domingo, 31 de julho de 2011

Vincen Van Gogh – II


Em Paris divide um apartamento com o seu irmão Theo que o apresenta aos mestres do impressionismo, como Monet, Renoir, Seurat e outros pintores com quem aprende a usar os tons claros, abandonando a sua temática sombria. Conhece também Toulouse-Lautrec, que, alcoólatra inveterado o introduz à bebida da moda, o absinto, também conhecido por “fada verde” devido à sua cor, possuindo uma elevada taxa de graduação (68%), e que (dependendo da quantidade), produzia alucinações, surtos psicóticos, e inclusive a morte.
Descobre a pintura japonesa, então na moda, que o apaixona, e torna-se amigo de Paul Gaugin. Com este e mais alguns dos seus amigos que como ele viviam e pintavam em Montmartre, forma um grupo que ironicamente intitula de “Peintres du Petit Boulevard”, e pinta vários quadros na técnica do pontilismo.
As relações com o seu irmão tornam-se bastantes tensas devido ao seu carácter difícil, e Toulouse-Lautrec aconselha-o a ir para a Provença, cujas terras soalheiras e cheias de cor ele achava que fariam bem ao temperamento de Van Gogh. E assim, em Fevereiro de 1887, fixa-se em Arles, onde tudo o deslumbra. Em quinze meses pinta duzentos quadros, dos quais grande parte deles são hoje considerados as suas obras-primas, como a série de telas com “Girassóis” talvez os mais conhecidos, pelo amarelo vibrante das suas cores. Adquiriu também um gosto persistente pelo pormenor expressivo, isto é, pelo expressionismo, estilo que não se nutre apenas das aparências visíveis, mas procura também transmitir o conteúdo afectivo da percepção. Nesse mesmo ano, em Paris, no “Salon des Artistes Indépendants” são expostos três quadros seus.
Sonha em instalar em Arles uma comunidade de artistas, e aluga para isso, metade de uma casa, conhecida como “A Casa Amarela” que ele retrata numa das suas obras. Enquanto não chegam, pinta frequentemente à noite, ao ar livre, mas depois de muitas insistências, apenas Paul Gauguin, em Outubro, responde ao seu convite.
Ao princípio, tudo corre bem entre os dois amigos, mas passados dois meses, as discussões começam a ser frequentes entre eles e Van Gogh começa a apresentar sinais de perturbação. Segundo conta Gauguin, quando na noite de 23 de Dezembro de 1888, saiu para dar um passeio, Vincent seguiu-o levando na mão uma navalha aberta. Assustado, Paul Gauguin foi dormir para um hotel e Vincent nessa noite sofre um ataque de alienação mental. Corta parte da orelha esquerda, limpa-a, e metendo-a num envelope vai levá-la a uma prostituta, dizendo-lhe: “Tome lá isto, é uma recordação minha”. Depois volta para casa e deita-se como se nada tivesse acontecido. A polícia encontra-o inanimado na cama e leva-o para o hospital, ao passo que Gauguin segue nesse dia para Paris sem sequer ir visitar o amigo.
Vincent fica 14 dias no hospital, e de volta ao atelier, pinta “Auto-retrato com a orelha cortada”. O lado direito da cabeça está coberto com uma larga ligadura que acrescenta mais seriedade ao seu olhar fixo e triste. O pesado capote que enverga protege-o do ambiente hostil que o rodeia.
O estilo de pintura acompanhou a mudança psicológica e Van Gogh trocou o pontilhado por pequenas pinceladas.
Mas as alucinações e as insónias voltam e o pintor começa a desenvolver uma paranóia de que o querem envenenar. Alguns cidadãos de Arles, preocupados, fazem uma petição para que ele seja novamente internado, e Van Gogh, aos 36 anos recolhe-se voluntariamente ao asilo psiquiátrico de Saint-Paul-de-Mausole, perto de Arles.
“Sofrer sem se queixar é a única lição que nesta vida se deve aprender”, escreve ele nesta altura ao seu irmão Theo.


sábado, 30 de julho de 2011

Vincent Van Gogh - I

A 30 de Julho de 1890 era sepultado no cemitério de Auvers, perto de Paris, o pintor impressionista Vincent Van Gogh, vítima de um ferimento de bala, auto-infligido na tarde do dia 27 desse mês.
Em apenas 10 anos de actividade artística, tinha pintado cerca de 840 quadros a óleo e outros tantos desenhos e aguarelas! Por incrível que pareça, apenas conseguiu vender um único: La Vigne Rouge, em 1890, por 400 francos…Não poderia imaginar que hoje são considerados obras-primas e vendem-se por milhões!
“Para toda a gente sou uma nulidade; consideram-me um homem excêntrico e desagradável e, todavia, há em mim uma espécie de música calma e pura.”
Escrita em 1886 ao seu irmão Théo, mostra toda a solidão e amargura que o pintor sentia. Olhado com desconfiança pelos seus vizinhos a quem desagradava o seu feitio taciturno e insociável, Vincent Van Gogh nunca conseguiu integrar-se na sociedade a que pertencia. Pouca gente fez caso dele ou o tomou a sério.
Até mesmo o seu nascimento teve um certo dramatismo…Viu a luz do dia a 30 de Março de 1853, precisamente no mesmo dia em que no ano anterior, sua mãe tinha tido um nado-morto de quem ele herdou o nome: Vincent Willem.
Filho de Theodorus Van Gogh, um pastor protestante holandês e de sua mulher Anna Cornelia, Vincent teve mais cinco irmãos, mas só com dois deles manteve relações de amizade: Wilhelmina, nascida em 1862 e Theodorus, em 1857, que se tornou no seu amigo, confidente e apoio financeiro até à sua morte.
Incapaz de se sustentar economicamente, apesar dos vários empregos que teve, e dos quais desistia ou era despedido, até no amor foi infeliz. A sua paixão não correspondida por uma jovem ruiva, filha da sua senhoria, transformou-o num homem taciturno e melancólico. Mais tarde, a recusa veemente da sua prima Kee, recentemente viúva, ao seu pedido de casamento levou-o a um maior isolamento emocional.
No princípio de 1882 está em Haia e aí conhece Clasina Maria Hoornik, a quem ele chama de Sien, uma prostituta grávida e com uma filha pequena. Serve-lhe de modelo e de amante, mas a família, chocada com esta ligação, rejeita-o, apenas Theo se mantém do seu lado. Os problemas financeiros avolumam-se, e em fins de 1883, Sien volta à prostituição para se poder alimentar e aos filhos. O pintor, tendo de escolher entre a arte e a família, acaba com a ligação e desloca-se sozinho para Drente, mas não aguentando a solidão volta para casa dos pais, em Nuenen, mantendo-se por lá até 1885.
Neste período, conhece Margot Begemann com quem decide casar, mas como os progenitores de ambos se opõem, Margot tenta envenenar-se. A partir daí a vida em Nuenen torna-se-lhe difícil, e Van Gogh parte para Amsterdão e depois para Antuérpia, onde fica até aos primeiros meses de 1886, indo depois para Paris.
As frequentes discussões com seu pai, um homem de ideias rígidas e muito conservador, provocam-lhe, muitas vezes, depressões e pensamentos suicidas.
Deste período na Holanda, o seu quadro mais importante é “Os comedores de batatas”, que ele considerava uma das suas melhores obras.


FELIZ ANIVERSÁRIO!!!


Faz hoje um ano que nasceu o Baú da História e convidamos
todos os cerca de 3.100 amigos por esse mundo fora que
até hoje o visitaram, para festejarem connosco o seu 1º
aniversário!
Para todos, uma

e…

Um abraço amigo .




Voltem sempre…


Cassandra

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A destruição de Santiago de Compostela


Muhammad Ibn Abi Amir, mais conhecido pelo nome que adoptou de Al-Mansur Billah (o vitorioso pela graça de Deus), e a quem os cristãos chamavam de Almançor, começou o seu governo em 981, durante a menoridade do califa Hisham II, de apenas onze anos de idade.
A sua acção militar conta cerca de cinquenta e sete expedições, quase todas destinadas a destruir os grupos cristãos do norte da Península, sendo duas delas de grande importância.
A primeira foi realizada contra Barcelona, em 985. A segunda teve um carácter muito mais simbólico: a destruição de Santiago de Compostela, o mais importante santuário cristão da Espanha e grande centro de peregrinação para toda a Europa.
“A expedição (a sua 48ª campanha), saiu de Córdova no sábado 23 de Jumada II de 387 (3 de Julho de 997), entrando primeiro na cidade de Cória, dirigindo-se depois para Viseu, a capital da Galiza. Aí juntaram-se-lhe grande número de condes com os seus guerreiros, ao mesmo tempo que em Alcáçer do Sal se reunia uma importante frota para transporte de armas, víveres e diversos corpos de infantaria.
Chegados ao Porto, a frota subiu o rio até ao local designado por Almançor para a travessia do resto das tropas e as naves serviram de ponte junto ao castelo que aí se erguia, procedendo-se depois à distribuição dos víveres pelos diferentes corpos do exército. Assim apetrechados entraram em país inimigo.
Tomada a direcção de Santiago, Almançor atravessou extensas regiões até chegar a uma montanha elevada, sem vias nem caminhos. Por sua ordem, grupos de obreiros trabalharam no alargamento das picadas para o exército poder passar (…).
Chegaram assim à ria de Padrón, onde se erguia um dos templos consagrados a Santiago que, para os cristãos, seguia em importância o que encerra o seu sepulcro. Depois de o ter arrasado por inteiro, foram acampar ante a orgulhosa cidade de Santiago a 2 de Xabane (10 de Agosto).
Tinham-na abandonado os seus habitantes e os muçulmanos apoderaram-se de todas as riquezas que nela acharam e derrubaram as construções, as muralhas e a igreja de tal maneira que não ficaram vestígios. No entanto, os guarda, colocados por Almançor para fazer respeitar o sepulcro do santo, impediram que o túmulo recebesse qualquer dano. Mas todos os formosos palácios solidamente construídos, que se erguiam na cidade foram reduzidos a pó, e não se teria suspeitado, depois do seu arrasamento, que tivessem existido ali na véspera.
Levou-se a cabo a destruição durante os dias que se seguiram à quarta-feira, 2 de Xabane (…).”
A cidade tinha sido evacuada pelo bispo Pedro de Mezonzo. O facto de Almançor não ter destruído o túmulo do apóstolo, permitiu a continuação dos Caminhos de Santiago. Existe uma lenda que narra que os prisioneiros cristãos carregaram com os sinos do templo de Santiago até Córdoba e que, segundo parece, fizeram o caminho de regresso dois séculos e meio mais tarde, transportados por prisioneiros muçulmanos, quando Fernando III, o Santo os recuperou para a cristandade.
“Hoje o Diabo retrocedeu, desembaraçando-se da causa dos inimigos. Os partidários da heresia souberam então no Extremo Oriente onde estão e no Extremo Ocidente que o fetichismo era apenas uma mentira. Em Santiago quando chegaste com as espadas brancas semelhantes a uma lua que se passeia pela noite entre as suas estrelas…Que bela é a vista da religião frente à sua fealdade e a frescura da fé do partido de Allah comparada à sua chama…” Ibn Darray, Louvor a Almançor pela sua vitória em Santiago.

Fontes:
www.wikipedia.pt
História Universal do Público
Alves, Adalberto - O meu coração é árabe

