Em finais
do sec. XIV, os Turcos Otomanos tinham reduzido o outrora poderoso
império bizantino a pouco mais do que a própria cidade de
Constantinopla. Em 1389, o sultão Murad I tinha vencido os exércitos
sérvios e búlgaros na batalha de Kosovo Polje, terminando assim com
a independência da Sérvia e da Bulgária. O seu império abrangia a
maior parte da península balcânica. Da Arménia e do Cáucaso
estendia-se até ao Adriático. Só as muralhas de Constantinopla
resistiam ainda aos Turcos. No Ocidente, um certo número de países
seguiam com apreensão as conquistas otomanas.
O novo
sultão era agora o temível Bayezid I, ou Bajazet, que tinha
ascendido
ao sultanato em 1389, após o assassinato do pai, Murad I, por um
nobre sérvio no Kosovo. Uma das suas primeiras medidas é assassinar
todos prisioneiros sérvios capturados na batalha como vingança pelo
assassinato do pai, muito embora o próprio Bayezid tivesse mandado
matar seu irmão Yakub, popular herói das campanhas balcânicas e um
virtual pretendente ao trono otomano.
Apesar de sua falta de piedade com os prisioneiros de guerra
sérvios, e da redução daquele país à condição de vassalo dos
Otomanos, Bayezid consegue uma aliança de paz com o rei Lázaro da
Sérvia, ao tomar em casamento sua filha Olivera Despina, e ao
conceder aos sérvios uma autonomia considerável sob o governo de
Stefan Lazarevic, filho do rei Lázaro. É possível que os sérvios
tenham preferido o protectorado otomano porque os Húngaros já
faziam incursões em território Sérvio planeando conquistar o país
e usá-lo como trincheira contra os Otomanos.
Quando da ascensão de Bayezid ao
trono, a Bulgária resumia-se a um estreito polígono entre o Mar
Negro, a cordilheira do Haimos, as fronteiras com a Sérvia e o rio
Danúbio e a Roménia dividia-se em dois reinos: o da Valáquia
(entre os Cárpatos e o Danúbio) e o do Principado da Moldávia (dos
Cárpatos ao Rio Bug do Sul).
Na tentativa de conquistar
Constantinopla e desejando eliminar os dois estados cristãos ao
norte, de onde poderiam partir expedições de socorro, Bayezid impõe
um cerco à capital bizantina em 1391 e dois anos depois, invade a
Bulgária, tomando a capital Tarnovo
e a maior parte
daquele país, restando livres apenas o Czarado de Vidin
e o Despotado de
Dobruja.
Todavia, ao cruzar o Danúbio em
1394, é derrotado por Mircea I, comandante das forças romenas, na
Batalha de Rovine. Mircea ocupa temporariamente a Dobruja até esta
ser conquistada por Bayezid em 1396. Alcunhado de “O Raio” devido
aos seus repentinos e devastadores ataques, tendo decidido alargar
os seus domínios mais além, em 1395 marchou para Ocidente,
ameaçando directamente a Hungria, governada pelo rei Sigismundo I, o
Sacro Imperador Românico Germânico que chamou em seu socorro os
príncipes e os povos da Europa Ocidental. Em princípios de Julho,
alcançou Nicópolis, uma fortaleza búlgara situada nas margens do
Danúbio que conquistou após um breve cerco aniquilando os
defensores.
Desta
vez, o Papa Bonifácio IX convocou uma cruzada para eliminar a ameaça
muçulmana. A ideia propagou-se com os melhores resultados. Carlos VI
de França prometeu ajuda e os duques de Borgonha reclamavam a honra
de serem psotos à frente de um exército de cruzados. Assim, em
Julho de 1396 Jean de Nevers, o herdeiro da Borgonha conhecido mais
tarde como João Sem-Medo, pôs-se em movimento à testa de um
exército heterogéneo formado por 10.000 franceses, 2000 alemães,
1000 ingleses e grande variedade de soldados provenientes da Polónia,
Áustria, Lombardia e Croácia, bem como um contingente de Cavaleiros
Hospitalários. Marcharam para leste e em Buda juntou-se-lhes um
grande exército de 30.000 húngaros, sob o comando do seu rei
Sigismundo. O objectivo dos Cruzados era nada menos do que expulsar
os Turcos dos Balcãs e depois, através da Anatólia e da Síria,
seguir rumo a Jerusalém para reconquistar a Cidade Santa. O seu
primeiro alvo importante era Nicópolis, recentemente conquistada e
agora ocupada pelos Turcos. À frente deste imponente exército
marchavam oito cavaleiros, escoltando a bandeira da Virgem, cuja
imagem estava rodeada de flores de lis. Os cruzados não tinham
dúvida de que iam exterminar facilmente os inimigos da cristandade.
