segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Consequências das invasões árabes


Depois da conquista da Península, que passará a ser designada por “Al-Andaluz”, as terras foram repartidas pelos conquistadores, cabendo um quinto das mesmas ao califa como presa de guerra.
Em apenas cinco anos (711 a 716), os árabes completaram a ocupação do território, com excepção da região montanhosa das Astúrias, onde se refugiaram os cristãos, comandados por Pelágio.
Os nobres visigodos que se submeteram ao novo poder puderam conservar os seus domínios com autonomia política e em alguns casos especiais, a prática da sua religião; os que opuseram alguma resistência foram obrigados a uma completa submissão em condições mais ou menos duras, consoante o grau de oposição.
Quanto à população não muçulmana (moçárabes, cristãos e judeus), os árabes mostraram-se em geral tolerantes para com os usos e costumes locais, incluindo a prática da religião, mas impondo para isso, um tributo.
Sob o ímpeto do islamismo a Península recupera a sua vocação mediterrânica, voltando às antigas rotas comerciais, as cidades e os negócios florescem; a indústria renova-se. Artesãos e comerciantes associam-se em grémios, abrem-se mercados e novas redes comerciais. Os judeus, sob a protecção dos califas, dedicam-se ao comércio e á indústria, à diplomacia, à medicina e à administração, onde alcançam cargos elevados.
Na sequência das várias lutas pelo poder, estabeleceram-se também na Península vários grupos étnicos como os negros, os eslavos e também sírios e iemenitas.
As cidades árabes do Al-Andaluz no sec. X alcançam grande esplendor, com destaque para Córdova, que chega a possuir 250.000 habitantes.
Sob a influência da brilhante civilização árabe, traduzem-se obras científicas, desenvolvem-se a filosofia, a medicina e as matemáticas, cujos princípios foram buscar a Euclides. A eles devemos o nosso sistema de numeração, com a introdução do uso dos algarismos árabes. A álgebra, a trigonometria, a física, a química, a arquitectura e a arte decorativa também sofreram um grande avanço sob o seu domínio. Além das matemáticas, tinham uma grande predilecção pela astronomia, sendo também excelentes geógrafos e navegadores.
À língua árabe fomos buscar palavras como álcool, arabesco, algodão, sofá, almofada, azul, algarismo, anilina, açúcar, garrafa, jasmim, açafrão, espinafre, ou termos comerciais: bazar, armazém, tarifa. Termos marítimos: almirante, barca, fragata, arsenal…Nomes de terras: Almada, Alcácer do Sal, Algeciras…
Retomaram a exploração das minas de prata e ouro, mas é principalmente na área da agricultura e da propriedade rústica que a influência árabe mais se fez sentir na Península Ibérica. O desenvolvimento das técnicas de regadio e a construção dos moinhos de água e das azenhas, assim como a introdução da nora e da cegonha para extracção da água dos poços, transformaram por completo o aspecto agrícola do Sul andaluz:


Deus meu! A nora transborda de água doce num jardim cujos ramos estão cobertos de frutos já maduros.
As pombas contam-lhes as suas penas, e ela responde repetindo notas musicais…
Sad al-Khair, de Valência, em A Nora.


O centro da produção agrícola do Al-Andaluz foi constituído pelas principais culturas mediterrânicas: cereais, videiras e oliveiras. Mas trouxeram-nos, entre outros, o cultivo do algodão, do arroz, deram-nos a tamareira, a cana-de-açúcar, a beringela, a alcachofra, a amendoeira (que ainda hoje nos deslumbra com as suas flores brancas), e as sumarentas laranjas cantadas pelo poeta Ibn Sara, nascido em Santarém:


Serão brasas que mostram sobre os ramos as suas cores vivas, ou rostos que assomam entre as verdes cortinas dos palanquins?
Serão os ramos que se balançam, ou formas delicadas por cujo amor sofro o que sofro?
Vejo que a laranjeira nos mostra os seus frutos, que parecem lágrimas coloridas de vermelho pelos tormentos de amor…


Apesar de tudo isto, os vestígios da arquitectura islâmica em Portugal são relativamente escassos, ao contrário do que sucede em Espanha, principalmente em Córdova, Sevilha ou Granada, e estão centrados principalmente no sul do país, onde a ocupação efectiva foi mais prolongada. Os vestígios da Cerca Moura em Lisboa, os castelos de Santa Maria da Feira e de Silves com a torre datada de 1227 e um poço-cisterna do sec. XII são alguns dos que chegaram até aos dias de hoje. Mas é na antiga mesquita de Mértola, transformada depois na Igreja de Santa Maria da Assunção que esses traços são mais visíveis, dando-nos uma ideia do que seria a arquitectura religiosa.
O seu domínio durou cerca de oito séculos, mas a derrota árabe em Poitiers, o avanço da Reconquista Cristã e principalmente as frequentes lutas internas pelo poder, levaram a que em 1492 o reino nasrida de Granada, ultimo reduto árabe na Península, fosse conquistado pelos Reis Católicos, Isabel e Fernando de Aragão.
Em Portugal, esse domínio terminou com a conquista do reino do Algarve (Gharb Al-Andaluz) em 1249, quando o rei D. Afonso III tomou Silves.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Coelho, António Borges – Portugal na Espanha Árabe
Alves, Adalberto – O meu coração é Árabe
História Universal, vol IX, editada pelo Jornal “Público”




Sem comentários:

Enviar um comentário