domingo, 24 de julho de 2011

A Alcachofra


Originária do sul do Mediterrâneo, provavelmente das regiões do Norte de África, era já conhecida dos egípcios, tendo sido trazida para a Europa pelos gregos, que introduziram o seu cultivo também na Sicília.
A alcachofra (cientificamente conhecida como Cynara cardunculus, subs. Scolymus), é uma planta robusta, de folhas espinhosas e cor de um cinza pálido, que pode atingir até 1,20 mts. de altura. As flores são cor de púrpura, envoltas em grandes brácteas carnudas, que são a parte comestível da inflorescência. As folhas da alcachofra contêm diversas substâncias de efeitos benéficos para a saúde quando consumidas nos níveis recomendados.
Ricas em cinarina (a principal substância activa), que estimula as secreções do fígado e da vesícula é diurética, contendo também tanino assim como vários flavonóides, designadamente a luteolina. Cada 100g contém cerca de 60 calorias e também contém cálcio, ferro e fósforo, vitaminas do complexo B, potássio, iodo, sódio, magnésio e ferro.
Planta exótica, aparentada com o cardo comum, dizia-se que tinha propriedades afrodisíacas. Muito utilizada na Antiguidade pelos nobres gregos e romanos, caiu um pouco no esquecimento, continuando contudo a ser utilizada em Itália. Catarina de Médicis, que era uma grande apreciadora desta iguaria, introduziu o seu consumo em França, quando casou com o rei Henrique II.
À volta do seu nome científico Cynara, existe uma bonita lenda mitológica:
Havia em tempos uma belíssima jovem mortal, chamada Cynara, que vivia com a sua família numa ilha. Ora num belo dia que Zeus tinha ido visitar o seu irmão Poseidon ao seu reino, viu, ao emergir, aquela beldade a olhar para ele, sem parecer nada assustada por estar na presença do rei dos deuses.
Como não podia deixar de ser, Zeus não perdeu tempo a tentar seduzi-la.
Decidido a tê-la ao pé de si, aproveitou uma das ausências da sua esposa Hera, e tornando Cynara imortal, levou-a consigo. Mas a jovem, certo dia, sentiu saudades do seu mundo antigo e da sua família, e, às escondidas, deixou a morada dos deuses e foi visitar a sua mãe. Ao voltar, Zeus, cheio de cólera pela sua atitude, mandou-a de regresso às origens, mas transformada numa alcachofra!
Muito mais real, é o quanto os árabes apreciavam este legume. Além de lhe darem o nome porque a conhecemos, alcachofra (al-kharshûf), o grande poeta Ibn ‘Ammar, nascido em 1031, perto de Silves, dedicou-lhe este poema:

A ALCACHOFRA

Filha das águas e da terra,
Para quem lhe almeja os dons
Fecha-se numa veste de recusa.
E, na sua beleza obstinada
Bem no cimo lá da haste
Lembra uma jovem cristã
Que cota de espinhos usa.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Filipa de Lencastre – III


Dado o agravamento do estado da rainha, e por perigo de contágio, o rei foi aconselhado a ir para Alhos Vedros, até ao seu falecimento.
Conta-se que à hora da morte, a Virgem lhe apareceu:
“ E esta Rainha Dona Filipa, que estando naquele ponto que já ouvistes, lhe apareceu Nossa Senhora, para lhe dar verdadeiro esforço para passagem daquela hora forte. Cá depois destas cousas que já dissemos, ela endereçou seu rosto para cima, tendo seus olhos directamente para o céu, sem nenhum mudamento de contenença.E foi visto em ela um ar todo cheio de graça. O qual todos, visivelmente conheciam que era espiritual, juntando suas mãos, como temos em costume fazer, quando vimos o corpo do Senhor e disse: “Grandes louvoures sejam dados a Vós, minha Senhora, porque vos prouve do alto me virdes visitar. E assim filhou a roupa que tinha sobre si, e a beijou, como se beijasse uma paz.”Idem, pp.161/2.
Como os médicos previssem a sua morte para o dia seguinte, mandou que começassem a rezar a defuntos, acompanhando as orações e corrigindo-as quando não as achava bem, confessou-se comungou e recebeu a extrema-unção. Quando o ofício acabou, levantou os olhos ao céu e segundo diz Zurara “sem nenhum trabalho nem pena, deu a sua alma nas mãos d’ Aquele que a criou, parecendo em sua boca um ar de riso. Cá assim há-de ser, segundo tenção de alguns doutores, que o homem que direitamente há-de viver, venha a este mundo chorando e se parta dele rindo.”Idem pp. 164.
Morreu de peste, tal como sua mãe, a 18 de Julho de 1415, com 55 anos de idade, ficando sepultada em Odivelas. Em 1416, D. João mandou trasladá-la para o Mosteiro da Batalha, mas só em 1434 é que o seu corpo, assim como o do rei, seu marido, foram depostos no duplo túmulo jacente onde hoje os podemos ver. Em 1810, a face oeste do túmulo foi danificada durante as invasões francesas.
A única rainha inglesa que Portugal teve, a ela se deve a fortificação das relações políticas entre os dois países, mantendo vivo o Tratado de Windsor. Foi dela a ideia de casar a filha bastarda do rei, a infanta D. Beatriz, com o conde de Arundel.
Esposa e mãe exemplar, austera, recatada e devota, reinou de 1387 a 1415, mas como mulher, conseguiu que D. João I lhe fosse sempre fiel durante tantos anos de casamento, o que desdiz um pouco da imagem “glacial” com que geralmente a encaramos…
Descendência:
Branca de Portugal (1388-1389) morreu jovem
Afonso de Portugal (1390-1400) morreu jovem
Duarte de Portugal (1391-1438), sucessor do pai no trono português, poeta e escritor
Pedro, Duque de Coimbra (1392-1449), foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo. Foi regente durante a menoridade do seu sobrinho, o futuro rei D. Afonso V e morreu na Batalha de Alfarrobeira
Henrique, Duque de Viseu, O Navegador (1394-1460), investiu a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia. Mestre da Ordem de Cristo.
Isabel (1397-1471) casou com Filipe III, Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nas suas terras
João, condestável de Portugal, (1400-1442) e avô de Isabel de Castela
Fernando, o Infante Santo (1402-1433), morreu no cativeiro em Fez

Fernando Pessoa, na sua Mensagem, chama-lhe “Madrinha de Portugal”:



Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?

Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!


