quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Christina Georgina Rossetti

Christina Georgina Rossetti (Londres, 5 de Dezembro de 1830 – Londres, 29 de Dezembro1894), foi uma poetisa inglesa, filha do escritor e poeta italiano Gabriele Rossetti (1734-1854), refugiado político do Reino das Duas Sicílias, casado com Frances Polidori, filha de Gaetano Polidori, secretário do escritor italiano Alfieri.
Deste casamento nasceram quatro crianças, sendo Christina a mais nova. Dois dos seus irmãos, Dante Gabriel Rossetti (1828-1882), pintor e depois poeta e William Michael (1829-1919), inspector dos impostos e crítico de arte foram os fundadores em 1848 do movimento pré-rafaelita, também conhecido como Irmandade Pré-Rafaelita (Pre-Raphaelite Brotherhood ou PBR em inglês), ou simplemente Pré-Rafaelitas, um grupo artístico dedicado principalmente à pintura.
Educada em casa, partilha dos interesses culturais da família e contribui para os jornais familiares. Anglicana devota, o seu noivado com o pintor James Collinson, amigo de seu irmão e membro do mesmo movimento é desfeito em 1850 quando o noivo se converte ao catolicismo, o mesmo se passando anos mais tarde com outro pretendente, mas porque este não sabia se era crente. Encerra-se em casa, embora esta seja frequentada por vários dos amigos dos seus irmãos, como Whistler, Swinburne, também pertencentes à Irmandade ou Lewis Carrol.
Ao todo, Christina escreveu mais de 1100 poemas, estreando-se aos doze anos com um poema dedicado ao aniversário de sua mãe. Em 1874, o avô publica-lhe um pequeno livro de poesia em inglês e italiano. Toda a sua obra acabará sendo recolhida em Poetical Works, editada em 1904 pelo seu irmão William, com uma dedicatória.
Em 1850 começa a contribuir para a revista The Germ com cinco textos usando o pseudónimo de Ellen Alleyn.
Em 1862, publica aquele que é tido por todos como o primeiro grande êxito literário da Irmandade e o melhor trabalho de Christina (embora lhes tivesse servido de modelo, nunca foi considerada um membro a tempo inteiro), Goblin Market and Other Poems (Mercado de Duendes e Outros Poemas). Ilustrado pelo seu irmão Dante, tem posteriormente diversas edições em Inglaterra e nos Estados Unidos.
Em 1883 é-lhe encomendada uma biografia da poetisa Elizabeth Barrett Browning, que recusa por falta de cooperação do também poeta Robert Browning, marido de Elisabeth.
A obra de Christina Rossetti notabilizou-se pela originalidade, simplicidade, religiosidade e profundidade sentimental, sendo muita dela atravessada por uma melancolia por vezes rasando o mórbido.
Morre em Londres a 29 de Dezembro de 1894, de cancro da mama, surgido em 1893.







Ilustração de Dante Gabriel Rossetti para a capa de Goblin Market and Other Poems (1862), primeiro de poemas de Christina Rossetti 

Song

When I am dead, my dearest,
Sing no sad songs for me;
Plant thou no roses at my head,
Nor shady cypress tree;
Be the green grass above me
With showers and dewdrops wet;
And if thou wilt, remember,
And if thou wilt, forget.

I shall not see the shadows,
I shall not feel the rain;
I shall not hear the nightingale
Sing on, as if in pain;
And dreaming through the twilight
That doth not rise nor set,
Haply I may remember
And haply may forget.

Quando estiver morta, querido amor,
Não cantes canções tristes por mim,
Não plantes rosas sobre a minha cabeça,
Nem um ombroso cipreste;
Que nasça a verde erva sobre mim
Regada de gotas e orvalho;
E se te apetecer, recorda,
E se te apetecer, esquece.

Eu não mais verei as sombras,
Não sentirei a chuva,
Nem ouvirei o rouxinol
A cantar como se sofresse;
E sonhando num crepúsculo
Que não nasce nem se põe,
Talvez possa recordar
Talvez possa esquecer.

Christina Rossetti – in Goblin Market and Other Poems

Fontes: wikipedia org.
Os Poetas Pré-Rafaelitas, Antologia Poética – Círculo de Leitores
 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Os Burgueses de Calais



Uma das 12 cópias do grupo, em Londres
O Monumento aos Burgueses de Calais, que ocupou Rodin durante onze anos, evoca um episódio da Guerra dos Cem Anos, relatado pelo cronista Froissart nas suas “Crónicas de França”, (1370-1400).
A história narra o patriotismo e a coragem de seis dos mais notáveis cidadãos de Calais, que voluntariamente se ofereceram como reféns ao rei Eduardo III de Inglaterra, para que levantasse o cerco da cidade e salvasse as populações famintas. Rodin retrata estes mártires num momento crucial, quando se dispunham a abandonar a Praça do Mercado a caminho da execução.
O Cerco de Calais
Eduardo III, de Inglaterra, que através da sua linhagem materna, reclamava também o reino de França, invadiu o reino e depois de derrotar os franceses nas Batalhas de Sluyis em 1340 e de Crécy em 1346, necessitava de um porto de águas profundas para garantir o transporte dos abastecimentos provenientes de Inglaterra.
Calais, situada no Estreito de Dover, no ponto mais estreito do Canal da Mancha, e sendo a cidade francesa mais próxima da Inglaterra, estava perfeitamente apropriada para os propósitos do monarca inglês. Era altamente defensável, com duplo fosso e muralhas que tinham sido erguidas cem anos antes. A cidadela no lado noroeste da cidade tinha o seu próprio fosso e fortificações adicionais. Assim, o rei inglês reivindicou-a por direito, mediante o seu título de conde de Ponthieu
A cidade foi cercada no dia 3 de Setembro de 1346 por um exército de cerca de 34.000 homens comandados pelo próprio rei, enquanto que dentro da cidade as forças francesas comandadas pelo governador Jean de Vienne, contavam apenas com 7 a 8.000 cidadãos.
Apesar da disparidade dos números, e mesmo sabendo que não conseguiriam ser socorridos pelos seus, os franceses resistiram heroicamente aguentando o cerco, e capitulando apenas quando a fome que já grassava na cidade se tornou insuportável , precisamente no dia 4 de Agosto de 1347, onze meses mais tarde.
Furioso com esta longa demora, Eduardo III ordenou primeiro a execução em massa dos habitantes, mas acabou por aceitar poupar-lhes a vida em troca da presença dos seis homens mais importantes da cidade, descalços, vestidos apenas com as roupas interiores e de baraço ao pescoço.
Eustache de Saint-Pierre, o mais velho e rico dos burgueses foi o primeiro a oferecer-se para o sacrifício, no que foi seguido por Jean d'Aire, que levava a chave do castelo, Pierre et Jacques de Wissant, Andrieu d’Andres y Jean de Fiennes.
Mas no momento em que o rei ia dar o sinal para serem executados, sua esposa, a rainha Philippa de Hainaut, que se encontrava grávida e tinha acompanhado o marido durante o cerco, ao ver os seis infelizes suando de calor e tremendo de medo pela cólera do rei, cobertos de trapos, com a corda ao pescoço, trazendo nas mãos as chaves da cidade e do castelo, ajoelhou-se aos pés do marido, suplicando por misericórdia, em nome do filho ainda por nascer.
Impressionado com a bondade da rainha, Eduardo acalmou-se e mandou que os libertassem.
Calais continuou inglesa até ao reinado de Maria Tudor, quando a França reconquistou definitivamente a cidade.
Em Setembro de 1884, o município de Calais, propôs erigir um monumento, com a ajuda de uma subscrição nacional, ao heroísmo de Eustache de Saint-Pierre e seus companheiros. Para isso foram escolhidos dois artistas que não puderam executar a obra; o primeiro, David d'Angers porque ter falecido e o segundo, Auguste Clésinger, devido à guerra Franco-Prussiana. Foi feito então um convite a vários escultores, Rodin incluído, para apresentarem os seus esboços.
Baseado no relato histórico de Froissart, o escultor põe mãos à obra, ainda sem um contrato definitivo. Logo a partir da primeira maquete, impõe-se a noção de sacrificio colectivo. Não é um burguês de Calais que ele quer representar, mas sim seis, numa lenta procissão para a morte Os personagens que todavia não estão individualizados, apresentam-se num mesmo plano, movendo-se em torno uns dos outros, sem se tocarem e sem distinção de hierarquias, vestidos com a camisa dos condenados. Os pés e as mãos das figuras são demasiado grandes para o seu tamanho e os gestos tetrais ainda mais enfatizam as suas diferentes atitudes face ao martírio; ira, medo, orgulho...Eustache de Saint-Pierre, o mais velho, no centro do grupo inclina-se para a frente, as mãos caídas, pesadas, Jean d'Aire de cabeça erguida, desafiante, leva nas mãos uma chave enorme, as pernas afastadas, Andrieu d'Andres leva as mãos à cabeça, em desespero e Jean de Fiennes, o mais novo e o mais relutante, abre os braços com as mãos viradas para dentro . O seu vizinho, Pierre Wissant, com a mão direita levantada e o indicador apontado para si mesmo parece perguntar: Porquê eu? . Jacques Wissant atrás de Eustache, levanta a mão numa interrogação ou protesto
O grupo forma uma espiral, obrigando assim o espectador a rodeá-las para que as possa observar na sua totalidade.
Feito em bronze, o monumento é, sem dúvida alguma, uma das sua obras mais importantes. Foi inaugurado na Praça do Soldado Desconhecido, diante da prefeitura de Calais, em 1895, apesar das muitas críticas que recebeu.
Actualmente existem vários exemplares desta famosa escultura no mundo.


Fontes:
Marsh, w.b. E Bruce Carrick – 365 grande histórias da História
www.museu.gulbenkian.pt/
wikipedia.org