimpo!
Que Zeus, o Rei dos deuses e seu divino esposo, a enganava constantemente com as belas mortais que povoavam a Terra, já Hera estava farta de o saber, assim como todo o Olimpo já estava habituado às tremendas cenas de ciúmes da sua rainha, cujas vitimas eram sempre as desditosas mulheres que atraíam a sua ira e os seus descendentes. Mas que ele levasse a sua ousadia até ao ponto de tentar que ela amamentasse um dos seus “rebentos” isso é que Hera jamais imaginaria!
Ora aconteceu, que mais uma vez Zeus se encontrava perdidamente apaixonado desta vez pela belíssima Alcmena, mulher do rei Anfitrião, de Tirinto, de quem o Pai dos deuses tomou a aparência para a poder seduzir. A rainha engravidou, mas como também tinha partilhado a sua cama com o marido verdadeiro, ao fim dos meses previstos deu à luz dois rapazes: Héracles ou Hércules, filho de Zeus e Íficles, filho de Anfitrião.
Muito satisfeito com o seu rebento, um bébé robusto, cheio de força e vitalidade, o rei do Olimpo sentiu-se atormentado pelo facto de o seu filho ser apenas um semideus, e portanto, mortal. Uma noite, aproveitando o facto de Hera já estar a dormir, Zeus, muito sorrateiramente, desce ao palácio de Anfitrião, tira o pequeno Hércules do berço e volta aos aposentos da esposa.
Seminua, Hera, dorme um sono profundo, com os seios pesados do leite destinado ao seu pequenino Ares. Sem ruído, Zeus deita o seu bébé encostado ao peito da esposa e esconde-se à espera. Héracles aninhando-se junto da mulher que pensava ser a sua mãe, começa sofregamente a mamar o leite da deusa que lhe proporcionará poderes divinos. Ao princípio, Hera não reage pensando estar a amamentar o seu pequenino, mas a criança mama com tanta sofreguidão que a magoa e a deusa acorda.
Chocada, ao ver que não é o seu filho a criança que tem ao peito, a deusa tenta afastá-la, mas Hércules, já dotado de uma força prodigiosa agarra-se! Ela tenta de novo, mas em vão! Furiosa, Hera puxa-o violentamente, mas o gesto é tão brusco, a libertação tão súbita, que do seu seio jorra um poderoso jacto de leite divino e uma chuva fina e branca estende-se pelo céu escuro, uma longa e sinuosa esteira que cintila na noite...
E foi assim que a Humanidade ganhou a sua Via Lactea, o Pai Zeus a imortalidade para o seu filho querido e Hércules o ódio destruidor da Rainha dos Deuses até ao fim dos seus dias na Terra!

Fabulosos Mitos e lendas de Todo o mundo - Selecções

 


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Panteão Céltico – II


O deus Dagda possuía três objectos extraordinários: uma moca ou maço, que tinha a propriedade, por um lado, de matar, mas, por outro, de ressuscitar os mortos; um caldeirão mágico de dupla utilização, tanto podia ser um caldeirão de abundância de onde se retirava infinitamente um alimento sem correr o risco de o esvaziar, como podia servir para ressuscitar os mortos desde que os mergulhassem dentro dele. O terceiro objecto era uma harpa de ouro que podia tocar sozinha e cuja melodia originava a quem a escutasse ou um pranto tremendo, ou então um riso incontrolável que acabavam por adormecer a assistência. Contudo, não podia tocar sem uma ordem sua.
Por sua vez, Lug, era também considerado um deus supremo, um deus celeste e luminoso, possuindo uma lança, uma arma de arremesso já mais moderna que o maço de Dagda, e que colocava ao alcance dos guerreiros os objectivos mais distantes. Por isso, os irlandeses o cognominaram de Lamfada, Mão Longa. A roda, um símbolo solar, era outro dos atributos deste deus da Luz. César escreveu que “os Gauleses fazem dele o inventor de todas as artes, o guia dos viajantes, o senhor do dinheiro e do comércio, mas também das batalhas”. Era dotado de todos os talentos e acumulava todos os privilégios. Na Irlanda, o seu culto era celebrado a 1 de Agosto, por ocasião da festa das colheitas, Lugnasad.O seu nome foi conservado num considerável número de topónimos por toda a Europa, como Lugdunum (Lyon), Laon, Lugan, Lusignac, em França, Lugo, em Espanha, Leyde, nos Países Baixos, Liegnitz, na Suiça, etc.
Apesar de Lug ser o deus da Luz, o verdadeiro senhor do Sol, o Apolo gaulês era Belenos, em honra do qual se acendiam as fogueiras nas noites dos solstícios de Junho e Dezembro e que acabou por se tornar para as gerações mais jovens dos celtas um substituto de Dagda (um deus já muito velho e antigo). Os Irlandeses chamaram-lhe Oengus, os gauleses, Maponos (Grande Filho) e os gaélicos, o Mac Oc (o Filho Jovem).
Cernunos ou Kernunos, o deus Cervo ou o deus Cornudo, uma das divindades mais misteriosas, era o soberano da Natureza. Durante seis meses morava no interior da terra juntamente com a sua esposa, uma deusa-mãe, que ao fim deste tempo o traía com Esus, o deus destruidor. Então Kernunos voltava ao exterior da terra onde fazia renascer a vegetação e multiplicarem-se os animais. Nesta altura nasciam-lhe na cabeça uns cornos semelhantes a uma armação de veado e durante os seis meses seguintes percorria o seu reino velando pela abundância das espécies, tanto da fauna como da flora.
A seguir, recuperava a sua esposa, perdia os cornos e regressava ao mundo subterrâneo, deixando a terra nua e despojada dos seus ornamentos à espera dos dias bons.
Descobrimos nesta lenda a origem dos galhos que a tradição popular atribuía aos maridos enganados, uma vez que apenas eles tinham direito à honra.
Depois do Cristianismo este deus foi absorvido pela personagem de S. Kornély ou Corneille, protector dos animais com cornos e pelos santos bretões Edern e Telo que tinham por hábito cavalgar veados. Foi também ele que inspirou a figura do diabo com cornos.



quinta-feira, 31 de maio de 2012

E A Culpa Foi Do Cutelo…

No tempo em que os seres humanos se alimentavam apenas de frutos, grãos e legumes, e não tinham ainda o costume de sacrificar animais aos seus deuses, vivia em Atenas um estrangeiro chamado Sópatro, habitando numa propriedade que lhe pertencia.
Ora num certo dia em que Sópatro sacrificava aos deuses, apareceu um touro que comeu as ervas e o grão que ele tinha disposto no altar. Indignado, matou o animal com um machado e, pensando depois que tinha cometido um sacrilégio, partiu para Creta.
Na sua ausência, a fome começou a grassar em Atenas e os habitantes da cidade perguntaram ao oráculo a razão para tal calamidade. A resposta foi que somente Sópatro poderia remediar o mal e encontrar o culpado…
A cidade, então, enviou mensageiros a Creta, onde o encontraram ainda deprimido pelo que fizera. Sem saber como proceder perante a questão colocada pelos enviados, pediu a Atenas que lhe concedesse a cidadania, o que lhe foi concedido.
Ao regressar, a sua primeira ideia foi compartilhar a culpa com todos os atenienses e, para tal, reuniu o povo da cidade dando-lhes instruções para que lhe trouxessem um touro igual ao que ele abatera. O animal, purificado pelas jovens atenienses, foi então morto por Sópatro com um cutelo igualmente purificado e afiado pelos outros atenienses. Depois, foi cortado em pedaços que foram distribuídos pelos presentes, de modo que todos foram culpados pela morte do touro.
Sópatro sugeriu então que se criasse um tribunal para julgar, definir e punir o culpado. Depois de muitos e longos debates, a culpa foi atribuída ao cutelo, pelo que foi condenado a ser lançado ao mar…
E a lenda diz que depois de executada a sentença, a fome cessou!


