quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Plumas e Penas

Se para o sexo feminino, as plumas e as penas foram sempre consideradas como um simples adorno pessoal, os homens, pelo contrário, viram-nas como um símbolo de poder e autoridade.
Uma pintura egípcia no túmulo do faraó Seti I, mostra um antigo guerreiro europeu vencido, usando uma capa de peles, os braços e as pernas tatuados, e duas penas presas ao cabelo. O próprio faraó usa duas grandes plumas de avestruz encimando o toucado.
Nas ilhas Hawai, os chefes usavam mantos de penas e capacetes de forma grega, revestidos também de penas de várias aves, mas apenas o rei podia usar o manto de penas vermelhas do pássaro ivy. Eram considerados símbolos de dignidade, espiritualidade e poder dos chefes tribais.
Na Índia o penacho de penas de pavão foi desde sempre, emblema de soberania.
Os indios americanos ficaram famosos pelos seus toucados de penas de águias e de corvos, com que também enfeitavam as suas lanças cerimoniais.
Para a maioria das culturas mesoamericanas, as aves e em especial o quetzal, eram seres sagrados por terem a capacidade de voar e associavam-nos aos deuses do vento como Quetzalcoatl (A Serpente Emplumada).
Ficaram famosos os toucados maias e aztecas, feitos das penas dessa ave e adornados com jade e obsidiana. O do imperador Moctezuma encontra-se no Museu Etnologico de Viena, onde foi entregue durante a Segunda Guerra Mundial.
Entre os indios caribe da Colombia era costume usar tantas penas nos seus atavíos, quantos os inimigos eliminados em combate.
Na Europa, o penacho, cuja invenção Plínio atribui aos cários, foi distintivo dos centuriões e tribunos militares romanos, simbolizando a justiça. Na Idade Média com o advento da cavalaria, os cavaleiros adornavam os seus elmos com plumas.
O Príncipe de Gales, filho de Eduardo III de Inglaterra, e que ficou na História conhecido como o Príncipe Negro, por ser essa a cor da sua armadura, foi o primeiro que ostentou o elmo adornado com penas de avestruz. Quando veio a Espanha em auxílio do rei D. Pedro I, de Castela, os cavaleiros espanhóis adoptaram essa moda, estendendo-a também aos seus cavalos, conforme se pode apreciar nas pinturas da época, em que cavalo e cavaleiro aparecem adornados com plumas de avestruzes tingidas de várias cores.
Em França, no reinado de Carlos VII, o Vitorioso, os penachos chegaram a atingir metro e meio de altura; o que Henrique II trazia, ao entrar em Paris, espantou os seus contemporâneos, e Henrique IV, antes da batalha de Ivry, disse às suas tropas: “Se perderdes os vossos estandartes, segui o meu penacho branco; vê-lo-eis sempre no caminho da honra e da vitória”.
Após a extinção da antiga cavalaria, as penas e plumas passaram a adornar os chapéus com que os nobres cobriam as cabeças. Quem não se lembra dos chapéus emplumados dos mosqueteiros franceses?
Com a Revolução Francesa, ressurgiram não só nos capacetes e barretinas militares, como nos diversos chapéus dos funcionários civis, que desapareciam sob o enfeite das plumas tricolores.
Com o aparecimento da 1ª Guerra Mundial, caíram em desuso, mas continuam a aparecer simbolicamente nos capacetes de alguns regimentos de cavalaria, como, por exemplo, no regimento da Guarda Nacional Republicana portuguesa.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O Al – Andaluz III