Fontes: www.wikipedia.org
Faria, Américo – Dicionário de Mulheres Célebres
Pessoa, Fernando – Mensagem
Lourenço, Paula, Ana Cristina Pereira, Joana Troni – As amantes dos reis de Portugal.
Lapa, Rodrigues – Prosas históricas, de Gomes Eanes de Zurara.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

D. Filipa de Lencastre – II


Decidida a impor uma certa moralidade numa Corte um tanto licenciosa, que desde o falecimento de D. Fernando, não tinha tido uma rainha ou princesa a nortear-lhe os costumes, D. Filipa, além de acabar com a maior parte das festas, organizou trabalhos de caridade social e aulas de leitura para as suas damas, que eram na sua maioria, iletradas.
Muito sabedora de religião (discutia os mais pequenos pormenores com os padres), fixou o horário da missa para as 7h. da manhã e orações quase de hora a hora.
Nas refeições, por sua ordem, os alimentos passaram a ser trinchados em bocados mais pequenos para que pudessem ser agarrados delicadamente com os dedos, uma vez que ainda não havia garfos, e as pessoas começaram, obrigatoriamente a lavar as mãos, antes e depois de comer. Embora tivesse um excelente cozinheiro, D. Filipa era muito frugal na comida e segundo nos conta Gomes Eanes de Zurara (1410-1474), autor da Crónica del Rei d. João de Boa Memória, ''seu comer não era por deleite, somente para suster a vida''.
Resolveu também, de acordo com o rei, que em nada a contrariava, organizar o casamento entre as damas solteiras da sua Casa e os nobres que ela achasse convenientes, sem se importar em ouvir a opinião dos interessados, que só sabiam com quem iriam casar apenas à porta da Igreja, depois de receberem uma “ carta – ordem “ designando-lhes o dia e a hora do casamento. Como refere D. Duarte no “Leal Conselheiro”: “Passaram mais de cem mulheres que El-Rei e a Rainha, meus Senhores Padre e Madre, cujas almas Deus Haja, e nós casámos de nossas casas…”.
As rainhas de Portugal contaram, desde muito cedo, com os rendimentos de bens, adquiridos na sua grande maioria por doação. D. Filipa de Lencastre recebeu as rendas da alfândega de Lisboa, bem como as vilas de Alenquer, Sintra, Óbidos, Alvaiázere, Torres Novas e Torres Vedras.
Excelente educadora transmitiu aos filhos a sua educação inglesa, cheia de preceitos morais e educativos, mas acima de tudo, o respeito e obediência ao Rei. Existiam para o “servir”, “assistir” e “obedecer” em tudo ao que ao Rei aprouvesse.
Foi declaradamente a favor da expedição a Ceuta, não só pela glória que seria os seus filhos serem armados cavaleiros a combater os infiéis, que ela não tolerava, mas também pela consequente posse de terras e alargamento da fé cristã.
A partir daí, D. Filipa, torna-se ainda mais devota, jejuando, fazendo orações e vigílias, pelo bom sucesso desta empresa, e encomenda 3 espadas a João Vasques de Almada, uma vez que, para Ceuta iriam apenas os 3 filhos mais velhos, dado os outros filhos varões não terem ainda idade para este empreendimento.
Quando todos os preparativos para a expedição estavam prontos, a rainha adoeceu com a peste negra que então grassava no país. Retirou-se para Odivelas, não deixando que adiassem a partida para Ceuta.
Sabendo que a morte estava próxima, chamou os filhos, e na presença do rei, armou-os cavaleiros, com as espadas que tinha encomendado.
Primeiro, fê-los Cavaleiros de Cristo. “ E então mandou trazer uma Cruz, daquele verdadeiro pau, em que Nosso Senhor Jesus Cristo padeceu, e partiu em quatro partes, segundo os quatros braços que estão na Cruz. E deu a cada um dos Infantes seu braço, e o quarto guardou para el-Rei, seu senhor.” Idem, pag.151.
Tomou depois as espadas, entregando-as a cada um dos filhos, com a sua bênção, encomendando a D. Duarte a defesa dos povos, e encarregando-o dos irmãos mais novos, assim como da sua ama e da filha desta.
Ao Infante D. Pedro, encarregou-o da defesa das damas e donzelas, e a D. Henrique a defesa da nobreza.
Os infantes mais novos, tinham sido levados para Sintra, mas a infanta D. Isabel, já com 19 anos de idade, permanecia em Odivelas com a mãe. Não houve, no entanto, para esta filha uma única palavra de despedida ou alguma lembrança, por parte da rainha, o que não abona muito em seu favor.
Gomes Eanes de Zurara conta, na sua Crónica da Tomada de Ceuta: “E depois que ela assim repartiu suas encomendas, chegou-se a ela Biatriz Gonçalves de Moura, e disse-lhe:”Senhora, parece-me que todos os do reino a vosso filho o Infante haveis encomendado, e não tiveste nembrança da Infanta vossa filha, que é mulher e em tal idade como sabeis, à qual é mais necessário ser encomendada a ele, que outra nenhuma pessoa”. O Infante D. Pedro que hi estava, dissa à Rainha: “Senhora, se vossa mercê fosse, a mim parece que seria bem chamarem el-Rei e lhe pedirdes que as terras que vós tendes, que seja sua mercê de as dar à Infanta vossa filha, para seu suportamento, enquanto hi outra rainha não há.”pp. 157.

