terça-feira, 31 de agosto de 2010

Paulo Coelho – Contos III

A FORÇA E A SABEDORIA

Todos os anos, numa cidade, os habitantes reuniam-se para um concurso.
Quem cortasse mais troncos durante 15 horas, levava o prémio. O mestre lenhador ganhava sempre.
Um dia, um rapaz resolveu desafiá-lo. Confiando na sua juventude e na sua disposição, apostou muito dinheiro em si mesmo. O concurso começou. A cada hora, o mestre sentava-se um pouco.
“Ele já perdeu a vitalidade”, pensou o rapaz, enquanto trabalhava sem parar. No final, foi feita a contagem, e o mestre ganhou.
“Não é possível”, disse o rapaz para o mestre. “Como pode ter ganho, se eu vi o senhor parar muitas vezes para descansar?”
“Eu não estava a descansar”, respondeu o mestre. “Eu parava para afiar o machado”.

Conto de Paulo Coelho, publicado numa revista


Etiqueta - contos

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

E. de Andrade - Poemas I

Foi para ti que criei as rosas.

Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que lhes dei perfume
Para ti rasguei ribeiros
E dei às romãs a cor do lume.

Eugénio de Andrade

domingo, 29 de agosto de 2010

Contos de Paulo Coelho - II


A BENÇÃO QUE NÃO É NOTADA

Um leão encontrou um grupo de gatos a conversar. “Vou devorá-los”, pensou.
Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção à conversa.
“Meu bom Deus” disse um dos gatos. “Orámos a tarde inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!”.
“E, até agora, nada aconteceu!”, disse outro. “Será que o Senhor não existe?” O céu permaneceu mudo, e os gatos perderam a fé.
O leão levantou-se, e seguiu o seu caminho, pensando: “Vejam como as coisas são. Eu ia matar aqueles gatos, mas Deus impediu-me. Mesmo assim, eles pararam de acreditar na graça divina. Estavam tão preocupados com o que faltava, que nem repararam na protecção que receberam”.


Texto de Paulo Coelho, retirado de uma revista

Contos de Paulo Coelho -I

A MORTE COMO MADRINHA

Um carvoeiro, apavorado pela ideia de morrer, resolveu convidar a morte para madrinha do filho. “Assim ela não me leva, pois terá de cuidar do meu filho”, pensava o carvoeiro.
Realmente, ele viveu muitos anos, mas um dia a morte precisou de o ir buscar; para não o apanhar de surpresa, avisou a sua visita com antecipação; assim o carvoeiro poderia tomar as providências que fossem precisas. O homem ficou apavorado – e, no dia marcado, disfarçou-se de mendigo e foi para a rua.
A morte chegou.
“O meu marido não está em casa”, disse a mulher do carvoeiro.
“Ainda bem! Vou levar aquele pobre mendigo ali na rua, e Deus não vai reclamar.”
E o carvoeiro foi levado pela morte

