Na cabeceira do seu túmulo e em
contraponto com o Calvário esculpido no monumento de D. Inês, D. Pedro mandou
esculpir uma dupla roda, tratada à maneira de rosácea gótica, uma Roda da Vida
e uma Roda da Fortuna, em que cada uma das rodas tem a sua estrutura narrativa
própria. A narrativa central desenrola-se ao longo de seis pétalas, evoca a
vida comum de Pedro e Inês, aproximando-se da Roda da Fortuna.
Esta rosácea assim trabalhada e
aplicada num túmulo é um caso único em toda a tumulária portuguesa ou europeia.
Não se conhece outra igual.
Como existem várias interpretações para a
leitura destas Rodas, principalmente para a inscrição final, aqui deixo estas.
A Roda da Vida possui 12 edículas
com os momentos da vida amorosa e trágica de D. Pedro e de D. Inês. Na leitura
das edículas (feita no sentido ascendente e da esquerda para a direita),
podemos observar: D. Inês acaricia um dos filhos; o casal convive com os três
filhos; D. Inês e D. Pedro jogam xadrez; os dois amantes mostram-se em terno
convívio; D. Inês subjuga uma figura prostrada no chão; D. Pedro sentado num
grandioso trono; D. Inês apanhada de surpresa pelos assassinos enviados pelo
rei D. Afonso IV; D. Inês desmascarando um dos seus assassinos; degolação de D.
Inês; D. Inês já morta; castigo dos assassinos de Inês; D. Pedro I envolto numa
mortalha.
Nas edículas interiores – Roda da
Fortuna – podemos observar (no mesmo sentido da Roda da Vida): D. Inês sentada
à esquerda de D. Pedro (por ainda não estarem casados); o casal troca de
posição (D. Inês sentada à direita de D. Pedro, o que indica que já estão
casados); D. Pedro e D. Inês sentados lado a lado parecendo um retrato oficial;
D. Afonso IV a expulsar (pelo apontar do dedo) Inês do reino; D. Inês repele um
homem que parece ser de novo D. Afonso IV; D. Pedro e D. Inês prostrados no
chão subjugados pela figura híbrida da Fortuna que segura com as mãos a roda.
Na parte inferior da rosácea, e no
pequeno túmulo com uma estátua jacente – certamente a de D. Pedro –está
gravado: ATÉ A FIM DO MUNDO.
Reynaldo dos Santos (1924), tem uma
outra interpretação: Ele nota a presença de Adão e Eva na parte superior, fora
da rosácea. As figuras foram mutiladas, mas é inegável a sua interpretação.
Quanto à rosácea, trata-se de uma Roda da Fortuna, tema iconográfico
tradicional. Os vários registos da rosácea representam cenas da vida humana,
desde a educação na meninice até à morte, com as suas lutas e seus combates.
Colocada no túmulo do rei, esta Roda da Fortuna opor-se-ia ao Juízo Final
esculpido no de D. Inês. A inscrição “A : E : AFIN : DOMUNDO” ler-se-ia assim:
A(lpha) E A FIN DO MUNDO. “O começo (alpha) e o fim do mundo”, interpretação
que estaria confirmada pela presença de Adão e Eva. O pequeno jacente colocado
por debaixo da inscrição representaria o homem esperando a ressurreição.
Por sua vez, António de Vasconcelos
(1928), leu a inscrição assim: A(qui) E(spero) A FIN DO MUNDO, “Aqui espero
pelo fim do Mundo”.
Frei Fortunato de São Boaventura
(1827) lera assim este texto enigmático: Este he o fim do mundo, leitura que
corrigiu depois para: Esta he a fin do mundo, (Este é o fim do mundo).
A 1 de Agosto de 1569, o rei D.
Sebastião mandou abrir os túmulos. O de D. Inês foi danificado no tampo pelos
operários. Nesta ocasião o rei referiu-se a D. Pedro, censurando abertamente o
seu amor por D. Inês. Um dos monges que presenciavam a cena, Frei Francisco
Machado, não hesitou em repreender o soberano. “Para satisfazer ao Senhor D.
Sebastião o castigou o Cardeal-Infante D. Henrique publicamente, e em
particular o louvou e agradeceu a sua rezolução.” Martinho da Fonseca (1924).
Durante a invasão francesa, em 1810,
os soldados violaram os túmulos, causando danos irreparáveis no lado direito do
de D. Pedro. O corpo do rei estava mumificado e revestido de um manto púrpura.
Fontes e Imagens:
www.wikipedia. org.
Os Túmulos de D. Pedro e de Dª Inês
em Alcobaça, por José Custódio Vieira da Silva.
Alcobaça – Dom Maur Cocheril
Iconografia dos Túmulos de D. Pedro
e D. Inês – Manuel Vieira Natividade
Expressões artísticas do Universo
Medieval – Maria José Goulão
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