domingo, 30 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Natal, e não Dezembro

 
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido…
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave…
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão Ferreira
Um abraço do tamanho do mundo com votos de um NATAL cheio de Paz, Saúde e Amor para todos vós!
 


As Antífonas do Ó


São sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento, especialmente de 17 a 23 de dezembro antes e depois do Magnificat, na hora canônica das Vésperas. São assim chamadas porque tem início com esse vocativo e foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!».

A reforma litúrgica pós Vaticano II, ao introduzir o vernáculo na liturgia, não esqueceu os textos das Antífonas do Ó, veneráveis pela antiguidade e atribuídos por muitos ao Papa Gregório Magno (+604). Cada antífona é composta de uma invocação, ligada a um símbolo do Messias, e de uma súplica, introduzida pelo verbo "vir".

Se lidas em sentido inverso, isto é, da última para a primeira, as iniciais latinas da primeira palavra depois da interjeição «Ó», resultam no acróstico «ERO CRAS», que significa «serei amanhã, virei amanhã», que é a resposta do Messias à súplica dos fiéis.

O uso do canto gregoriano nas Antífonas do Ó remonta ao século VI e desde sempre concorda a voz com a Palavra, reafirmando a importância da unidade da celebração, o uníssono da voz de toda a comunidade.

17 de dezembro - Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

 

18 de dezembro - Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moises na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.

 

19 de dezembro - Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais.

 

20 de dezembro - Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte.

 

21 de dezembro - Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte.

22 de dezembro - Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes

 

23 de dezembro - Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das nações,
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.

 

O Advento

 
O Advento (do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a") é o primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal. Começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até às primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.
A primeira referência ao "Tempo do Advento" é encontrada em Espanha, quando no ano 380, o Sínodo de Saragoça prescreveu uma preparação de três semanas para a Epifania, data em que, antigamente, também se celebrava o Natal.
Em França, S. Perpétuo, bispo de Tours, instituiu seis semanas de preparação para o Natal. É também do final desse século a "Quaresma de São Martinho", que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.
Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor, passando a ser celebrado durante 5 domingos.
 São Gregório Magno (590- 604) foi o primeiro Papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.
No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros.
Esse tempo possui duas características: Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador no final dos tempos. As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de Dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa. Uma das expressões desta alegria é o canto das chamadas "Antífonas do Ó".
No século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.
Os paramentos litúrgicos(casula, estola, dalmática, pluvial, cíngulo, etc) são de cor roxa, bem como o véu que recobre o ambão, a bolsa do corporal e o véu do cálice; como sinal de recolhimento e conversão em preparação para a festa do Natal. A única excepção é o terceiro domingo do Advento, Domingo Gaudete ou da Alegria, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do Salvador que está bem próxima. Também os altares são ornados com rosas cor-de-rosa. O nome de Domingo Gaudete refere-se à primeira palavra do intróito deste dia, que é tirado da segunda leitura que diz: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto"(Fl 4, 4). Também é chamado "Domingo mediano", por marcar a metade do Tempo do Advento, tendo analogia com o quarto domingo do Tempo da Quaresma, chamado Laetare.
A coroa de advento, um dos seus símbolos principais, é feita com ramos verdes, em forma de círculo, geralmente envolvida por uma fita vermelha e onde são postas 4 velas. O círculo representa o elo da união de Deus com os homens.
A cor verde é a cor da esperança e da vida. Os ramos dos pinheiros permanecem verdes apesar dos rigorosos invernos, assim como os cristãos devem manter fé e a esperança apesar das tribulações da vida.
A fita vermelha está ligada à cor do fogo e do sangue. Simboliza a cor da vida, do amor e ao mesmo tempo do derramamento do sangue, do sacrifício.
As 4 velas: uma vela para cada domingo que antecede ao dia 25 de Dezembro, verde no 1º domingo do advento, roxa no 2º domingo, rosa ou rósea no 3º domingo e branca no 4º domingo.
Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se "semanas das anunciações". Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.
 Fontes:
 
 





quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A Excelente Senhora – IV


… “deixou o título de rainha, e tomou o nome de D. Joana, e despiu o seu corpo dos brocados e sedas que trazia, e vestiram-na com os hábitos pardos de Santa Clara. Tiraram-lhe da cabeça a Coroa Real de Castela e Portugal de que era intitulada, cortaram-lhe os seus cabelos como a uma pobre donzela, e por maior agravo e mágoa, não lhe deixaram os servidores de seu gosto e vontade, nem nada que tivesse imagem d’estado”.

Foi assim que Rui de Pina, nas suas Crónicas, se refere à entrada de D. Joana, a 6 de Outubro de 1479, no Convento de Santa Clara de Santarém, dando início ao estipulado nos acordos assinados em Alcáçovas. Por duas vezes é deslocada para outros conventos devido aos surtos de peste que assolaram o país, até que no verão de 1480 é conduzida pelo príncipe D. João para Santa Clara de Coimbra onde, a 15 de Novembro desse mesmo ano, acabado o noviciado, pronuncia os votos solenes na presença do príncipe herdeiro português e dos embaixadores castelhanos enviados pelos Reis Católicos.