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hefesto e Afrodite


Como recompensa por ter fabricado os raios de ouro com que Zeus venceu os Titãs, Hefesto pediu a mão de Afrodite, a deusa da beleza e do amor. Zeus ainda hesitou, estremecendo só à ideia de tal casamento, mas a beleza da deusa era tal, que todos os deuses a assediavam, e as restantes deusas cheias de ciúmes, queriam que ela tivesse algum castigo, exactamente por ser tão deslumbrante...
E assim, por ordem do rei dos deuses, Hefesto recebeu o seu prémio e Afrodite viu-se obrigada a casar com o deus feio, disforme e coxo, que apenas lhe inspirava um sentimento de indiferença. Sempre apaixonada, traía o marido tanto com imortais como com belos mortais desde que lhe agradassem, adornando-se com as belíssimas joias que o deus metalúrgico fabricava para ela, pensando conquistá-la assim.
Uma das grandes paixões de Afrodite, foi Ares, o violento senhor da guerra. O par amoroso encontrava-se durante a noite, no próprio palácio de Hesfesto, durante as suas frequentes ausências, para que Helios, o deus do Sol, inimigo de Ares, não descobrisse os seus encontros secretos. Para isso, deixava sempre o jovem Electrion, seu confidente, de guarda, para os avisar quando chegasse a alvorada.
Ora aconteceu que, uma noite, Electrion deixou-se dormir, e Helios, que tudo vê e tudo ouve, ao passar com o carro do Sol por cima do palácio de Hefesto, descobriu os dois amantes e, sem demora, foi avisar o senhor dos vulcões. Este, cheio de raiva e roído de ciúmes, fabricou uma finissima rede, quase invisível, que presa à cama, envolveria os dois apaixonados e da qual não se poderiam libertar.
Este tema mitológico foi tratado por grande número de pintores desde o Renascimento, entre eles Botticelli, Tintoretto, e Mark van Heemskerck.
Cerca de 1555, Jacopo Tintoretto pinta a tela acima apresentada, medindo 1,35m de comprimento x 1,98m de largura, adquirida em 1925 pela Antiga Pinacoteca de Munique, na Alemanha, onde se encontra.
Nela, podemos apreciar Vénus reclinada no leito e que Hefesto destapa com uma mão, enquanto que com a outra, prende a rede à cama, sem que a deusa se aperceba. Este movimento é reflectido pelo espelho na parede do fundo. Eros, o filho de Afrodite, e que normalmente está sempre vigilante, encontra-se adormecido. Por sua vez, Hefesto não se apercebe da presente de Ares debaixo da outra cama (reconhecível pelo elmo que lhe cobre a cabeça), tentando desesperadamente calar o cão, que com os seus latidos pretende chamar a atenção do dono para a presença de um estranho. Mas o deus coxo, está tão concentrado na montagem da sua vingança, que nem o ouve.
Reza a lenda, que não se apercebendo da rede, os dois amantes depois da saída de Hefesto, retomam a sua actividade amorosa. A mola da armadilha é accionada e o par fica preso na teia.
Depois disto, Hefesto convoca todos os deuses do Olimpo, mostrando-lhes a rede onde Afrodite e Ares, se debatem como dois peixes e da qual ele não pretende libertá-los. Apesar das gargalhadas dos deuses, mais pelo caricato da situação, do que por simpatia pelo deus traído, Poseídon e Hermes, conseguem que o irredutível Hefesto deixe o par sair em liberdade. Ares, humilhado, transforma Electrion num galo, para que todos os dias, pontualmente, anuncie o nascer do sol.
Martin Van Heemskerck, um dos principais pintores holandeses do sec. XVI, trata a humilhação dos dois deuses perante os seus pares, nesta tela que faz parte de um triptico dedicado a Hefesto, realizada em 1540. A obra completa, encontra-se na Galeria Narodni, em Praga.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O DEUS FERREIRO – II


Foi também Hefesto que com o seu machado abriu o cranio de Zeus ( o que provavelmente lhe terá dado algum prazer), para que a deusa Atena pudesse nascer, depois de o rei dos deuses se ter queixado de uma horrível dor de cabeça. A sua melhor obra foi, no entanto, a criação da primeira mulher, Pandora, que ele modelou em argila, a pedido de seu pai. Era tão bela, que podia rivalizar com as deusas do Olimpo!
Hefesto era geralmente representado encostado a uma bigorna, com um martelo numa mão e uma tenaz na outra, e com um boné ponteagudo na cabeça. Construiu para si um palácio magnifico em bronze assim como servos mecânicos para o servirem, os quais poderemos considerar como os antepassados dos modernos robots…
Tinha vários templos no Egipto, na Grécia e em Roma. No Hefestión, o seu templo em Atenas, organizavam-se corridas em sua honra, onde os atletas corriam levando tochas acesas, que não poderiam deixar apagar. O corredor a quem isso acontecesse, teria de sair da arena.
Em Roma, as Vulcanais duravam oito dias, acendendo-se fogos em vários pontos da cidade, e o seu templo estava perto do Circo Flamínio, inaugurado cerca de 215 a.C. Parte do armamento tomado ao inimigo era-lhe dedicado e o leão era-lhe consagrado, porque este animal quando está zangado, parece deitar fogo pelos olhos.
Apesar de coxo, feio e disforme, só se ligou a belas mulheres…Depois de se divorciar de Afrodite devido às suas inúmeras infidelidades e de quem não teve descendencia, casou com Aglaia, a mais jovem das Três Graças, de quem teve quatro filhos. Além destas duas beldades, teve várias ligações amorosas das quais teve também descendentes, entre eles, o ladrão Perifetes e Palemónio, um dos Argonautas.
Apesar de o metal já ser conhecido, o Forno, o Fole, a Bigorna, o Martelo, a técnica de Fusão e tratamento do Ferro revolucionaram o uso dos metais, possibilitando o surgimento da Metalurgia, com a qual o homem passou a produzir a própria matéria de que serão feitas Ferramentas. O Ferreiro passou a ser o mestre e o fabricante de ferramentas e armas, adquirindo, em todos os povos que dominavam a Metalurgia, um papel de destaque. Aparecem então os deuses ferreiros que usam o martelo, a bigorna ou mesmo o fogo, na forma de raio, para simbolizar o poder e a força. O culto a Hefesto parece ser originário do Médio Oriente, espalhando-se depois para a Europa, através da Grécia e Roma. Em Ugarit (actual Ras Shamra, a norte da Síria), o deus-artesão Kothar-Wa-Khasis parecia ser manco, defeito esse extensível tanto ao Hefesto grego e ao Vulcano romano, como a Weland ou Wayland, o deus ferreiro da mitologia nórdica.


Fontes: Historia Y Vida, nº 509
Magno, Albino Pereira – Mitologia
Deuses da Mitologia – Editorial Minerva
www. pt.wikipedia.org.

