sábado, 21 de junho de 2014

Poemas Leonel Neves

Gaios no ramo de uma árvore



O gaio e o papagaio

Não sei quem teve a ideia
de contar a um velho gaio
que outra ave papagueia
e se chama papagaio.

Disse o gaio: «Papa-quê?»
Disse o outro: «Papa-gaio!»
Disse o gaio: «Pois você
diga lá a esse bicho
que, se não muda de nome,
não me escapa, ainda o lixo;

que um gaio tem muita fome,
que sou um papão de um raio,
que este velho gaio o papa,
que sou papa-papagaio.»

Quando isto contaram a
um medroso papagaio,
gaguejou: «Eu... sou... pa... pa...»
e depois teve um desmaio.

Engasgou-se a rir, o gaio,
do desmaio do papagaio.

Leonel Neves
Leonel Carlos Duarte Neves, mais conhecido por Leonel Duarte Neves foi um meteorologista e escritor português, nascido na cidade de Faro a 20 de Junho de 1921, tendo falecido em Odiáxere, perto de Lagos a 6 de Setembro de 1996.
A partir de 1937 passou a viver em Lisboa, onde obteve a licenciatura em Ciências Matemáticas na Universidade de Lisboa. Pertenceu ao primeiro curso de meteorologistas portugueses e ingressou no Serviço Meteorológico Nacional desde o seu início, em 1946, tendo sido colocado na Madeira, Moçambique e Timor.
Durante a adolescência, começou a escrever para jornais e revistas no Algarve, tendo conseguido vários prémios nos Jogos Florais. O seu primeiro livro, “Janela Aberta”, foi bem recebido pela crítica, tendo sido elogiado por José Régio. Também escreveu letras para vários músicos, incluindo Anatólio Falé e António Mestre, tendo, com este último, elaborado várias canções e fados, que foram gravados por Amália Rodrigues. Escreveu vários livros, especialmente para o público jovem, tendo trabalhado com António Fernando dos Santos, que lhe ilustrou diversas obras. Participou, igualmente, na antologia” De que são feitos os sonhos”, e na obra colectiva “ Canções e histórias em Quatro Estações”, com o conto” Como é a primavera?”.
·         Janela aberta: poemas (1940)
·         Natural do Algarve (1968)
·         O elefante e a pulga: poemas para crianças (1976)
·         Amigos em todo o mundo: poemas para os jovens e o povo (1977)
·         Histórias de Zé Palão (1979)
·         Um cavalo da cor do arco-íris: romancinho (1980)
·         Bichos de trazer por casa: poemas para crianças (1981)
·         Uma dúzia de adivinhas (1981)
·         O soldadinho e a pomba (1981)
·         O mistério do quarto bem fechado (1985)
·         O cão, o gato e a árvore (1987)
·         Dois macaquinhos à solta (1987)
·         Ontem à noite (1989)
·         Memórias de Timor-Leste (1994)
·         Um Extraterrestre em Lisboa
·         Sete Contos de Espantar
·         Novas Histórias do José Palão
·         Adivinhas e contos para ler na cama
Fontes: Wikipedia
Imagem: www.toucanart.com

domingo, 15 de junho de 2014

…E o Amor começa na Suméria

Diz Samuel Noah Kramer e muito bem, que a História começa na Suméria, mas a poesia amorosa também…
Ao contrário da poética narrativa e glorificadora de que se conhecem bastantes excertos, da poesia lírica apenas se conheçam dois poemas, encontrados por acaso no Museu da Antiguidade Oriental de Istambul, aproximadamente no fim do ano de 1951, por Muazzez Cig, um dos conservadores turcos da colecção de placas literárias sumérias guardadas em gavetas naquele museu.
Numa delas, a placa 2461 atraiu-lhe a atenção pelo bom estado de conservação em que se encontrava e ao estudá-la percebeu que tinha diante de si um dos mais antigos poemas de amor alguma vez escrito por mãos humanas…
Através dos tempos, a voz de uma jovem noiva convida o seu amado a entregar-se às suas carícias durante uma noite de amor na casa de ambos…
Carregado de sensualidade, este cântico de amor erótico, mas não profano, era recitado durante a celebração das bodas sagradas do casal divino (o aikitu), na festa do Ano Novo, a maior solenidade cíclica dos sumérios, aparentemente consumados na prática pelo rei e uma das sacerdotisas da deusa Inana, com a finalidade da perpetuação da fecundidade universal.
Nesta festa, celebrada no início da Primavera e provavelmente no início do Outono e que durava vários dias obedecendo a um ritual detalhado e preciso, era à sacerdotisa escolhida para representar a noiva divina entre as várias que serviam no templo da principal deusa do panteão sumério que cabia o dever de declamar este hino dedicado ao noivo real, neste caso, o rei Shushin, um monarca sumério que reinou em Ur entre 2038 e 2030 a.C.
 
POEMA AO REI SHUSHIN

Noivo, caro ao meu coração,
Agradável é a tua beleza, doce mel,
Leão, caro ao meu coração,
Agradável é a tua beleza, doce mel.

Tu cativaste-me, deixa-me permanecer tremente perante ti,
Noivo, eu deixaria que me levasses para o quarto,
Tu cativaste-me, deixa-me permanecer tremente perante ti,
Leão, eu deixaria que me levasses para o quarto.

Noivo, deixa que te acaricie,
A minha preciosa carícia é mais saborosa do que o mel,
No quarto o mel corre,
Desfrutamos a tua agradável beleza.
Leão, deixa-me acariciar-te,
A minha preciosa carícia é mais saborosa do que o mel.

Noivo, tu de mim tomaste o teu prazer,
Diz à minha mãe, ela far-te-á gentilezas,
O meu pai, ele dar-te-á presentes.

O teu espírito, eu sei onde recrear o teu espírito,
Noivo, dorme na nossa casa até ao amanhecer,
O teu coração, eu sei como alegrar o teu coração,
Leão, durmamos juntos em nossa casa até ao amanhecer.

Tu, porque me amas,
Dá-me o favor das tuas carícias,
Meu senhor deus, meu senhor protetor,
Meu Shu-Sin que alegra o coração de Enlil,
Dá-me o favor das tuas carícias.

Teu lugar agradável como mel, por favor estende
a tua mão sobre ele,
Traz a tua mão sobre ele como um manto gishban
Cola a tua mão como uma taça sobre ele como um traje gishban-sikin.

Fontes:
Kramer, Samuel Noah – A História começa na Suméria
História Universal vol.1
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