Estátua Falsa
Só de ouro falso
meus olhos se douram;
Sou esfinge sem
mistério no poente.
A tristeza das
coisas que não foram
Na minha alma
desceu veladamente.
Na minha dor
quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em
treva se misturam.
As sombras que
eu dimano não perduram.
Como Ontem para
mim, Hoje é distância.
Já não estremeço
em face do segredo;
Nada me aloira
já, nada me aterra:
A vida cobre
sobre mim em guerra,
E nem sequer um
arrepio de medo!
Sou estrela
ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que
deixou o mar;
Sou templo
prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa
ainda erguida ao ar…
Mário de
Sá-Carneiro
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