sábado, 28 de agosto de 2010

D. Constança Manuel

D. Constança

Nascida para reinar, nunca chegou a ser rainha. Foi repudiada pelo primeiro marido, esteve duas vezes sequestrada, e o seu segundo casamento ficou manchado pelo sangue derramado para que pudesse ser libertada. Faleceu onze anos antes de D. Pedro subir ao trono, sem nunca ter sido amada, e traída tanto nos seus sentimentos, como na sua amizade. Quando morreu, depressa foi esquecida e ninguém a chorou. As lágrimas ficaram todas para chorar Pedro e Inês…
Filha de D. João Manuel, príncipe de Vilhena, e duque de Penafiel neto de Fernando III de Castela, e de sua mulher D. Constança, filha do rei Jaime II de Aragão, nasceu entre 1318-1320 e faleceu em 1345. Foi prometida com apenas seis anos de idade, ao senhor da Biscaia, D. João, o Torto, aliado de seu pai na guerra que este pretendia mover contra o rei de Castela, de quem tinha sido tutor e co-regente do reino, durante a sua menoridade.
Afonso XI, ao chegar aos 14 anos de idade, assumiu o trono e o poder, afastando o duque, que ferido no seu orgulho e nas suas ambições se revoltou. Mas o jovem rei era muito mais maquiavélico do que os seus inimigos pensavam, e usando de toda a sua astúcia, fez as pazes com D. João Manuel, pedindo-lhe a filha em casamento. Não podendo resistir a esta oferta, e imaginando-se já como pai da futura rainha, o príncipe concordou, o que levou o Senhor da Biscaia a sentir a sua vida em perigo, abandonando o reino.
E assim, com o primeiro noivado desfeito, D. Constança, em 1325 tem o seu 1º casamento ratificado pelas Cortes de Valladolid, seguindo para os paços reais, onde ficaria até atingir a idade própria para a consumação do casamento.
Mas o rei castelhano, ao sentir-se senhor da situação, resolve casar antes com a infanta D. Maria, filha do rei D. Afonso IV de Portugal e repudia D. Constança fazendo-a prisioneira no Castelo de Toro durante 4 anos, para evitar as represálias do seu pai, sendo enviada de volta à casa paterna, teria já cerca de doze anos.
Humilhada por esta rejeição e sofrendo ainda do desgaste causado pelos anos em que temeu pela própria vida, D. Constança leva uma vida de isolamento, É mais ou menos nesta altura que Inês de Castro entra na sua vida. Filha bastarda de D. Pedro de Castro, o da Guerra, ainda aparentado com D. João Manuel, vai para junto de D. Constança como dama de companhia, tornando-se rapidamente em amiga e confidente.
Em 1336 é-lhe arranjado o casamento com o infante D. Pedro, herdeiro do trono português, mas Afonso XI de Castela, descontente com esta aliança, consente no casamento por procuração, que é realizado em Évora, no Convento de S. Francisco, mas não permite que a noiva saia de Castela. Esta resolução origina uma guerra entre o rei castelhano e D. Afonso IV, que já andava agastado com o genro, devido aos maus tratos que este dava a sua mulher, e que se arrasta até 1339, com derrotas e vitórias para ambos os lados. É para tentar resolver este conflito, que a Rainha Santa Isabel acabada de chegar de uma peregrinação a Santiago de Compostela, se mete novamente a caminho de Castela, mas alquebrada e envelhecida, adoece gravemente e morre no castelo de Estremoz, sem conseguir o que pretendia.
Após várias negociações, o rei castelhano concorda com a saída da nova infanta portuguesa, que finalmente em 1340 casa de facto com o infante D. Pedro, em Lisboa. Inês de Castro fazia parte do seu séquito e durante estes anos tinha-se tornado numa belíssima donzela, de cabelos loiros e olhos verdes. Chamavam-na de “colo de garça”, devido à esbeltez do seu pescoço.
D. Pedro embora fosse gago, era um homem alto, atraente por quem D. Constança, tão falta de afecto, provavelmente se apaixonou. Tinha finalmente um marido, um lar e num futuro próximo, uma coroa de rainha…
Ao princípio tudo corre bem, o infante não ama, mas respeita a mulher cumprindo com os seus deveres conjugais, e em 1342, nasce a primeira filha do casal, a infanta D. Maria. No entanto, depressa D. Constança se apercebe que D. Pedro está apaixonado por Inês de Castro, a sua amiga preferida, e diplomaticamente convida esta para madrinha do seu segundo filho, o pequeno D. Luís, convencendo-se que através deste parentesco religioso, acabaria com aquela paixão nascente.
De acordo com as leis canónicas da altura, qualquer relação amorosa entre compadres, seria considerada incestuosa.
Infelizmente a vida do pequeno infante durou apenas oito dias, e Pedro sente-se livre para assumir a sua paixão por Inês, embora mantendo um relacionamento estável com a esposa. É então que D. Afonso IV intervém e exila a dama galega em Albuquerque, na fronteira, para evitar o escândalo e evitar assim mais sofrimentos à nora. Esta ausência forçada ainda aumenta mais a paixão do infante, que se corresponde secretamente com Inês.
Com este desterro D. Constança tem um pouco mais de tranquilidade, mas sofrendo bastante com os partos e com o ânimo já gasto por tantos desgostos, morre em 1345, com 25 ou 27 anos de iade, depois de dar à luz em Coimbra o infante D. Fernando, em 1345, cumprindo assim a sua obrigação de dar um herdeiro ao trono.
Foi sepultada na igreja de S. Domingos em Santarém, tendo o seu corpo sido mais tarde trasladado para a igreja do Mosteiro de S. Francisco, por ordem de seu filho, o rei D. Fernando, que também lhe mandou fazer uma arca tumular, hoje no Museu do Carmo, mas danificada e vazia.
Luís de Camões dedicou-lhe um triste e lindo soneto:


Chegara a Portugal D. Constança
E com ela a formosa Inês de Castro
De olhos verdes em rosto de alabastro
Gentil colo de garça e loira trança.

É a esposa esquecida e sem tardança
D. Pedro segue, fascinado, esse astro
De amor fatal cujo sangrento rastro
Ficou na História em trágica lembrança.

E não sei qual foi mais desgraçada,
Se a zelosa esposa desdenhada
Se a desditosa e sedutora amante…

Mas Constança, acredito, preferia
Ter a morte de Inês – morte sombria
E ser amada ao menos um instante!