domingo, 21 de agosto de 2011

O DEUS FERREIRO - I


Conhecido como o Ferreiro Divino, Hefesto (o Vulcano romano), Senhor dos vulcões, do fogo, dos metais e da ourivesaria, era tão feio e disforme à nascença, que sua mãe Hera, a rainha dos deuses, não podendo suportar a vergonha de o ter dado à luz, lançou-o do Monte Olimpo para o Mar Egeu. Recolhido pelas nereidas Tétis e Eurínome, com elas ficou durante nove anos no fundo do Oceano, praticando em segredo numa forja os seus dons extraordinários para os metais.
Ressentido com o desprezo evidenciado por sua mãe, fabricou um belíssimo trono em ouro finamente cinzelado, enviando-o a Hera, que ao vê-lo,logo se sentou nele. O pior, foi quando ao tentar levantar-se, não o conseguiu fazer… Tinha ficado presa ao assento!
Como nenhum dos deuses a conseguia tirar dali, chamaram Vulcano que repetidamente se negou a aparecer, deixando a deusa humilhada e enfurecida. Por fim, Baco, o deus do vinho, foi procurá-lo e embriagando-o, trouxe-o de volta ao Olimpo, onde o deus se compadeceu dos lamentos de sua mãe, libertando-a.
Porém, não ficou ali muito tempo. Numa das muitas contendas entre Zeus e Hera, este, enfurecido, mandou suspender a mulher na abóbada celeste presa a uma corrente de ouro. Mas Hefesto, achando o castigo demasiado severo, tirou-a dali, o que lhe valeu um valente pontapé do rei dos deuses que o atirou novamente para fora do Olimpo, vindo, a aterrar na ilha de Lemnos, e partindo as duas pernas na queda.
Os habitantes tratataram-no com todo o carinho, mas o deus ficou coxo para sempre…Como recompensa, Hefesto ensinou-os a trabalhar com as forjas, a fundir os metais e a fabricar os utensílios para a lavoura, o que valeu à ilha ser frequentemente abalada por tremores de terra.
Mais tarde, transferiu as suas forjas para as amplas cavernas do Monte Etna, na Sicília, onde teve por auxiliares os Ciclopes, gigantes com um só olho, que viviam aprisionados no interior da Terra. Estas forjas enormes, manejadas pelos Ciclopes, deram origem ao vulcão e às suas erupções, através das quais eram expelidas as chamas e o fumo que provocavam quando em actividade. Sempre que o deus se ausentava, as forjas paravam e o vulcão ficava inactivo…
Um verdadeiro artista, das suas mãos saíam peças tão belas, que depressa todos os deuses quiseram possuir alguma! Agradecido a Tétis pela sua protecção, forjou para Aquiles, seu filho, a esplendida armadura que o herói usou na Guerra de Tróia. Fabricou também, entre outros, o colar de Hermione, a coroa de Ariadne, as armas de Eneas, o ceptro e a égide de Zeus, o palácio do Sol, o carro de Apolo, o cinturão de Vénus e as joias que a Deusa usava.
Foi a ele que Zeus recorreu quando teve de enfrentar os Titãs. Hefesto fabricou então os famosos raios que deram a vitória ao Senhor do Céu. Em agradecimento, Zeus deu-lhe Afrodite, a deusa da Beleza e do Amor como esposa, o que depressa se tornou num presente envenenado…Não era fácil ter uma esposa assim!
Mas, como nem tudo são rosas mesmo na vida dos deuses, Hefesto, bastante contrariado, teve de fabricar as fortes correntes de ferro com que por ordem do Senhor do Olimpo, agrilhoou Prometeu (o criador do primeiro homem) à rocha, no Monte Cáucaso, auxiliado por Cratos (o Poder) e Bia (a Violência).


domingo, 17 de julho de 2011

Os amores infelizes de Píramo e Tisbe


Na grande Babilónia da lendária Semíramis, dois jovens amavam-se desde a mais tenra infância. Tinham crescido em casas vizinhas e contíguas, mas como as famílias de ambos eram inimigas, fora-lhes proibido a convivência.
Ele, Píramo, era um jovem bem constituído, de olhos escuros e ardentes, quanto a Tisbe, uma cabeleira longa e escura emoldurava a face mais bela que se poderia imaginar! À noite, sem ninguém os ver, falavam um com o outro através de uma fenda escondida no muro alto que separava as duas casas, trocando juras de amor eterno…ansiando por se encontrarem.
Mas os pais de ambos, irredutíveis na sua inimizade, pretendiam um casamento à altura das suas ambições. Sabedores das maquinações paternas, os dois jovens combinaram encontrar-se, a coberto da noite, para lá das muralhas, junto ao túmulo de Nino, antigo rei da Assíria, para se verem e possivelmente fugirem para algum lugar onde nada pudesse obstar ao seu amor!
Junto a esse túmulo havia uma amoreira, cujos frutos de uma extrema brancura, lhes serviriam de referência, e também, um pouco mais afastada, uma nascente. Tisbe foi a primeira a chegar, envolta num longo véu branco, para não ser reconhecida. Sentou-se debaixo da amoreira, feliz, mas também inquieta. O sítio era escuro e cheio de ruídos que a assustavam…Quando o luar iluminou o lugar, viu uma leoa com a boca ainda ensanguentada de devorar alguma presa, que se dirigia, devagar, à nascente para beber. Aterrorizada, a jovem fugiu tão depressa, que deixou cair o véu.
A leoa, intrigada, rasgou com as patas o véu, deixando-o sujo com o sangue que pingava da sua boca, e afastou-se. Pouco depois chegou Píramo, que não vendo a sua amada e reparando no véu rasgado e manchado, junto às pegadas de uma leoa, não duvidou que esta tivesse sido devorada pela fera e cheio de dor, trespassou-se com a própria espada.
Tisbe, saindo do seu esconderijo, dirigiu-se para a amoreira deparando com o corpo de Píramo já sem vida. Enquanto o cobria de beijos tentando fazê-lo voltar à vida, notou a espada junto aos restos do seu véu e compreendeu o terrível equívoco. Pegando na arma, exclamou: “Só a morte podia separar-nos, mas nem essa terá esse poder!”
No dia seguinte, foi encontrada sem vida abraçada ao corpo do seu amado, e para espanto de todos, os alvos frutos da amoreira, única testemunha deste drama, tinham-se tornado negros…
Os deuses compadecidos, decretaram que, a partir desse momento, os frutos da amoreira assinalariam através dos tempos, o luto pelos dois apaixonados!
Esta lenda inspirou aos irmãos Grimm, o conto de “A Amoreira”, e Shakespeare inspirou-se neste tema para escrever o seu famoso “Romeu e Julieta”. Também vários pintores se interessaram pelo tema, entre eles Niklaus Manuel, por alcunha Deutsch, o Alemão, cujo quadro se apresenta
acima.

