Mafalda,
Matilde, Mahault ou Mahalda, da vida da primeira rainha de Portugal,
como aliás de algumas outras, sabe-se muito pouco.
Filha
de Amadeu III, conde de Sabóia, Maurienne e Piemonte e da condessa
Mafalda de Albón, ignora-se ao certo o ano e o dia do seu
nascimento, supondo-se que tivesse sido entre 1125 e 1130, pelo que
teria entre 16 ou 20 anos quando se casou em 1146 com D. Afonso
Henriques, que rondaria então os 37 anos de idade, pois a partir
desse ano o seu nome figura, embora como Mahalda,
em todos os documentos públicos do seu tempo, juntamente com o nome
do rei.
Seu pai tinha participado na 2ª Cruzada, sendo considerado um
príncipe muito piedoso e um fiel Defensor do Papa, e além de D.
Mafalda tinha mais 9 filhos. Pelo lado materno era sobrinha do rei
Luís VII, de França, visto sua mãe ser irmã da rainha Adelaide,
esposa deste soberano. Um seu tio-avô tinha sido Papa entre 1119 e
1124, com o nome de Calisto II e era também bisneta de Berta,
imperatriz da Alemanha, casada com o imperador Henrique IV.
Como
todas as princesas da sua época deveria possuir uma cuidada formação
moral e religiosa influenciada pela Ordem de Cister, mas a noiva do
nosso primeiro rei deve ter trazido também, juntamente com as suas
aias e validos, alguma coisa da galantaria e do requinte que se
verificava entre a alta aristocracia tanto de além Pirenéus como de
além Alpes já muito mais sujeita à influência trovadoresca da
França, que em Portugal ainda dava os primeiros passos.
As
razões para este consórcio também não estão muito bem
esclarecidas, mas além da Casa de Sabóia ter fortes ligações com
a Casa de Borgonha de que D. Afonso descendia, o rei ganharia um
excelente aliado para a expulsão dos mouros do território
português. Roma também era favorável a esta união e o facto do
monarca se unir matrimonialmente com a filha de um vassalo do
imperador romano-germânico não só o distanciava do imperador
hispânico, como o prestigiava e favorecia a legitimação do reino
junto da Santa Sé.
Mas
enquanto decorriam as escolhas e as negociações para o matrimónio
do rei, em 1138 ou talvez antes, D. Afonso apaixonou-se por D.
Flâmula ou Chamoa Gomes, sobrinha de Fernão Peres de Trava e filha
de Gomes Nunes de Pombeiro, antigo conde de Toroño. Tinha sido
casada com Paio Soares da Maia, com quem teve 3 filhos. O mais velho,
Pedro Pais foi alferes – mor de D.Afonso entre 1147 e 1169. Após
enviuvar, D. Chamoa entrou para o Mosteiro de Vairão, mas ainda teve
uma relação com D. Mem Rodrigues de Tougues, de quem teve também
um filho. É
depois destes acontecimentos que D. Afonso estabelece com ela uma
relação sentimental da
qual nasceram 2 filhos e que só acaba com o casamento do Rei. Chamoa
foi o grande amor da vida do monarca português que tudo tentou para
casar com ela, mas dado que era “devota, isto é deo vota, votada a
Deus”, nem a Santa Sé teria poder para a desligar dos votos
monásticos. Por outro lado, D. Afonso teria também a oposição dos
barões portugueses que, de maneira nenhuma, quereriam ver uma
sobrinha do conde Fernão Peres de Trava, sentada no trono de
Portugal…
Atendendo
a todas estas razões e porque era imperioso garantir a sucessão do
trono, D. Afonso Henriques aceita o casamento com D. Mafalda e Chamoa
Gomes retira-se para o convento de Grijó, onde ainda sobreviveu ao
rei. Seria um casamento de conveniência, como era normal na época,
mas os cronistas dizem que era “mui formosa e dotada de muitas
bondades.” Dizem também que tinha mau génio, que a união não
seria muito pacífica, e que a presença da rainha no reino não
estivera isenta de conflitos.
O
mais célebre deu-se com S. Teotónio, prior do Mosteiro de St. Cruz,
de quem se dizia que D. Afonso quando o via, descia do cavalo para
lhe beijar a mão. Diz a tradição que D. Mafalda era de partos
difíceis; assim achando-se uma vez às portas da morte, por ocasião
de estar no último período de gravidez, sem poder nem ter forças
para parir, diz a lenda que mandara chamar S. Teotónio, o qual
deitando-lhe a benção, logo a rainha dera à luz o menino com toda
a facilidade. Um quadro foi mandado fazer, em 1627, pelo prior geral
D. Miguel de Santos Agostinho, para a capela de S. Teotónio na
igreja de Santa Cruz, representando aquele milagre.
A
Rainha foi depois ao Mosteiro em acção de graças, pela recuperação
do parto, e pretendeu de todos os modos, ver o claustro interior. S.