terça-feira, 19 de julho de 2011

D. Filipa de Lencastre - I

UMA ROSA VERMELHA NO TRONO DE PORTUGAL

Nascida Philippa of Lancaster, em Leicester, Inglaterra, em 1360, D. Filipa de Lencastre era filha primogénita do Duque John de Gaunt, 1º duque de Lencastre por via de sua esposa a duquesa Blanche de Lancaster. Era por via paterna, neta do Rei Eduardo III de Inglaterra e irmã do futuro rei inglês Henrique IV, sendo portanto uma princesa da Casa Real Plantageneta. A rosa vermelha era o emblema da Casa de Lencastre.
Educada na Corte de seu pai, junto com os seus irmãos e meios-irmãos legítimos e ilegítimos, depois da morte de sua mãe, quando tinha nove anos de idade, D. Filipa teve por madrasta a princesa Constança de Castela, e por ama, Katherine Swinford, a própria amante de seu pai, que a impôs à esposa e com quem viria a casar, depois do falecimento desta.
Aos 18 anos, tinha recebido, juntamente com a sua irmã e a sua madrasta, a Ordem da Jarreteira.
Loura, de olhos azuis, não herdou da mãe a sua famosa beleza, tinha antes as feições dos Plantagenetas: o nariz comprido e afiado, as maçãs do rosto salientes, os olhos pequenos, um pouco perdidos em arcadas fundas e a boca marcada. Extremamente devota, quase fanática, tivera, como todas as grandes senhoras da época, uma educação profundamente católica, norteando-se toda a vida por normas rígidas e inflexíveis.
Aos 26 anos de idade e passada já a idade casadoira para a época, casa, no âmbito da Aliança Luso-Inglesa contra o eixo Castela-França, com D. João I, rei de Portugal, de 30 anos, filho bastardo de D. Pedro I, que pretendia com esta união, não só ajuda militar contra o rei de Castela, como também o reconhecimento pelas outras monarquias europeias, do seu direito ao trono português.
Efectuado no Porto, a 2 de Fevereiro de 1387, o casamento é ilegítimo até à chegada, em 1391, da bula papal “Divina Disponente”, que dispensa o noivo dos seus votos eclesiásticos, o que não o impediu de ter dois filhos bastardos, de quem a rainha tomou conta.
Embora sendo um casamento de conveniência, como todos, na altura, e apesar dos seus feitios completamente diferentes, foi uma união harmoniosa de que resultaram 8 filhos, seis dos quais sobreviveram. Quando o último nasceu, a rainha tinha cerca de 42 anos!
Estes numerosos filhos, que se notabilizaram na História portuguesa do sec XV, são conhecidos pela Ínclita Geração, na célebre expressão de Luís de Camões, e na MENSAGEM, de Fernando Pessoa.
Com o rei muitas vezes ausente em operações militares, a Rainha, que sabia ler e escrever e tinha tido uma educação esmerada, além de ser muito inteligente e decidida, foi, sempre que necessário, a representante do poder real. Mesmo quando o rei estava na corte, D. Filipa era chamada para assistir ao Conselho, onde dava a sua opinião. Por várias vezes acompanhou o marido em expedições bélicas, como na tomada de Melgaço em 1388.
Foi para acudir ao marido, que se encontrava muito doente, no Curval, que D. Filipa, em adiantado estado de gravidez, se pôs ao caminho, de Coimbra, para o acompanhar na doença, perdendo assim o primeiro filho que esperava.
A ela se deve, a reconstrução, entre outros, do Palácio de Sintra, sendo a responsável pelas chaminés cónicas, que são um dos emblemas do Paço, assim como da belíssima varanda do Paço do castelo de Leiria.
Mas nunca se desligou do seu mundo inglês… Os seus tesoureiros, chanceleres confessores e a maior parte das suas damas de companhia eram inglesas. Mantinha correspondência com os monarcas ingleses, seu primo Ricardo II e seu irmão Henrique IV, que a informavam de tudo o que se passava em Inglaterra. Das damas portuguesas que faziam parte da sua casa, a mais chegada era D. Beatriz Gonçalves de Moura, viúva do senhor de Leomil, que foi encarregada, quando D. Filipa chegou a Portugal, de iniciar a rainha nos costumes da terra “cá doutra guisa escusada fora”.


domingo, 17 de julho de 2011

Os amores infelizes de Píramo e Tisbe


Na grande Babilónia da lendária Semíramis, dois jovens amavam-se desde a mais tenra infância. Tinham crescido em casas vizinhas e contíguas, mas como as famílias de ambos eram inimigas, fora-lhes proibido a convivência.
Ele, Píramo, era um jovem bem constituído, de olhos escuros e ardentes, quanto a Tisbe, uma cabeleira longa e escura emoldurava a face mais bela que se poderia imaginar! À noite, sem ninguém os ver, falavam um com o outro através de uma fenda escondida no muro alto que separava as duas casas, trocando juras de amor eterno…ansiando por se encontrarem.
Mas os pais de ambos, irredutíveis na sua inimizade, pretendiam um casamento à altura das suas ambições. Sabedores das maquinações paternas, os dois jovens combinaram encontrar-se, a coberto da noite, para lá das muralhas, junto ao túmulo de Nino, antigo rei da Assíria, para se verem e possivelmente fugirem para algum lugar onde nada pudesse obstar ao seu amor!
Junto a esse túmulo havia uma amoreira, cujos frutos de uma extrema brancura, lhes serviriam de referência, e também, um pouco mais afastada, uma nascente. Tisbe foi a primeira a chegar, envolta num longo véu branco, para não ser reconhecida. Sentou-se debaixo da amoreira, feliz, mas também inquieta. O sítio era escuro e cheio de ruídos que a assustavam…Quando o luar iluminou o lugar, viu uma leoa com a boca ainda ensanguentada de devorar alguma presa, que se dirigia, devagar, à nascente para beber. Aterrorizada, a jovem fugiu tão depressa, que deixou cair o véu.
A leoa, intrigada, rasgou com as patas o véu, deixando-o sujo com o sangue que pingava da sua boca, e afastou-se. Pouco depois chegou Píramo, que não vendo a sua amada e reparando no véu rasgado e manchado, junto às pegadas de uma leoa, não duvidou que esta tivesse sido devorada pela fera e cheio de dor, trespassou-se com a própria espada.
Tisbe, saindo do seu esconderijo, dirigiu-se para a amoreira deparando com o corpo de Píramo já sem vida. Enquanto o cobria de beijos tentando fazê-lo voltar à vida, notou a espada junto aos restos do seu véu e compreendeu o terrível equívoco. Pegando na arma, exclamou: “Só a morte podia separar-nos, mas nem essa terá esse poder!”
No dia seguinte, foi encontrada sem vida abraçada ao corpo do seu amado, e para espanto de todos, os alvos frutos da amoreira, única testemunha deste drama, tinham-se tornado negros…
Os deuses compadecidos, decretaram que, a partir desse momento, os frutos da amoreira assinalariam através dos tempos, o luto pelos dois apaixonados!
Esta lenda inspirou aos irmãos Grimm, o conto de “A Amoreira”, e Shakespeare inspirou-se neste tema para escrever o seu famoso “Romeu e Julieta”. Também vários pintores se interessaram pelo tema, entre eles Niklaus Manuel, por alcunha Deutsch, o Alemão, cujo quadro se apresenta
acima.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Tomada da Bastilha

