sábado, 25 de junho de 2011

S. Pedro

Ao contrário dos outros dois Santos, S. Pedro, que se celebra a 29 de Junho e portanto, também faz parte destes festejos, é o protector das viúvas!
O aniversário da sua morte celebra-se desde o ano 336, e com ele encerram-se as festas do Solstício do Verão.
Como foi pescador de profissão, antes de se ter tornado como apóstolo, um pescador de almas, é também protector dos pescadores, que em sua homenagem lhe dedicam grandes festas, onde por vezes se inclui a bênção dos rios e dos barcos.
Segundo a tradição, depois da sua morte foram-lhe entregues as chaves das portas do Paraíso, tal como na terra lhe tinha sido confiada as chaves da Igreja.
Algumas tradições da noite de S. João também se repetem na noite de 28 para 29 de Junho, outras são adaptadas:
- As verrugas extinguem-se a quem furtar em noite de S. Pedro um vaso de flores (melhor se forem cravos) de alguma janela.
É também responsável pelo estado do tempo, de maneira que quando troveja, diz-se que “S. Pedro está a mudar os móveis “, quando chove, diz-se que “S. Pedro está a limpar a cisterna do Céu”.
Por vezes, a sua imagem é representada com 3 cruzes em vez de uma. Nesse caso, as chaves simbolizam o seu triplo poder sobre o Céu, a Terra e o Inferno.
E como diz o povo:


St. António já se acabou
O S. Pedro está-se a acabar
S. João, S. João dá cá um balão
Para eu dançar!



