Para acabar com
esses rumores, o rei permitiu um parto público, pelo que, no momento do
nascimento da pequena infanta, a quem foi dado o mesmo nome da mãe,
encontravam-se, além do Rei e do arcebispo de Toledo, vários senhores da grande
nobreza castelhana, certificando com a sua presença conforme os costumes da
época, que não havia troca de crianças e se tratava realmente do filho do rei e
da rainha.
Apesar disso, e
de se constar muito em segredo que a rainha teria engravidado através de
fecundação assistida praticada pelo médico judeu da corte com processos
rudimentares (a primeira de que se tem conhecimento), a pedido do próprio
Henrique IV para quem o nascimento de um herdeiro era absolutamente vital, os
boatos sobre a infidelidade da rainha aumentaram quando se soube que oito dias
antes do nascimento da princesa, o rei tinha elevado D. Béltran de la Cueva a
conde de Ledesma!
A partir daí, a
pequena Joana passou a ser apelidada de “a Beltraneja” pela forte facção dos
nobres que se opunham ao rei, o que não impediu que fosse reconhecida como
herdeira do trono nas Cortes de Toledo, reunidas nesse mesmo ano.
Dois anos depois
do nascimento de Joana, o monarca, incapaz de resistir às pressões dos seus
opositores e para evitar maiores confrontos, aceitou nomear o seu meio-irmão
Afonso, de onze anos de idade, como seu sucessor, na condição de que este
casasse com a sobrinha. Desta maneira, o próprio pai reconhecia publicamente a bastardia
da filha!
Como mesmo assim as intrigas palacianas e a
contestação não abrandassem, Henrique IV procurou apoio militar em Portugal,
oferecendo ao rei D. Afonso V, seu cunhado e viúvo há vários anos, a mão da sua
meia-irmã Isabel, negociando também o casamento do príncipe herdeiro português,
João, com a sua filha Joana.
A oferta era
excelente para Portugal, mas o rei português apesar de ter assinado os
capítulos do contracto matrimonial em Setembro de 1465, não se deu a grandes
pressas e a oportunidade gorou-se para desgosto do príncipe de Portugal, entusiasmado
com esse casamento.
Mas em Castela
os anos que se seguiram foram bastante conturbados, ficando a rainha e a
princesa “reféns” das mais poderosas famílias que apoiavam, ou melhor,
dominavam o rei. A rainha D. Joana foi entregue à guarda do arcebispo de
Sevilha, acabando por se apaixonar por um sobrinho deste, de quem teve dois
filhos, o que não obstou a que até ao fim da sua vida lutasse pelos direitos
sucessórios da filha. Ao contrário do marido, fraco e indeciso, a rainha de
Castela tinha um caracter forte e enérgico que até os seus adversários reconheciam…Contudo,
esta paixão foi funesta para a sua reputação e em nada beneficiou a filha.
Em 1468 morre em
Castela o infante D. Afonso vitimado pela peste, e as forças contrárias ao rei
através do pacto de Toros de Guisando, impõem a infanta Isabel como herdeira do
trono castelhano, ao que Henrique IV, velho e cansado, mais uma vez acedeu, com
a condição de que a infanta se não poderia casar sem o seu consentimento. Novamente
Joana era humilhantemente preterida, desta vez em favor da sua tia e madrinha, apenas
o tutor da pequena princesa protestou junto do papa contra a exclusão da
legítima herdeira. Neste pacto, o rei concordou também em separar-se da rainha,
devido ao seu adultério.
Quando em 1469,
o Papa Paulo II envia a bula de dispensa de impedimento de casamento devido à
proximidade de parentesco, Isabel quebrou o acordo e à revelia do irmão
casou-se com o príncipe herdeiro de Aragão. Furioso, Henrique IV revoga o pacto
anterior e Joana volta novamente a ser declarada a legítima sucessora do trono
castelhano, depois de sua mãe ter jurado de que ela era verdadeiramente filha
legítima do rei, primogénita e única herdeira do reino, juramento esse feito
publicamente durante uma missa celebrada para o efeito, assistida pelo rei e
parte da nobreza, sendo esse juramento sacramentado pela comunhão, após o que a
rainha se recolheu ao Convento de S. Francisco de Madrid.
Em Outubro de
1470 é proclamada Princesa das Astúrias e outro noivo se perfila no
horizonte…Desta vez a escolha recaiu sobre Carlos, duque de Guyenne e Berry, irmão
de Luís XI de França, tendo-se realizado os esponsais por procuração. Mas como
diz o velho ditado – Quando a sorte é adversa nada vale ao infeliz – ainda não
foi desta vez que a pequena princesa de oito anos conheceu o noivo. Em 1472 o
duque morre e a dança matrimonial continua…
As atenções
voltam-se novamente para Portugal, mas como o príncipe João entretanto se tinha
casado com sua prima Leonor, a mão de Joana foi oferecida ao rei D. Afonso V. Enquanto
as negociações decorriam, o monarca castelhano que já se encontrava doente
morre em 1474, ao regressar de uma caçada, e seis meses depois morria a rainha
Joana, deixando a jovem princesa entregue aos cuidados dos seus tutores, o
cardeal de Espanha, o duque de Arévalo, o marquês de Vilhena, o condestável de
Castela e o conde de Benavente.
Com apenas doze
anos de idade, Joana encontrava-se órfã de pai e de mãe, à espera de um marido
que defendesse os seus direitos à Coroa castelhana, pois assim que o rei
morreu, a infanta Isabel proclamou-se como a legal sucessora ao trono, com base
no testamento do seu pai, o rei João II, e na ilegitimidade da “Beltraneja”,
fazendo-se jurar como rainha de Castela.
E aí o rei português
acordou! Ao ver tão ao seu alcance a Coroa de Castela, o último rei cavaleiro
da Idade Média em Portugal, pôs de lado o seu longo celibato de vinte e três anos
e correu em socorro da sua pequena dama…
Senhor, a meu ver, D. Afonso V consumou este casamento logo depois de casar. Nenhum rei esperou que o papa legitimasse seus casamentos. O papa apartou vários casai com filhos, mas nunca impediu a consumação do casamento. A história de Portugal tem muita coisa esdrúxula, sem explicação. D. Afonso V não era um fraco qualquer, nem era dado à mulheres, portanto, tratou logo de consumar o casamento que era o que mais precisava. Acho que houve geração. Temos que procuraar a verdade. Obrigada.
ResponderEliminar