Embora Vasco da
Gama tenha sido o primeiro português a atingir a Índia com as suas caravelas,
foi Bartolomeu Dias o verdadeiro descobridor do caminho marítimo para a terra
das especiarias, quando em 1487/8, ao dobrar o Cabo das Tormentas, ou da Boa
Esperança, no extremo sul do continente africano, se tornou no primeiro europeu
a conseguir esse feito, sendo também o primeiro europeu a navegar no Oceano
Índico, provando assim a intercomunicabilidade desse oceano com o Atlântico.
Em fins de
Agosto de 1487, D. João II, no seu afã de atingir a Índia e estabelecer
relações com o Preste João, o mítico rei cristão oriental, enviou, com esse
fim, uma frota composta por duas naus e uma naveta com mantimentos
sobressalentes (para os navegadores não terem de voltar para trás por falta de
mantimentos), sob o comando de Bartolomeu Dias, cavaleiro da sua casa e já
navegador experimentado na costa africana.
A nau de comando,
a S. Cristovão, era portanto, chefiada por Bartolomeu Dias, tendo como piloto
Pero de Alenquer (nomeado depois piloto da nau de Vasco da Gama), um veterano
nestas lides, a 2ª nau, a S. Pantaleão, foi confiada a João Infante, tendo como
piloto Álvaro Martins e a naveta, a Diogo Dias, irmão de Bartolomeu, tendo como
piloto João de Santiago.
Descendo ao
longo da costa africana, ao sul do equador, iam nela colocando padrões, mas não
só…A bordo seguiam 6 escravos, dois negros do Congo e quatro negras da costa da
Guiné, já com instruções precisas do que deveriam fazer e que iriam ser desembarcados,
um por um, em vários pontos dessa mesma costa. Diz o cronista João de Barros:
“…A causa de
el-rei mandar lançar esta gente por toda aquela costa, vestidos e bem tratados,
com mostra de prata, oiro e especiarias, era para que, indo ter a povoado,
pudessem notificar de uns em outros a grandeza do seu reino, e as cousas que
nela havia, e como por toda aquela costa andavam seus navios; e que mandava
descobrir a Índia e principalmente um príncipe que se chamava Preste João, o
qual lhe diziam que habitava naquela terra: tudo a fim que pudesse ir ter esta
fama ao Preste, e fosse azo para ele mandar de lá de dentro, de onde habitasse,
a esta costa do mar. Porque para todas estas cousas os negros e as negras, que,
como não eram naturais da terra, ficavam com a esperança de tornarem os navios
por ali, e as trazerem para este reino. Que entretanto elas entrassem pelo
sertão, e aos moradores notificassem estas cousas, e aprendessem muito bem as
que pudessem saber das que lhes eram encomendadas; e que podiam ficar seguras,
porque, como eram mulheres, com quem os homens não têm guerra, não lhes haviam
de fazer mal algum.”
A primeira negra
ficou na Angra dos Ilhéus, onde o navegador assentou o primeiro padrão, a
segunda foi lançada na Angra das Voltas; a terceira morreu; a quarta seria
deixada, no final da viagem, na Angra dos ilhéus de Santa Cruz, ao pé de duas
nativas que andavam mariscando.
Na Angra das Voltas,
(29º. S), foram assaltados por um temporal que os fez andar de capa treze dias
por mares mais frios. Quando o mau tempo amainou, decidiram tomar o rumo de
leste, cuidando que ainda corriam na linha norte-sul a fim de poderem encontrar
terra, como até então. Navegaram assim uns poucos de dias, mas como nada
encontrassem, rumaram ao norte, e vieram ter, na outra costa, a uma angra, a
que deram o nome “dos Vaqueiros”, por nela terem visto muitas vacas guardadas
pelos seus pastores. Ao vê-los, os negros retiraram o gado para dentro…
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