E por este ano acabaram-se os santos populares…




quinta-feira, 23 de junho de 2011

S. João

Festas de forte cariz popular têm a sua origem nas celebrações feitas pelas primitivas culturas pagãs, essencialmente agrícolas, às diversas divindades que presidiam às diferentes estações do ano, das quais dependiam as colheitas que asseguravam a sua sobrevivência. Ligadas ao Solstício de Verão e comuns a todos os povos indo-europeus e ainda aos povos semitas, eram comemoradas conforme as suas diversas tradições.
Cristianizadas mais tarde, as celebrações do Solstício de Verão foram “atribuídas” a S. João Baptista, cuja festa de nascimento que se comemora a 24 de Junho, fica situada mais ou menos a meio do período dos dez ou doze dias, em que antigamente se acreditava que o Sol parava durante o seu movimento à volta da terra, antes e depois de atingir o seu ponto mais a norte. Aliás, a palavra Solstício vem do latim sol¬+sistere (que não se mexe).
Mas nem mesmo a Igreja conseguiu apagar de todo o culto antigo, que, embora modificado pelas diversas tradições das civilizações que por cá passaram, como a visigótica e a árabe, se reflecte nas danças e cantares, feitos muitas vezes à roda de um tronco enfeitado, mas principalmente nas fogueiras acesas durante toda a noite, a noite mágica de 23 para 24 de Junho, cheia de lendas e superstições…
Nesta “noite aberta”, a água, o fogo, as ervas, principalmente as plantas aromáticas, têm poderes especiais e divinatórios relacionados sobretudo com o casamento, a saúde e a felicidade.
Aqui ficam alguns
Água:
Da meia-noite até ao amanhecer, a água dos rios e das fontes é sagrada, por isso as raparigas iam lavar-se nos rios, ou iam a uma fonte lavar a cara. Se vissem a lua reflectir-se na fonte, ficavam mais bonitas!
Água que fica ao relento em noite de S. João é incorruptível; pão que seja amassado com ela, dispensa o fermento.
Na madrugada de S. João, iam os pastores para o pé dos ribeiros e molhavam o gado com a água, para ficar bento, ou livre da tinha.
As raparigas deitam num copo de água à meia-noite, uma clara de ovo e deixam o copo ao relento; no dia seguinte, da forma que a clara tiver tomado, podem adivinhar a profissão do futuro marido.
O orvalho caído depois da meia-noite até ao nascer do sol é bento, e cura todas as enfermidades…mas também se diz que as bruxas costumam apanhá-lo para fazer dele o óleo com que se untam, a fim de poderem voar.
Fogo:
As fogueiras têm uma influência benéfica para a saúde e o poder de afugentar os malefícios, entre outras virtudes. Assim, algumas mães passavam por elas os filhos doentes para sararem.
As cinzas das fogueiras apanhadas na véspera de S. João, protegem contra várias moléstias e têm a virtude de acalmar as tempestades.
É costume saltar por cima das fogueiras e cada pessoa deve saltar três vezes. As raparigas casadoiras devem saltar com uma alcachofra na mão para que fique chamuscada, dizendo:
Em louvor de S. João
Para ver se ….nome do namorado
Me quer bem ou não.
Depois, é posta à janela e se ao outro dia estiver florida, têm o casamento garantido.
Ervas e plantas:
Quem quer saber a sua sorte mete, na noite de S. João, três favas debaixo do travesseiro da cama, uma, toda descascada, significando pobreza, outra só com metade da casca significando mediocridade, e a terceira com toda a casca, significando riqueza. Tira-se de manhã uma à sorte, e a fortuna da pessoa será segundo a que sair.
Na véspera de S. João, à noite apanha-se um molho de erva- cidreira e vai-se passear com ela. Faz-se depois um chá, que se toma, para nos livrar de feitiços.
Na noite de S. João aparecem as mouras encantadas e, nalguns sítios, aparecem em forma de cobras com grandes cabeleiras.
Quem quiser que o cabelo lhe cresça mais, corta uma madeixa e à meia-noite ata-a ao rebento de uma silva. Conforma o rebento crescer, assim crescerá o cabelo à dona, ou dono, da madeixa.
Quem encontrar um trevo de quatro folhas na noite de S. João tem a fortuna garantida. Á meia-noite dá uma flor que o diabo quer a todo o custo. Se a apanharmos antes dele, em troca, ele dá-nos os tesouros que pedirmos. Diz-se o mesmo da flor da arruda.
O Hipericão ou erva de S. João é muito procurado nesta noite. Na Idade Média era costume fazer-se grinaldas desta erva com que as pessoas se enfeitavam. Deitavam-se hastes desta planta para as fogueiras, para assegurar colheitas abundantes e protecção para o gado. Quando as fogueiras se apagavam, as grinaldas eram atiradas para os telhados para defenderam as casas dos relâmpagos, tempestades e dos espíritos malignos.
As flores desta erva têm um intenso brilho amarelo, aparecendo no Solstício de Verão, pelo que esta planta representava o Verão e os raios de Sol que afastavam o mau tempo, a escuridão e o mal. Os primeiros missionários cristãos, ao descobrirem que, na Europa, esta flor era consagrada ao deus Balder, representante dos espíritos das trevas que lutavam contra o Sol, dedicaram-na a S. João Baptista, alegando que ela brotara das gotas de sangue do mártir, e, por isso mesmo sangrava no aniversário da decapitação do santo.
Se colocarmos as folhas em contraluz, parecem perfuradas, devido às suas glândulas de óleo translúcidas, o que fez correr a versão de que tinha sido o próprio Satanás a fazer esses pequenos furos, num acesso de fúria, ao ver que o sangue de São João obstruíra, na forma do líquido vermelho comprimido, a passagem aos seus diabinhos.
Na manhã de S. João o Sol dança ao nascer.
Mas, enquanto Santo António tem em Lisboa as suas maiores festividades, as de S. João têm maior expressão no Norte do País, principalmente na cidade do Porto.
É um Santo “brejeiro” sempre pronto a ajudar os enamorados e as moças que pedem o seu auxílio, mas também é o santo protector dos casados.


S. João para ver as moças
Fez uma fonte de prata
As moças não foram lá
S. João todo se mata!


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Provérbios dos Santos Populares


A chuva de St. António tira o pão à gente e dá o vinho ao demónio.
Dia de St. António vêm dormir as castanhas aos castanheiros.
St. António tira a dor, mas não tira a pancada.
Maio louro, mas nem muito louro e S. João claro como olho de gato.

Pelo S. João semeia o teu feijão.
A chuva de S. João tolhe o vinho e não dá pão.
Sardinha de S. João já pinga no pão.
Pelo S. João lavra e terás palha e pão.
S. João e S. Miguel passado, tanto manda o amo como o criado.
Quando o vento ronda o mar na noite de S. João, não há Verão.
Porco no S. João, meão, se meão se achar, podes continuar, se mais de meão, acanha a ração.
Pelo S. João deve o milho cobrir o cão.
Março chuvoso, S. João farinhoso.
Guarda pão para Maio, lenha para Abril e o melhor tição para o S. João.
Galinhas de S. João, pelo Natal poedeiras são.
Ande onde andar o Verão, há-de vir no S. João.
Chuvinha de S. João, cada pinga vale um tostão.
Ouriços do S. João são do tamanho de um botão.
Lavra pelo S. João se queres ter pão.

Pelo S. João, figo na mão, pelo S. Pedro, figo preto.
Até S. Pedro o vinho tem medo.
No dia de São Pedro, tapa o rego.
Em dia de São Pedro vê o teu olivedo e se vires um bago espera por um cento.

Imagem: melroazul.wordpress.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os Santos Populares

Aproxima-se a data do solstício de Verão em que na noite mágica de S. João tudo pode acontecer…As lindas mouras encantadas voltam à vida, e o fogo, as ervas e a água têm poderes especiais. O Inverno é finalmente expulso e até o Sol se detém na sua corrida!
Embora o Senhor das Festas seja S. João, St. António, cuja festa se celebra a 13 de Junho, é também incluído neste rol dos Santos Populares, assim como S. Pedro, festejado a 28 do mesmo mês.
Conhecido como “Santo Casamenteiro”, as raparigas de Évora dedicavam-lhe esta canção:


Ó meu rico Santo António
Santo do meu coração,
Atendei as minhas preces
Que faço com devoção.
Fazei, Santinho, que eu goze
Do casamento os prazeres,
Que este santo sacramento
Legou Deus a nós, mulheres.
Não queirais que eu leve à cova
Rosas, palmito e capela;
Que é coisa triste no mundo
Ver morrer a uma donzela.
Não queirais que as feições lindas
Que a Natureza me deu,
Vão parar à terra fria
Sem deixar retrato seu.
Fazei-me, pois, o milagre,
Santo do meu coração,
Prometo dar-vos um manto
Bordado por minha mão.
Não penseis que há-de ser feio,
Há-de ser todo taful:
Ricas bordaduras de ouro
Sobre cetim bem azul,
Se me fazeis o milagre,
Eu vos prometo Santinho,
Fazer mais uma fogueira
De alecrim e rosmaninho,
Como ao meu primeiro filho
Hei-de chamar Antoninho.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

F. Pessoa, 1888-1935


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

Retorno

E cá estou novamente…apenas a tempo de uma oração a Santo António, que as festas em sua honra estão a acabar, e para um poema de Fernando Pessoa, também ele nascido a 13 de Junho e em Lisboa, tal como o Santo, de quem herda o seu segundo nome, António, faz hoje 123 anos.
Comecemos então pelo patrono deste dia:


A Santo António

Santo António se vestiu e calçou
E suas santas mãos lavou,
E ao caminho se botou.
Jesus Cristo encontrou,
O Senhor lhe perguntou:
“Tu, António, onde vais?
- Senhor, eu vou para o céu.
- Tu ao céu não irás.
Tu na terra ficarás:
Quantas coisas se perder
Todas tu depararás;
Quantas missas se disser
Todas tu ajudarás”.

Cantos do Arquipélago Açoriano

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Férias

Meus amigos,


Vou estar fora até à próxima semana para umas curtas férias, portanto só voltarei ao nosso blog por volta do dia 12, a tempo de festejar o Santo António…
Entretanto, deixo-vos com um pequeno poema de José Gomes Ferreira, desejando-vos uma óptima semana!
Um abraço da
Cassandra




AREIA, XXVII


Eh! Velhos pinheiros!
Cá estou outra vez
A falar com vocês
Numa língua estranha
Que não é português
Nem espanhol…
Mas esta alegria do princípio do mundo
De andar com as mãos roubadas a um vagabundo
A atirar pedras aos pássaros e ao sol…

Andrade, Eugénio - Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa

sábado, 4 de junho de 2011

Quinta-Feira de Ascensão e o Dia da Espiga – II


Em Castelo Branco acreditava-se que ao meio-dia as folhas das oliveiras estavam “encruzadas” e como as Portas do Paraíso a essa hora estão abertas, quem morresse nesse dia, ia para o Céu.
Na Rapa, durante a cerimónia religiosa que se celebrava depois da Missa a que se dava o nome de “Hora da Noa”, era costume deitarem sobre o celebrante e o altar uma chuva de pétalas de rosas, que no fim da cerimónia o povo recolhia usando-as depois em remédios caseiros, como por exemplo, a lavagem dos olhos inflamados com água dessas rosas.
Noutros lados, soltavam-se passarinhos ou andorinhas enfeitadas com fitas e rosas nas igrejas, durante essa cerimónia.

Se os passarinhos soubessem
Quando é Dia de Ascensão
Nem buliam nos seus ninhos
Nem punham os pés no chão.

Em várias localidades, o leite ordenhado não se vende, é dado a quem o quiser.
Quanto ao pão, depois de cozido, guardava-se um deles durante o ano inteiro para ser comido no dia da Espiga do ano seguinte, substituindo-se por outro. Por isso se dizia que “pão guardado na Hora, não ganha bolor”.
Em Fornos de Algodres dizia-se:
“Dia da Ascensão
Seca a raiz ao pão”.

No Porto, a Quinta-feira de Ascensão era também chamada de “Dia da Hora”, e segundo a voz popular “há uma hora em que o leite não coalha, as águas dos ribeiros não correm, o pão não leveda, os pássaros não bulem nos ninhos e até as folhas se cruzam”.
Devia também comer-se carne:

“Em Quinta-Feira de Ascensão
Quem não come carne
Não tem coração:
Ou de ave de pena
Ou de rês pequena.”

Em Aljustrel, dizia-se:
“Quinta-feira de Ascensão
Coalha a amêndoa e o pinhão”.

Liturgicamente, depois da revisão dos feriados, a Ascensão do Senhor é celebrada no domingo a seguir à Quinta-feira da Espiga.
Fontes: wikipedia.org
Leite de Vasconcelos, J. – Etnografia Portuguesa, Vol.VIII
Coelho, Adolfo – Festas, Costumes e outros materiais para uma Etnologia de Portugal, Vol.I

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quinta-Feira de Ascensão ou O Dia da Espiga - I


Hoje, dia 2 de Junho, celebra-se o Dia da Espiga, cuja origem anterior à Era cristã, está ligada aos festivais agrícolas das celebrações da Primavera, em que com cantares e danças se comemorava o fim do Inverno e o renascimento da vida vegetal e animal, pedindo a bênção dos deuses para as novas colheitas, como acontece com a tradição das Maias.
Com o advento do Cristianismo e tal como aconteceu com outras festas pagãs, a Igreja cristianiza-a associando-a a um evento religioso, a festa da Ascensão.
Esta festa, que teve origem em Jerusalém e era no início celebrada no mesmo dia do Pentecostes, servia para festejar a Ascensão de Jesus ao Céu, não só em espírito, mas também em corpo e alma, em Betânia, na presença dos Apóstolos, e depois de os ter abençoado, quarenta dias após a sua Ressurreição.
A partir do sec. IV, este dia começa a ser celebrado como um dia especial, a Quinta-Feira de Ascensão, com procissões e a bênção dos campos e dos primeiros frutos que o povo levava como oferta, conseguindo-se desta maneira, que o ritual pagão do Dia da Espiga ficasse para sempre ligado à festa religiosa da Ascensão.
Em Portugal, este dia, considerado feriado ou Dia Santo, era celebrado com passeios pelo campo, merendas e bailaricos, aproveitando-se para se colher a espiga, que seria depois pendurada atrás da porta, até à sua renovação no ano seguinte, para que nunca faltasse o pão em casa!
Em 1952, por altura da revisão dos feriados nacionais, a Igreja teve de prescindir de alguns, entre eles o da festa móvel da Ascensão, o que provocou algumas altercações. Pouco dispostos a prescindir desta festa, muitos concelhos adoptaram-no como feriado municipal, o que mais uma vez se prova, que é às Câmaras Municipais que pertence a salvaguarda das tradições do nosso país…
A Espiga, ou mais propriamente o ramo que a forma, é composto de flores, troncos e cereais, seguindo um ritual de fertilidade onde todos eles têm o seu valor simbólico profano e religioso, embora variando de região para região.
Assim temos basicamente:


Espigas de trigo (em número ímpar) – pão
1 ramo de oliveira – azeite (luz, divina e não só) e paz
1 ramo de videira – vinho e alegria
Malmequer – ouro e prata
Papoilas – amor e vida
Alecrim – saúde e força

Guardado durante um ano atrás da porta, para trazer saúde, sorte, alegria e abundância, serve também para afastar a trovoada.
Associado a este dia, aparecem provérbios como:

Se chover em quinta-feira de Ascensão, as pedrinhas darão pão.
O vento que soprar em quinta-feira de Ascensão soprará todo o Verão.

E também há também lendas e superstições…