Owein, filho do rei Urien e um dos Cavaleiros da Távola Redonda, ouviu um dos seus companheiros contar uma aventura que lhe tinha acontecido na Floresta de Brocéliande, onde ao defrontar o Cavaleiro Negro, guardião da Fonte de Barendon, fora derrotado e para sua maior humilhação, o seu adversário nem sequer se tinha dignado aprisioná-lo, apenas lhe tinha ficado com o cavalo.
Resolvido a defrontar ele mesmo o desconhecido Cavaleiro, Owein aprontou o seu cavalo e partiu em direcção a um castelo de que o seu companheiro tinha falado, a fim de se informar do caminho a percorrer. Lá chegado, o dono do castelo convidou-o a entrar. Encontrou na sala vinte e quatro donzelas. Seis delas cuidaram do seu cavalo, outras seis limparam as suas armas, mais seis trouxeram-lhe uma muda de roupa e as restantes seis puseram a mesa. Assim que todos se sentaram, o anfitrião perguntou-lhe qual a finalidade da sua viagem.
“Quero encontrar alguém que me possa vencer, ou eu mesmo triunfar sobre todos.
- Se eu não acreditasse que te aconteceria algum mal, indicar-te-ia o que procuras”.
Vendo a decepção estampada no rosto do seu convidado, o castelão continuou:
“Bem, uma vez que preferes que eu te indique algo desvantajoso para ti, em vez de algo vantajoso, podes dormir aqui esta noite. Levanta-te cedo e toma o caminho do vale até ao primeiro entroncamento à direita. Numa grande clareira, encontrarás um gigante negro no cimo de um outeiro. E descrevendo o homem negro, o dominador dos animais, fácil é reconhecer nele o deus Kernunnos”.
De manhã, o cavaleiro tomou o caminho do vale. No cimo do outeiro, o gigante pareceu-lhe bem maior do que o seu anfitrião dissera e os animais selvagens bem mais numerosos. Para mostrar o poder que detinha sobre eles, o deus bateu com o seu bordão num veado que logo soltou um grande bramido. Logo acorreram milhares de animais aos quais ordenou que fossem pastar. Eles inclinaram a cabeça e obedeceram. Owein perguntou-lhe qual era o caminho. Ele respondeu de mau modo, mas mostrou-lhe um caminho que subia uma colina, dizendo-lhe que quando chegasse ao cimo, avistaria ao fundo do vale, a Fonte de Barenton, com a sua grande árvore verde, a sua laje de mármore e a sua bacia de prata, presa com uma corrente.
Owein chegou lá facilmente e, aos pés da árvore, imagem de vida e traço de união entre o céu e a terra, lembrando-se da conversa do seu companheiro, tirou a água da fonte com a bacia e derramou-a sobre a pedra. Desencadeou-se uma violenta tempestade, depois o sol brilhou e, sobre o carvalho despojado das suas folhas, veio pousar um bando de aves que se puseram a cantar.
Enquanto escutava o seu canto, ouviu gemidos e viu Esclados, o Cavaleiro Negro vir ao longo do vale. Baixaram ambos as suas lanças e atacaram-se furiosamente, de tal maneira que as lanças se quebraram. Desembainharam então as espadas e tão bem se bateram que Owein acabou por desferir tamanho golpe no seu adversário que a lâmina atravessou o elmo atingindo o crânio. Sentindo-se ferido mortalmente, o cavaleiro negro fugiu e Owein foi-lhe no encalço.
O ferido alcançou a entrada de um castelo e desapareceu. Owein quis entrar atrás dele, mas os habitantes baixaram a grade que atingiu a patilha da sua sela e cortou o cavalo ao meio. Ao fecharem também a pesada porta, o nosso herói viu-se prisioneiro entre ela e a grade.
Sem saber como se libertar, o cavaleiro viu uma linda jovem aproximar-se dele estendendo-lhe através da grade um anel ao mesmo tempo que lhe dizia:
“Chamo-me Lunet e sirvo a senhora do Castelo de Lundoc. Daqui a pouco os homens virão buscar-te para te matar pois o Guardião da Fonte com quem combateste pouco mais tempo terá de vida. Quando os vires, põe este anel e ficarás invisível. Como
terão que abrir a grade para te procurar lá fora, entras e vais ter comigo junto àquele muro.”
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