Ao longo
dos séculos, sempre a coragem e a determinação dos Cruzados foi
muito mais forte do que o planeamento e a preparação. A Cruzada de
1396 não constituiu excepção, porque os exércitos europeus não
tinham trazido material de assédio, pelo que foram forçados a
cercar e a isolar Nicópolis, em vez de a subjugar. Este erro deu aos
Turcos várias semanas para segurarem a fortaleza, enquanto esperavam
por reforços que não tardaram a chegar. Resolvido a salvar
Nicópolis, o sultão saiu da Turquia à testa de um grande exército,
que incluía os temíveis janízaros (do turco Yeniçeri ou “Nova
Força”), um contingente de infantaria composto por jovens cristãos
raptados às famílias e obrigados a converter-se ao Islamismo. Era o
chamado “imposto de sangue” imposto pelo Sultão Murad I e
aplicado aos povos cristãos que ficavam sob o jugo otomano. Não
podiam casar e depois de anos de treino intensivo, formavam a guarda
pessoal do Sultão, a quem eram fiéis até à morte e à sua ordem
combatiam até os seus antigos irmãos, sendo considerados a elite do
exército otomano. Depois de se lhe juntarem os aliados sérvios,
Bajazet ocupou posições defensivas na estrada para a cidade, com os
flancos protegidos por fundas ravinas.
Era o dia
25 de Setembro de 1396. Ávidos de sangue e honra, os impacientes
cavaleiros franceses lançaram imediatamente um ataque, não obstante
os conselhos em contrário do rei Sigismundo que propôs que a
infantaria húngara fosse a primeira a atacar. A princípio foram
bem-sucedidos derrotando a infantaria turca e a cavalaria ligeira e
lançando-se sobre os Janízaros. Bruscamente, a cavalaria francesa
foi obrigada a uma paragem; tinham chegado a um campo de estacas
aguçadas cravadas no terreno e tiveram de desmontar dos seus
cavalos esventrados. Mesmo a pé eram combatentes formidáveis,
rompendo a linha dos Janízaros e matando-os aos milhares.
Os
Franceses e seus aliados subiram então uma pequena colina, na
esperança de pilharem o acampamento do sultão; mas deram de caras
com a cavalaria pesada otomana ali reunida. Isolados do resto do
exército cristão, foram cercados e chacinados ou aprisionados.
Entretanto,
a infantaria húngara dos Cruzados inicialmente saiu-se melhor,
derrotando as forças turcas à sua frente, antes que os soldados
sérvios de Bajazeto surgissem de emboscada e pusessem em fuga todo o
exército dos Cruzados em pânico.
Apenas
alguns poucos escaparam. O rei Sigismundo fugiu para o Danúbio, onde
embarcou; Jean de Nevers e cerca de vinte e quatro outros cavaleiros
de grande nome e fortuna foram feitos prisioneiro e libertados após
o pagamento dos seus resgates, o que poderia demorar anos. Os
restantes, no dia seguinte à batalha, foram obrigados a desfilar
perante o Sultão furioso pelas baixas sofridas e entregues ao
carrasco, depois de se negarem a converter-se ao Islão, sendo
decapitados na presença do conde da Borgonha e dos outros
cavaleiros. Os cruzados marcharam para o suplício como verdadeiros
mártires. Segundo relatam testemunhas, podiam-se ouvir agradecer a
Deus a graça que lhes fora concedida de morrerem por Ele. Os que
sobraram foram dados aos soldados como escravos.
Toda a
cristandade sentiu uma emoção intensa em face do relato do destino
pavoroso reservado aos Cruzados e voltaram a ver-se no Ocidente as
procissões de penitentes conhecidas dos tempos das epidemias da
peste. Poderia o sultão executar a ameaça de levar os seus cavalos
a pastar nos jardins de S. Pedro?
Mas
Bajazet que tinha também sofrido pesadas perdas, conquista as
províncias remanescentes da Bulgária e pôs cerco a
Constantinopla. Todavia, em 1401 levanta-se na Ásia um novo império
mongól, liderado por Timur-I-Leng, conhecido na literatura ocidental
como Tamerlão. Este já havia conquistado boa parte da Ásia
Central, todo o Irão e o Cáucaso, e invadira o leste da Anatólia,
alcançando os Otomanos pela retaguarda. Bayezid é obrigado a
abandonar o assédio a Constantinopla e voltar todas as suas forças
para a defesa da Anatólia. Em 20 de Julho de 1402, Bayezid é
derrotado e capturado pelos Mongóis na Batalha de Ancara. Em vão
esperou que os filhos o fossem libertar. Quando após o cativeiro de
nove meses soube que iria ser arrastado em triunfo a Samarcanda, não
pode suportar esta ideia e morreu em 1403 vítima de uma crise de
coração.
Os turcos
mantiveram sua pressão sobre Constantinopla que só cairia em 1453
aumentaram o controle sobre os Balcãs e tornaram-se uma grande
ameaça para a Europa Central. A nobreza búlgara foi eliminada –
os aristocratas foram obrigados a aceitar o Islamismo sob pena de
serem executados. Os camponeses foram reduzidos à servidão
sendo-lhes também aplicado o famigerado “imposto de sangue”.
Demoraram cerca de cinco séculos a reconquistarem a sua liberdade!
Fontes:
Grimberg, Carl - História Universal
Marsh, W.B. e Bruce Carrick - 365 Grandes Histórias da História
www.wikipedia.org
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