segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Viagem de Bartolomeu Dias – III

 
 
 
Painel de Domingos Rebelo, 1945 – Bartolomeu Dias dobrando o Cabo das Tormentas.

…Lançaram fogo à naveta e seguindo viagem aportaram à ilha do Príncipe, onde encontraram Duarte Pacheco Pereira, doente com febres, que levaram de volta à capital do reino.
Bartolomeu Dias chegou a Lisboa em Dezembro de 1488. Descobrira, para além do navegado, 600 léguas de costa africana que apontou, légua a légua numa carta de marear, para apresentar ao seu rei!
A primeira representação cartográfica das zonas exploradas por Bartolomeu Dias é o planisfério de Henricus Martellus. Em 1652, o mercador holandês Jan van Riebeeck fundaria um posto comercial na região que, mais tarde, se tornaria a Cidade do Cabo.
Tinha resolvido, náutica e geograficamente, o problema do caminho marítimo para a Índia, a chamada Rota do Cabo. Por este feito extraordinário, não recebeu de D. João II quaisquer honras ou recompensas…Durante os cerca de quatro anos seguintes não volta ao mar, ficando como recebedor no Armazém da Guiné, em Lisboa.
Por sua vez, o rei, até à assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494, para com as missões navais, embora comece a delinear a expedição à Índia, que não chega a terminar, pois falece em 1495.
Com a subida ao trono de D. Manuel I, este envia-o para os estaleiros da Ribeira das Naus, a fim de orientar os trabalhos de construção dos barcos que iriam fazer a viagem até à Índia, dada a sua experiência na descoberta marítima do Cabo. Mas não foi a ele que o rei deu o comando da expedição…Quando a altura chegou, o capitão escolhido foi Vasco da Gama e a Bartolomeu foi ordenado que acompanhasse a expedição, sim, mas só até S. Jorge da Mina.
 A amargura e a frustração que sentiu devem ter sido enormes… mas não seria a última vez!
Em 1500, nova expedição é enviada até à Índia, e novamente é preterido em favor de Pedro Álvares Cabral! Bartolomeu segue nesta viagem comandando um dos navios, mas o seu destino é Sofala, na costa oriental africana. A Índia continuava a ser uma miragem…Tem, no entanto, a consolação de participar no descobrimento das Terras de Vera Cruz, onde permaneceram cerca de nove dias, continuando depois a sua derrota, no início de Maio desse ano.
Cerca do dia 23 do mesmo mês avistaram o Cabo da Boa Esperança, quando um forte temporal causou o naufrágio de quatro naus, entre elas, a de Bartolomeu Dias, que por mais uma ironia do Destino, veio a falecer precisamente junto da sua descoberta mais famosa - o Cabo das Tormentas.

O medonho gigante lá no fim do mar tinha finalmente a sua desforra…

 “Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança..”

 Luís de Camões - Os Lusíadas, Canto V  


Mas se “O Navegador da Passagem”(como muito bem lhe chama a escritora Deana Barroqueiro no seu romance histórico com o mesmo nome), foi esquecido pelos reis que serviu, já os dois maiores poetas da língua portuguesa o lembraram através dos seus versos:
Luís de Camões, acima citado, e Fernando Pessoa, que no seu livro “A Mensagem”, lhe escreve o seguinte epitáfio:


"Jaz aqui, na pequena praia extrema

O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,

 O mar é o mesmo: já ninguém o tema!

 Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro."

 (Depois do desaparecimento do navegador, o rei D. Manuel concedeu uma tença de 12.000 réis anuais aos filhos de Bartolomeu Dias).

Fontes:

Barroqueiro, Deana – O Navegador da Passagem

Saraiva, José Hermano – História de Portugal

Coelho, António Borges – Largada das Naus, Vol. III História de Portugal

Pessoa, Fernando – Mensagem

Camões, Luís – Os Lusíadas

 

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