“Os
orgulhosos não duram para sempre, mas são como o sonho de uma noite
de Primavera. Mesmo os poderosos perecerão, tal como o pó diante do
vento”.
Estas
linhas de abertura do épico Heike
Monogatari (Contos do Heike), uma
história sobre as Guerras Genpei (1180-1185), podem considerar-se o
epitáfio perfeito para os samurais, os orgulhosos senhores da
guerra japoneses que durante perto de 700 anos prevaleceram na
história do Japão, chegando mesmo a assenhorearem-se do poder e
relegando o imperador para uma simples figura decorativa.
Começando primeiro por serem cobradores de impostos
e guardas da corte, depressa se tornaram membros das milícias
privadas das autoridades senhoriais das províncias. Os “bushi”,
formando uma espécie de cavalaria hereditária e uma corporação
própria, eram também chamados, como grupo, “samurais” ou
“gente de armas”. Este grupo dos “bushi” ou “samurais”, a
palavra em si traduz-se por (aquele que serve), desenvolveu, de
forma muito semelhante à cavalaria do Ocidente, a partir do dever da
vassalagem inicial, uma nova forma de vida e uma consciência
corporativa própria.
O “Bushi-do” - o caminho do guerreiro –
baseava-se na fidelidade absoluta em relação ao senhor feudal,
exigindo, inclusivé, o sacrifício da própria vida. Os samurais
dotaram-se de um severo código de honra e de costumes, de regras de
duelo, da nobre forma de combater, do uso das armas e da atitude
moral.
O núcleo desse código era a fidelidade
incondicional ao senhor, uma vez este escolhido, e assim os senhores
dos cantões baseavam o seu poder militar nos “bushi” ou
“samurais”.
De
início, fazendo do arco e flecha a sua arma favorita de combate,
depressa o trocaram pelo sabre, pois a ferocidade do combate corpo a
corpo tornava o arco pouco operacional. No sec. IX surgiu um tipo de
sabre longo, elaborado em aço e de lamina ligeiramente recurvada com
folha única, de grande capacidade cortante, o
katana ,
que poderia chegar ao metro e meio. Durante o período de Muromachi,
inventaram o wakizashi,
sabre curto, para ser usado em conjunto com o outro.
O sabre era para o samurai como que um prolongamento
natural do seu corpo e uma parte do próprio “espírito” do
guerreiro.
Nos tempos mais recuados, os cavaleiros ainda
enfrentavam os rivais com espírito cavaleiresco, desafiando os
opositores para batalhas com arco e flechas ritualizados. Galopando
até à linha da frente, o cavaleiro apregoava a sua linhagem
familiar e o rol das suas proezas:
“Salve,
eu sou Kajiwara Heizo Kagetoki, descendente em quinta geração de
Gongoro Kagemasa de Kamakura, famoso guerreiro da Terra do Leste que
era capaz de se bater contra mil homens. Aos 16 anos foi atingido no
olho esquerdo por uma seta, que trespassou o elmo. Arrancou-a e com
ela abateu o atirador que a lançou”. Terminada a arenga os
arqueiros a cavalo disparavam as suas flechas. Em seguida, o samurai
armado de espadas e lança investia.
Também buscavam a glória caçando cabeças. Ao
terminar a batalha, o guerreiro apresentava as cabeças como troféu
ao general que o recompensava promovendo-o a um posto superior,
dando-lhe ouro ou prata, ou terras pertencentes ao clã derrotado. Os
generais exibiam as cabeças dos rivais derrotados nas praças
públicas.
Lá como cá, esse espírito foi-se perdendo conforme
os exércitos de samurais aumentavam de tamanho e muitos deles
passaram a servir como soldados de infantaria treinados para combates
corpo a corpo.
Em Quioto, na capital imperial, o imperador, embora
politicamente impotente, continuava a ser o centro sagrado do Japão.
Dominado pelos chanceleres da família Fujiwara, dos quais fazia
parte, uma vez que esta família casava as suas filhas com o
imperador reinante, governando assim o país através do seu próprio
neto, entregava-se, juntamente com a nobreza cortesã, a uma vida de
refinada ociosidade, afastando-se cada vez mais da verdadeira vida do
seu povo.
O poder militar passou para as mãos de vassalos
poderosos, que são geralmente das famílias dos Tairas ou Heike e
dos Minamoto ou Genji, que possuíam quase nove décimos do solo
nacional, dominando os Taira a Ocidente, e os Minamoto a Oriente,
graças ao seu numeroso séquito de cavaleiros.
Quando o esforço da corte imperial de Quioto para
criar um exército recrutado entre os pequenos proprietários de
terra e os camponeses fracassou, esses poderosos senhores feudais
atacam a débil corte e a posição dos Fujiwara, por volta de 1156,
mais ou menos na altura em que na Europa se organizam as primeiras
Cruzadas.
Com a queda do regime, instala-se a guerra civil
provocada pelas lutas entre os dois maiores clãs para se
assenhorearem do poder, as chamadas “Guerras Genpei”, assim
chamadas segundo as sílabas iniciais das famílias em luta e que
durou de 1180 a 1185.
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