terça-feira, 4 de agosto de 2015

Os Burgueses de Calais



Uma das 12 cópias do grupo, em Londres
O Monumento aos Burgueses de Calais, que ocupou Rodin durante onze anos, evoca um episódio da Guerra dos Cem Anos, relatado pelo cronista Froissart nas suas “Crónicas de França”, (1370-1400).
A história narra o patriotismo e a coragem de seis dos mais notáveis cidadãos de Calais, que voluntariamente se ofereceram como reféns ao rei Eduardo III de Inglaterra, para que levantasse o cerco da cidade e salvasse as populações famintas. Rodin retrata estes mártires num momento crucial, quando se dispunham a abandonar a Praça do Mercado a caminho da execução.
O Cerco de Calais
Eduardo III, de Inglaterra, que através da sua linhagem materna, reclamava também o reino de França, invadiu o reino e depois de derrotar os franceses nas Batalhas de Sluyis em 1340 e de Crécy em 1346, necessitava de um porto de águas profundas para garantir o transporte dos abastecimentos provenientes de Inglaterra.
Calais, situada no Estreito de Dover, no ponto mais estreito do Canal da Mancha, e sendo a cidade francesa mais próxima da Inglaterra, estava perfeitamente apropriada para os propósitos do monarca inglês. Era altamente defensável, com duplo fosso e muralhas que tinham sido erguidas cem anos antes. A cidadela no lado noroeste da cidade tinha o seu próprio fosso e fortificações adicionais. Assim, o rei inglês reivindicou-a por direito, mediante o seu título de conde de Ponthieu
A cidade foi cercada no dia 3 de Setembro de 1346 por um exército de cerca de 34.000 homens comandados pelo próprio rei, enquanto que dentro da cidade as forças francesas comandadas pelo governador Jean de Vienne, contavam apenas com 7 a 8.000 cidadãos.
Apesar da disparidade dos números, e mesmo sabendo que não conseguiriam ser socorridos pelos seus, os franceses resistiram heroicamente aguentando o cerco, e capitulando apenas quando a fome que já grassava na cidade se tornou insuportável , precisamente no dia 4 de Agosto de 1347, onze meses mais tarde.
Furioso com esta longa demora, Eduardo III ordenou primeiro a execução em massa dos habitantes, mas acabou por aceitar poupar-lhes a vida em troca da presença dos seis homens mais importantes da cidade, descalços, vestidos apenas com as roupas interiores e de baraço ao pescoço.
Eustache de Saint-Pierre, o mais velho e rico dos burgueses foi o primeiro a oferecer-se para o sacrifício, no que foi seguido por Jean d'Aire, que levava a chave do castelo, Pierre et Jacques de Wissant, Andrieu d’Andres y Jean de Fiennes.
Mas no momento em que o rei ia dar o sinal para serem executados, sua esposa, a rainha Philippa de Hainaut, que se encontrava grávida e tinha acompanhado o marido durante o cerco, ao ver os seis infelizes suando de calor e tremendo de medo pela cólera do rei, cobertos de trapos, com a corda ao pescoço, trazendo nas mãos as chaves da cidade e do castelo, ajoelhou-se aos pés do marido, suplicando por misericórdia, em nome do filho ainda por nascer.
Impressionado com a bondade da rainha, Eduardo acalmou-se e mandou que os libertassem.
Calais continuou inglesa até ao reinado de Maria Tudor, quando a França reconquistou definitivamente a cidade.
Em Setembro de 1884, o município de Calais, propôs erigir um monumento, com a ajuda de uma subscrição nacional, ao heroísmo de Eustache de Saint-Pierre e seus companheiros. Para isso foram escolhidos dois artistas que não puderam executar a obra; o primeiro, David d'Angers porque ter falecido e o segundo, Auguste Clésinger, devido à guerra Franco-Prussiana. Foi feito então um convite a vários escultores, Rodin incluído, para apresentarem os seus esboços.
Baseado no relato histórico de Froissart, o escultor põe mãos à obra, ainda sem um contrato definitivo. Logo a partir da primeira maquete, impõe-se a noção de sacrificio colectivo. Não é um burguês de Calais que ele quer representar, mas sim seis, numa lenta procissão para a morte Os personagens que todavia não estão individualizados, apresentam-se num mesmo plano, movendo-se em torno uns dos outros, sem se tocarem e sem distinção de hierarquias, vestidos com a camisa dos condenados. Os pés e as mãos das figuras são demasiado grandes para o seu tamanho e os gestos tetrais ainda mais enfatizam as suas diferentes atitudes face ao martírio; ira, medo, orgulho...Eustache de Saint-Pierre, o mais velho, no centro do grupo inclina-se para a frente, as mãos caídas, pesadas, Jean d'Aire de cabeça erguida, desafiante, leva nas mãos uma chave enorme, as pernas afastadas, Andrieu d'Andres leva as mãos à cabeça, em desespero e Jean de Fiennes, o mais novo e o mais relutante, abre os braços com as mãos viradas para dentro . O seu vizinho, Pierre Wissant, com a mão direita levantada e o indicador apontado para si mesmo parece perguntar: Porquê eu? . Jacques Wissant atrás de Eustache, levanta a mão numa interrogação ou protesto
O grupo forma uma espiral, obrigando assim o espectador a rodeá-las para que as possa observar na sua totalidade.
Feito em bronze, o monumento é, sem dúvida alguma, uma das sua obras mais importantes. Foi inaugurado na Praça do Soldado Desconhecido, diante da prefeitura de Calais, em 1895, apesar das muitas críticas que recebeu.
Actualmente existem vários exemplares desta famosa escultura no mundo.


Fontes:
Marsh, w.b. E Bruce Carrick – 365 grande histórias da História
www.museu.gulbenkian.pt/
wikipedia.org

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