Fontes: Benevides, Francisco Fonseca – Rainhas de Portugal
Wikipédia
Camões, Luís - Sonetos

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Green God - Eugénio de Andrade

Green God

Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava.
Eugénio de Andrade

A Basílica dos Mártires e Fernando Pessoa


Quem hoje passa pela Basílica dos Mártires, na Rua Garrett ao Chiado, provavelmente já nem se recorda que aqui foi baptizado um dos nossos maiores poetas, Fernando Pessoa, além do infante D. João, mais tarde D. João V, e Frei Bartolomeu dos Mártires entre outros.
A igreja é a mais antiga da baixa lisboeta, embora fosse trasladada depois do terramoto, para o local onde está actualmente. No início foi apenas uma pequena ermida levantada em 1147 no monte Fragoso, actual Alto de S. Francisco, por voto de D. Afonso Henriques, após a tomada de Lisboa, no local onde foram enterrados os cruzados ingleses, que deram a vida por essa conquista, e onde já existia uma necrópole moçárabe. A imagem da Virgem que o rei doou à ermida, vinha com a expedição dos Cruzados que ajudaram à conquista. O povo começou a chamar-lhes mártires, ficando a padroeira conhecida como Nossa Senhora dos Mártires. Nesta ermida celebrou-se o primeiro baptismo feito depois da conquista.
Com o passar dos anos, foi restaurada três vezes, uma em 1589, a 2ª em 1664, e a 3ª em 1746 que durou até 1750. No final do sec. XIV foi elevada a Basílica pelo Papa Urbano XIV.
Com o terramoto de 1755 tudo ruiu, incluindo o belíssimo tecto pintado por Francisco Vieira Lusitano, salvando-se a imagem da padroeira, a pia baptismal e um ossário em talha dourada, com ossadas de alguns daqueles combatentes, e que agora serve de peanha à estátua de S. Miguel Arcanjo, e pouco mais. Os escombros ficaram nos caboucos da nova basílica, construída em 1769, na actual rua Garrett. Neste lugar existia já a ermida do Bom Jesus do Perdão, que foi incorporada na nova igreja, restando ainda um crucifixo, muito venerado, exposto ao culto.
É uma igreja de estilo barroco tardio, feita de raiz, da autoria do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos. Sobre o pórtico central está um medalhão redondo comemorativo da dedicação do templo primitivo, que representa D. Afonso Henriques dando graças à Virgem, tendo a seu lado Guilherme da Longa Espada chefe dos Cruzados, obra de Francisco Leal Garcia. A pintura do tecto do corpo da igreja, assim como das oito capelas laterais são obra do pintor Pedro Alexandrino.
Diz Mário Costa no seu livro O Chiado pitoresco e elegante: “Foi há 100 anos atrás o local de reunião de “Toda a Lisboa”, que vinha assistir aos actos litúrgicos, conviver e ouvir música. Junto com a igreja da Encarnação e a do Loreto, formam uma trindade sacra numa zona de tertúlias e boémia…”.
Tendo nascido a 13 de Junho de 1888, no Largo de S. Carlos, onde moravam os seus pais, Fernando Pessoa foi nesta igreja baptizado a dia 21 de Julho do mesmo ano. O toque dos sinos do campanário da basílica, embalaram-no até aos 5 anos, altura em que após a morte de seu pai muda de casa, e com o segundo casamento da mãe embarca para a África do Sul, onde tem de dividir o seu afecto com o padrasto e mais quatro irmãos nascidos desse matrimónio.
Após o seu regresso, publica em 1914 o poema “Ó sino da minha aldeia”, um retorno nostálgico aos dias felizes da sua infância, quando morava no largo de S. Carlos, à época em que o pai ainda era vivo, e como filho único era “o menino da sua mãe”. O espaço entre o Largo de S. Carlos e a Igreja dos Mártires é considerado neste poema como a sua “aldeia”, e o “sino” que “lhe soa dentro da alma” recorda-lhe a passagem dolorosa do tempo. Um dos seus percursos habituais era até ao Largo do Chiado para beber um café na “ Brasileira”. Será que é a este percurso que o poeta se refere quando diz “Quando passo sempre errante”?

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa


Fontes: www.snpcultura.org
Costa, Mário: O Chiado pitoresco e elegante

domingo, 22 de agosto de 2010

As Musas

Filhas de Zeus e Mnemosine, tinham por missão presidir às diversas formas de pensamento. Eram as protectoras das artes e dos artistas, inspirando-os nos seus trabalhos, e desde que Hesíodo, na sua Teogonia, as definiu tal como hoje as conhecemos, têm sido utilizadas através dos tempos, para reforçar a ideia de que as mulheres se limitam a inspirar os homens, os quais são os verdadeiros criadores.
Eram ao princípio divindades das montanhas, de cujas encostas corriam córregos produzindo sons que davam ideia de uma música natural, levando a crer que as montanhas eram habitadas por deusas. Sobre elas há várias versões tanto para o seu número (inicialmente seriam três), como para o parentesco, havendo alguns escritores que as consideram como uma segunda geração de Musas, situando a primeira na regência de Urano. Habitavam ora o Olimpo, ora o Monte Helicon na Beócia onde também tinham um templo, o Museon, de onde derivou a palavra museu. Podiam também habitar o Monte Parnaso na Fócida, e nas suas viagens montavam o cavalo alado Pégaso.
Foram criadas pelo caçador Croto, um sátiro cujo nome significa aplauso, perto do Monte Olimpo. Quando morreu, as Musas, agradecidas, pediram a Zeus que o colocasse no céu. Faz parte da constelação de Sagitário.
Eram representadas muitas vezes agrupadas em volta de Apolo, deus da música e da profecia. A palmeira e o loureiro eram-lhes consagrados, assim como o rio Permesse e as fontes Hipocrene e Castalia, que tinham a virtude de conceder inspiração poética a quem delas bebesse.
São elas:
Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpómene, Polímnia, Tália, Terpsícore e Urânia.
Calíope – Musa da eloquência e da poesia épica. Os seus símbolos eram a tabuleta e o buril.
Clio – Musa da História, os seus símbolos eram a trombeta e a clepsidra. Aos seus atributos acrescentam-se ainda o globo terrestre sobre o qual ela descansa, e o tempo que se vê ao seu lado, para mostrar que a história alcança todos os lugares e todas as épocas. Por isso se diz que a História é a filha da Memória.
Erato – Musa da poesia lírica, tendo inventado a flauta. Ao seu lado estão papéis de música, oboés e outros instrumentos.
Tália – Musa da comédia. É representada com uma máscara cómica na mão e coroada de heras.
Melpómene – Musa da tragédia. Usava uma máscara trágica e folhas de videira. Empunhava também a maça de Hércules.
Terpsicore – Musa da dança. Também regia o canto coral, sendo os seus atributos a lira ou a cítara.
Euterpe- Musa do verso erótico. Segura uma lira na mão direita e na esquerda empunha um arco. Tem um pequeno Amor deitado a seus pés.
Polímnia – Musa dos hinos sagrados e da narração de histórias. Está coberta por um véu, em atitude pensativa e leva um dedo à boca.
Urânia – Musa da astronomia. Vestida de azul e coroada de estrelas, tem como símbolos um globo celeste e um compasso.
Embora fossem bondosas, eram muito ciosas da sua honra. As Piérides, filhas do rei Piero, da Tessália, também em número de nove, desafiaram as musas para um concurso de canto. O júri foi constituído pelas ninfas do Parnaso que deram o prémio às Musas, e estas transformaram as nove Piérides em pegas, como castigo da sua ousadia.

Os antigos começavam as suas refeições invocando-as e os poetas também o faziam para que os ajudassem nos seus cantos.
Heródoto ao escrever as suas Histórias (440 a.C.), divide-as em nove livros, dedicando cada um deles a uma das Musas.
Fontes: Wikipédia
Mitologia – Albino Pereira Magno


sábado, 21 de agosto de 2010

A Deusa da Memória


MNEMOSINE

Antes da escrita aparecer, o homem dependia da memória para transmitir oralmente os seus feitos, que passavam de geração em geração, dando muitas vezes origem às lendas que chegaram até nós. Assim, a memória liga o presente ao passado sendo a base do início da civilização, e mesmo quando cerca de 3.500 a.C. a escrita apareceu, o homem continuou a depender da memória para poder passar para o “papel”os acontecimentos que queria descrever.
Os antigos Gregos consideravam a Memória uma deusa toda-poderosa, que dava aos poetas o poder de voltar ao passado para que estes, através dos seus poemas o pudessem legar à posteridade. Concedia também a imortalidade a certos mortais através do registo dos seus feitos pelos historiadores e artistas, fazendo com que nunca fossem esquecidos mesmo depois da sua morte. O esquecimento é o fim, a mortalidade, e como nos diz Platão”a natureza mortal procura, na medida do possível, ser sempre e ficar imortal”
Segundo a Teogonia de Hesíodo, Mnemosine era filha de Urano (o Céu), e de Gaia (a Terra), sendo uma das Titãs e irmã de Cronos, o Deus do Tempo, portanto uma das deusas primordiais.
Quando Zeus e os seus irmãos se revoltaram contra Cronos e o desterraram, os deuses precisaram de divindades que cantassem a sua vitória e os seus feitos no Olimpo, para que os homens não os esquecessem e continuassem a prestar-lhes culto. Então Zeus juntou-se durante nove noites, com Mnemosine, a deusa da Memória, e desta união nasceram nove filhas, as Musas, que tinham por missão presidir às artes e ciências, isto é, às diversas formas de pensamento. Os romanos davam-lhe também o nome de Moneta.
Do seu nome derivou a palavra mnemónica, (auxiliar de memória). A primeira referência a mnemónicas ocorre no método de loci, na obra De Oratore, de Cícero.
Infelizmente Mnemosine foi praticamente esquecida, sendo geralmente recordada apenas como mãe das Musas, como se fosse possível que a arte destas pudesse existir sem a dádiva da memória.
Fontes: Wikipédia
Mitologia – Albino Pereira Magno