Teotónio guardava-se das mulheres como se fossem inimigos e nunca
falava com uma sem ter testemunhas, recusou-lhe terminantemente a
entrada por “nem ser coisa de ordem nem de louvável costume,
mulher alguma entrar na morada dos que fugiam ao mundo, senão por
ventura fosse morta nem ser ofício de rainha, nem por Deus lhe seria
reputado a glória fazer tal cousa.” - Em Vida de S. Teotónio,
1968 p.164. Acrescenta Fonseca Benevides, que muitas foram as
desavenças
entre
a rainha e o prior, a quem perseguiu com o seu ódio e muitas
vexações.
De
qualquer modo, D. Mafalda cumpriu em pleno o seu papel de
procriadora, dando à luz em 12 anos de casada, sete filhos. O
primogénito herdeiro, a quem foi dado o nome de Henrique, nasceu a 5
de Março de 1147, fruto de um parto difícil e complicado, como
foram todos os seis seguintes. Sucederam-se Urraca (1148), Teresa
(1151), Mafalda (1153), Martinho, futuro Sancho I (1154), João
(1156) e Sancha, nascida em 1157 a quem não chegou a ver pois morreu
dez dias após o seu nascimento.
Não
se conhece qualquer interferência da rainha na vida política do
país. Dedicou-se à educação dos seus filhos e dos bastardos do
rei, que como era uso na altura eram criados juntos e passou pelo
desgosto de ver morrer o seu primogénito. Às mortes do outros três
filhos que morreram jovens, Mafalda, João e Sancha , já não
assistiu, pois já não era deste mundo.
Quanto
ao seu casamento, é certo que durante os doze anos que durou, não
se conheceram quaisquer ligações amorosas ao rei, mas dado o feitio
colérico de D. Afonso, sujeito a excessos, violências e
brutalidades e as suas constantes ausências da corte devido aos
combates que teve de travar para a expansão e consolidação do
reino, não deve ter primado pela felicidade...
Segundo
as poucas notícias que temos dela, são-lhe atribuídas algumas
obras sociais, como a fundação de uma igreja em Marco de Canaveses
juntamente com uma albergaria para peregrinos e pobres “e com boas
portas fechadas porque os peregrinos que ali albergarem não recebam
algum desaguisado. E estarão aí camas boas e limpas em que se
possam bem albergar nove desses peregrinos, aos quais serão dadas
rações de entrada ou de saída e lume e água e sal quanto lhe
fizer mester. E finando-se algum desses peregrinos seja enterrado com
três missas. E com pano e cera.” – La Figaniére, 1859,p.222.
Fundou
também o Mosteiro da Costa, sobranceiro a Guimarães. Atribui-se-lhe
o estabelecimento do serviço de dois barcos em Moledo e Porto de
Rei, de modo a proporcionar a travessia do rio Douro, perto de
Lamego. Os barqueiros recebiam pelo serviço as rendas de algumas
propriedades locais pertencentes à rainha e estavam proibidos de
cobrar o que quer que fosse aos passageiros, sob pena de multa ou
prisão. Mandou também construir uma ponte sobre o rio Tâmega e
outra sobre o Douro, em Mesão Frio.
Morreu
a 3 de Dezembro de 1157/1158, provavelmente de complicações do
último parto, com cerca de 32 anos e jaz sepultada na Igreja de St.
Cruz, no mesmo mausoléu do seu marido, que lhe sobreviveu 27 anos.
Descendência:
D.
Henrique (1147 – 1155) presumível herdeiro do trono, falecido
aos 8 anos de idade.
D.Urraca
( 1148 – 1211?) casada com Fernando II, de Leão e cujo casamento
foi anulado pelo Papa ao fim de onze anos de casamento, por falta de
dispensa de parentesco.
D.
Teresa (1151 – 1218) também conhecida por Matilde, casou em
primeiras núpcias com o conde Filipe da Flandres em 1184, e depois
com o duque Odo III da Borgonha, de quem se separou, tendo-se tornado
condessa regente da Flandres.
D.
Mafalda (1153 – 1162) noiva de Afonso II de Aragão, morreu
jovem.
D.
Martinho, futuro Sancho I (1154-1211) herdeiro do trono de
Portugal, depois da morte do seu irmão Henrique, altura em que lhe
trocaram o nome para Sancho por ser um nome mais usual entre os
monarcas leoneses.
D.
João (1156 – 1163) falecido ainda criança.
D.
Sancha (1157 – 1167) faleceu aos dez anos.
Fontes:
Domingues,
Mário – D. Afonso Henriques
Freitas
do Amaral, Diogo – D. Afonso Henriques
Benevides,
Francisco da Fonseca – Rainhas de Portugal
Oliveira,
Ana Rodrigues – Rainhas Medievais de Portugal
Imagem:
Purl,pt
Ótimo
ResponderEliminarA minha filha foi fazer uma apresentação da escola e correu-lhe muito bem por causa desta informação.