De 1146 a1228 - O Período almóada.
Com a queda dos Almorávidas em 1145, a Península estruturou-se em duas zonas divididas por um profundo fosso: as Estremaduras.
Com a chegada dos almóadas, o novo povo que veio substituir os almorávidas esses fossos entre a península cristã e a muçulmana ficam definidos.
O movimento almóada (de al-muwahhidun, os unitários), foi fundado por Ibn Tumart e organizado depois dele por Abd al-Mumin, cuja dinastia reinou desde meados do sec. XII até meados do sec. XIII. Com a queda do califado de Bagdad, todo o pensamento muçulmano se concentrou no Al-Andaluz, onde reinava um ambiente de liberdade.
Em 1170 os almóadas transferiram a sua capital para Sevilha, onde fundaram a grande mesquita, posteriormente convertida em catedral cristã. A torre da mesquita, a Giralda foi construída em 1184 para assinalar a ascensão de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur (Almançor).
Yakub I, ou Almançor, foi o terceiro califa da dinastia almóada de Marrocos. Anteriormente feito emir pelo seu pai, subiu ao trono do império em 1184, aquando da morte deste após a derrota na batalha de Santarém, frente a Fernando II de Leão. O seu reinado coincidiu com o período de máximo esplendor do império almóada na Península Ibérica.
A zona entre o Tejo e o Guadiana, tantas vezes conquistada pelos reis cristãos e várias vezes perdida, constituía uma fronteira tão perigosa, que levou à criação das ordens militares.
Em Portugal, a tomada do Castelo de Silves em 1189 por D. Sancho I suscitou uma contra-ofensiva muçulmana que resultou não só na perda de Silves como de grande parte da região do Alentejo, até à margem esquerda do rio Tejo, permanecendo apenas Évora em poder dos cristãos. Entre 1190 e 1191, Ya'qub al-Mansur tomou as cidades de Alcácer do Sal, Palmela, Almada, Torres Novas e Abrantes e tentou invadir Tomar, mas os cavaleiros templários de Gualdim Pais resistiram e travaram a sua invasão. Em 1195, à frente de um poderoso exército, passou novamente o estreito de Gibraltar e derrotou as forças cristãs de Afonso VIII de Castela na batalha de Alarcos.
Em 1212, na batalha de Navas de Tolosa (conhecida simplesmente como “A Batalha”, nas crónicas da época), as forças conjuntas dos reinos cristãos de Castela, Aragão, Navarra e Portugal, apoiadas pelas Ordens Militares, infringem uma pesada derrota aos exércitos muçulmanos, contribuindo para a desarticulação do império almóada.
De 1228-1262 - Terceiro período de reinos de taifas.
Em Múrcia estala uma revolta contra o poder já em declínio dos almóadas, dando origem a um terceiro período de reinos de taifas. Em 1249, com a conquista do Algarve, - último reino do Gharb Al-Andalus - por D. Afonso III, acabou o domínio muçulmano no território português.
No resto da Península, perante o avanço cristão, o senhor de Jaen declara-se vassalo do rei de Castela, ajudando-o na luta contra os outros senhores de taifas, e fixa-se em Granada, onde inicia a dinastia nasrida.
De 1238-1492 - A dinastia nasrida do reino de Granada.
A partir desta altura e com a reconquista dos territórios pelos cristãos, a denominação de Al-Andaluz passa a referir-se apenas ao reino de Granada, quando no século XIV, o domínio muçulmano na península se reduz ao reino dos Nazaries, sediado nessa cidade. Este reino foi fundado por Mohamed ben Yusuf, senhor de Jaen, que ficaria conhecido na História por Mohamed I.
Um dos grandes legados arquitectónicos desta dinastia foi a construção do palácio do Alhambra.
Em 1491 o último rei nasrida, Abu Abd Allah (Boabdil), capitulou perante os Reis Católicos, Fernando e Isabel. No ano seguinte o reino de Granada seria integrado na Espanha. As famílias muçulmanas de posição social mais elevada deixaram a península, fixando residência no norte de África. Os muçulmanos que permaneceram foram obrigados em 1502 a converter-se ao cristianismo ou então teriam de abandonar o país. Por sua vez, os muçulmanos que se tinham convertido à fé cristã (os mouriscos) foram acusados de seguir o islão secretamente, tendo sido expulsos da Espanha entre 1609 e 1614.

É de um dos poetas do Andaluz, Abú Aláçane Alcartajani, nascido em Cartagena e falecido em Tunes em 1285, o poema que se segue:

Os rios de Espanha choram de tristeza em fluído pranto
Pela sede de sangue que não foi saciada.

Chorou sua pena o Guadalaviar
Como lágrimas correntes incessantes.

Guadalquivir seu irmão chorou por não poder saciar
A sede das sanguessugas que grasnaram. (1)

O Jucar esteve a ponto de secar quando se encolerizou
Pelos danos que os ruivos causavam por toda a parte.

Gemeu o Guadiana em seu Ocidente cheio o saco lacrimal
De copioso pranto.

Os dois rios da Fronteira Superior, o Tejo e o Ebro,
Queixavam-se ambos e a própria fronteira se queixava de sede

Encadeada de tristeza
Embora tivesse a água dos rios entre a boca e as fauces.

(1) Segundo uma lenda pré-islâmica, se colocassem sanguessugas na cabeça de um assassinado que não tivesse sido vingado, estas pediam: Dá-me de beber (o sangue do assassino).

Fontes www.wikipedia.org.
Coelho, António Borges – Historia de Portugal e Portugal na Espanha Árabe
Alves, Adalberto – Al – Mu’tamid, Poeta do Destino
Saraiva, José Hermano – História de Portugal
História Universal - jornal O Público


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Al-Andaluz – II

“O país do Andaluz é, como dissemos, de forma triangular. O mar rodeia-o pelos seus três lados: ao sul, o Mediterrâneo; a ocidente, o oceano Atlântico; ao norte, o mar dos Ingleses, que se contam entre os cristãos. O comprimento do Andaluz, desde a igreja do Corvo (Cabo de S. Vicente), que está situada no Atlântico, até ao monte chamado Templo de Vénus (Port Vendres), é de 1100 milhas. A sua largura é de 600 milhas. (Texto de Ibn Abd Al-Munin, finais do sec.XIII).