Considerada como o símbolo do absolutismo e da tirania real, a sua queda nas mãos da população de Paris, a 14 de Julho de 1789, marca o início da Revolução Francesa e a passagem do poder da aristocracia e da corte, para as mãos da burguesia e do povo.
Demolida em Novembro desse mesmo ano, as suas pedras foram utilizadas na construção da Ponte da Concórdia, restando apenas o seu traçado na praça que leva o seu nome.
Após a sua conquista, as novas autoridades revolucionárias uniram, na nova bandeira, o branco do estandarte dos Bourbons com o azul e vermelho da cidade de Paris.
A Bastilha era uma antiga fortaleza construída em 1370, no reinado de Carlos V, no início da Guerra dos Cem Anos para defesa dos ataques ingleses e terminada 12 anos depois.
Situada no centro de Paris, foi, ao princípio, cidadela militar, tornando-se mais tarde, durante o reinado de Luís XIII, prisão do Estado para nobres, ou adversários do regime, tanto de cariz político como religioso. Entre os seus presos mais ilustres, contam-se, Jacques de Armagnac, Bassompierre, Fouquet, o Homem da Máscara de Ferro, a marquesa de Brinvilliers, o duque de Orleães, Voltaire, etc.
A França atravessava uma grave crise financeira devido principalmente à sua participação na Independência dos Estados Unidos, à participação e derrota na Guerra dos Sete Anos e aos elevados custos da corte.
Por outro lado, apenas o Terceiro Estado (burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterogénea composta por artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este nome graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos caros utilizados pelos nobres) pagava impostos, os outros dois Estados, Nobreza e Clero, estavam isentos… A votação nas Assembleias era por ordem e não por cabeça, pelo que o Terceiro Estado ficava sempre prejudicado na aprovação das leis!
O descontentamento era geral. Os camponeses não tinham terras nem dinheiro e os novos burgueses pretendiam aceder ao poder político. Na base do descontentamento também estiveram as ideias filosóficas do Iluminismo e a crise económica que afectou a França.
Em 1785, uma terrível seca provoca a perda de grande quantidade de gado e a 13 de Julho de 1788, uma tempestade devasta o Nordeste do reino, e o Inverno que se segue é tão rigoroso, que os rios gelam, os moinhos ficam bloqueados e a circulação dos cereais desorganiza-se. A colheita foi muito escassa e em 1789, nem sequer se chega a fazer. A população muda-se para as cidades, onde vivem em condições degradantes, alimentando-se à base de pão preto.
Por sua vez, a criminalidade aumenta, principalmente nos campos, e com o agravar da situação, os bandos começam a invadir as grandes cidades, trazendo com eles a insegurança.
O preço do pão duplica num ano, atingindo o seu valor máximo nas vésperas dos motins populares. À revolta da burguesia junta-se a revolta dos camponeses. Os castelos da nobreza rural são atacados e muitos deles são massacrados junto com as famílias.
A 11 de Julho, dez mil homens em armas encontravam-se nos arredores de Versalhes, o que alarmou o Terceiro Estado, e em todas as saídas de Paris havia tropas, quase tudo cavalaria alemã, para controlar a entrada dos cereais na cidade.
A 13 de Julho, a multidão que se tinha concentrado em frente dos jardins do Palais Royal, incitada por um jornalista desconhecido, Camille Desmoulins, que lhes anuncia que as tropas reais vão desencadear uma repressão sangrenta contra o povo, apodera-se das armas do Arsenal, e no dia seguinte, ataca a Bastilha para se apoderar da pólvora e armas ali existentes. O marquês de Launay, seu governador (ele mesmo nascido na Bastilha em 1740, visto o seu pai ser o governador da prisão nessa altura), ainda tentou negociar, mas os guardas disparam contra a multidão, que, indignada, parte para o assalto. O combate durou cerca de 4 horas e de Launay decidiu render-se, na condição de ninguém ser molestado.
Embora escoltado, o governador é massacrado pela população que depois de lhe cortar a cabeça, a espeta na ponta de uma lança, desfilando com ela pelas ruas de Paris. Alguns dos guardas, na sua maioria inválidos da guerra, são também mortos, e os prisioneiros saem em liberdade aplaudidos pela multidão.
A partir daqui, nada ficará como antes, e este dia será sempre recordado pelos franceses, que fizeram dele o seu dia Nacional.


Fontes: Belloc, Hilaire – Maria Antonieta
As Grandes Civilizações – França, o século das Luzes
www.wikipedia.pt

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Catedral de S. Basílio


“Alegra-te, ó muito piedoso czar! Pela tua coragem e boa sorte alcançámos a vitória e Kazan é nossa. Que ordenas tu agora?”
E Ivan, o Terrível respondeu ao seu comandante-chefe, príncipe Miguel Vorotinski, que acabava de lhe ganhar a batalha contra os Tártaros: “Confiemos a glória ao Altíssimo”.
Na tarde de 2 de Outubro de 1552, a cidade de Kazan caía na posse dos russos, e em acção de graças pela tomada da cidade e pela vitória de Astrakhan, que afastaram o perigo mongol, o czar Ivan IV mandou construir em 1555, o monumento mais original da antiga Rússia, a Catedral de S. Basílio.
Obra de Barma e Postnik, foi terminada em 1560, sendo formada pelo agrupamento de nove capelas votivas, em estilo bizantino. As suas oito cúpulas em forma de bolbos para deixar escorrer a chuva e a neve, gravitam em torno de uma pirâmide central com 57 metros de altura, também ela coroada com um desses fantásticos bolbos. Todas estão cobertas de relevos abstractos e cores diferentes, assemelhando-se a flores mágicas de um jardim de sonho.
O revestimento a folhas de metal inicial foi substituído por uma decoração em mosaicos policromados com relevos e ocres multicolores.
Originalmente conhecida como Igreja da Trindade, foi consagrada a 12 de Julho de 1561, faz hoje 450 anos, e logo depois elevada à categoria de catedral. Cada capela votiva é dedicada a um santo, à excepção do santuário central que é dedicado à Intercessão de Maria e dos de leste (dedicado à Trindade) e oeste (Entrada de Jerusalém).
Em 1588, o czar Fiodor Ivanovich mandou construir uma nova capela sobre a tumba de S. Basílio, pelo que a catedral ficou popularmente conhecida por esse nome.
Diz a lenda que Ivan, o Terrível, mandou vazar os olhos ao arquitecto da basílica, para que não pudesse construir outra tão bela!
Símbolo terreno da Jerusalém Celeste, marca o centro geométrico da cidade de Moscovo, e sobreviveu ao ataque de Napoleão Bonaparte que ordenou a sua destruição.
Dessacralizada em 1929, é considerada desde 1990, juntamente com o Kremlin e a Praça Vermelha, Património Mundial da Unesco.