Não foi sem uma certa revolta que a infanta se resolveu a professar, mas D.João, para quem a razão do Estado justificava este sacrifício, pressionou-a “com esperanças de futuro bem e com palavras assy brandas e prudentes”. Confiando no príncipe, D. Joana acedeu.

D. Afonso V esteve sempre afastado deste processo, mas a 21 de Outubro desse ano, contrariamente ao acordado em Alcáçovas, resolve restituir o título de infanta a D. Joana:

“A nós praz que a muito excelente Senhora Dona Joana, minha muito prezada e amada sobrinha, haja daqui em diante e goze de todas as honras, privilégios, liberdades e franquezas que sempre houveram e de que sempre gozaram as infantas, filhas dos reis destes reinos”. Apenas o título de “Excelente Senhora” lhe foi concedido.

Em 1481 morre de peste D. Afonso V no palácio de Sintra, no mesmo quarto onde nascera quarenta e nove anos antes. Sobe ao trono seu filho, o rei D. João II e nesse mesmo ano já a Excelente Senhora se não encontrava no convento, tendo regressado a Abrantes, para grande inquietação dos Reis Católicos que em 1483 pediram ao Papa a emissão de uma bula que a proibisse sair do convento. Como D. João II não fizesse caso da bula papal, foi redigido outro acordo em como este jurava que não lhe permitiria casar, sair de Portugal ou abandonar a vida religiosa.

Durante toda a sua longa vida, D. Joana constitui sempre um perigo para os reis de Espanha e um trunfo para os reis portugueses que lhe proporcionaram, como diz Damião de Góis, Casa e estado de rainha, recusando sempre entregá-la a Castela.

Em 1505, depois da morte de Isabel, a Católica, o seu viúvo Fernando de Aragão propôs casamento a D. Joana, que recusou.

Atravessou os reinados de D. João II, de D. Manuel I, que a mandou vir de Abrantes para Lisboa, onde viveu nos Paços da Alcáçova, e a quem os Reis Católicos com receio de um possível enlace entre eles, ofereceram ao rei português a mão da sua filha mais velha, Isabel, e após a morte desta, a mão da segunda. Em 1522, reinando já D. João III, e por achar que já não estava em idade para casar e ter filhos, nomeou-o herdeiro dos seus direitos, assinando o documento como: Yo, La Reina.

Faleceu a 28 de Julho de 1530, aos 68 anos de idade, nos Paços da Alcáçova e foi sepultada no Mosteiro de Santa Clara de Lisboa, num jazigo junto à sala capitular, embora no seu testamento tivesse pedido para a sepultarem no Convento de Santo António do Varatojo, com o hábito de S. Francisco. Os reis portugueses puseram luto em sua homenagem e em 1545, a rainha D. Catarina mandar-lhe-ia construir um túmulo mais adequado à sua condição de “Rainha de Castela e Leão”.

Mas porque Deos nom padece engano por castigo, a infeliz Beltraneja pôde assistir em vida ao ruir das ambições dinásticas dos que tanto mal lhe fizeram. D. João II viu morrer o seu único filho, D. Afonso, logo após o tão ambicionado casamento com a infanta Isabel de Espanha, sem deixar herdeiros, ficando o trono para um ramo colateral. Isabel, a Católica, viu morrer também o seu único filho varão sem descendência, depois as outras duas filhas e um neto, ficando o trono de Castela para a sua filha mais nova, Joana, cuja demência fez com que a encerrassem ainda jovem, no castelo de Tordesilhas para o resto da sua também longa vida.

 Fontes: Gomes, António Saul – D. Afonso V
Serrano, Joana Bouza – As Avis
Oliveira, Ana Rodrigues – Rainhas Medievais de Portugal
Arteaga, Almudena de – A Beltraneja
Cassotti, Marsílio – A Rainha Adúltera
Crónicas de Rui de Pina
www.wikipedia.org

 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Poemas

 
Viagens…
Na Memória
 
Pela forma de existir
Igual ao que hei-de ser
Por tudo o que de tuas mãos
Acrescenta ao meu corpo
 
Pelo sopro pelo muro
Pelos vôos rigorosos
Legíveis nos teus astros

Por tudo o que fixaste de areias movediças
Pela forma libertada no barro sofrimento
Pelo sal pelo sumo pela côr pelo fruto
 
Aqui deixo os meus braços
Os meus passos
E o cão familiar que espera
Ao fim do tempo.
 
Beatriz Rodrigues Barbosa in “Na água das palavras”
 
Nota: As minhas desculpas a todos pelo tempo que demorei a voltar ao blog, resultante de umas pequenas férias surgidas inesperadamente, aproveitando para agradecer a vossa presença constante durante a minha ausência.
E já que estamos a poucos dias do Natal, irei escrever sobre este tempo de preparação para a chegada de Jesus e a que a Igreja chama de “Advento”.