Os anos que se seguiram à conquista da Península Ibérica não foram fáceis para os muçulmanos. Dependente do Califa de Damasco, o Al-Andaluz tornou-se um emirato, onde, entre 711 e 756, foram nomeados mais de vinte emires para seu governo. Á anarquia política, seguiram-se as lutas internas pelo poder, entre berberes e árabes, a que se juntou uma terrível vaga de fome entre 751e 753.
Podemos definir cinco etapas na história deste território:
De 711 a 756 - Emirado dependente do Califa de Damasco.
Em 718 ocorreu a Batalha de Covadonga, na qual os muçulmanos saem derrotados pelo grupo de cristãos refugiados nas Astúrias e comandados por Pelágio. As forças islâmicas levam a cabo várias expedições contra a Gália, mas a sua expansão é detida em 732, na batalha de Poitiers, por Carlos Martel. Até 756 o Al-Andaluz teve vinte governadores dependentes de Damasco, sendo Sevilha, e mais tarde, Córdova, a sua capital.
De 756 a 929 - Emirato de Córdova.
A queda dos Omíadas em Damasco e a tomada do poder pelos Abássidas em 750 teriam repercussões políticas no Al-Andaluz. O único sobrevivente do massacre da família omíada, o príncipe Abd ar-Rahman, chega à península em 756 e instala-se em Córdova, onde toma o título de emir, declarando-se independente do califado dos Abássidas, mas mantendo a ligação religiosa. Dará início a uma dinastia que governa o Al-Andalus até 1031, mas que tem de enfrentar, além das inúmeras revoltas internas, o avanço dos reis cristãos.
De 929 a 1031 - Califado de Córdova.
Em 929, o emir Abd al-Rahman III declarou-se califa, título que lhe conferia independência não só política, mas também religiosa em relação aos Abássidas, cortando todos os laços com o califado do Oriente. Neste período, destaca-se a figura de Almançôr, o Vitorioso, o que não impede que durante os últimos vinte anos sejam nomeados 15 califas, mostrando bem a anarquia reinante, pelo menos desde o fim da hegemonia da família de Almançôr. No entanto, o califado corresponde ao período de maior esplendor da civilização islâmica na Península Ibérica.
De 1031 a 1090 - 1º Período dos reinos de Taifas.
Surgidos da desagregação do califado de Córdova, após o domínio de Almançor, o Vitorioso, e da sua família, os reinos de taifas eram unidades políticas que partilhavam uma afinidade de origem étnica. Independentes e rivais, muitos deles tiveram uma existência efémera. Os que duraram mais tempo foram os de Saragoça, Toledo, Granada, Sevilha e Badajoz.
Os reis cristãos aproveitaram esta fragmentação para avançarem sobre os territórios do sul. Foi durante este período que o território do Al-Andaluz atingiu o seu apogeu cultural, mas a batalha de Zalaca, em Outubro de 1086, contra Afonso VI, de Castela, e os seus aliados, embora se saldasse com uma derrota para os cristãos, selou o fim dos reinos de taifas e a subida ao poder dos almorávidas.
Com a conquista de Toledo por Afonso VI, e o crescente sucesso dos exércitos cristãos, além do valor sempre crescente do pagamento das parias em ouro por parte dos reinos de taifas, o rei de Sevilha, Al-Mu’tamid, sentindo-se ameaçado, chama em seu auxílio, os almorávidas, sediados no norte de África, assinando assim a sua própria perda.
A figura do rei-poeta Al-Mu’tamid, nascido em Beja e rei da taifa de Sevilha, destaca-se, não só pela excelência da sua poesia, como também pelo seu final de vida trágico.
De 1090 a 1146 - Império almorávida.
Os almorávidas, conhecidos pela sua intolerância religiosa, e comandados por Yussuf ibn Tâshfin, o fundador da cidade de Marraquexe, lançam-se à conquista do Al-Andaluz, apoderando-se dos reinos de taifas, a quem acusavam de infringir a lei islâmica com a cobrança ilegal de impostos e a vassalagem aos cristãos. Cerca de 1111, conquistam Santarém, avançam para Coimbra e chegam aos arredores do Porto. Milhares de cristãos são deportados para África, e o Al-Andaluz é integrado no império africano almorávida, sendo governado por Yussuf e os seus descendentes, a partir do norte de África.
Nesta altura, a coexistência das três religiões do Livro fica fortemente ameaçada. As relações muitas vezes pacíficas entre uns e outros, os períodos de paz e de intercâmbio económico e cultural existente, embora interrompidos por frequentes confrontos armados, deram lugar a uma guerra sem quartel, com os almorávidas proclamando a guerra santa, e do lado dos cristãos, a um espírito de cruzada, reforçado com a chegada de cavaleiros francos e dos monges de Cluny, apoiados por Roma.
Devido a revoltas internas, o império almorávida deixa de existir, dando origem a um breve período de reinos de taifas, sendo as mais importantes Mértola, Córdova, Valença e Múrcia.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

SEPARAÇÃO


Só eu sei quanto me dói a separação!
Na minha nostalgia fico desterrado
À míngua de encontrar consolação.

À pena, no papel, escrever não é dado
Sem que a lágrima trace, caindo teimosa,
Linhas de amor na página da face.

Se o meu grande orgulho não obstasse
Iria ver-te à noite; orvalho apaixonado
De visita às pétalas da rosa.

Al – Mu’tamid (1040-1095, Rei-poeta da taifa de Sevilha, nascido em Beja)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Al-Andaluz - I

Al-Andaluz, foi o nome dado à península Ibérica pelos seus conquistadores islâmicos, a partir do ano de 711 (século VIII), tendo o nome sido utilizado para se referir à península, independentemente do território politicamente controlado pelas forças islâmicas.
A origem do nome Al-Andalus é incerta. O nome fez a sua primeira aparição em 716, num dinar bilingue cunhado na Península Ibérica e que se encontra hoje em dia no Museu Arqueológico Nacional em Madrid. Nessa moeda a palavra Span(ia), em latim, corresponde a Al-Andalus, em árabe. O termo Al-Andaluz é ainda usado no século XV para designar os árabes fugidos da península, expulsos durante a Reconquista Cristã, que se refugiam no Norte de África.
A região ocidental da península era denominada Gharb Al-Andalus ("o ocidente do Al-Andalus") e incluía o actual território português. De uma maneira geral, o Gharb Al-Andalus foi uma região periférica em relação à vida económica, social e cultural do Al-Andalus.
As circunstâncias que marcaram a chegada dos muçulmanos à Península Ibérica, foram deturpadas pela lenda, embora contenham um fundo de verdade.
Quando o rei visigodo Vitiza morreu, os seus seguidores nomearam seu filho Agila, de dez anos de idade, herdeiro do trono, mas os mais conservadores, elegerem por sua vez como rei, a Rodrigo, duque da Bética, o que deu origem a uma guerra civil.
O irmão de Vitiza, o conde Oppas, refugiou-se em Ceuta, governada pelo Conde Julião, possivelmente seu parente, e ambos resolveram pedir ajuda aos muçulmanos para consolidarem no trono de Toledo o jovem Ágila.
Em Abril de 711, o berbere Tarik Ibn Ziyad, governador de Tânger e lugar-tenente de Mussa Ibn Nusayr (698-714), desembarca à frente dos seus homens no monte que em sua honra se passará a chamar Jebal Tariq (Gibraltar), e derrota o rei Rodrigo na batalha do rio Guadarranque, entre a torre de Cartagena e Gibraltar, segundo algumas versões, noutras, a batalha dá-se junto ao rio Guadalete.
A vitória árabe sobre Rodrigo vai derrubar toda a organização central de defesa do estado visigodo, e em vez de uma simples intervenção estrangeira num confronto civil, como pretendiam Oppas e Julião, os muçulmanos iniciam uma invasão em toda a linha, acabando em poucos anos com a escassa resistência apresentada pelos antigos senhores.
Toledo perde o seu título de capital do império, que passará para Córdova, e a Espanha passará a designar-se AL-ANDALUZ!
Apenas nas montanhas cantabro-asturianas um grupo de nobres visigodos comandados por Pelágio, primo do rei Rodrigo, resistia aos invasores, dando começo a uma luta que durou cerca de oitocentos anos, a que se deu o nome de RECONQUISTA…
Os árabes, ao conquistarem a Península não se romanizaram, continuaram sendo árabes, seguiram sendo muçulmanos, regendo-se pelas leis do Corão. A religião dos povos dominados era-lhes indiferente, mas não houve perseguições nem conversões forçadas.
A tolerância inicial do estado islâmico permitiu a sobrevivência das raízes clássicas e cristãs durante vários séculos. No entanto a nova orientalização ibérica tem também o seu preço: após Poitiers o choque entre a Europa cristã e o islamismo difundirá entre as gentes peninsulares o sentimento de cruzada e guerra santa, destruindo qualquer possibilidade de convivência.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A 7 de Janeiro de…

No dia 7 de Janeiro, embora em anos diferentes, faleceram em Portugal, três das mais emblemáticas figuras da nossa História.

No ano de 1325, faleceu em Santarém, aos 64 anos de idade, o Rei D. Dinis, o Lavrador.
Ao longo de 46 anos a governar o Reino de Portugal e o Reino do Algarve foi um dos principais responsáveis pela criação da identidade nacional e o alvor da consciência de Portugal enquanto estado-nação: em 1297, com a conclusão da Reconquista, definiu as fronteiras de Portugal no Tratado de Alcanizes, prosseguiu relevantes reformas judiciais, instituiu a língua Portuguesa como língua oficial da corte, libertou as Ordens Militares em território nacional de influências estrangeiras e prosseguiu um sistemático acréscimo do centralismo régio. A sua política centralizadora foi articulada com importantes acções de fomento económico - como a criação de inúmeros concelhos e feiras. D. Dinis ordenou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro e organizou a exportação da produção excedente para outros países europeus. Em 1308 assinou o primeiro acordo comercial português com a Inglaterra e em 1312 fundou a marinha Portuguesa.
Poeta, trovador, senhor de uma educação esmerada para a época, aos nossos dias chegaram 137 cantigas da sua autoria, distribuídas por todos os géneros (73 cantigas de amor, 51 cantigas de Amigo e 10 cantigas de escárnio e maldizer), bem como a música original de 7 dessas cantigas (descobertas casualmente em 1990 pelo Prof. Harvey L. Sharrer, no Arquivo da Torre do Tombo, num pergaminho que servia de capa a um livro de registos notariais do século XVI, e que ficou conhecido como Pergaminho Sharrer).
Foi sepultado no Mosteiro de S. Dinis, em Odivelas, por ele mandado construir para sua última morada.



D. DINIZ


Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver
E ouve um silencio murmuro comsigo:
É o rumor dos pinhaes, que como o trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar,
E a falla dos pinhaes, marulho obscuro,
É o som presente d’esse mar futuro,
É a voz da terra anciando pelo mar.



