segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Vamba - História e Lenda - I

Último dos grandes reis visigodos, Vamba ou Wamba, reinou de 672 a 680, mas o seu nome está associado a várias lendas, começando logo pela da sua subida ao trono.
Conta-se que após o falecimento do rei Recesvinto, e dada a falta de herdeiros naturais, a sucessão ao trono se tornou tão complicada, que uma delegação de nobres visigodos se dirigiu ao Papa, pedindo-lhe auxílio. Este, sem saber o que decidir, pôs-se a rezar a Deus, pedindo-lhe uma solução. E o Senhor revelou-lhe a existência de Vamba, e que o encontrariam a lavrar as suas terras com um boi branco e outro vermelho. Retornando os embaixadores ao seu país, logo enviaram diversos mensageiros pelo reino, à sua procura.
Acontece que ao passaram por um lugar chamado de Idanha a Velha, ouviram uma voz de mulher vinda de uma quinta próxima, dizer:
- Vamba, deixai os bois e vinde comer!
Então, os mensageiros foram ter com ele e disseram-lhe que teria de os acompanhar pois tinha sido eleito rei dos visigodos. Contrariado, Vamba que já era de uma idade avançada, recusou e pegando na vara de tanger os bois que tinha na mão, espetou-a na terra, dizendo que só seria o rei deles, quando a sua vara desse flores e frutos…
Para espanto de todos, a vara imediatamente se encheu de lindas flores e frutos perfumados!
Vendo este milagre, todos ajoelharam e Vamba, pegando na sua mulher, foi-se com eles para a Corte.
Levado para Toledo, ali foi consagrado e ungido pelo arcebispo, e todos os altos homens do reino lhe juraram obediência.
E ainda reza a lenda, que estando o rei Vamba de joelhos ante o altar de Santa Maria para ser ungido, lhe saiu da boca uma abelha que voou direita para o céu, de tal modo que todos os que estavam em seu redor a viram, e disseram que aquela abelha significava que este rei honraria o seu título e o seu reino!
É realmente uma lenda bonita, mas a realidade foi bem menos poética…
De ascendência nobre e já de idade avançada, acompanhou o rei Recesvinto nos seus momentos finais. Na reunião que se seguiu para escolherem o sucessor do falecido rei, Vamba foi o escolhido para lhe suceder. Declinando a oferta devido à sua idade, foi disso dissuadido pela enérgica atitude de um dos condes presentes que de espada na mão lhe disse que “daquela sala só sairia feito rei ou morto”.
E assim, a 1 de Setembro de 672, no mesmo lugar e no mesmo dia em que Recesvinto morria, Vamba era aclamado como o novo rei dos Godos, sendo ungido em Toledo, a 19 do mesmo mês, pelo bispo Quirico.
O seu reinado não foi nada fácil, pois passou-o quase todo combatendo as diversas sublevações de alguns nobres, sendo as mais graves, a de Hilderico, conde de Nimes, apoiado por parte da Igreja e por um númeroso grupo de judeus, descontentes com as políticas anti-semitas dos reinados anteriores, e a do duque Paulo enviado para derrotar Hilderico.
Vamba encontrava-se na altura na região da Cantábria sufocando uma revolta dos vascões, quando lhe chegou a notícia de que Paulo, chegado à Tarraconense, tinha entrado em acordo com os revoltosos, conseguindo que estes o aclamassem como rei daquela região.
Com a perspectiva de uma guerra civil pela frente, Wamba inflige uma pesada derrota aos vascões e reunindo todas as suas tropas fiéis e o apoio de uma poderosa frota naval, avança sobre os rebeldes, arrasando literalmente a província Tarraconense. Os redutos da Narbonense continuaram a luta, só se rendendo depois de uma batalha cruel. Narbona e Nimes caíram a seguir e Paulo foi feito prisioneiro e ridicularizado em público, desfilando à frente da fila de prisioneiros descalços e de cabeça rapada, que entraram em Toledo atrás do triunfante Vamba.


1 comentário:

  1. Interessaante. Vou incluir um excerto desta lenda num trabalho sobre o uso do carro de bois, que Aquilino Ribeiro remete para os tempos do rei Vamba.
    O texto será publicado no meu site www.trilhos-serranos.pt

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