sábado, 27 de outubro de 2012

Provérbios de Outubro


Em Outubro centeio ruivo.
Com a vinha de Outubro come a cabra, engorda o boi e ganha o dono.
Um castanheiro vale mais que um saco de dinheiro.
Outubro nublado, Janeiro molhado.
No Outono ponha os chouriços e o presunto ao fumeiro.
No Outono o sol tem sono.

Outubro, Novembro e Dezembro, não busques o pão no mar, mas torna o teu celeiro e abre o teu mealheiro.
Castanha do Outono vai logo para assar depois é comê -la para a saborear.
Se em Outubro te sentires gelado, lembra-te do gado.
Por S. Simão, favas no chão.
Outubro meio chuvoso torna o lavrador venturoso.
Outubro quente traz o diabo no ventre.
Outubro suão, negaças de Verão.

Por S. Simão e S. Judas colhidas são as uvas.
Em Outubro sê prudente: guarda pão, guarda semente.
Em Outubro, o fogo ao rubro.
Em Outubro, paga tudo.

Em Outubro ou secam as fontes, ou passam rios por cima das pontes.
Vindima molhada, pipa depressa despejada.
Febre outonal ou longa ou mortal.
Se as andorinhas partirem em Outubro, seca tudo.
Andar marinheiro andar, não te pegue S. Simão no mar.
No dia de S. Simão, quem não faz magusto não é bom cristão.
Por S. Simão semear sim, navegar não.

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manuel António Pina


Faleceu esta tarde, no Hospital de Santo António, no Porto, aos 68 anos de idade, o jornalista Manuel António Pina, galardoado o ano passado com o Prémio Camões.
Nascido no Sabugal a 18 de Novembro de 1943, fixou residência na cidade do Porto, aos 17 anos de idade, numa casa cheia de gatos, ou não fosse um apaixonado desta espécie. Têm sido vários, alguns com direito a nomes pomposos, como Maria Adelaide ou Hugo Afonso Coelho Vaz, ou mais coloquiais como Luís ou Zé.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi jornalista do Jornal de Notícias durante três décadas, tendo sido depois cronista desse mesmo jornal e da revista Noticias Magazine.
Foi professor na Escola Superior de Jornalismo e membro do Conselho de Imprensa
Como escritor, é autor de vários títulos de poesia, novelas, textos dramáticos e ensaios, entre os quais: em poesia - Nenhum Sítio (1984), O Caminho de Casa (1988), Um Sítio Onde pousar a Cabeça (1991), Algo Parecido Com Isto da Mesma Substância (1992); Farewell Happy Fields (1993), Cuidados Intensivos (1994), Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança (1999), Le Noir (2000), Os Livros (2003); em novela - O Escuro (1997); em texto dramático - História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas (1984), A Guerra Do Tabuleiro de Xadrez (1985); no ensaio - Anikki - Bóbó (1997); na crónica - O Anacronista (1994); e, finalmente, na literatura infantil - O País das Pessoas de Pernas para o Ar (1973), Gigões e Amantes (1978), O Têpluquê (1976), O Pássaro da Cabeça (1983), Os Dois Ladrões (1986), Os Piratas (1986), O Inventão (1987), O Tesouro (1993), O Meu Rio é de Ouro (1995), Uma Viagem Fantástica (1996), Morket (1999), Histórias que me contaste tu (1999), O Livro de Desmatemática e A Noite, obra posta em palco pela Companhia de Teatro Pé de Vento, com encenação de João Luís.
A sua obra tem merecido, frequentemente, destaque, tendo sido já homenageado com diversos prémios, como, por exemplo, o Prémio Literário da Casa da Imprensa, em 1978, por Aquele Que Quer Morrer; o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens e a Menção do Júri do Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua, em 1988, por O Inventão; o Prémio do Centro Português de Teatro para a Infância e Juventude, em 1988, pelo conjunto da obra; o Prémio Nacional de Crónica Press Clube/Clube de Jornalistas, em 1993, pelas suas crónicas; o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 2001, por Atropelamento e Fuga; e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Grande Prémio de Poesia da APE/CTT, ambos pela obra Os Livros, recebidos em 2005.