domingo, 1 de maio de 2011

As Maias


É no primeiro de Maio, que se começam a celebrar as festividades cíclicas conhecidas por “Maias” e que se prolongam durante este mês.
Maio simboliza o triunfo da natureza fecunda sobre o longo Inverno estéril, e os povos antigos, essencialmente agrícolas, honravam com a chegada da primavera, os deuses menores que lhes protegiam as sementeiras, os bosques, o gado, as colheitas, tudo o que era essencial para a sua sobrevivência.
Já os Fenícios e os Gregos manifestavam a sua adoração aos deuses em festas comemorativas de acontecimentos tão transcendentes como a mudança das estações do ano. Esses costumes foram assimilados por civilizações pré-romanas como os Celtas, que no 1º de Maio celebravam a festa druídica (Beltane), época em que começava o ano e se acendiam grandes fogueiras. Acendia-se então o fogo novo, símbolo da eterna renovação. Foram depois assimiladas pelos romanos, que também comemoravam a chegada da Primavera, homenageando os seus deuses pastoris, como Flora, Palas, Pomona, Ceres, entre outros.
Está neste caso a deusa Pales, protectora dos pastores e dos rebanhos, a quem este dia também era consagrado e que tinha em Roma festas chamadas Palílias ou Parílias. É apresentada coroada de louros e com um molho de palha nas mãos.
Ao nascer do dia os pastores vestiam os seus melhores fatos, purificavam os rebanhos e os currais fazendo à entrada fogueiras alimentadas com enxofre, pinho, loureiro e rosmaninho.
Depois desta purificação, ofereciam pela mão do sacerdote, leite, mel e bolos de farinha de milho ou trigo, realizando-se a seguir, uma refeição pública.
Outra é a deusa Maia, uma ninfa que teve de Zeus um filho, Hermes o mensageiro dos deuses. É-lhe consagrado tanto o primeiro dia de Maio, como também o dia 15. É a deusa da fecundidade e da projecção da energia vital. Na Hispania, também era conhecida como Fauna, Bona Dea e Ops, e sacrificavam-lhe uma porca grávida.
Alguns festejos incluíam um combate entre a Rainha de Maio, toda de branco, e a Rainha de Inverno, representada por um rapaz vestido sombriamente, que acabava com a derrota deste.
Com o advento do Cristianismo, esta festa de celebração da Primavera e de adoração à Terra, personificada na deusa Maia, foi absorvida pela Igreja, como uma festa de exaltação religiosa de veneração à Virgem Maria, dedicando-lhe o mês de Maio.
Estas celebrações ocorrem por vários países da Europa, embora com variantes.
Em Portugal, as Maias ocorrem nalgumas regiões do país, onde na noite do dia 30 de Abril, se colocaram nas portas e janelas giestas em flor ou coroas de flores (as maias), para protecção do “Maio”, também chamado de “Careto” ou “Burro”, entidade maléfica personificando as forças negativas do inverno.
Em Trás-os-Montes e Beiras, comem-se castanhas, guardadas desde o Inverno, as chamadas castanhas piladas, caso contrario, quando se for passar por um burro, este, atira-se à pessoa e morde-a. “Quem não come castanhas no 1º de Maio, monta-o o burro”, é um ditado da região, que considera Maio, o mês dos burros.
É também costume enfeitarem um menino, o “maio-moço” que levam pelas ruas, cantando e dançando à volta dele:
O meu maio-moço/ ele lá vem/ vestido de verde/que parece bem.
Na região norte acredita-se que se não se colocar a “maia” à porta “Vem o Maio montado num burro branco e quebra a louça”. Os rapazes fazem uma coroa de flores que põem à porta das moças de quem gostam.
Noutras regiões, veste-se uma menina de branco, enfeitada de giestas e flores, que sentada num tapete, rodeada de outras meninas pede esmola, enquanto elas cantam:
Esmolinha à Maia/ para um pandeiro/ que não tem dinheiro.
Mais para o Sul, faz-se uma boneca de palha ou de trapos, ao redor da qual, as moças cantam e dançam toda a noite.No Algarve comem-se os “queijinhos de Maio”.
Esta festa, foi proibida várias vezes e já no tempo de D. João I, em 1385, este considera-a como um costume diabólico e um crime de idolatria. Na Idade Média, designava-se por Cavalo de Maio, um tributo que no dia 1º de Maio, pagavam todos aqueles que não tinham cavalo de marca que servisse para a guerra. Ainda hoje, nos Açores, se chama “Cavalo Branco” ao oficial que faz citações.
O facto de as giestas serem as flores escolhidas, prende-se talvez com uma lenda que conta que: “Quando Judas negociou com os sacerdotes a entrega de Jesus, foi combinado que ele poria um ramo de giestas na porta da casa onde Jesus estivesse. Os apóstolos, apercebendo-se disso, enfeitaram todas as portas com um ramo dessas flores, e os guardas quando chegaram, não O puderam prender dessa vez.”
Em Nanterre, França, é chamada de Festa da Rosa e elege-se a mais bela rapariga da localidade, em Nice, é conhecida como a Batalha das Flores.
“Maia” ou “Maio” é também o nome que se dá ao tronco de árvore ou pau alto, que enfeitado de flores e fitas se ergue no meio da praça e à volta do qual há bailarico toda a noite.

Fontes: Oliveira, Ernesto Veiga de – Festividades Cíclicas em Portugal
Coelho, Adolfo – Obra Etnográfica, vol.I
pt.wikipedia.org
imagem: cm-lagos.pt

sábado, 30 de abril de 2011

A Noite de Walpurgis


É uma festa tradicional cristã cujas origens remontam em parte ao paganismo, celebrada na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, também conhecida por noite das bruxas. Hoje em dia é celebrada igualmente quer por comunidades cristãs quer por não cristãs, em diversos países do Norte e Centro da Europa.
Na maioria dos países esta festividade é celebrada em honra de Santa Walpurgis, uma monja anglo-saxónica, que no início do sec. VIII foi evangelizar a Germânia, chamada por S. Bonifácio, sendo eleita em 754 abadessa do convento beneditino de Heidenheim, na Baviera, onde faleceu em 780. Os seus restos mortais foram depositados na parte oca de uma rocha da qual brotava uma espécie de betume, conhecido depois pelo nome de óleo de Walpurgis e que teve a reputação de ser um remédio milagroso. Esta gruta depressa passou a ser objecto de peregrinações, construindo-se ali uma igreja.
Nos países germânicos havia uma crença solidamente estabelecida de que durante a noite de 30 de Abril, os demónios e as bruxas reuniam-se nas montanhas, principalmente na de Blocksberg, no Harz, a que se chamava “Montanha de Walpurgis”, para celebrarem o seu sabbat. Conta a lenda, que, por obra do diabo, a santa foi levada a essa montanha para conhecer de perto essas práticas que ela tanto tinha combatido, mas ao chegar lá, pregou com tanto fervor, que por pouco não converteu o próprio diabo…
Nas tradições celtas, celebrava-se esta noite, o festival de Beltaine (Fogo Benéfico), em honra de Belenos, o deus do fogo, e que marcava o começo da temporada de verão fazendo-se a purificação dos gados, que seriam depois levados para os pastos verdes dos altos das montanhas. Acendiam-se fogueiras no alto dos montes e das colinas e o gado passava por entre elas, para se proteger das doenças e acidentes durante todo o ano. Estes fogos marcavam o triunfo da luz sobre as trevas, esconjurando os maus espírito, e debaixo da sua protecção as pessoas reunidas realizavam os rituais de fertilidade, associados a estes festejos.
No mito irlandês de Cailleach Bheur, uma bruxa invernosa de cor azul, também chamada de Senhora Repugnante, aprisionou a namorada da Primavera e destinou-lhe a difícil tarefa de lavar um novelo de lã castanha até ele ficar branco. A Primavera tentou combater a velha, mas como não a conseguiu vencer, pediu ajuda ao Sol, que atirando uma lança, obrigou a velha a refugiar-se debaixo de um tufo de azevinho, e assim a jovem foi libertada. Não é mais que a deusa na sua tripla forma de virgem, mãe e velha, em que neste duelo, a sua forma “repugnante” se limita a desaparecer no Beltane (30 de Abril), para retornar no Samadh (31 de Outubro).
Beltane, recuperada por S. Patrício, foi convertida na Vigília Pascal.
Com o advento do Cristianismo, a festa de Santa Walpurgis a 25 de Fevereiro, foi mudada para 1 de Maio, passando a ser considerada a protectora desta noite. Com o correr do tempo, as duas celebrações ter-se-ão confundido, dando assim origem às festividades de hoje em dia, onde é costume acenderem-se grandes fogueiras de modo a afugentar espíritos malignos e almas penadas, os quais segundo a crença popular, vagueiam nesta altura por entre os vivos e onde às vezes se queima um boneco que representa uma bruxa.
No nosso país nesta noite, colocam-se nas portas as flores de giesta, ou as “maias”, para que as casas estejam protegidas quando começar o dia evitando assim que o “Maio” que também se chama “Carrapato” ou “Burro”, não entrem.
Nalgumas regiões de França, colhe-se durante a noite, o “matagot”, isto é a “erva da serpente” ou o selo-de-salomão (flor-da-felicidade azul), ou apanha-se o orvalho de madrugada, porque é bom para a pele.
Na Finlândia, é uma espécie de festa carnavalesca onde se come e bebe bastante e que se prolonga pelo dia 1, considerado o 3º maior feriado finlandês.