Fontes: Graham, Stephen – Ivan, o Terrível
pt.wikipedia.org
www.infopedia.pt

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Henrique II Plantageneta – II


Embora tivesse conseguido dominar a nobreza e o clero, o mesmo não pode dizer-se do seu casamento.
Apesar dos nove ou dez anos de diferença entre os dois cônjuges, o matrimónio foi feliz durante os primeiros tempos, daí resultando oito filhos. Além de bela, Leonor de Aquitânia era uma mulher extremamente culta e inteligente, possuidora de uma personalidade enérgica. Ex-rainha de França (esteve casada com Luís VII de França, de quem se separou ao fim de 15 anos de casamento e de quem teve duas filhas), a sua experiência em muito ajudou o seu jovem e impetuoso marido durante os primeiros anos do seu reinado, perdoando-lhe algumas leviandades e chegando a criar alguns dos filhos bastardos do rei junto com os seus. Foi uma das mulheres mais poderosas e influentes da Idade Média, alcançou uma longevidade notável (morreu com cerca de 80 anos) e teve o seu último filho aos 43 anos!
Mas o facto de Henrique querer controlar o ducado de Aquitânia, assim como as aventuras extra-matrimoniais do rei, especialmente a última, com uma belíssima galesa de 16 anos, quando a rainha se encontrava na sua última gravidez já depois dos quarenta anos, não ajudou em nada a manter um casamento desgastado por várias “tempestades” conjugais.
Rosamund Clifford era, ao contrário de Leonor, uma jovem calma e doce, por quem Henrique, que por esta altura já detestava a mulher, se apaixonou de tal modo, que lhe concedeu honras de rainha. O caso tornou-se público em 1174 e terminou quando ela se retirou para um convento perto de Oxford, onde morreu pouco depois, em 1176. Depois da morte da amante e de o seu casamento com Leonor ter terminado, exilando-se esta nas suas terras, Henrique ainda tentou divorciar-se para se poder casar com a meia-irmã de Leonor, Alice, noiva do seu filho Ricardo, mas a Igreja não lho consentiu. Com isso, apenas conseguiu ainda ser mais detestado pelo filho e pela mulher!
Entretanto Leonor, auto-exilada no seu ducado de Aquitânia, dedicou toda a sua energia a ajudar as revoltas dos filhos contra o pai.
Em 1170, o monarca adoeceu e pensando ter chegado a sua hora, decidiu repartir os seus territórios pelos filhos varões, chegando até a celebrar-se, embora sem a presença da rainha, as cerimónias que os legitimavam como senhores dessas terras. Mas o rei restabeleceu-se da doença e tudo ficou sem efeito…só que os jovens príncipes não estiveram pelos ajustes e em 1172, Henrique, o Jovem, futuro herdeiro do trono, pegou em armas contra o pai, dando assim início a uma série de lutas internas, de que resultou a morte de dois deles. Quando não guerreavam o pai, guerreavam entre si...
Mas o rei, sabendo que a rainha estava por detrás destas revoltas, mandou encerrá-la como prisioneira na Torre de Salisbúria, onde permaneceu durante 15 anos, só saindo de lá depois da morte do marido.
Mesmo assim, e agora apoiados pelo rei de França, os príncipes fomentaram várias revoltas durante os anos seguintes, até que já velho, cansado e doente, e obrigado a lutar em duas frentes, Henrique II, assinou a 4 de Julho de 1189 uma paz humilhante com o seu filho e herdeiro, Ricardo, o futuro Coração de Leão, em Chinon, onde faleceu a 6 desse mesmo mês, depois de saber que o seu filho mais novo, João, o seu preferido, tinha também entrado na conspiração. Ao conhecer esse facto, virou a cara para a parede dizendo:”Agora já nada mais importa!”.
Tinha 56 anos de idade, e durante 35 anos a sua figura corpulenta e agressiva tinha batalhado sem descanso pela manutenção do império que criou.
É descrito como o 1º Rei da Inglaterra (até aqui os monarcas britânicos eram conhecidos como “Rei dos Ingleses – King of the English”, porque apenas dominavam o território inglês), mas, apesar de tudo, é bastante menos conhecido que os seus filhos Ricardo e João, em grande parte devido à lenda de Robin dos Bosques, ou que sua mulher Leonor, a Rainha dos Trovadores, ou até mesmo que St. Thomas Becket!
Foram precisos filmes como “Becket” ou “O Leão no Inverno”, com as magníficas interpretações de Peter O’Toole e Katherine Hepburn, para que a sua figura saísse do esquecimento…
Encontra-se sepultado na Abadia de Fontevraud, em Anjou, França, junto a Leonor e Ricardo.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Revista História Y Vida
Revista História – National Geographic
Pequena História das Grandes Nações – História da Grã-Bretanha
www.bbc.co.uk. - Henry II, the “First” King of England

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Henrique II Plantageneta - I


“Maldito o dia que me viu nascer, malditos os filhos que deixei!”, teriam sido as ultimas palavras com que Henrique II, de Inglaterra, se despediu da vida…
Neto de Guilherme o Conquistador, filho de Matilde, ex-imperatriz consorte do Sacro Império e de Godofredo V, conde de Anjou, onde nasceu a 5 de Março de 1133, e onde passou os primeiros anos, enquanto sua mãe lutava pelos seus direitos ao trono de Inglaterra, contra seu primo, Estêvão de Blois, durante o tempo das guerras civis a que se deu o nome de “Anarquia”e que só acabou quando em 1154 Henrique II subiu ao trono.
Em 1152, aos 19 anos, tinha-se casado com a bela Eleanor de Aquitânia, mais velha cerca de dez anos e divorciada do rei Luís VII de França, que lhe trouxe como dote o ducado de que era herdeira, o que somado às possessões que Henrique já possuía em França (pela mãe herdara a Normandia e pelo pai, as regiões do Loire, Anjou, Maine e Touraine), faziam dele um vassalo muito mais poderoso que o seu suserano, o rei francês, com quem, aliás, passou o tempo em querelas.
Iniciando a dinastia Plantageneta, assim denominada por ostentarem no seu brasão uma flor de giesta, (em françês : plante à genêt), Henrique II foi sem dúvida, o seu melhor representante. Guerreiro hábil e corajoso, conhecido e temido pelos seus ataques de fúria, mas bom governante, deixou aos seus descendentes um império unido debaixo da mesma bandeira. Muito mais francês que inglês (o francês era a língua falada pela corte), a sua obsessão era expandir os seus domínios franceses, não descansando enquanto não anexou também a Bretanha, o que originou tensões frequentes com os reis de França, primeiro com Luís VII e depois com o filho deste Filipe Augusto, astucioso e totalmente desprovido de escrúpulos, mas hábil político,que aproveitando-se da desunião reinante entre Henrique e os seus filhos, conseguiu lentamente apoderar-se da maior parte destas possessões no reinado de João Sem-Terra, filho mais novo de Henrique II.
Este homem, dotado de um poderoso equilíbrio, com ombros largos e um pescoço de touro, governava um território que se estendia pelos dois lados do Canal da Mancha, desde as montanhas da Escócia até aos Pirinéus, o maior império europeu que qualquer rei de Inglaterra jamais teve, embora frágil, geográficamente disperso,com culturas variadas e diferentes, mas a quem em breve iria dar um novo impulso ao restabelecer a unidade do reino da Inglaterra, e concentrando todo o poder na sua pessoa.
Com apenas 21 anos quando subiu ao trono, depressa acabou com as centenas de praças-fortes dos opressores do povo anglo-saxão e reprimiu todas as tentativas de rebelião dos senhores feudais.
“As espadas dos cavaleiros foram transformadas em charruas; os salteadores e os ladrões foram enforcados”.
Implementou um novo sistema de colecta de impostos e a administração pública melhorou significativamente com o estabelecimento de registos públicos criados pelo rei. No campo da justiça, Henrique mandou coligir o primeiro livro de leis inglês, descentralizou o exercício da justiça através de magistrados com poderes de agir em nome da coroa e implementou o julgamento por júri. A pessoa mais insignificante podia queixar-se directamente ao rei, no decurso das suas viagens de norte a sul do país, Henrique velava pela boa aplicação da justiça.
Na luta que empreendeu para obrigar a nobreza à obediência, foi sempre ajudado pelo seu grande amigo, o chanceler Thomas Becket, que embora tivesse feito parte do alto clero, se empenhou também em submeter a Igreja ao seu soberano. Para consolidar esta submissão, o rei nomeou-o Arcebispo da Cantuária em 1162. Mas, o que Henrique II não esperava é que Becket, agora Arcebispo, se dedicasse tão profundamente a defender a Igreja, como antes, quando era chanceler, defendia os interesses do rei!
Daí a entrarem em conflito, foi um instante…Becket tornou-se um fanático campeão dos direitos da Igreja e quando o rei decretou que os padres acusados de crime deveriam ser julgados nos tribunais eclesiásticos, mas que se fossem considerados culpados deveriam ser entregues aos tribunais reais para aplicação da pena, Becket recusou-se a aceitar este decreto, dizendo que os decretos da Igreja se deveriam sobrepor aos do rei… Para fugir ao ódio de Henrique, exilou-se em França durante 6 anos, voltando depois a Inglaterra, irredutível como antes, mas reconciliando-se com o rei, embora por pouco tempo, o que levou ao seu assassínio em 1170, junto ao altar, quando se preparava para dizer missa.
Diz-se que o rei num dos seus ataques de fúria terá exclamado “Mas que cavaleiros mantenho eu na minha corte, que não me podem vingar de um imprudente eclesiástico!”. Quatro cavaleiros tomaram-lhe a palavra à letra, dirigiram-se à Catedral e depois de uma breve troca de palavras, assassinaram o arcebispo a golpes de espada.
Embora os seus assassinos fossem castigados, Becket tornou-se um mártir para o povo, o Papa santificou-o e o seu túmulo tornou-se um lugar de peregrinação onde se diz que ocorreram milagres.
Para acabar com os vários levantamentos da população indignada e evitar a excomunhão, Henrique II doou importantes somas de dinheiro aos Cavaleiros Templários e Hospitalários, deslocando-se a Cantuária, vestido de penitente e descalço, onde se fez flagelar por vários monges…Para a Igreja foi um triunfo, para o rei foi uma humilhação, mas recuperou a confiança do seu povo e pôde assim acabar com os motins!
Durante o seu reinado finalizou a conquista do País de Gales e da Irlanda, sendo, em 1175, firmado o Tratado de Windsor, segundo o qual a Irlanda passaria a ser regida pelas leis inglesas.




domingo, 3 de julho de 2011

Olá Amigos

Desculpem esta pequena ausência, mas aproveitei estes dias para dar uns mergulhos e “trabalhar” para o bronze…
Dei também um pulinho a Sevilha, que soube a muito pouco e onde apanhei temperaturas de 48º, mas que, mesmo assim, recomendo a quem ainda não a conhecer.
Banhada pelo Guadalquivir, o antigo rio Bétis dos romanos, é baptizada com o nome de Isbiliya pelos muçulmanos que a conquistam aos visigodos e a convertem na primeira capital islâmica do país, mas em 1248 é reconquistada definitivamente por Fernando III, o Santo.
Na sua magnífica Catedral, além do túmulo de Cristóvão Colombo, pode admirar-se a pequena estatueta de marfim do sec. XIII de Nossa Senhora das Batalhas, que acompanhou o rei Fernando na conquista da cidade, ou a chave que os judeus de Sevilha lhe entregaram quando entrou em Sevilha, com a inscrição “Deus abrirá e o rei entrará”…
No Real Alcazar, o palácio real habitado mais antigo da Europa, podemos imaginar D. Pedro I de Castela, passeando com Maria de Padilla, o seu grande amor, que tal como Inês de Castro foi declarada rainha depois de morta…
Ou podemos invejar o alfaiate e os jardineiros da infanta Maria Luísa, que tinham direito a pequenos palacetes para habitação!
Como dizia com muita graça o nosso guia turístico, a partir das quatro horas da tarde, só duas espécies de pessoas andam nas ruas a essa hora:
Os loucos e os turistas…e os guias que precisam de trabalhar!


Cassandra