Em 1355, Inês de Castro, amante do Infante D. Pedro e mãe de três dos seus filhos, é decapitada, acusada de crime de alta traição. A trágica história dos seus amores resistiu ao passar do Tempo, transformando-se num Mito do Amor Eterno… Está sepultada no Mosteiro de Alcobaça, num dos dois túmulo mandados executar por D. Pedro I, em calcário da região de Coimbra, de estilo gótico e considerados as obras máximas da nossa escultura funerária. Na sua bela cabeça, vandalizada pelos soldados franceses durante a guerra Peninsular, ostenta uma coroa de rainha!



Em 1830, morre no Palácio de Queluz, aos 55 anos de idade, a rainha D. Carlota Joaquina, esposa do rei D. João VI. Magra, feia, ambiciosa, irascível mas de uma inteligência maquiavélica, recusou assinar a Constituição de 1822, tornando-se a cabeça do partido absolutista em Portugal, envolvendo-se em várias conspirações para derrubar o regime. Acabou desterrada para o Palácio de Queluz, sem poder voltar à Corte. Amada por uns, detestada pela maioria, as paixões contraditórias que provocou foram tais, que depois dela, nunca mais uma princesa espanhola voltou a ser rainha de Portugal, e nenhuma princesa portuguesa voltou a ser rainha de Espanha, rompendo-se uma tradição que já vinha dos tempos do nosso primeiro rei…

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A tradição do Bolo-Rei


É no dia 6 de Janeiro que se celebra a chegada dos Reis Magos a Belém, a fim de adorarem o Menino e oferecerem-lhe os seus presentes: ouro, incenso e mirra.
Para estes Magos, o recém-nascido seria um dia o Rei do Mundo. Ora, um rei era o detentor de toda a vida humana e cósmica, o intermediário entre o Céu e a Terra. Por isso as suas ofertas atestavam o reconhecimento das suas funções: real (ouro), sacerdotal (incenso) e profética (mirra).
Para homenagear estes Reis, alguém criou uma iguaria particularmente deliciosa: o Bolo-Rei.
De forma redonda com um grande buraco no meio, enfeitado de frutos secos e cristalizados, de cores variadas, assemelha-se a uma coroa incrustada de pedras preciosas…
E até há bem pouco tempo, dentro da sua massa fofa e saborosa, escondiam-se uma fava e um brinde. Quem encontrasse a fava, teria de pagar o jantar ou então um Bolo-Rei no ano seguinte. Quanto ao brinde, era engraçado ver a alegria da pessoa que o recebia, por muito pequeno ou insignificante que fosse!
Infelizmente, a União Europeia, por alegados motivos de segurança, proibiu a sua inclusão.
Por detrás do bolo-rei está toda uma simbologia com mais de 2000 anos de existência. De uma forma muito resumida, pode dizer-se que esta doce iguaria representa os presentes que os três Reis Magos deram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: assim, a côdea simboliza o ouro; as frutas, cristalizadas e secas, representam a mirra; e o aroma do bolo assinala o incenso.
Ainda na base do imaginário, também a fava tem a sua "explicação". Reza a lenda que, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Com vista a acabar com aquela discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava. O Rei Mago a quem calhasse a fatia de bolo contendo a fava seria o primeiro a entregar o presente. O dilema ficou solucionado, embora não se saiba se foi Gaspar, Baltazar ou Belchior o feliz contemplado.
Historicamente falando, a versão é bem diferente. Os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnais, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava. Este costume terá tido origem num jogo de crianças muito frequente durante aquelas celebrações e que consistia em escolher entre si um rei, tirando-o à sorte com as favas.
Este inocente jogo acabou por ser adaptado pelos adultos, que passaram a fazer uso das favas para votar nas assembleias.
Dado aquele jogo infantil ser característico do mês de Dezembro, a Igreja Católica decidiu relacioná-lo com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro). Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como Dia de Reis, e simbolizada por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece.
Em Espanha e noutros países da Europa, procuram manter a tradição, não só comendo o bolo-rei como aproveitando a ocasião para distribuir os presentes pelas crianças.
Para além desta, havia uma outra tradição, da qual poucos terão conhecimento, que afirmava que os cristãos deveriam comer 12 bolos-reis, entre o Natal e os Reis, festa que muito cedo começou a ser celebrada na corte dos reis de França.
O bolo-rei terá, aliás, surgido neste país, no tempo de Luís XIV, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis. Com a Revolução Francesa, em 1789, a iguaria foi proibida, mas, como bom negócio que era, os pasteleiros continuaram a confeccioná-lo sob o nome de gâteau des san-cullottes.
Vários escritores da época escreveram sobre esta iguaria, e até mesmo o pintor francês Jean-Baptiste Greuze (1725-1805), o imortalizou num famoso quadro com o nome Epiphanie (Le Gâteau des Rois), datado de 1774, e que apresento no fim deste post (clicar no quadro para abrir).
Com isto parece não haver dúvidas que o Bolo-Rei tem verdadeiras origens francesas, apesar do Bolo-Rei popularizado em Portugal no século passado nada ter a ver com o bolo simbólico da festa dos Reis existente na maior parte das províncias francesas a norte do rio Loire, na região de Paris, onde o bolo é uma rodela de massa folhada recheada de creme, que se vende acompanhado de uma coroa.
Tanto quanto se sabe, a primeira Casa a vender e confeccionar o Bolo-Rei em Portugal foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta do ano de 1870, bolo esse feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.
A pouco e pouco, outras confeitarias também passaram a fabricá-lo o que deu origem a várias versões.
No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890 por iniciativa da Confeitaria Cascais feito segundo receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.
Mas foi com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 que vieram os piores tempos para o Bolo-Rei ficando em risco a sua existência, tudo por causa da palavra “rei”, símbolo do poder supremo que tinha sido derrubado. Ora morto este símbolo, o bolo tinha que desaparecer ou arranjar outra designação.
Os pasteleiros continuaram a fabricá-lo mas com o nome de bolo de Natal ou bolo de Ano Novo.
A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal, e também por estar relacionado com o país, o que ficava bem em período revolucionário.
Não contentes com nenhuma destas ideias, os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente.
Com o passar do tempo, o bolo, felizmente, recuperou o seu nome original e apesar da proibição da fava e do brinde, continua a ser um dos símbolos da quadra natalícia e a encher de clientes as pastelarias nesta altura do ano.


Fontes: www.jornaldascaldas.com

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lenda da Noite de S. Silvestre


Conta-se que há muitos, muitos anos — tantos que a nossa memória já não os consegue somar na ardósia da vida e do tempo — existia em certo local do oceano Atlântico o mais maravilhoso de todos os países do mundo: a Atlântida.
Segundo a narrativa de Platão, a Atlântida, que coubera inicialmente em partilha a Poseidon, o deus dos oceanos, foi dividida pelos dez filhos nascidos dos amores deste deus com uma mortal chamada Clito. E destes passara sucessivamente aos seus descendentes, até que a certa altura os seus reis tiveram a louca pretensão de conquistar o mundo
Diz-se mesmo que o último desses reis levou a sua arrogância a tal ponto que ousou desafiar os Céus
— Sim! Que podem os Céus contra nós?... Que pode o mundo contra nós, que somos os reis da Atlântida? Nós temos o poder dos deuses!
E conforme se diz também, nesse instante o rei escutou uma voz sobrenatural que ecoava dentro de si próprio e lhe dizia:
— Enganas-te! Não há homem algum que tenha o poder de Deus!
Espantado, intrigado, furioso, o rei da Atlântida olhou em redor de si sem nada ver
— Quem fala? Quem se atreve a erguer a voz na minha presença, sem me pedir autorização para tal?
E a mesma voz sobrenatural respondeu de pronto, pausada e severamente: — É Deus que te fala, mesquinho rei da Atlântida, homem frágil e meu servo.
Um grito de cólera saiu da garganta do rei humilhado:
— Deus? Mas qual dos deuses?
E a voz sobrenatural esclareceu, num tom ainda mais severo:
— O único Deus que existe!... O Criador da vida e da morte!
Então, o rei da Atlântida explodiu em ameaça e em jactância:
— Pois a esse tal deus que me fala, seja ele qual for, desafio-o a que se oponha aos meus planos!... Eu não tenho medo... Eu sou o rei da Atlântida, o mais poderoso império de todos os impérios!... Tenho fortuna e forças suficientes para esmagar o mundo! E para começar vou submeter e esmagar o poder de Atenas!
E a voz sobrenatural limitou-se a prevenir:
— Atreve-te, rei tolo e ambicioso... atreve-te e verás o resultado!...
Não se intimidou o rei da Atlântida. Mandou que se formassem os seus exércitos, prontos para a grande batalha.
— Se vencermos o poder de Atenas — e havemos de vencê-lo —, o mundo será nosso! Ninguém mais se atreverá a erguer-se na nossa frente!... Nem os próprios deuses ousarão tal... Portanto, guerreiros que me escutais, segui os vossos chefes, tal como os vossos chefes me seguirão, e a vitória será nossa!
Brandindo e espada refulgente nos ares, o rei da Atlântida voltou a bradar:
— A vitória será nossa!
E a multidão dos guerreiros repetiu como um eco:
— A vitória será nossa!
Assim se travou — conforme nos conta ainda Platão — a espantosa batalha entre os povos do Ocidente das Colunas de Hércules, comandados pelo rei da Atlântida, e os povos de Leste, chefiados por Atenas.
No meio da refrega, porém, surgiu como que prodigiosamente a mesma estranha voz sobrenatural, que se sobrepôs ao fragor da luta:
— A vitória será de Atenas, para que os reis da Atlântida, ingratos e indignos, sofram uma terrível lição. A Atlântida desaparecerá para sempre e o seu nome há-de ficar, pelos séculos dos séculos, como o símbolo da grandeza destruída por sua própria culpa. Esta é a minha vontade. Esta é a vontade de Deus!
E na verdade os guerreiros da Atlântida foram derrotados violentamente pelos guerreiros de Atenas. E à derrota pungente e dolorosa sucederam-se terríveis terramotos e fantásticas inundações. Num só dia e numa só noite, o que fora o esplendoroso e incomparável reino da Atlântida desapareceu por completo, engolido pelas águas do oceano. Muitíssimos anos passaram sobre esse dia...
Até que certa vez, bastantes séculos depois da morte de Jesus Cristo — o Messias que aparecera para ensinar uma nova vida aos homens —, Sua Mãe, a Virgem Maria, segundo se perpetua na tradição milenária, debruçava-se lá dos Céus sobre o oceano que se estendia a seus pés. E junto dela passou, em determinado momento, um santo ainda jovem. Vendo-a tão absorta, o Santo parou e perguntou:
— Senhora, que estais a ver com tanto interesse?...
A Senhora Mãe de Jesus ergueu o seu olhar doce.
— Ah, sois vós, Silvestre?