A sua vasta obra foi traduzida em França, Estados Unidos, Espanha, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Rússia, Croácia e Bulgária. A sua obra poética está reunida no volume «Todas as Palavras» (2012), editado pela Assírio & Alvim. Algumas destas obras foram adaptadas ao cinema, TV e editadas em disco.
Quando, em 2011, Manuel António Pina soube que lhe tinha sido atribuído o Prémio Camões por toda a sua obra - que inclui poesia, crónica, ensaio, literatura infantil e peças de teatro – afirmou: “É a coisa mais inesperada que podia esperar”.

 Amor como em casa
 
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraido percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
numa tarde no café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.


Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

Fontes:
www.wikipedia.pt
Infopedia
Jornal “O Sol”

 

sábado, 13 de outubro de 2012

A INTERCESSÃO DA VIRGEM

 
 
 
 
                                                     (De H. Heine)
 
Jazia o filho no leito,
A mãe olhava o balcão.
— «Não te levantas, meu filho,
Para ver a procissão?»
 
— «Ai, mãe! se estou tão doente,
Que não posso ouvir nem ver!
Penso nela... a pobre morta...
Como não hei-de eu sofrer!»
 
— «Ergue-te, filho, e à romagem
Iremos juntos a orar,
Que aos corações doloridos
Sabe a Virgem consolar.»
 
Já se ouvem os sacros hinos,
Da cruz flutua o pendão;

Em Colônia sobre o Reno

Vai passando a procissão.


 
E a mãe e o filho acompanham
A turba que segue o andor,
Dizendo em coro com ela:
-“Glória a ti. Mãe do Senhor!”.
 
II
 
Como a Senhora está linda
Com o seu mais rico vestir!
Correm-lhe em chusma os doentes
Muito tem ela que ouvir!
 
Todos lhe trazem promessas
Com ferventes devoções;
Membros, pés e mãos de cera,
Jazem no altar aos montões.
 
Quem lhe der um pé de cera,
Logo do pé sarará;
Quem mãos de cera lhe ofereça,
A mão curada verá.
 
Mancos, que à romagem foram,
Vêem-se na corda saltar;
Outros de mãos aleijadas,
Destros agora a tocar.
 
Da alva cera duma vela
Fez a mãe um coração.
— «Leva isto à Virgem Maria,
Que te cure essa paixão.»
 
Gemendo, o filho a recebe,
Gemendo a vai ofertar;
Dos olhos lhe brota o pranto
Do coração este orar:
 
— «Ó Maria gloriosa!
Serva pura e mãe de Deus:
Virgem, dos Céus Soberana,
Escuta os lamentos meus!
 
«Em Colônia, onde as igrejas
Se podem contar às cem,
Os meus dias descuidado
Passava com minha mãe.
 
«E junto de nós vivia
Margarida... a que morreu...
Dou-te um coração de cera,
Cura as feridas do meu!
 
«Cura minh'alma dorida,
Que eu com devoto fervor
Direi de dia e de noite:
— «Glória a ti. Mãe do Senhor!»
 
III
 
Alta noite, adormecidos
Jaziam o filho e a mãe,
E a Virgem mui de mansinho
Entrando no quarto vem...
 
Pendida sobre o doente
No peito a mão lhe pousou,
E com gesto suavíssimo
Sorrindo se retirou.
 
Como se através dum sonho,
Tudo isto a mãe percebeu
E acordando alvoroçada,
Junto do filho correu.
 
Estendido sobre o leito,
Morto, a triste o foi achar;
Andava-lhe a luz da aurora
Pelas faces a brincar.
 
Vendo-o assim, a mãe piedosa
Juntou as mãos com fervor
E em voz baixa disse, orando:
— «Glória a ti, Mãe do Senhor!»
 
Abril de 1864
Júlio Dinis – Poesias
 
 



terça-feira, 9 de outubro de 2012

AZTECAS

POEMA
Até o jade se parte,
Até o ouro se dobra,
Até a plumagem do quetzal se despedaça…
Não se vive para sempre na terra!
Duramos apenas um instante!
 
POEMA
O rio passa, passa
E nunca cessa.
O vento passa, passa
E nunca cessa.
A vida passa:
Nunca regressa.
 
Fonte: Poemas Ameríndios – poemas mudados para português por HERBERTO HELDER.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As Igrejas Rupestres de Ivanovo

 
 
 


Exemplo de uma pujante cultura monástica durante a Idade Média e da elaborada arte da famosa “Escola de Tarnovo, as igrejas rupestres de Ivanovo (em búlgaro: Ивановски скални църкви, Ivanovski skalni tsarkvi), são um grupo de igrejas monolíticas, capelas e monastérios rupestres de rocha sólida, localizado próximo à cidade de Ivanovo, a 20 quilômetros ao Sul de Rousse, nos bancos rochosos de Rusenski Lom, 32 metros acima do rio.

Famosas pelos seus belos e bem preservados afrescos, as cavernas da região foram habitadas pelos primeiros monges eremitas a partir do sec. XIII, quando foram encontradas pelo futuro Patriarca da Bulgária, Yoakim (Joaquim), que as ampliou, dando origem a uma colónia de conventos, bem no alto dos rochedos, relativamente a salvo de “visitantes indesejados.

A comunidade cresceu rapidamente, devido sobretudo às doações financeiras dos czares búlgaros (principalmente Ivan Assen II (1218-41), e Ivan Alexander (1331-71), e de grande parte da nobreza, sendo por isso possível que durante os sec. XIII e XIV, grandes artistas, de que infelizmente a tradição não conservou os nomes, pintassem as inúmeras igrejas e capelas, deixando para a posteridade um exemplo magnífico da pintura búlgara medieval.

Grande parte das pinturas murais estão hoje destruídas ou extremamente degradadas, mas ainda podem ser observadas em 5 igrejas, como a Capela do Arcanjo Miguel, o Batistério, a Igreja de Gospodev (Vale do Senhor), a Igreja de São Teodoro e a igreja principal.

Apesar da irregularidade das superfícies, os artistas da igreja de Ivanovo, a quem os locais chamam simplesmente “a Igreja”, e onde se encontram algumas das pinturas mais significativas, conseguiram criar uma certa vivacidade nas figuras ali representadas, dotando-as de uma gestualidade própria e específica, mais próprias da chamada “escola de pintura de Tarnovo”, do que da pintura bizantina então dominante.

A “igreja” que mede cerca de 12 metros de comprimento, foi cuidadosamente talhada na rocha e compõe-se de três partes: o corpo central (nave), o pórtico (nártex) e a capela, estando as suas paredes, antigamente, completamente revestidas de pinturas murais, podendo apreciar-se numa delas, o czar Ivan Alexander fazendo a entrega simbólica da igreja a Maria, Mãe de Deus. 

Abundam também motivos da Antiguidade, entre os quais se contam cariátides nuas, colunas apoiadas em corpos de leões e máscaras. O mesmo se passa nas pinturas murais da antiga capital, Tarnovo, e na igreja de Bojana.

Nas celas dos monges, que no seu apogeu, chegaram a ser 300, ainda se conservam muitas das inscrições seculares gravadas na pedra, incluindo as do monge Ivo Gramatik que datam de 1308 e 1309.

Por uma destas inscrições, ficamos a saber que o czar Ivan Terter (1279-1292), ali passou o resto da sua vida e ali foi enterrado.

As igrejas rupestres de Ivanovo foram classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO, em 1979.

 
 

Além deste conjunto de igrejas, a Bulgária tem mais 8 locais aprovados pela Unesco: Igreja de Boyana, Cavaleiro de Madara, Túmulo Trácio de Kazanlak, Mosteiro de Rila, Cidade Antiga de Nessebar, Reserva Natural de Srebarna, Parque Nacional Pirin e Túmulo Trácio de Sveshtari.
 Fontes : www.wikipedia.org
Jornal O Público – Tesouros da Humanidade e da Natureza
Imagens: www.wikipedia.org