(vinheta
da CVP de 1939)
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Aldonça,
Dulcia, Doce ou Dulce (versões do mesmo nome em documentos
administrativos), a segunda rainha de Portugal, casou em 1174, aos 14
anos de idade, com o então infante D. Sancho, futuro D. Sancho I, de
vinte anos, num casamento de conveniência política, como eram
todos, negociado entre o pai do noivo, o rei português D. Afonso
Henriques e o conde Raimundo Berenguer IV, de Barcelona, pai da
noiva, o Dominador ou Protector do Reino de Aragão.
A
sua mãe, a rainha Petronilha, única herdeira do reino de Aragão,
foi dada com apenas um ou dois anos de idade em casamento ao
conde-rei Raimundo de Barcelona, que contava cerca de 24 ou 27 anos e
um dos mais bravos cavaleiros do seu tempo, com a condição deste
proteger a herança da sua pequenina esposa, sendo-lhe outorgado o
título de Protector do Reino de Aragão, estipulando-se no contrato
de casamento que o futuro filho de ambos herdaria o reino, ou no caso
de não haver descendência, seria o próprio Raimundo o herdeiro. Na
altura em que D. Dulce nasceu, por volta de 1159, já existia o seu
irmão Raimundo Berengário, que ao tornar-se príncipe herdeiro
depois da morte de um irmão mais velho, Pedro,mudará o nome para
Afonso, subindo ao trono de Aragão como Afonso II, tal como fez o
noivo de D. Dulce, o príncipe D. Sancho, nascido Martinho, após a
morte do irmão mais velho, Henrique.
Nesta
altura, o reino de Portugal ainda não tinha sido reconhecido como
tal pelo Papa, por isso ter como esposa uma filha de rainha e irmã
de um rei que beneficiara do privilégio de ser ungido pelo Papa
aquando da sua emancipação só podia trazer uma boa ajuda ao
monarca português e a união com uma princesa da linhagem real de
Aragão, cujo estatuto de reino independente já tinha sido
reconhecido em 1095, só prestigiava a própria linhagem de D. Sancho
que urgia fazer reconhecer como régia.
Não
sabemos também se ela amou o homem de “meã estatura, mui dobrado
de membros, rosto grande, boca grossa e grande, olhos pretos e
grandes, cabello castanho mui tirante a preto”, que gostava de
caça, de correr touros e dos serões da corte onde não faltavam
jograis e trovadores de que ele fazia parte, poemas e vinho, mas que
D. Dulce agradou ao marido atesta-o os cerca de 15 filhos que os
cronistas lhe apontam, embora só se conheçam onze, e o facto de
apenas se conhecerem filhos bastardos ao rei ou depois da morte da
rainha, como apontam alguns historiadores, ou já nos seus últimos
anos de vida, como referem outros. D. Sancho I apenas sobe ao trono
em 1185, pelo que a primeira década do casamento da rainha é
passada em Coimbra, sendo que depois provavelmente acompanhará a
normal itinerância da corte.
Nada
se sabe sobre o dote que trouxe ou das arras que lhe foram
concedidas, e do seu séquito sabe-se que, entre outros, trouxe
Martim de Aragão que aqui se estabeleceu e casou com D. Maria
Reimondo ou Reimondes e uma aia, D. Toda Palazim, talvez filha de D.
Palazim, cavaleiro aragonês e tenente de Saragoça, que a acompanhou
toda a vida e que depois da morte da rainha ajudou a criar os filhos
mais pequenos, sendo-lhe feita por D. Sancho I a doação do reguengo
de Entre Ambos-os-Rios.
Segundo
Luciano Cordeiro, a rainha "Formosa e excellente senhora,
tranquilla e modesta, condizente no carácter com o nome",
gostava de administrar e acrescentar a sua casa, conservando-se
indiferente à política. Suportou as ausências do marido
constantemente em batalha contra os mouros para expansão do reino,
os surtos de fome e as epidemias que o reino atravessou e que
prejudicaram a saúde do seu herdeiro Afonso, o futuro rei leproso.
Aguentou também o feitio inconstante do rei e os seus ciúmes. Diz o
Conde de Sabugosa no seu livro “Donas de Tempos Idos”:
“Conta-se
que induzido pelos murmúrios pérfidos de algumas vozes de
invejosos, picados pelo valimento de algum mimoso da côrte, valente
e galenteador. O Rei chegou a suspeitar da fidelidade de sua mulher.
A Regina Dulcia, e a manifestar a intenção de castigá-la e ao
suposto cúmplice. Ficou porém inconsolável pela sua suspeita ao
reconhecer a inocência dos dois, e pesaroso por ter dado ouvidos a
perversos caluniadores.
Dulce
de Aragão estava inocente, e não consta mesmo que, usando dos seus
encantos, quisesse vingar-se das empresas amorosas do marido”.
Se
não há a certeza que a Rainha D. Mafalda, esposa de D. Afonso
Henriques possuísse bens em Portugal, não acontece o mesmo em
relação à sua nora, pois em testamento feito em 1188, quando
tencionava visitar a Palestina, D. Sancho I deixa a sua mulher os
rendimentos de Alenquer, terras do Vouga, de Santa Maria e do Porto;
ignora-se se a rainha gozou os rendimentos de todos estes bens, mas
enquanto a Alenquer, junto a um lugar chamado Marinha fez a rainha
muitas aquisições de terras e courelas que comprou a diversos,
sendo de facto, senhora de Alenquer. Comprou também várias terras
na Beira, adquiriu Ervedel, que doou à albergaria de Poiares, perto
de Coimbra, comprou dezanove casais em Travanca (de Lagos) e as
herdades de Sameice e de Seia, pelo que se pode depreender que no
tempo de D. Sancho I, as rainhas de Portugal já tinham Casa.
Por
mandato do rei outorga algumas cartas e entre elas, em 1192, o foral
aos povoadores de Mortágua.
Era
também uma princesa muito beneficente e piedosa que frequentemente
vestia o hábito da Ordem Terceira, no entanto não fundou nem igreja
nem mosteiro algum, provavelmente porque a relação de D. Sancho I
com o clero foi sempre conflituosa, tendo sido excomungado por várias
vezes. Nos primeiros anos do seu reinado doou um cálice de prata
dourada e pedras preciosas ao Mosteiro de Alcobaça para serviço no
altar-mor conforme consta na inscrição, e outro mais pequeno para
servir nos altares laterais. Juntamente com o marido, em
1187,ofereceu também um outro cálice ao Mosteiro de Santa Marinha
da Costa, em honra de sua sogra, a rainha D. Mafalda, considerada a
fundadora do mosteiro. Na sacristia do Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra conservava-se um anel com uma esmeralda, que se diz ter
pertencido a D. Dulce.
Conhecida
como a “Rainha Fecunda” devido à sua extensa prole, o seu
primeiro herdeiro varão só nasceu ao fim de quase doze anos de
casamento e quando já toda a corte desesperava, apesar das três
infantas já nascidas. Três das suas filhas foram beatificadas,
outras foram rainhas, mas apenas assistiu ao casamento de uma delas,
a sua primeira filha, D. Teresa, rainha de Leão, pois em 1138, o seu
corpo enfraquecido por tantos partos, alguns deles múltiplos, não
resistiu ao últimos deles e à peste que então grassava no país,
tendo falecido, a 26 de Agosto de 1198.
Tanto
D. Sancho como D. Dulce foram sepultado em Santa Cruz de Coimbra, em
sepultura rasa. O rei D. Manuel I mandou levantar o rico mausoléu
que hoje contém os restos do segundo rei de Portugal e supõe-se que
o corpo da rainha se encontre dentro dele, tal como aconteceu com D.
Mafalda.
Descendência
D.Teresa
(1176-1250), casou com Afonso IX de Leão, fundou o Mosteiro feminino
de Lorvão e foi beatificada em 1705.
D.
Sancha (1177/1180-1229), fundou o Mosteiro de Celas, em Coimbra e foi
beatificada em 1705.
D.
Constança (1182-1186?) morreu em criança
D.
Afonso (1186- 1223) futuro D. Afonso II de Portugal.
D. Pedro
(1187-1258),chamado de Henrique durante o seu primeiro ano de vida,
casou com Arumbaix, condessa de Urgel, foi senhor feudal de Maiorca.
D.
Fernando (1188-1233), casou com Joana de Constantinopla, condessa da
Flandres e de Hainaut.
D.
Henrique (1190-1191), morreu em criança.
Uma
filha? (1192-?)
D.
Raimundo(1195-1196?), morreu em criança.
D.
Mafalda (1196-1257), casou com Henrique I de Castela, reestruturou o
Mosteiro de Arouca e o de Bouças e foi beatificada em 1705.
D.
Branca (1198-1240), monja e senhora de Guadalajara, fundou com a irmã
Teresa o Mosteiro de S. Domingos e está sepultada em St. Cruz de
Coimbra.
D.
Berengária (1198-1220), casou com o rei Valdemar II da Dinamarca.
Talvez
mais dois ou três filhos provavelmente mortos à nascença, ou
gravidezes que não chegaram ao fim, mas não há registos.
Fontes:
www.wikipedia.org
As
Primeiras Rainhas - Colecção Rainhas de Portugal do Circulo de
Leitores
Oliveira,
Ana Rodrigues – Rainhas Medievais de Portugal
Benevides,
Francisco da Fonseca – Rainhas de Portugal