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sonnets from the Portuguese

Sonnets from the Portuguese

Poemas escritos por Elizabeth Barrett Browning (Biografia na mensagem anterior), onde ela descreve a evolução do seu amor pelo poeta Robert Browning, seu futuro marido, desde o momento que o conheceu. São 44 sonetos escritos entre 1845-1846, mas apenas publicados em 1850, incluídos nos 2 volumes de Poems, editados nessa altura.
Como a autora os achava demasiado íntimos para serem publicados, o marido, que a tratava por “my little portuguese” e sabia que ela era uma admiradora da lírica de Camões, sugeriu-lhe este título como disfarce.
Foram traduzidos para várias línguas, sendo a tradução abaixo apresentada do poeta e escritor brasileiro Manuel Bandeira.


Poema XLIII

HOW DO I LOVE THEE?

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.

I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candlelight.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.

I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose

With my lost saints, - I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! - and, if God choose,
I shall but love thee better after death.


Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingénua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.

Elizabeth Barrett Browning


(Tradução de Manuel Bandeira)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Elizabeth B. Browning


Elizabeth Barrett Browning
O mais belo poema de amor em língua inglesa,” How do I love thee?”, foi escrito por Elizabeth Barrett Browning, uma poetisa nascida na Inglaterra vitoriana em 1806 e falecida em Florença, Itália, em 1861.Era a mais velha de doze irmãos criados e educados em casa com todo o conforto e esmero, por um pai tirânico e extremamente ciumento, que os proibiu a todos de casar, deserdando aqueles que o fizeram. De saúde débil, mas com uma inteligência precoce, aliada à educação cuidada que recebeu, escreveu aos 11 anos o seu primeiro livro de poemas: A Batalha de Maratona. Dois anos depois sofre de uma doença nos pulmões que a obriga a tomar ópio, na forma de láudano, para o resto da sua vida e aos dezasseis cai de um cavalo lesionando-se na coluna vertebral. Falava várias línguas, traduziu clássicos do grego antigo, e aprendeu hebreu para poder ler a Biblia.
Em 1820 morre sua mãe e em 1836 a morte de seu irmão Edward, afogado num passeio de barco afectou-lhe tão profundamente a saúde já de si tão frágil, que esteve entre a vida e a morte. Durante cinco anos não saiu do seu quarto, permanecendo ali quase como uma inválida.
Não descurou no entanto a sua obra, combatendo através dela as injustiças sociais como a escravatura (The Runaway Slave at Pilgrim’s Point – 1849), o trabalho infantil (The Cry of Children), a opressão das mulheres (Aurora Leigh), e mais tarde com o marido escreveu sobre a unificação da Itália, de que eram fervorosos adeptos (As Janelas da Casa Guidi).
Em 1846, completamente apaixonada pelo poeta Robert Browning, seis anos mais novo, mas um profundo admirador da sua obra, com quem namorou em segredo durante dois anos, foge de casa e depois do seu casamento vai morar para Florença com o marido, onde a sua saúde melhorou bastante. Foram 15 anos de um casamento feliz, nascendo-lhes durante este período, um filho, que seria mais tarde, pintor.
A sua obra mais importante foi “Aurora Leigh” (1857), um extenso poema narrativo em versos brancos, abrangendo nove volumes, dedicado a seu primo e amigo John Kenyon, Esq.,onde ela fala da condição feminina, recreando a infância e vida de uma poetisa, e dando a sua visão pessoal da Vida e da Arte.
Em 1845 começou a escrever uma série de poemas onde relata a sua própria história de amor, disfarçando-a depois com o título de Sonnets from the Portuguese (Sonetos Portugueses ou Sonetos do Português). A razão de assim se chamarem prende-se com facto de Elizabeth gostar imenso de Camões e achar que havia uma certa semelhança entre os seus poemas e também porque o seu marido a tratava carinhosamente por “my little portuguese”, dado Elizabeth ser bastante morena. Foram publicados em 1850.
Em 1860 a sua saúde piorou, foi perdendo as forças e a 29 de Junho de 1861, morre calmamente nos braços do marido, enquanto este tentava alimentá-la.
A sua vida deu origem a um filme “The Barretts of the Wimpole Sreet”,sendo a última versão de 1957, com Jennifer Jones no papel de Elizabeth, Sir John Gielgud como seu pai e Bill Travers representando Robert Browning. Virginia Wolf inspirou-se no seu cãozinho, um cocker, para escrever o seu livro “Flush”.
É considerada a maior poetisa inglesa, estando as suas obras impregnadas de ternura e delicadeza aliadas a uma grande força moral e intelectual.
Obras:
An Essay on Mind and Other Poems ( Ensaio sobre a mente e outros poemas) – 1826
Prometheus Bond (Prometeu encadeado), tradução de Esquilo – 1835
The Seraphim and Other Poems (O Serafim e outros poemas) – 1838
The Cry of Children (O Lamento das Crianças), - 1841
Poems – 1844 – 2 volumes
Sonnets from the Portuguese (Sonetos Portugueses) – 1850
Casa Guildi Windows (As Janelas da Casa Guildi) – 1851
Aurora Leigh – 1857 – 9 volumes.
Poems before Congress (Poemas dantes do Congresso) – 1860

