quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Dama da Fonte – II

Tudo aconteceu tal como a jovem dissera, e quando o sentiu junto de si, levou-o para um magnífico aposento onde lhe serviu uma copiosa refeição, indicando-lhe depois um leito luxuosamente ataviado onde o cavaleiro poderia descansar.
Ao romper do dia, um imenso e lamentoso clamor reboou pelo castelo. Abrindo uma janela, Owein observou um grande cortejo de damas, cavaleiros, homens de armas e clérigos acompanhando o féretro do senhor do castelo, que tinha falecido dos ferimentos recebidos. A fechar o cortejo, seguia uma dama cujos lamentos soavam mais alto que os cânticos fúnebres entoados pelos sacerdotes. A sua beleza era tal, que ao vê-la, mesmo no estado desalinhado em que se encontrava, Owein se sentiu perdidamente apaixonado.
Lunet informou-o que se tratava de Laudine, a Dama da Fonte, a viúva do Conde Esclados, o Cavaleiro Negro.
“A Deus eu digo”, exclamou Owein, “que esta é a dama que eu mais amo”.
“Deus também sabe, que a ti ela não ama, nem muito, nem pouco, nem nada”, respondeu-lhe a donzela.
No entanto, prometeu interceder por ele e recomendando-lhe que não abandonasse o quarto, saiu dos aposentos para ir servir a sua senhora.
Laudine, ao vê-la, mostrou-se sentida pela sua ausência no funeral, mas Lunet respondeu-lhe que mais lhe valia pensar em como iria conseguir defender a Fonte e o Castelo, agora que o Cavaleiro tinha morrido.
“Por mim e por Deus te digo”, respondeu a condessa, “que eu jamais poderei recompensar a perda do meu senhor, pondo outro homem no seu lugar!”.
“Pois deverias”, retorquiu a jovem, “ e alguém tão bom ou melhor que ele. Se não puderes defender a Fonte, também não poderás defender os teus domínios, e isso só se consegue pela força das armas. E quanto mais depressa o fizeres melhor para todos. Irei à corte do Rei Artur e trarei um dos seus cavaleiros.”
Repugnada com a ideia, mas sabendo que Lunet estava cheia de razão, a Senhora deixou-a partir.
Voltando para junto de Owen, a jovem ali ficou escondida de todos, o tempo suficiente para a viagem de ida e volta a Camelot. Quando achou que deveria ter chegado ao seu termo, apresentou-se perante Laudine, que lhe perguntou pelo êxito da viagem.
“Trago boas-novas, Senhora, achei o que procurava. Quando quereis ver o cavaleiro que trouxe comigo?”, perguntou Lunet.
“Amanhã pelo meio-dia”, respondeu a Dama da Fonte.
No dia seguinte, à hora marcada, os dois jovens apresentaram-se perante a Senhora do Castelo, que os recebeu com muita gentileza.
“Senhora, apresento-te Sir Owein o cavaleiro do Rei Artur que trouxe comigo”.
A condessa olhou o cavaleiro com muita atenção. Vestido com uma túnica, uma cota de malha e um manto de brocado de seda amarela e calçando uns borzeguins, Owein não tinha aspecto de quem tivesse feito uma grande jornada… Desconfiando da verdade, Laudine perguntou se aquele não teria sido o cavaleiro que lhe tinha morto o marido!
“Melhor para ti, Senhora”, respondeu Lunet, “Se ele não fosse o melhor dos dois, não estaria agora à tua frente. O que está feito, feito está!”.
A condessa mandou reunir os seus vassalos e com a aprovação dos membros do seu Conselho, tomou Sir Owein como marido.
Durante três anos, a felicidade reinou no Castelo de Landuc. Owein, o novo guardião da Fonte, derrubava qualquer cavaleiro que o desafiasse, mantendo-o prisioneiro até receber o seu resgate, distribuindo depois o dinheiro pelos seus vassalos, que retribuíam a sua generosidade com amor e lealdade.
Mas…e há sempre um mas…ao fim deste tempo, o Rei Artur que nada sabia do que poderia ter acontecido ao seu cavaleiro, reuniu os seus companheiros da Távola Redonda e foram no seu encalço…

Sem comentários:

Enviar um comentário