sábado, 25 de outubro de 2014

Samurais, os Senhores da Guerra - II

Inicialmente vencem os Taira, mas em 1185 o clã dos Minamoto derrota por completo a família rival, e o seu chefe, Yoritomo Minamoto, torna-se, em 1192, no primeiro Xogun (generalíssimo) conhecido, estabelecendo a sua capital militar na aldeia piscatória de Kamakura, de onde governa efectivamente o país, estabelecendo alianças com os principais clãs e apoiando-se na nobreza armada da cavalaria, os samurais, entregando-lhes as terras expropriadas aos Tairas, ligando-os ao clã Minamoto. Iniciava-se assim a chamada Era ou Bakufu de Kamakura (1185 – 1333) e os samurais tornam-se na elite dominante do Japão, totalizando cerca de 6% da população.
O termo Bafuku refere-se à tenda do quartel-general de um chefe militar em campanha ou a sua residência em tempo de paz. Havia, portanto, duas capitais: a militar ou o Bafuku do Xogun e a imperial ou a do Tenno e a sua Corte.
Durante este período, houve duas categorias de guerreiros: os gokenin (fidalgos da Casa do Xogun), que prestavam vassalagem directamente aos xoguns, e os restantes combatentes que não tinham quaisquer laços de privilégio com os chefes militares. Os gokenin, conservaram, hereditariamente, as responsabilidades administrativas mais prestigiosas. Entre os guerreiros a hierarquia também dependia das técnicas militares: os que lutavam a cavalo e envergavam armadura eram superiores aos que combatiam a pé, com armamento ligeiro. A erudição era outro factor importante, uma vez que a cultura da elite militar nada tinha a ver com a pouca instrução dos guerreiros provinciais.
No sec. XIII, por duas vezes, entre 1274 e 1281, forças mongóis numerosas, comandadas por Kublai Khan, neto de Gengis Khan, o conquistador da Ásia, atacaram o Japão a partir do mar. Os samurais resistiram, combatendo nas praias e em barcos. Em ambas, violentas tempestades acompanhadas de tufões, destroçaram as armadas invasoras, pelo que ao segundo tufão, os japoneses lhe deram o nome de kamikaze (vento divino), designação adoptada pelos pilotos suicidas japoneses durante a II Guerra Mundial.
De 1333 a 1338 dá-se a queda do xogunato de Kamakura e a ascenção ao poder de um novo regime chefiado por Ashikaga Takauji, que muda a capital para Quioto, embora resida em Muromachi, um dos quarteirões da cidade, que dará o nome à segunda metade do seu xogunato. A Era Ashikaga, ou Muromachi/Ashikaga dura até 1573, mas não terá o mesmo poder que o de Kamakura. As guerras passam também a travar-se cada vez mais não apenas em campo aberto, mas também em terrenos montanhosos – domínios dos ambiciosos chefes dos clãs.
Estes chefes (cerca de 20 clãs controlavam grande parte do Japão), verdadeiros suseranos locais, que adoptam, no sec. XVI o título de daimyo, após a morte em 1489 do xogun Yoshihisa, combatem ferozmente entre si pela sucessão do xogunato, dando início a um ciclo de guerras internas denominado Sengoku Jidai, a Era do País em Guerra, que afunda o país na anarquia e miséria, perante a indiferença quase total da corte imperial.
E no entanto, nos seus castelos, estes samurais terratenentes acolhiam pintores, dramaturgos e intelectuais em saraus organizados com regularidade. Os generais samurais praticavam a caligrafia, aprendiam arranjo de flores e tocavam alaúde. Durante a feroz guerra Onin (1467-1477), quando grande parte de Quioto foi consumida pelas chamas, os oficiais entretinham-se a compor poemas e a trajar os seus luxuosos trajes de seda durante as batalhas. Mas era a cerimónia do chá o que mais apaixonava os samurais de elevado estatuto, desde que no sec. XIII, monges budistas zen introduziram os rituais para consumo do chá entre os senhores da guerra Ashikaga.
Em 1543, aventureiros portugueses que devido a uma tempestade se tinham desviado da sua rota durante uma viagem à China, introduziram no Japão as primeiras armas de fogo, os arcabuzes, que mudaram por completo as tácticas de combate. Para se poderem conquistar os castelos inimigos eram necessários exércitos cada vez maiores e além de milhares de samurais que combatiam pelo seu senhor, engrossavam-se as fileiras com agricultores forçados a combater como soldados de infantaria, (os ashigaru ou pés descalços), que muitas vezes transportavam armas de fogo. As batalhas tornaram-se cada vez mais mais sangrentas e sempre que um senhor da guerra era abatido o mundo rural via-se inundado de guerreiros sobreviventes, a partir daí desempregados – samurais sem senhor, ou ronin, homem flutuante.
No final do sec. XVI e no meio deste caos, dois homens se destacam: Oda Nobunaga (1534-1582) e Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), que inauguram a Era dos Ditadores ou Momoyama (1573-1603), conseguindo restabelecer um forte poder central.