— Sou eu, sim, Senhora... Perdoai-me, mas vinha à vossa procura… à procura dos vossos conselhos...
A Virgem Maria olhou-o mais profundamente.
— Que vos preocupa, Silvestre?
Humildemente, ele confessou:
— Senhora, esta é a minha noite...
— Bem sei... É a última noite do ano.
Ele pareceu entusiasmar-se.
— E por isso mesmo, Senhora... É por isso mesmo que vos desejo falar.
A Senhora Mãe de Jesus fez um gesto de aquiescência.
— Pois falai!
E São Silvestre, enleadamente, timidamente, foi dizendo:
— Eu... Eu tenho pensado... enfim… acho que esta última noite do ano... a minha noite… devia significar para os homens, lá em baixo, mais alguma coisa do que tem significado até agora...
Uma interrogação muda transpareceu no rosto da Senhora dos Céus. E o Santo ajuntou, já mais à vontade:
— Pois bem, Senhora… se me permitis... julgo que esta noite poderia marcar uma fronteira entre o passado e o futuro... Ou seja, poderia servir para os homens se arrependerem dos erros cometidos e prometerem a si próprios esperança de melhores dias.
A Virgem Santíssima aprovou com um leve inclinar de cabeça.
— Acho muito boa a ideia...
E logo, entusiasmando-se mais, São Silvestre completou o seu pensamento:
— E vem a propósito, não achais, Senhora? Antes realiza-se a festa do Natal, a festa de Jesus, Vosso Filho e Nosso Senhor... Depois... bem, depois, viria a festa do Fim do Ano… a festa da minha noite, como chamada de atenção à consciência dos homens.
Foi a altura do rosto divinamente belo da Virgem se tomar de novo apreensivo.
— Dizeis bem, Silvestre!... Cada vez mais, a consciência dos homens precisa de ser vigiada.
Suspirou tristemente e sublinhou:
— Ainda há pouco, quando chegastes, estava eu a espreitar lá para baixo...
Ele suspirou também.
— Eu bem vi, Senhora... E parecíeis tão triste, tão amargurada...
Houve um breve silêncio. Depois, a Virgem Santíssima perguntou:
— Sabeis o que eu estava a observar nesse momento, Silvestre?
O Santo teve um ar de perplexidade.
— Não sei, Senhora, não...
E a Senhora, voltando a debruçar-se sobre o oceano esclareceu:
— Pois estava a relembrar o fausto e a beleza maravilhosa dessa ilha chamada Atlântida, que Deus fez afundar para castigo dos pecados sem fim dos seus habitantes e como aviso à soberba dos homens.
Dos olhos da Senhora tombaram lágrimas puras de tristeza.
— Mas, afinal, eles não se emendaram!... Silvestre, eles não se emendaram!...
Emocionado, o Santo olhou-a melhor.
— Chorais, Senhora?
— É o coração que chora nos meus olhos, Silvestre! São lágrimas por misericórdia dos homens!
Num sobressalto de júbilo, São Silvestre exclamou com voz trémula.
— Não são apenas lágrimas, Senhora... São pérolas... São autênticas pérolas que caem dos vossos olhos!...
E, nesse mesmo instante, tal como se perpetua na tradição popular, uma das lágrimas da Nossa Senhora, por vontade de Deus, deslizou lá dos Céus e foi cair sobre o próprio local onde desaparecera a maravilhosa Atlântida...
São Silvestre sentiu-se contagiado por uma alegria estranha.
— Senhora, olhai!... Olhai!... Uma das vossas lágrimas caiu no oceano...
Ela limitou-se a confirmar:
— É verdade, Silvestre... Não sei como foi...
E o Santo, como que iluminado interiormente, exclamou num êxtase:
— E que bem fica ali, no meio das águas... Uma pérola, uma pérola verdadeira, Senhora, a crescer, a tornar-se cada vez maior e mais bela... A Pérola do Atlântico!
E deste modo, tal como se enraizou na alma do bom povo madeirense, nasceu a ilha de Madeira, e daí lhe vem o sobrenome.
Diziam os antigos que noutros tempos, na noite de S. Silvestre — talvez, quem sabe, por inspiração da Nossa Senhora —, quando batiam as doze badaladas da meia-noite, erguia-se nos ares a visão surpreendente de um cortejo de maravilha, cheio de luz e de cores fantásticas e que deixava atrás de si um perfume estonteante...
No rodopio dos anos, esse cortejo mágico da meia-noite desapareceu. Mas em seu lugar os homens criaram as esplendorosas festas do fim do ano na Madeira — a já internacionalmente famosa Noite de S. Silvestre, com o seu prodigioso fogo-de-artifício, que mais não é, afinal, do que a evocação dos fascinantes sonhos de antanho...

Fonte: www.lendarium org.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Votos para 2012

FELIZ ANO DE 2012

Com Paz

Saúde

Amor

E uns trocos…

Para todos um abraço amigo.

