segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A culinária na poesia

Nem só de pão vive o homem... mas o que é certo é que além de nos encher a barriga, enche também a alma dos poetas portugueses!
Folheando uma antiga revista de culinária dei com este engraçado poema de José Inácio de Araújo (1807-1927), onde o poeta lhe enaltece as virtudes ao apresentá-lo numa das suas transformações mais saborosas: a nossa magnífica açorda! 

Açorda Portuguesa

Pão de trigo sem ter sombra de joio;
Azeite do melhor, de Santarém;
Alho do mais pequeno, e do saloio,
Ponha em lume brandinho e mexa bem;

Sal que não seja inglês – porque é remédio
Toda a creança assim alimentada
É capaz de deitar abaixo um prédio,
Quatro meses depois de desmamada.

Com este bom pitéu, sem refogados,
Invenção puramente lusitana,
Os ilustres varões assignalados
Passaram inda além da Taprobana.

Fortes pela açorda, demos nós aos mouros,
Como se sabe, uma fatal derrota;
E abiscoitámos magestosos louros
Para os nobres trophéus de Aljubarrota.

J. I. D'Araújo


 
Fontes: Revista Culinária “Banquete” nº 5
Imagem: www.segredosdavo.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário