terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sebastião da Gama


Faz hoje 60 anos que faleceu a 7 de Fevereiro de 1952, Sebastião da Gama, “o Poeta da Arrábida”.
De seu nome completo Sebastião Artur Cardoso da Gama, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, a 10 de Abril de 1924, licenciando-se em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1947 e iniciando ainda esse ano a sua actividade de professor, que exerceu em Lisboa, Setúbal e Estremoz.
Aos 14 anos foi-lhe diagnosticada uma tuberculose renal, pelo que se fixou com sua mãe no Portinho da Arrábida. O mar e a imponente Serra que dominava toda a paisagem tornaram-se nos temas principais da sua obra poética, desde logo no seu livro de estreia, Serra-Mãe, em 1945, seguindo-se “Loas à Senhora da Arrábida”, 1946, e “Cabo da Boa Esperança” em 1947.
Em carta a David Mourão-Ferreira, em 1946, defende que "a arte é a vida, nos seus matizes múltiplos, posta em beleza, não a política, não a religião, não a moral postas em beleza; que o artista verdadeiro apenas responde às vozes que chamam dentro de si - o que não quer dizer que essas vozes não tenham sido caldeadas em muitas vozes exteriores." (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - 20 Poetas Contemporâneos, 1980, p. 232).
Mesmo sabendo que não viveria muito tempo, os textos dos seus poemas caracterizam-se por uma candura muito pessoal e pelo amor à natureza e ao ser humano. Casou em 1951 com Joana Luísa, sua vizinha e amiga de infância, na Capela do Convento da Arrábida, tendo sido esta, a primeira cerimónia ali celebrada. Nesse mesmo ano, publica a sua quarta obra, “Campo Aberto”.
Em 1948 é fundada por seu intermédio, a Liga para a Protecção da Natureza, a mais antiga organização ambiental da Península Ibérica. Ao constatar a destruição gradual da Mata do Solitário, na Serra da Arrábida, seu lugar de culto, pela mão de um empresário local, Sebastião da Gama, indignado, escreveu uma carta ao Professor Doutor Baeta Neves, salvando assim aquela mata da extinção.
Colaborador das revistas Árvore e Távola Redonda, Sebastião da Gama ficou para a história, pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso “Diário”, iniciado em 1949 e editado postumamente em 1958. Interessantíssimo testemunho da sua experiência como docente, é um livro admirável em que o dia a dia de um professor nos é contado.
Sete meses após o seu casamento, morre o poeta, vitimado pela doença de que sofria desde a adolescência.
Após a sua morte, foram também editados “Pelo Sonho É Que Vamos”, 1953, ” Itinerário Paralelo”, 1967, “O Segredo é Amar”, 1969 e “Cartas I”, 1994).
As Juntas de Freguesia de São Lourenço e de São Simão instituíram, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia. No dia 1 de Junho de 1999, foi inaugurado em Vila Nogueira de Azeitão, o Museu Sebastião da Gama, destinado a preservar a sua memória e a sua obra.
A ternura que tinha pelos seus alunos e o amor que dedicava à sua profissão, estão bem expressas por estas duas frases (interrogação e resposta), que constam do seu “Diário”:
“Tens muito que fazer? Não. Tenho muito que amar” (…)


Pequeno Poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu
nem houve estrelas a mais…
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém…
para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha mãe.

Sebastião da Gama

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