O
Juramento dos Horácios – Jacques-Louis David (1784)
Le
Serment des Horace (O Juramento dos Horácios) de Jacques-Louis David
(Paris, 30
de Agosto de 1748 - Bruxelas, 29 de Dezembro de 1825), é
uma pintura a óleo concluída em 1784, de 3,3 por 4,25 metros, e
encontra-se no Museu do Louvre, em Paris.
A
intenção do pintor era fazer deste quadro uma arma de propaganda
mas nem mesmo ele podia prever o sucesso que teria. A obra mostra uma
cena da história romana, onde os cidadãos republicanos, na
qualidade de homens livres, pegam em armas para decidirem eles o
destino do Estado. Neste caso não são portanto reis ou condes que
tomam as decisões, mas sim cidadãos que se empenham
responsavelmente pelo bem da nação.
Quando
foi pintado, tinha David 27 anos, o antigo regime da monarquia
francesa com base no direito divino dos reis, tinha apenas mais 4
anos de vida. Em 1789, a Revolução Francesa, que David apoiava
desde o início, sendo amigo de Robespierre e membro do Grupo dos
Jacobinos, implantou uma nova ordem política, o Estado nação
republicano, com os seus ideais de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Ironicamente,
este quadro foi encomendado pelo rei Luís XVI, que morreria na
guilhotina em 1793, sendo um dos votos favoráveis à sua execução
do próprio David.
Heróico,
autoritário e de composição impecável, o quadro personifica o
novo sonho político em que a França se encontrava mergulhada e tem
por base um episódio passado na Antiga Roma.
Verdadeira
ou lendária a luta entre Horácios e Curiácios foi registada, no
século I a. C., pelo escritor latino Tito Lívio na obra "Ab
Urbe Condita" e séculos mais tarde recuperada pelo dramaturgo
francês Pierre Corneille (1606-1684) na tragédia "Horace". Reza
a história que no Lácio, o país dos Latinos, havia diversas
cidades, sendo Alba Longa a mais antiga e Roma a mais recente. Por
volta do ano 669 a.C., Roma teve um rei belicoso na pessoa de Tullus
Hostilius que, um dia resolveu entrar em guerra com a sua metrópole.
Os exércitos das duas cidades já estavam dispostos em ordem de
batalha, prontos a lançarem-se uns sobre os outros, mas hesitando em
cometer um acto tão ímpio dado os estreitos laços que os uniam.
Decidiram
então que a querela seria resolvida por um duelo. Havia justamente
nas fileiras de cada um dos exércitos três irmãos, os três
Horácios no lado romano e os três Curiácios no de Alba Longa.
Foram eles os escolhidos para travarem o combate decisivo, tendo
ficado estipulado que a pátria dos vencedores reinaria sobre a dos
vencidos.
A
um sinal combinado, os seis jovens lançarem-se uns sobre os outros,
até que, dois dos romanos caíram feridos de morte. Os três
Curiácios estavam feridos, mas agora eram três contra um. Já as
aclamações dos Albanos soavam, quando o Horácio sobrevivente se
pôs em fuga. Ao irem atrás dele, os Curiácios separaram-se e
astuciosamente, o romano foi eliminando um de cada vez.
Voltando
a Roma triunfante, à frente do seu exército e sob os aplausos da
população que o aclamava como herói, Horácio tem à sua espera
as mulheres da família, entre as quais Sabina, irmã dos Curiácios
e mulher de um dos Horácios e a sua irmã Camila, que estava noiva
de um dos Curiácios e se desfaz em prantos ao ver o manto do seu
amado entre os troféus que o irmão exibia. Irritado, Horácio
arremete contra a irmã e trespassa-a com a sua espada exclamando:
“Que morra assim todo o romano que chore a morte de um inimigo!”.
Este
acto do vencedor fez calar todos os aplausos e, apesar do imenso
serviço que ele tinha prestado à sua cidade, Horácio foi levado
perante o tribunal e condenado à morte. Mas o povo acedeu ao pedido
do seu velho pai, que suplicou lhe deixassem o seu último filho.
O
cenário arquitectural do quadro é nitidamente romano, com três
arcos dóricos sustentados por colunas também dóricas que
correspondem ao agrupamento das figuras. Cada grupo ou indivíduo
está emoldurado por um dos arcos, sugerindo o seu isolamento e os
laços que os unem. A austera coluna dórica, caracterizada pela
ausência de base, era considerada de carácter masculino e militar.
A
lança, que mal se nota na arcada escura, é o único ornamento deste
espaço nú e desprovido de qualquer luxo doméstico e serve também
para equilibrar o ângulo do corpo do pai, quase ao centro da tela.
Os
três irmãos são apresentados como modelos do soldado ideal. Os
rostos amargos e determinados e a sua linguagem corporal transmitem a
mensagem de que o dever e a disciplina são a virtude suprema e se
necessário morrerão por elas.
No
centro da pintura verifica-se a acção principal : O ritual do
juramento. A pose heróica do pai acentua a nobreza do seu
sacrifício. Nas suas mãos segura as três espadas para onde se
estendem as mãos dos seus filhos no momento de prestarem o seu
juramento, iluminadas pela viva luz do sol. O pai olha para os céus,
em direcção aos deuses, os filhos têm as pernas firmemente
assentes no solo e o soldado mais próximo é agarrado pelo irmão
com toda a força em volta da cintura.
As
togas foram fielmente copiadas de exemplares romanos, tal como os
elmos e as espadas. O pintor assegurou-se de que cada pormenor fosse
o mais preciso possível e até os narizes dos homens, são do feitio
conhecido por “nariz romano”.
A
cor dominante neste grupo masculino é o vermelho-vivo, a cor da
paixão, que se iria tornar na cor tradicional da Revolução.
No
entanto, todo este grupo masculino projecta a sua sombra escura sobre
o canto onde duas crianças se abrigam sob o manto protector da avó,
a mãe dos Horácios. A criança mais velha, embora assustada, afasta
a mão da velha senhora e olha para as espadas com os olhos muito
abertos. A sombra indica que até crianças inocentes devem estar
dispostas a pagar o preço exigido pela lealdade ao Estado.
Também
a atitude firme e determinada dos homens contrasta com a posição
desfalecida das duas outras mulheres sentadas que assistem à cena e
cujas mãos pendem inertes e passivas. Também elas iluminadas pela
luz do sol, são a personificação da tragédia e da angústia. A
mulher de branco é Sabina, irmã dos Curiácios e mulher de um dos
Horácios que prestam juramento. Encosta-se à cunhada Camila, noiva
de um dos Curiácios e que será morta por um dos seus irmãos.
Com
esta obra Jacques-Louis David pretendeu mostrar que o cumprimento do
dever está acima de qualquer sentimento pessoal, o Estado acima do
indivíduo.
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