Comemorou-se no dia 15 deste mês (Outubro), o centenário de um dos melhores representantes do movimento neo-realista português e um dos grandes escritores da literatura portuguesa.
Nascido em Santiago do Cacém a 15 de Outubro de 1911, Manuel Lopes da Fonseca vai viver com a família para Lisboa em 1923, começando a publicar os seus primeiros poemas em 1925 num semanário da sua terra. Frequenta o Liceu Camões onde conhece Álvaro Cunhal, também aí aluno como ele, e mais tarde, a Escola de Belas-Artes. Apesar de não ter sobressaído na área das Belas-Artes, deixou alguns registos do seu traço sobretudo nos retratos que fazia de alguns dos seus companheiros de tertúlias lisboetas como é o caso do de José Cardoso Pires.
Em 1937 casa-se com Mabilde Matias e em 1940 publica o seu primeiro livro de poesia, “Rosa-dos-Ventos”, seguindo-se “Planície”, no ano seguinte. Estreia-se em ficção com os contos “Aldeia Nova”, em 1942, e em 1943 publica o romance “Cerromaior”, que foi transposto para o cinema em 1980, pelo realizador Luís Felipe Rocha.
Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos. Autor de uma obra ancorada na realidade e eivada de um apontado regionalismo, a escrita de Manuel da Fonseca ultrapassa a contingência histórica de que nasceu, por um enaltecimento da vida, compreendida como intrinsecamente livre das imposições, frustrações, mentiras e condicionamentos impostos pela sociedade, ânsia de libertação, simbolizada, por exemplo, na repressão sexual imposta a algumas figuras femininas ou na admiração de figuras marginais como o "maltês" ou o vagabundo.
Além de romancista, poeta, contista e cronista, foi também argumentista (o filme “Os Três da Vida Airada” é disso exemplo), e esteve também ligado à música através de poemas que escrevia para alguns dos cantores portugueses. Escreveu também para jornais e revistas e fez parte do grupo do Novo Cancioneiro.
Era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores quando esta atribuiu o Grande Prémio da Novelística a José Luandino Vieira pela sua obra Luuanda, o que levou ao encerramento desta instituição e à sua prisão pela PIDE.
Em 1972 casa com Arlete Ventura e em 1983 é condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada. Em 1985 casa com Hermínia Matos e morre a 11 de Março de 1993 no Hospital de S. José, devido a uma queda na sua residência, em Santiago do Cacém.
No prefácio de uma das edições dos contos “O Fogo e as Cinzas” (1951), Manuel da Fonseca escreve:
“As pessoas de quem escrevo são as que houve na minha vida. Gente de família ou conhecida. Nelas me fui descobrindo e sendo eu próprio as vidas que contei. É isso, eu. Até quando escutava a vida de algum desconhecido, logo descobria que esse desconhecido era dois ou três indivíduos que já conhecia, um dos quais, com o tempo, começava a ser eu”.
As suas obras, para além das já citadas, são:
Poemas Completos – 1958
Um Anjo no Trapézio – 1968
Tempo de Solidão – 1973
Antologia de Fialho de Almeida - 1984
Crónicas Algarvias – 1986, escritas no jornal “A Capital”, de quem era colaborador.
Fontes: www.wikipedia.org
www.infopedia.pt
Jornal Expresso – semanário semmais
ANTES QUE SEJA TARDE
Amigo,
Tu que choras uma angústia qualquer
E falas de coisas mansas como o luar
E paradas
Como as águas de um lago adormecido,
Acorda!
Deixa de vez
As margens do regato solitário onde miras
Como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
Desse país inventado
Onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
Do barco ao deus-dará
E esse ar de renúncia
Às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
Liberta-te dessa paz podre de milagre
Que existe
Apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
Abre os braços e luta!
Amigo,
Antes de a morte vir
Nasce de vez para a vida.
Manuel da Fonseca – Poemas Completos
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