Uma das 12 cópias do grupo, em
Londres
|
O Monumento aos Burgueses de Calais,
que ocupou Rodin durante onze anos, evoca um episódio da Guerra dos
Cem Anos, relatado pelo cronista Froissart nas suas “Crónicas de
França”, (1370-1400).
A história narra o patriotismo e a
coragem de seis dos mais notáveis cidadãos de Calais, que
voluntariamente se ofereceram como reféns ao rei Eduardo III de
Inglaterra, para que levantasse o cerco da cidade e salvasse as
populações famintas. Rodin retrata estes mártires num momento
crucial, quando se dispunham a abandonar a Praça do Mercado a
caminho da execução.
O
Cerco de Calais
Eduardo
III, de Inglaterra, que através da sua linhagem materna, reclamava
também o reino de França, invadiu o reino e depois de derrotar os
franceses nas Batalhas de Sluyis em 1340 e de Crécy em 1346,
necessitava de um porto de águas profundas para garantir o
transporte dos abastecimentos provenientes de Inglaterra.
Calais,
situada no Estreito de Dover, no ponto mais estreito do Canal da
Mancha, e sendo a cidade francesa mais próxima da Inglaterra,
estava perfeitamente apropriada
para os propósitos do monarca inglês. Era altamente defensável,
com duplo fosso e muralhas que tinham sido erguidas cem anos antes. A
cidadela no lado noroeste da cidade tinha o seu próprio fosso e
fortificações adicionais. Assim, o rei inglês reivindicou-a por
direito, mediante o seu título de conde de Ponthieu
A cidade foi cercada no dia 3 de
Setembro de 1346 por um exército de cerca de 34.000 homens
comandados pelo próprio rei, enquanto que dentro da cidade as forças
francesas comandadas pelo governador Jean de Vienne, contavam apenas
com 7 a 8.000 cidadãos.
Apesar da disparidade dos números,
e mesmo sabendo que não conseguiriam ser socorridos pelos seus, os
franceses resistiram heroicamente aguentando o cerco, e capitulando
apenas quando a fome que já grassava na cidade se tornou
insuportável , precisamente no dia 4 de Agosto de 1347, onze
meses mais tarde.
Furioso com esta longa demora,
Eduardo III ordenou primeiro a execução em massa dos habitantes,
mas acabou por aceitar poupar-lhes a vida em troca da presença dos
seis homens mais importantes da cidade, descalços, vestidos apenas
com as roupas interiores e de baraço ao pescoço.
Eustache de Saint-Pierre, o mais
velho e rico dos burgueses foi o primeiro a oferecer-se para o
sacrifício, no que foi seguido por Jean d'Aire, que levava a chave
do castelo, Pierre et Jacques de Wissant, Andrieu d’Andres y Jean
de Fiennes.
Mas no momento em que o rei ia dar o
sinal para serem executados, sua esposa, a rainha Philippa de
Hainaut, que se encontrava grávida e tinha acompanhado o marido
durante o cerco, ao ver os seis infelizes suando de calor e tremendo
de medo pela cólera do rei, cobertos de trapos, com a corda ao
pescoço, trazendo nas mãos as chaves da cidade e do castelo,
ajoelhou-se aos pés do marido, suplicando por misericórdia, em nome
do filho ainda por nascer.
Impressionado com a bondade da
rainha, Eduardo acalmou-se e mandou que os libertassem.
Calais continuou inglesa até ao
reinado de Maria Tudor, quando a França reconquistou definitivamente
a cidade.
Em Setembro de 1884, o município de
Calais, propôs erigir um monumento, com a ajuda de uma subscrição
nacional, ao heroísmo de Eustache de Saint-Pierre e seus
companheiros. Para isso foram escolhidos dois artistas que não
puderam executar a obra; o primeiro, David d'Angers porque ter
falecido e o segundo, Auguste Clésinger, devido à guerra
Franco-Prussiana. Foi feito então um convite a vários escultores,
Rodin incluído, para apresentarem os seus esboços.
Baseado no relato histórico de
Froissart, o escultor põe mãos à obra, ainda sem um contrato
definitivo. Logo a partir da primeira maquete, impõe-se a noção de
sacrificio colectivo. Não é um burguês de Calais que ele quer
representar, mas sim seis, numa lenta procissão para a morte Os
personagens que todavia não estão individualizados, apresentam-se
num mesmo plano, movendo-se em torno uns dos outros, sem se tocarem e
sem distinção de hierarquias, vestidos com a camisa dos condenados.
Os pés e as mãos das figuras são demasiado grandes para o seu
tamanho e os gestos tetrais ainda mais enfatizam as suas diferentes
atitudes face ao martírio; ira, medo, orgulho...Eustache de
Saint-Pierre, o mais velho, no centro do grupo inclina-se para a
frente, as mãos caídas, pesadas, Jean d'Aire de cabeça erguida,
desafiante, leva nas mãos uma chave enorme, as pernas afastadas,
Andrieu d'Andres leva as mãos à cabeça, em desespero e Jean de
Fiennes, o mais novo e o mais relutante, abre os braços com as mãos
viradas para dentro . O seu vizinho, Pierre Wissant, com a mão
direita levantada e o indicador apontado para si mesmo parece
perguntar: Porquê eu? . Jacques Wissant atrás de Eustache, levanta
a mão numa interrogação ou protesto
O grupo forma uma espiral, obrigando
assim o espectador a rodeá-las para que as possa observar na sua
totalidade.
Feito em bronze, o monumento é, sem
dúvida alguma, uma das sua obras mais importantes. Foi inaugurado na
Praça do Soldado Desconhecido, diante da prefeitura de Calais, em
1895, apesar das muitas críticas que recebeu.
Actualmente existem vários
exemplares desta famosa escultura no mundo.
Fontes:
Marsh,
w.b. E Bruce Carrick – 365 grande histórias da História
www.museu.gulbenkian.pt/
wikipedia.org
Sem comentários:
Enviar um comentário