S. Silvestre I

Na passagem do ano, entre 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, realizam-se tradicionalmente as famosas corridas de S. Silvestre, assim como os espectáculos de fogo-de-artifício também em honra do mesmo santo, sendo o da Ilha da Madeira conhecido internacionalmente.
Mas afinal, quem foi S. Silvestre?
Nascido possivelmente em 285,em Roma, filho de pais cristãos, S. Silvestre foi o 33º Papa da Igreja de Roma, sendo festejado a 31 de Dezembro, data da sua morte, sendo também um dos primeiros santos canonizado sem ter sofrido o martírio.
É o Santo que encerra o nosso ano civil, mas não o ano litúrgico, uma vez que este começa cerca de quatro semanas antes do Natal, no 1º Domingo do Advento, terminando no ano seguinte, no sábado imediatamente anterior.
Depois da morte de S. Melquíades, São Silvestre foi nomeado Bispo de Roma, ocupando este cargo durante 21 anos. Papa de 31 de Janeiro de 314 a 31 de Dezembro de 335, não existe grande informação sobre o seu pontificado apesar de esta ser a época de Constantino, o Grande, em que a igreja sofreu uma notável evolução.
Durante o seu pontificado, bastante longo para a época (21 anos), S. Silvestre manteve sempre boas relações com o Imperador Constantino, que, através do Édito de Milão, em 313 (também chamado de Édito da Tolerância), proclamou a liberdade de culto para todas as religiões, adoptando a cristã como a religião oficial do Estado, embora ele próprio só se deixasse baptizar no seu leito de morte, e por um sacerdote ariano.
Como Pontifex maximus (cargo tradicionalmente ocupado por todos os imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer prática religiosa no império), Constantino introduziu vários dogmas na religião cristã, baseados nas tradições dos primeiros cristãos. Um dos mais conhecidos foi o Édito de Constantino, promulgado em 321, que determinou oficialmente o domingo como dia de repouso, com excepção dos lavradores — medida tomada por Constantino utilizando-se da crença de que os primeiros cristãos já o faziam, fixando o calendário das festas religiosas, em dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durante estes últimos). Note-se que o domingo foi escolhido como dia de repouso, não apenas em função da tradição sabática judaico-cristã, como também por ser o "dia do Sol" — uma reminiscência do culto do Deus Sol Invictus, a divindade padroeira dos imperadores-soldados do século anterior, de que o Imperador era o legítimo representante.
Uma lenda antiga menciona a relação do santo com o primeiro imperador cristão, mas não está de acordo com os factos históricos. A maior parte das lendas sobre a sua vida foram compiladas no Vita beati Sylvestri que surgiu no Oriente e foi preservada em grego, siríaco e latim no Constitutum Sylvestri, um relato apócrifo de um concílio e no Donatio Constantini. Estas narrativas que mencionam a perseguição de São Silvestre, o concílio dos 275 bispos de Roma, a cura e o baptismo do imperador Constantino, a dádiva imperial ao Papa e os direitos que lhe foram concedidos não passam de lendas.
No entanto, São Silvestre participou no concílio de Nicéia e nas negociações relativas à condenação do Arianismo. O primeiro concílio ecuménico teve a participação de legados enviados pelo Papa. Muito prudente, São Silvestre enviou legados ao Concílio de Arles, (1-8-314) que confirmou a condenação dos Donatistas, heréticos que defendiam que o baptismo não era válido quando ministrado por quem não tinha uma vida santa.
Apesar de tudo, S. Silvestre foi o Papa ideal para, nestas circunstâncias ocupar a cadeira de S. Pedro. Fechando os olhos aos vários crimes políticos, e não só, de Constantino, conseguiu que o Imperador apoiasse economicamente grandes obras de construção, tais como a Basílica e o Baptistério de Latrão, junto ao primeiro palácio imperial onde o Papa vivia, a Basílica do Palácio Sessoriano (Santa Croce in Gerusalenne), a igreja primitiva de São Pedro no Vaticano e várias igrejas e cemitérios sobre os túmulos de mártires.
O apreço do Imperador por S. Silvestre chegou ao ponto de lhe doar o palácio de Latrão que tinha pertencido à Imperatriz Fausta para sua residência, e que durante vários séculos será usado como tal.
A figura de São Silvestre está especialmente ligada à Igreja de Equitius, um presbítero romano, situada perto das termas de Diocleciano. Responsável pela existência da escola romana de canto, São Silvestre contribuiu ainda para o desenvolvimento da liturgia da Igreja, tendo o primeiro martirológio sido concebido durante o seu pontificado. O túmulo de São Silvestre situa-se na igreja por ele mandada construir no cemitério da Catacumba de Priscila, à Via Salaria.
Posteriormente, os seus restos mortais serão trasladados para uma igreja construída em sua honra, pelo Papa Paulo I.
A lenda conta que a conversão de Constantino, que sofreria de lepra incurável, se deveu a um milagre de S. Silvestre, que horrorizado com a sugestão do médico do Imperador, em banhá-lo no sangue de uma criança, o baptizou por imersão numa piscina, ficando Constantino imediatamente curado.
Há também a lenda de S. Silvestre relativa à Ilha da Madeira, que contarei a seguir.