Festas de forte cariz popular têm a sua origem nas celebrações feitas pelas primitivas culturas pagãs, essencialmente agrícolas, às diversas divindades que presidiam às diferentes estações do ano, das quais dependiam as colheitas que asseguravam a sua sobrevivência. Ligadas ao Solstício de Verão e comuns a todos os povos indo-europeus e ainda aos povos semitas, eram comemoradas conforme as suas diversas tradições.
Cristianizadas mais tarde, as celebrações do Solstício de Verão foram “atribuídas” a S. João Baptista, cuja festa de nascimento que se comemora a 24 de Junho, fica situada mais ou menos a meio do período dos dez ou doze dias, em que antigamente se acreditava que o Sol parava durante o seu movimento à volta da terra, antes e depois de atingir o seu ponto mais a norte. Aliás, a palavra Solstício vem do latim sol¬+sistere (que não se mexe).
Mas nem mesmo a Igreja conseguiu apagar de todo o culto antigo, que, embora modificado pelas diversas tradições das civilizações que por cá passaram, como a visigótica e a árabe, se reflecte nas danças e cantares, feitos muitas vezes à roda de um tronco enfeitado, mas principalmente nas fogueiras acesas durante toda a noite, a noite mágica de 23 para 24 de Junho, cheia de lendas e superstições…
Nesta “noite aberta”, a água, o fogo, as ervas, principalmente as plantas aromáticas, têm poderes especiais e divinatórios relacionados sobretudo com o casamento, a saúde e a felicidade.
Aqui ficam alguns
Água:
Da meia-noite até ao amanhecer, a água dos rios e das fontes é sagrada, por isso as raparigas iam lavar-se nos rios, ou iam a uma fonte lavar a cara. Se vissem a lua reflectir-se na fonte, ficavam mais bonitas!
Água que fica ao relento em noite de S. João é incorruptível; pão que seja amassado com ela, dispensa o fermento.
Na madrugada de S. João, iam os pastores para o pé dos ribeiros e molhavam o gado com a água, para ficar bento, ou livre da tinha.
As raparigas deitam num copo de água à meia-noite, uma clara de ovo e deixam o copo ao relento; no dia seguinte, da forma que a clara tiver tomado, podem adivinhar a profissão do futuro marido.
O orvalho caído depois da meia-noite até ao nascer do sol é bento, e cura todas as enfermidades…mas também se diz que as bruxas costumam apanhá-lo para fazer dele o óleo com que se untam, a fim de poderem voar.
Fogo:
As fogueiras têm uma influência benéfica para a saúde e o poder de afugentar os malefícios, entre outras virtudes. Assim, algumas mães passavam por elas os filhos doentes para sararem.
As cinzas das fogueiras apanhadas na véspera de S. João, protegem contra várias moléstias e têm a virtude de acalmar as tempestades.
É costume saltar por cima das fogueiras e cada pessoa deve saltar três vezes. As raparigas casadoiras devem saltar com uma alcachofra na mão para que fique chamuscada, dizendo:
Em louvor de S. João
Para ver se ….nome do namorado
Me quer bem ou não.
Depois, é posta à janela e se ao outro dia estiver florida, têm o casamento garantido.
Ervas e plantas:
Quem quer saber a sua sorte mete, na noite de S. João, três favas debaixo do travesseiro da cama, uma, toda descascada, significando pobreza, outra só com metade da casca significando mediocridade, e a terceira com toda a casca, significando riqueza. Tira-se de manhã uma à sorte, e a fortuna da pessoa será segundo a que sair.
Na véspera de S. João, à noite apanha-se um molho de erva- cidreira e vai-se passear com ela. Faz-se depois um chá, que se toma, para nos livrar de feitiços.
Na noite de S. João aparecem as mouras encantadas e, nalguns sítios, aparecem em forma de cobras com grandes cabeleiras.
Quem quiser que o cabelo lhe cresça mais, corta uma madeixa e à meia-noite ata-a ao rebento de uma silva. Conforma o rebento crescer, assim crescerá o cabelo à dona, ou dono, da madeixa.
Quem encontrar um trevo de quatro folhas na noite de S. João tem a fortuna garantida. Á meia-noite dá uma flor que o diabo quer a todo o custo. Se a apanharmos antes dele, em troca, ele dá-nos os tesouros que pedirmos. Diz-se o mesmo da flor da arruda.
O Hipericão ou erva de S. João é muito procurado nesta noite. Na Idade Média era costume fazer-se grinaldas desta erva com que as pessoas se enfeitavam. Deitavam-se hastes desta planta para as fogueiras, para assegurar colheitas abundantes e protecção para o gado. Quando as fogueiras se apagavam, as grinaldas eram atiradas para os telhados para defenderam as casas dos relâmpagos, tempestades e dos espíritos malignos.
As flores desta erva têm um intenso brilho amarelo, aparecendo no Solstício de Verão, pelo que esta planta representava o Verão e os raios de Sol que afastavam o mau tempo, a escuridão e o mal. Os primeiros missionários cristãos, ao descobrirem que, na Europa, esta flor era consagrada ao deus Balder, representante dos espíritos das trevas que lutavam contra o Sol, dedicaram-na a S. João Baptista, alegando que ela brotara das gotas de sangue do mártir, e, por isso mesmo sangrava no aniversário da decapitação do santo.
Se colocarmos as folhas em contraluz, parecem perfuradas, devido às suas glândulas de óleo translúcidas, o que fez correr a versão de que tinha sido o próprio Satanás a fazer esses pequenos furos, num acesso de fúria, ao ver que o sangue de São João obstruíra, na forma do líquido vermelho comprimido, a passagem aos seus diabinhos.
Na manhã de S. João o Sol dança ao nascer.
Mas, enquanto Santo António tem em Lisboa as suas maiores festividades, as de S. João têm maior expressão no Norte do País, principalmente na cidade do Porto.
É um Santo “brejeiro” sempre pronto a ajudar os enamorados e as moças que pedem o seu auxílio, mas também é o santo protector dos casados.
S. João para ver as moças
Fez uma fonte de prata
As moças não foram lá
S. João todo se mata!