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Trovadorismo galaico-português II



Cantigas de amigo

As cantigas de amigo são um género único na lírica medieval, pois nelas o trovador assume a voz da mulher e canta as emoções que julga despertar na amiga. São de raiz popular, e representam possivelmente uma miscelânea das culturas árabes, mouras e cristãs presentes desde muito cedo na Península Ibérica. Alcançaram um prestígio tal, que foram adoptadas por trovadores de outras nacionalidades, que quiseram cultivar este género.
Embora postas um pouco à margem, com a ascensão de D. Afonso III ao trono português em 1247, que preferia a moda provençal, continuaram a ser cantadas principalmente pelo rei D. Dinis.

Cantiga de amigo de D. Sancho I dedicada a D. Maria Paes Ribeiro:

Ai eu coitada!
Como vivo em grande cuidado
Por meu amigo que ei alongado.
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada!
Como vivo em grande desejo
Por meu amigo que tarda e não vejo!
Muito me tarda
O meu amigo na Guarda!

Uma cantiga de D. Dinis:

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"


As cantigas de amor assim como as de escárnio e maldizer, já são de origem provençal.
Um exemplo de uma cantiga de amor é a Cantiga da Guarvaia (guarvaia era um manto luxuoso usado pela nobreza), de Paio Soares de Taveiró, que se pensa ser dedicada à célebre amante de D. Sancho I, D. Maria Paes Ribeira, a Ribeirinha, mas que parece ser mais do género de cantiga de escárnio:

CANTIGA DA GUARVAIA

No mundo non me sei parelha.
Mentre me foi como me vai,
Cá já moiro por vós – e ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos entrou non si feia!
E, mia senhor, dês aquae di’ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paay
Moniz, e bem vos semelha
D’haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia d’ua correa…