Fontes: Markale, Jean – O Cristianismo Celta
Husain, Shahrukh – Divindades Femininas

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Florálias

Começavam hoje em Roma as festas anuais em honra de Flora, a deusa das flores, que duravam seis dias, prolongando-se até ao próximo dia 3 de Maio, e que deram origem aos Jogos Florais.
De início esta festa era móvel, mas Júlio César quando lançou o Calendário Romano, fixou-a no dia 28 de Abril, data em que foi consagrado o templo da deusa no monte Aventino. Esta celebração iniciou-se em 240 a.C., mas caiu em desuso, até que em 173 a.C., o Senado romano, preocupado com as más colheitas agrícolas, ordenou de novo a sua comemoração.
Foi nesta altura que os jogos foram introduzidos no festival (Ludi Florales), cuja organização era da responsabilidade dos edis plebeus e incluíam representações teatrais, mímicas, concursos de dança e jogos de circo. Estes jogos podiam ficar extremamente caros aos edis, que os usavam como uma maneira de atrair as simpatias da população e ganharem votos mais tarde.
Eram celebrados à noite à luz dos archotes, no grande circo da rua Patrícia, mas o sentimento religioso que os caracterizava na sua origem, depressa se perdeu. Como também se encontrava-se associado às prostitutas, acabou por se caracterizar pela sua licenciosidade.
Nos concursos, as cortesãs reuniam-se e dançavam nuas, ao som de trombetas, e as vencedoras eram coroadas de flores. No Circo Máximo, lebres e cabras, animais associados à fertilidade, eram soltos entre o público, para o qual se atirava também grão-de-bico e outras sementes relacionadas com a fertilidade. Durante estes dias, a usual roupa branca era trocada por roupas coloridas.
Com o correr dos tempos, estes jogos foram caindo em desuso, e a partir do sec. XIII, esta celebração passou a abranger apenas um concurso literário, que, felizmente, algumas Câmaras ainda hoje realizam, esforçando-se por manter vivas tradições que fazem parte do nosso passado.

Imagem:jornale.com.br

quarta-feira, 27 de abril de 2011

FLORA


Na mitologia romana, Flora, é uma ninfa das Ilhas Afortunadas, deusa da Primavera, das flores, das vinhas, dos cereais e das árvores frutíferas. É a representação da Natureza na sua potência fecundante, desencadeando o despertar da floração das árvores e do ciclo vegetativo adormecidos durante o Inverno.
Foram os Sabinos, que primeiro praticaram o culto desta deusa, dedicando-lhe o mês de Abril e introduzindo-o depois no panteão romano, quando foram assimilados por estes.
Conta a lenda, que, num dia de Primavera, quando Flora passeava pelos campos, o louro Zéfiro, o deus do vento oeste, o mais suave de todos os ventos, cuja brisa morna e agradável acaricia as flores e dá vida à natureza, viu-a e apaixonando-se por ela, raptou-a. Arrependido da sua violência, casou com ela, concedendo-lhe, como prova de amor e recompensa, o de reinar sobre todas as flores, tanto dos jardins, como dos campos cultivados.
Mais tarde, Flora ensinou aos homens como retirar o mel, oferecendo-lhes também as sementes para cultivarem os campos.
Um dia, Hera, a rainha do Olimpo, zangada por Zeus ter dado à luz sozinho a deusa Minerva (esta deusa nasceu já adulta e armada, da cabeça do rei dos deuses), sem pedir a sua contribuição, resolveu mostrar ao marido que também podia conceber sozinha. Foi pedir ajuda ao Oceano, mas durante o caminho, cansada, sentou-se à porta do templo de Flora. Esta, ao vê-la, perguntou-lhe o que a incomodava. Ao saber do assunto, fez Hera prometer que nunca contaria nada a ninguém, mostrando-lhe uma flor que tinha a virtude de engravidar qualquer mulher que se sentasse sobre ela. E assim nasceu Marte, o deus da guerra, cujo nome está na origem do primeiro mês consagrado à Primavera – Março.
Tinha um sacerdote particular em Roma, um dos doze flâmines menores, e em sua honra celebravam-se as festas da Floralia, que começando no dia 28 de Abril, só terminavam a 3 de Maio e em que participavam as cortesãs.
A sua lenda mistura-se com a de Clóris, ninfa grega dos campos. Com Zéfiro, teve Carpo, o deus dos frutos.
Outros autores dizem que em Roma houve uma cortesã belíssima chamada Clóris, conhecida pela sua licenciosidade e que por sua morte, institui o Senado romano como seu herdeiro. Este, agradecido, mudou-lhe o nome para Flora.
Como as suas festas se prolongam até Maio, este culto pagão junto com a de outros deuses agrícolas, deu origem à festa das Maias, que ainda hoje se celebram no nosso país e de que falarei depois.
Na tapeçaria que se mostra acima, desenhada pelos pré-rafaelitas William Morris e Edward Burne-Jones em 1885, Flora está representada descalça, com uma coroa de flores na cabeça, num intrincado fundo floral, inspirado numa técnica decorativa medieval, conhecida como “Mille Fleurs” (Mil Flores). Nas suas mãos segura flores frescas e em letras góticas debruando o quadro em cima e em baixo, pode ler-se este poema de William Morris:

I am the handmaid of the earth,/I broider fair her glorious gown,/ And deck her on her days of mirth/With many a garland of renown./
And while Earth's little ones are fain/And play about the Mother's hem,/ I scatter every gift I gain/From sun and wind to gladden them.

Fontes: Magno, Albino Pereira – Mitologia.
pt.wikipedia.org.
www.thetapestryhouse.com/
Imagem: commons.wikimedia.org


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pan Gu

No princípio de tudo, o Universo era uma massa confusa, negra, que parecia um grande ovo onde dentro deste caos, residiam Tudo e o Contrário de Tudo, o Yin e o Yang. Destas duas forças primordiais nasceu um embrião gigantesco chamado Pan Gu, que lá ficou dormindo a sono solto durante cerca de 18.000 anos.
Ao fim desse tempo, acordou, bocejou, espreguiçou-se, mas a escuridão que o envolvia era tão grande que ele não conseguia ver nada. Convencido que ainda não tinha aberto os olhos, esfregou-os, tornou a abri-los, mas nada…Continuava tudo negro à sua volta.
Por outro lado, sentia-se também apertado, aquela massa informe quase que o sufocava! Enraivecido, esticou o braço com o punho fechado desferindo um soco com toda a sua força contra aquela muralha invisível que o aprisionava…
Craque! Com um colossal estrondo o ovo quebrou-se e tudo o que lá estava dentro jorrou cá para fora, espalhando-se por todo o lado. E, de repente, no meio de todo aquele caos, os elementos foram tomando o seu lugar, e a Ordem começou a reinar no Universo.
Primeiro, os elementos mais leves, mais transparentes, elevaram-se para as alturas ali se dispersaram, formando o Céu. Os mais pesados, densos e opacos desceram, e formaram a Terra. De pé, entre o Céu e a Terra, Pan Gu sentindo-se agora à vontade, respirou profundamente. O ar que lhe saiu a seguir os pulmões, foi a primeira rajada de vento a varrer o Mundo.
O Céu e a Terra estavam agora separados, mas com receio de que eles se juntassem de novo e ele ficasse outra vez fechado, o gigantesco bebé, resolveu sustentar o Céu com os seus braços levantados, ao mesmo tempo que, com os pés, calcava firmemente a Terra.
À medida que o Céu e a Terra se separavam, Pan Gu continuava a crescer tão rapidamente que chegava a atingir os 3metros por dia, e assim ficou por mais 18.000 anos. Passado esse tempo, o seu corpo coberto de pêlos, já media cerca de 45 mil quilómetros! A Terra era agora uma massa compacta e estava tão longe do Céu, que não havia perigo deste desabar sobre ela…
Então já sem forças, Pan Gu tirou devagarinho as mãos do Céu, cruzou os braços, e esperou um pouco…mas a abóbada celeste não se moveu! Sentindo-se morrer de exaustão, o bom gigante deitou-se e morreu.
Ao exalar o último suspiro, este transformou-se na atmosfera, o seu hálito transformou-se em brisa, nas nuvens e nos nevoeiros e a sua voz no estrondo dos trovões. O seu olho esquerdo transformou-se no Sol resplandecente, o seu olho direito, na Lua brilhante, e os seus cabelos e bigodes na miríade de estrelas que povoam o firmamento.
Os seus quatro membros e o tronco deram origem às cinco montanhas mais altas do Norte, do Sul, do Este, do Oeste e do Centro da Terra. O sangue formou os rios impetuosos que passaram a sulcar a crosta terrestre e os tendões em caminhos que atravessaram todo o globo.
Entre estas vias, a carne deu lugar à terra arável, os dentes, ossos e a medula óssea cristalizaram-se, dando origem às rochas, pérolas, jade e minerais subterrâneos. A pele converteu-se em pradarias, os pêlos, em florestas. O suor do gigante espalhou-se pela superfície terrestre e assim nasceram a chuva e o orvalho da madrugada.
As pulgas e os piolhos que o infestavam, foram os antepassados de todos os seres vivos do planeta. Conta-se que as forças vitais da sua alma, levadas pelos ventos que sopravam sobre a Terra, foram habitar e animar estes mesmos seres vivos, pelo que descendemos todos de um antepassado comum, o bondoso e gigantesco Pan Gu, que sacrificou a sua vida e ofereceu o seu ser para permitir a criação do Mundo.
O mito de Pan gu tem mais que uma versão, e numa delas, os seres humanos não são criados por ele, mas sim pela deusa Nü Wa.

Fontes: Mitologia chinesa – Mitos primitivos – Landy Editora.
Fabulosos Mitos do Mundo – Selecções do Reader’s Digest.
Wikipedia.org.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O Boeiro


Boötes (Boo), O Boeiro, é uma constelação bastante compacta, situada entre Canes Venatici e Hércules, tocando também na Ursa Maior e considerada uma das constelações mais antigas conhecida até das primeiras civilizações. A sua alfa Arcturo, (Arktos), de cor alaranjada, é a segunda estrela mais brilhante do hemisfério Norte e a quarta mais brilhante do firmamento e é do seu nome que deriva o termo “Árctico”, que designa toda a região do Pólo Norte.
Na mitologia grega, era filho de Deméter, a deusa da Agricultura, sendo um jovem muito sensato e bondoso, que com os seus cães de caça, Asterion e Charas, apascentava as ovelhas. Comovido por os homens não conseguirem obter alimento da terra, construiu-lhes o arado, para que a cultivassem, ensinando-lhes também os rudimentos da agricultura para que se tornassem auto-suficientes. Como recompensa, e a pedido de sua mãe, os deuses colocaram-no no céu como constelação na posição da Ursa Maior (a quem também chamam O Arado), para a proteger com os seus cães. Era também conhecido como Arctophylax que significa o protector da ursa.
Numa outra versão e por ordem de Juno, a Hera romana, o Boieiro em vez de as proteger vigia-as constantemente com os seus cães, tangendo-as com o cajado que empunha para que estejam constantemente em movimento sem poderem descansar. Arcturo, que significa (guarda do urso) a sua estrela alfa, está sempre de vigia.
Também se diz que foi posto no céu com os seus dois cães para apascentar as estrelas, mantendo a sua rotação.
É citado por Camões no canto III.

Fontes:Nautilus.fis.uc.pt.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ganímedes

A 11 de Janeiro de 1610, Galileu Galilei descobre a principal lua de Júpiter, que Marius baptizou com o nome de Ganímedes, um dos amores do deus, à semelhança das outras três luas já descobertas.
É a maior lua do sistema solar, e é tão grande, que se não fosse um satélite, seria um planeta maior que Mercúrio ou Plutão.
Na década de 1980 uma equipe de astrónomos indianos e norte-americanos num observatório na Indonésia detectaram uma atmosfera ténue à volta de Ganímedes. Mais recentemente o Telescópio Espacial Hubble, descobriu que essa atmosfera era composta de oxigénio, tal como a atmosfera encontrada em Europa.
Devido ao seu tamanho e características, Ganímedes entra em vários contos de ficção científica, como no livro (Farmer in the Sky) de Robert Heinlein, em que Ganímedes é colonizado por seres humanos. Arthur C. Clarke, em (2061: Odisseia Três), Ganímedes é aquecido pelo novo sol Lúcifer, contém um grande lago equatorial e é o centro da colonização humana no sistema joviano.
Mitologicamente, Ganímedes era um jovem príncipe troiano, extremamente belo, que apascentava as suas ovelhas no Monte Ida. Zeus, ao vê-lo apaixonou-se, e transformando-se numa águia, arrebatou-o para o Olimpo, onde passou a ser o seu copeiro. Essa função pertencia a Hebe, deusa da juventude, filha de Zeus e de Hera, que um dia teve a pouca sorte de cair desastradamente quando servia o néctar da imortalidade aos deuses. Envergonhada pelas suas gargalhadas, recusou-se a fazer esse trabalho, sendo então substituída por Ganímedes. Apesar do ódio de Hera, Zeus concedeu-lhe a imortalidade, colocando-o mais tarde na constelação de Aquário.
Para mitigar um pouco a dor do pai do jovem raptado, Zeus enviou-lhe pelo deus Hermes, dois cavalos tão velozes, que podiam correr sobre a água.
Este mito foi aproveitado por vários artistas desde a Antiguidade, tanto na pintura e na escultura, como na poesia ou na música. O quadro abaixo apresentado foi pintado por Correggio em 1531-32, e encontra-se no Kunsthistorisches Museum, Viena.

Fontes: Wikipedia.org

sábado, 20 de novembro de 2010

A Tília - II

A sua madeira macia, leve, de cor castanho claro, fácil de esculpir, foi muito utilizada na manufactura de estatuetas religiosas e instrumentos musicais. Andrei Rublev, o famoso pintor russo, utilizava a madeira de tília para pintar os seus ícones. Além disso do romeno ou casca interior da tília, eram feitas umas tábuas finas de madeira, utilizadas como material de escrita, e quando cortado em tiras servia para adivinhação, o que nos leva a outra lenda:
Cronos, o deus Saturno dos romanos, apaixonou-se perdidamente por Philyra ou Filira, ninfa de uma extrema beleza, filha do Oceano e de Tétis, acabando por conseguir seduzi-la. Acontece que Reia, sua esposa, foi procurá-lo e Cronos para não ser apanhado em flagrante delito de adultério e evitar assim a sua ira transformou-se num cavalo. Tempos depois, Phylira teve um filho, metade humano, metade cavalo, a quem chamaram Quíron. Desesperada por ter um filho centauro, abandonou-o e os deuses compadecidos transformaram-na numa tília, a árvore que dava flores e folhas medicinais. Era a deusa do perfume e da escrita, ensinando aos homens o fabrico do papel. Quanto a Quíron, criado por Apolo, a sua fama de médico, sábio e profeta fez com que fosse conhecido por Filho de Philyra (Tília).
Na mitologia eslava, a tília (Lipa) é também considerada uma árvore sagrada e na Polónia há varias aldeias cujo nome é uma derivação de Lipa. Na Croácia, a moeda nacional, a Kuna é dividida em 100 Lipa. Na Hungria, também tem um valor espiritual e cultural e chama-se Hars.
Mas a Tília não entra só na mitologia pagã. Um dos grandes santuários na Checoslováquia, o de Nossa Senhora da Visitação, na fronteira deste país com a Alemanha e a Polónia tem também uma lenda relativa à sua fundação:
Um pobre artesão, necessitando de madeira para trabalhar, pôs-se a caminho à procura dela, deixando em casa a sua pobre mulher doente e uma filha pequenina. Já de regresso, fez um descanso debaixo duma tília e adormeceu. Teve um sonho muito estranho. A árvore iluminou-se e sentados na sua copa estavam dois anjos que lhe disseram: «Tu encontras-te num lugar lindíssimo que agradou a Deus. Vai e traz uma estatueta da Mãe de Deus, para que cada um que por aqui passe no futuro pare e possa agradecer a Deus». O homem acordou, hesitou por um momento e decidiu ir até à próxima cidade para aí comprar a estatueta, e assim cumprir o que os anjos lhe haviam dito. Foi a um entalhador em Zita, comprou a estatueta da Virgem Maria e regressando ao local fixou-a à tília, onde havia estado. Mais tarde trouxe até à tília a sua mulher e filha, para juntos orarem, e a sua família como por milagre foi curada. A notícia sobre o milagre espalhou-se rapidamente. E a este local começaram a afluir peregrinos de longínquas paragens. Em vez da tília foi construída uma capela de madeira, em que o carpinteiro deixou gravada a data da sua construção, 1211. Mais tarde foi construído um convento de franciscanos. A Basílica que hoje lá se encontra foi construída entre 1722/29, sendo ali criado depois da 2ª Guerra, um centro internacional de renovação espiritual, onde todos os anos se realiza uma peregrinação de reconciliação.
A sua longevidade é também lendária. No pátio do Castelo Imperial de Nuremberga havia uma tília que conta a tradição, foi plantada pela imperatriz Cunegundes, esposa de Henrique II da Alemanha, falecida em 1040. Em 1900, embora doente, ainda dava folhas nos três ramos que lhe restavam. Em Baden-Württemberg, na Alemanha, caiu uma tília cuja idade foi calculada em mil anos.
Alta, elegante e perfumada, representa também a graça e a feminilidade, não admirando portanto, que na literatura e poesia tenha sido cantada por poetas e escritores, desde os primeiros trovadores, como Walther von der Vogelweide (1170-1230), que escreveu uma canção “Sob a Tília”, até, Christian Bobin, nascido em 1951 e ainda vivo, que no seu livro “Ressuscitar” comenta:
“A tília em frente da janela é o mestre que escolhi para escrever e sei de antemão que não poderei igualá-lo: nem mesmo os maiores escritores alguma vez escreveram com tanta graça como esta árvore inscreve delicadamente a luz e a sombra em cada uma das suas folhas e renova a sua inspiração a cada segundo
Homero, Plínio, Horácio e Heródoto também escreveram sobre esta árvore e as suas virtudes.
Jan Kochanowski (Sycyna, 1530 - Lublin, 22 de agosto de 1584) foi um poeta renascentista polaco, geralmente considerado o maior poeta do período anterior ao sec. XIX. Um dos seus poemas intitula-se, “A Tília” e diz:
“Peregrino senta-te debaixo da ramagem, descansa;
Eu prometo – sequer o sol selvagem aqui pode avançar.
Porém os raios justos deverão as sombras aquietar nos arbustos.
Aqui sempre sopram brisas frescas do campo,
Rouxinóis e negras aves cantam seu canto.
Abelhas obreiras recolhem mel das flores perfumadas
Para brindar as mesas dos nobres.
E a todos os homens meu murmúrio sereno
Cobre facilmente de adocicado sono…

Goethe, em “Os infortúnios do jovem Werther”, faz enterrar o seu personagem principal debaixo de uma tília.
Conta-se que Mihai Eminescu, o maior poeta romeno, escrevia os seus poemas à sombra de uma, e Samuel Taylor Coleridge, encerrava-se numa pérgola, à sombra desta árvore, a quem dedicou o seu poema “Este Lime-tree Bower, minha prisão”.
Franz Schubert no seu ciclo” Winterreise”, (Viagem de Inverno) de 1827, Opus 89, compôs 24 canções sobre poemas de Wilhelm Müller, sendo uma das mais célebres a 5ª canção, chamada “Der Lindenbaum” (A Tília). Escrita em 1822, conta a história de um caminhante que passando junto a uma tília existente junto ao portão da cidade, onde ele algumas vezes adormeceu e em cuja casca gravou palavras de amor, sente os ramos da árvore chamarem-no, convidando-o a descansar entre eles, o que é tomado como uma insinuação de suicídio. Ele passa de largo, sem olhar para trás, com o vento gelado a bater-lhe na cara, mas muitas horas depois e longe dali, ainda recorda o sussurro dos ramos da tília dizendo-lhe:” Aqui encontrarás descanso”.
Miguel Torga, num dos seus contos, escreve:
"Por lhe ter receitado inalações de flor de tília, o homem cuidou que eu atraiçoava o progresso. E conversámos longamente..”
Termino com um soneto de Florbela Espanca:


A Voz da Tília

Diz-me a tília a cantar: “Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça;
Deu ao meu corpo, o vento quando passa,
Este ar escultural de bayadera…

E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de oiro que me enlaça…
Trago nas mãos as mãos da Primavera…
E é para mim que em noites de desgraça

Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nú,
Diz à chuva sonetos de Verlaine…”

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
“Já fui um dia poeta como tu…
Ainda hás-de ser tília como eu sou…”


Fontes:pt.wikilingue.com
Abrigodossabios-paulo.blogspot.com
www.czechtourism.com
Grave, Robert - Mitos da mitologia greco-romana
Espanca, Florbela – Sonetos, Bertrand editora
Lipp, Frank J. – O Simbolismo das plantas
Olivrodaareia.blogspot.com

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Tília - I

Nativa da Europa mas cultivada em todo o mundo, a Tília é uma árvore de grande porte e grande valor ornamental, podendo atingir entre 20 a 40 mts. de altura dependendo da espécie. Pertencendo à família das Tiliáceas, possui bonitas flores brancas, cremes ou amareladas em forma de coração, medindo cerca de 10 cm., que exalam um aroma suave e agradável, muito atractivo para as abelhas. As suas copas frondosas podem atingir os 50 mts. de perímetro e o seu tronco pode alcançar 1,30 mts. de diâmetro. Os frutos são arredondados e de casca acinzentada.
Símbolo da amizade e da fidelidade, é considerada uma árvore sagrada pelas antigas civilizações, que lhe reconheciam qualidades protectoras (afastava o relâmpago e curava quem a tocasse), bem como pela sua longevidade e perfume, tendo várias lendas associadas, sendo uma das mais conhecidas a que conta o seguinte:
No tempo em que os deuses se misturavam com os mortais, Zeus e Hermes resolveram testar a hospitalidade dos homens e foram percorrendo a terra disfarçados de viajantes, pedindo abrigo onde parassem. Mas as portas fechavam-se e encaminharam-se então para a Frígia onde apenas numa cabana muito humilde, habitada por dois velhos puderam encontrar abrigo. O idoso casal era muito pobre, mas dividiram o pouco que tinham com os seus hóspedes, sem saberem quem eram. Como não tinham filhos, viviam um para o outro, tendo por companhia apenas um velho ganso que lhes guardava a casa.
Durante a parca refeição, Filémon e Báucis assim se chamava o casal, notaram com algum temor que o vaso do vinho à medida que se esvaziava enchia-se novamente sem lhe mexerem. Reconhecendo a divindade dos dois homens, pediram humildemente desculpa pela pobreza com que os recebiam e quiseram matar o ganso para prepararem uma refeição melhor… Mas o bicho que não estava pelos ajustes de perder o pescoço depois de tantos anos de trabalho, fugiu e foi esconder-se entre os hóspedes!
Zeus não permitiu que matassem o animal, deu-se a conhecer e convidou-os a segui-lo até ao cimo de um monte. Chegados lá, viram que todo o lugar estava submerso, à excepção da sua pequena cabana que se encontrava transformada num templo.
O deus prometeu conceder-lhes tudo o que pedissem, mas os dois velhos desejaram apenas ser os guardiões daquele templo e não morrer um sem o outro. Os seus pedidos foram aceites e durante o resto das suas vidas que chegou a uma velhice muito avançada, ali viveram. Um dia, estando os dois juntos a conversar, Báucis notou que Filémon se estava a cobrir de folhas, transformando-se num carvalho, e Filémon ficou pasmado ao ver que Báucis se transformava em tília, tendo apenas tempo de se dizerem adeus! O que espantava os visitantes do templo eram verem um carvalho e uma tília nascendo do mesmo tronco…
Para os germânicos representava o infortúnio e a ressurreição, pertencendo à deusa Freya, a Vénus nórdica, chefe das Valquírias e Senhora da magia e da adivinhação. No “Mito dos Nibelungos”, um conjunto de lendas nórdicas e germânicas, Siegfried, o herói, depois de matar o dragão que guarda o anel, banha-se no seu sangue para se torna invencível, mas uma folha de tília ao cair, cola-se-lhe entre as omoplatas impedindo o contacto do sangue com a sua pele, tornando-o vulnerável à lança de Hagen. O seu corpo é enterrado debaixo de uma destas árvores.
É debaixo das suas copas que as fadas aparecem nas noites de Verão sendo também o esconderijo dos duendes. Na antiga Grécia e entre os povos eslavos era a residência da deusa do amor, e na Irlanda diz-se que aquele que adormecer debaixo de uma árvore destas será transportado para a terra das fadas.
Frequentemente plantada em locais de peregrinação ou junto às igrejas, e também em jardins e alamedas, em tempos ainda não demasiado antigos era à sua sombra que se faziam os julgamentos na praça central das aldeias, pois também estava associada à justiça. Ainda hoje é normal verem-se nos centros das povoações. Antes da 1ª Guerra Mundial era costume no Somme, os noivos caminharem debaixo de duas dessas árvores que tivessem crescido juntas, para terem um casamento feliz, e até à 2ª Guerra, a cidade de Berlim orgulhava-se da sua Unter den Linden (Sob as Tílias), uma alameda ornada de filas destas árvores seculares e imponentes. Em inglês o seu nome é Lime tree ou Linden tree, em francês tilleul e em espanhol tilo. São também chamadas de árvores de cal.
Conhecem-se para cima de 30 variedades algumas delas híbridas, mas as propriedades e partes utilizadas são as mesmas em todas as espécies. A Tília é composta quimicamente de óleo essencial, flavonóides mucilagem, ácidos fenólicos), taninos, manganês e vitamina C. As flores e brácteas devem ser colhidas mal comece a floração e secas a baixa temperatura, sendo amplamente usadas em infusões calmantes Uma infusão bem quente de chá de tília constitui um excelente sudorífico (que estimula a sudação), muito recomendado em estados febris, gripes e catarros, especialmente em crianças devido à sua acção levemente calmante e ao seu sabor agradável e adocicado. É um bom calmante do sistema nervoso e muito utilizado em crianças hiperactivas. Tradicionalmente em França, o chá das cinco para as crianças era de tília, tomado à sombra da própria árvore, para que assim o efeito fosse ainda mais eficaz. O mel feito com as flores da Tília é considerado um dos melhores tipos de mel.
É ainda útil no alívio de dores de cabeça e insónias. Combate a arteriosclerose, a tosse, a bronquite, digestões difíceis e cólicas gastrointestinais. Funciona ainda como sedativo, ansiolítico e anti-espasmódico. A casca emprega-se nas infecções hepático-biliares e no combate à celulite.
Dadas as suas propriedades curativas, na Idade Média era utilizada para todas as doenças e já por volta de 1930, o Dr. Samuel Maia, no seu Manual de Medicina Doméstica, dizia que “o chá de tília, agradável e inofensivo, serve nos momentos em que o sentimento ordena aplicar um remédio, sem se saber bem qual escolher”, o que ainda hoje em dia é praticado, pelo menos por quem prefere os produtos naturais.



Fontes: commonswikipedia.org
Jardins, revista nº 61, texto de Fernanda Botelho
Magno, Albino Pereira – Mitologia
Agroatlas.ru
Wikipedia.org
Maia, Samuel – Manual de Medicina Doméstica, Livraria Bertrand


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mitologia vegetal


Quase todas as culturas antigas representavam a Terra e a Natureza como a grande Deusa-Mãe. Se pensarmos que a vida na terra depende das plantas e que directa ou indirectamente é a elas que vamos buscar alimentos, combustíveis, oxigénio, medicamentos, materiais de construção e uma série de outras coisas necessárias à nossa existência, não é de admirar que desde os primórdios da Humanidade, os seres humanos acreditassem que possuíam uma energia divina.
Representando o ciclo da vida (fertilidade, morte e renascimento), as suas flores são símbolos de juventude e vitalidade, mas também de fragilidade e transitoriedade. A sua forma em receptáculo torna-as essencialmente femininas e o seu desabrochar é por vezes associado ao parto. Noutras, a abertura da flor em botão representa a criação e a energia do sol, representando a natureza-morta pintada pelos artistas, a recordação da brevidade da vida.
As plantas sagradas podiam ser boas ou ruins, tanto podiam dar a vida como a morte. Na maioria das lendas sul-americanas as plantas importantes são feitas do sangue, ossos e carne de seres ancestrais, heróis míticos ou espíritos da floresta.
Os frutos tinham geralmente um forte simbolismo de fertilidade e eram muitas vezes associados às deusas da maternidade e do amor. A ingestão de um fruto tanto poderia representar o dom da imortalidade como o oposto. Adão e Eva foram expulsos do paraíso por comerem uma maçã…
Dentro deste reino vegetal, as árvores são um dos símbolos mais poderosos da humanidade. Formada por matéria lenhosa e aquosa, ela personifica a união dos três reinos (céu, terra e água) e os quatro elementos: as suas raízes mergulham na terra, a água em forma de seiva percorre-as, as suas folhas respiram o ar, e o tronco dá-nos o fogo. Embora considerada como símbolo maternal (madeira em latim é do género feminino e tem a mesma raiz comum à da mãe e à da matéria - mater), muitas delas são masculinas. No entanto, os significados atribuídos às árvores, pelas diferentes culturas são muitos e variados. As de folha persistente representam longevidade e imortalidade e as de folha caduca representam regeneração e renascimento. Umas possuíam poderes mágicos, outras possuíam o poder de curar. Tal como as plantas, umas são boas, outras nem tanto. Podiam também ser habitadas pelas divindades, fantasmas dos antepassados, ou espíritos, a quem se deviam fazer oferendas, sacrifícios e orações.
A imagem da árvore cósmica ou da vida faz parte dos mitos e contos de todos os povos, sendo algumas representadas invertidas. Este símbolo tão antigo aparece no cristianismo associado à Virgem Maria, que nos deu o seu fruto, Jesus. Maria aparece muitas vezes em árvores ou troncos ocos, e Jesus por sua vez é crucificado numa cruz feita com a madeira da árvore da ciência que brotou no paraíso, e que na tradição medieval, tinha raízes que chegavam ao inferno e cujo topo alcançava o céu.
As florestas e os bosques eram muitas vezes a morada de duendes, fadas, magos e feiticeiros, onde nalguns considerados sagrados, não se podia entrar, cortar madeira, nem caçar qualquer animal. Eram também o centro da vida religiosa e política dos povos germânicos, e na Lituânia, no sec. XI, os cristãos não se podiam aproximar dos bosques sagrados porque podiam contaminá-los.
Era à sombra das árvores que Buda meditava e os índios da América do Norte enterravam os seus mortos em troncos ocos, ou em caixas de madeira colocadas em cima de árvores.
A cor verde que ostentam é também sinónimo de vitalidade contínua, e a sua fecundidade fizeram com que se tornassem focos de antigos ritos de fertilidade. Os costumes populares em que as mulheres estéreis abraçavam certas arvores ou se deitavam por debaixo delas para engravidar são por demais conhecidos.
Com o passar dos tempos a linguagem dos símbolos foi-se perdendo e hoje, florestas inteiras desaparecem sob a mão impiedosa do Homem esquecido por completo do quanto lhes deve!

Fontes: Fontana. David – A linguagem dos símbolos
Lipp, Frank J. – O Simbolismo das Plantas
Espírito Santo, Moisés – A religião popular Portuguesa