Fontes : Wikipédia

Historia de Portugal - José Hermano Saraiva, Ed. Alfa

domingo, 8 de agosto de 2010

O Trovadorismo Galaico-Português I






Trovas e Trovadores



O trovadorismo é a primeira manifestação literária portuguesa, surgida no sec. XII, a quando da formação de Portugal como reino independente. Os poemas, feitos pelos trovadores, eram cantados nas festas, feiras e nos castelos durante o último período da Idade Média e chegaram à Península através dos cavaleiros provençais que para cá vieram ajudar os reis ibéricos na sua luta contra os árabes.
Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre, os outros são conhecidos como jograis. Esteve sempre ligada à música, pois era acompanhada por instrumentos musicais como o alaúde ou a cistra.
Os dois primeiros trovadores conhecidos são João Soares de Pávia ou Paiva, com uma cantiga de escárnio “Ora faz host’o senhor de Navarra” e Paio Soares de Taveirós com a “Cantiga de Guarvaia” dedicada a D. Maria Paes Ribeiro, a célebre amante de D. Sancho I, conhecida como a Ribeirinha. Escritas entre 1196 e 1200, marcam o início da lírica medieval galaico-portuguesa, que se estende, segundo alguns historiadores, até 1354, data do falecimento de D. Pedro, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. Dinis, e também ele trovador e o último compilador das cantigas trovadorescas, ou até 1419, data em que Fernão Lopes foi nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo.
A poesia trovadoresca divide-se em três categorias: cantigas de amigo, de amor e de escárnio ou maldizer. A cantiga de amigo teve origem na Península Ibérica, ao contrário das outras, originárias da Provença.
Por volta do sec. XIII foram manuscritas e compiladas em cancioneiros, chegando até nós apenas três: o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, com composições que vão do sec. XII ao sec. XIV. Foram também encontradas poesias no Pergaminho de Vindel e no Pergaminho Sharrer.
O «Cancioneiro da Ajuda» também conhecido como o «Livro de Cantigas do Conde de Barcelos», é anónimo e o mais antigo. Contém cerca de 310 composições, quase todas de amor, anteriores a D. Dinis.
O Cancioneiro da Biblioteca Vaticana compilado em Itália no final do século XV ou início do século XVI encontra-se depositado na Biblioteca do Vaticano, donde deriva o seu nome. Tem 1205 composições de todos os tipos, e foi descoberto no sec. XIX.
O Cancioneiro da Biblioteca Nacional (antigo Colocci-Brancutti) tem 1647 composições, de todos os tipos e engloba trovadores dos reinados de D. Afonso III e de D. Dinis. Foi compilado em Itália por volta de 1525-1526 por ordem do humanista Angelo Colocci (1467-1549). Em 1924 foi adquirido pelo Estado Português e depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa, de onde deriva o nome pelo qual é hoje conhecido.
O Pergaminho Vindel é um texto copiado no final do século XIII ou começo do XIV e contém as sete cantigas de amigo de Martim Codax, com notação musical em seis delas. A descoberta deste pergaminho deve-se ao acaso: ocorreu quando Pedro Vindel, um comerciante de livros antigos, o descobriu em 1914 na sua biblioteca, servindo de forro a um exemplar do De officiis de Cícero. Depois de muitas vicissitudes, o Pergaminho foi comprado pela Pierpoint Morgan Library em Nova Iorque, no ano de 1977.
O Pergaminho Sharrer é um fragmento de pergaminho medieval que contém partes de sete cantigas de amor de Dom Dinis, rei de Portugal. O pergaminho foi descoberto em 1990 nos arquivos da Torre do Tombo de Lisboa pelo pesquisador Harvey L. Sharrer, da Universidade da Califórnia.
Entre os melhores trovadores desse período destacam-se, além dos trovadores acima mencionados, Afonso XI, o Sábio, D. Dinis, Afonso Sanches e D. Pedro, conde Barcelos, filhos bastardos de D. Dinis, João Garcia de Guilhade, Martim Codax, João Zorro, Bernardo ou Bernal de Bonaval, Pero da Ponte, Nuno Fernandes Torneol e muitos outros.
Fontes: Wikipédia
História Concisa de Portugal – José Hermano Saraiva
Instituto Camões

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Poemas Soltos

De um autor desconhecido:
A Poem

Do not stand at my grave and weep
I am not there, I do not sleep.
I am a Thousand winds that blow.
I am the sunlight on ripened grain.
I am the gentle autumn rain.
When you awake in the morning's hush
I am the swift uplifting rush
of quiet birds in circling flight.
I am the soft star shine at night.
Do not stand at my grave and cry.
I am not there. I did not die.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Grande Guerra II



Pormenor de um quadro existente no Museu Militar e pintado por Sousa Lopes
A Entrada de Portugal na GuerraA 9 de Março de 1916 a Alemanha declarou guerra a Portugal na sequência do apresamento de 70 navios alemães, a pedido do governo britânico, e que tinham procurado refúgio nos nossos portos, dada a nossa neutralidade, embora já em 1914 fossem enviadas para África tropas portuguesas em defesa das nossas colónias ameaçadas pelos Alemães, onde até 12 de Novembro de 1918 se combateu.
Já há um tempo que Afonso Costa, chefe do Partido Democrático no poder, insistia que o país deveria entrar na guerra, dada a necessidade de numa posterior conferência de paz defender o nosso direito às possessões coloniais de Angola e Moçambique, há muito cobiçadas pela Alemanha e pela Inglaterra, assim como pela necessidade que Portugal tinha de se afirmar externamente junto dos seus congéneres europeus e travar as ideias expansionistas da vizinha Espanha, reforçando a sua independência. Internamente, serviria para acalmar os partidos da oposição e obter o apoio popular para o seu governo, evitando um eventual golpe dos monárquicos para derrubar a Republica.
Em Março de 1917 partem os primeiros contingentes do Corpo Expedicionário Português para França, ficando sob o comando britânico e sendo colocados nas trincheiras junto ao rio Lys, na Flandres. Não o sabiam ainda, mas esperava-os o inferno…
Eram na sua maioria homens e rapazes analfabetos ou quase, arrebanhados nas cidades e campos, gente humilde sem nenhuma preparação militar e a quem, em cerca de nove meses de treino consideraram aptos para entrarem em guerra. As suas preocupações eram apenas acerca da família e do pouco que possuíam, como se pode ler nesta carta enviada por um soldado a sua mãe:
“Mãe. Afinal fez bem vendendo a nossa cabrinha, se precisava de comer. Eu bem sei o que lhe devo como filho e não me zango. Mas tenho muita pena, isso tenho. E às vezes ponho-me a lembrar que quando aí for já ela não vem da horta, entrando em casa, para me comer à mão. A gente também ganha amizade aos animais. Mas não me zango, pois se era precisão…”
Em condições de combate extremamente duras como são as que resultam duma guerra de trincheiras, mal alimentados, suportando temperaturas que chegavam a atingir os 22 graus negativos no inverno, ainda tiveram humor suficiente para auto-denominarem o C.E.P. como “Carneiros de Exportação Portugueses”.
Depois de um ano sempre nas linhas da frente, sem serem substituídos nem terem direito a licenças, bombardeados com gases tóxicos e abandonados pelo governo de Sidónio Pais, o seu moral estava tão em baixo, que chegaram a amotinar-se, quando em Março de 1918, os alemães intensificarem os ataques.
No princípio de Abril, e com os homens completamente exaustos, foi decidido que a rendição das tropas portuguesas se efectuaria no dia 9. Tarde demais…
Na madrugada desse dia, teve início a chamada batalha de La Lys, onde logo no primeiro dia tivemos mil mortos. Numa ofensiva denominada de “Operação Georgette”, os alemães, debaixo de intenso nevoeiro, dispuseram uma barragem de artilhada composta por mais de mil peças de artilharia de alto calibre, numa frente de 15 kms., bombardeando ininterruptamente durante 2 horas, as trincheiras da 2ª Divisão Portuguesa, que era constituída por cerca de 22.000 homens. Lançaram em seguida um ataque com nove divisões de infantaria, que tomaram de assalto as posições do CEP. O resultado cifrou-se em cerca de 7.000 baixas, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros.
Os sobreviventes foram incorporados no exército francês e também no britânico, sendo usados apenas como mão-de-obra para cavar trincheiras e abrir estradas. Quando a guerra terminou, um contingente português de 400 homens de infantaria, desfilou em Paris, na Festa da Vitória, passando sob o Arco do Triunfo.
Neste esforço de guerra, Portugal mobilizou cerca de 200.000 homens, distribuídos entre o CEP e os contingentes que foram para África, tendo sofrido cerca de 35.000 baixas entre mortos, desaparecidos e prisioneiros, e um número incontável de feridos e doentes (gaseados, inválidos, tuberculosos), que ao voltarem à Pátria encontraram um país completamente degradado tanto a nível económico como político. Além de ser um país pobre combatendo simultaneamente em três frentes, teve de fazer face a epidemias sucessivas de tifo, varíola e principalmente da pneumónica ou gripe espanhola que ceifou mais vidas do que aquelas que se tinham perdido na guerra.
Das várias razões porque entramos neste conflito, apenas ganhamos realmente o nosso direito de soberania sobre as colónias portuguesas, sendo-nos devolvida a ilha de Quionga, em Moçambique, que os alemães tinham ocupado, mas que em 1916, os portugueses tinham reocupado.
Os militares mortos em França, repousam no Cemitério Militar Português em Richebourg. Em 1928 foi aí inaugurado o Monumento de La Couture, representando a Pátria que empunha a espada de D. Nuno Álvares Pereira ao mesmo tempo que observa um soldado português lutando contra a morte.


domingo, 1 de agosto de 2010

A Grande Guerra - I



In Memoriam

Faz hoje precisamente 96 anos, que teve inicio o maior conflito armado da história da humanidade, pelo menos até 1939.
A 1 de Agosto de 1914, com a declaração de guerra feita pela Alemanha à Rússia, começou a 1ª Guerra Mundial, também conhecida como Grande Guerra, ou a Guerra das Guerras, que causou cerca de 12 milhões de mortos (entre eles cerca de 7 mil pertencentes ao Corpo Expedicionário Português), uns 20 milhões de feridos e estropiados, provocou a queda de quatro impérios (Austro-Húngaro, Alemão, Turco-Otomano e Russo) estendendo-se como que por um efeito de dominó a cerca de 30 países, e às colónias africanas e asiáticas, mudando de forma radical o mapa geo-político da Europa e do Médio Oriente depois da assinatura em Novembro de 1918 do armistício de Rethondes, que lhe pôs fim.
Como homenagem aos mortos no holocausto da guerra, foi erguido em praticamente todos os países o Túmulo do Soldado Desconhecido, sendo nele sepultado o corpo irreconhecível de um soldado simbolizando todos aqueles que caíram em combate e não puderam ser identificados.
Que o seu sacrifício nos lembre a todos que a Paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos!