quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Viagem de Bartolomeu Dias



Embora Vasco da Gama tenha sido o primeiro português a atingir a Índia com as suas caravelas, foi Bartolomeu Dias o verdadeiro descobridor do caminho marítimo para a terra das especiarias, quando em 1487/8, ao dobrar o Cabo das Tormentas, ou da Boa Esperança, no extremo sul do continente africano, se tornou no primeiro europeu a conseguir esse feito, sendo também o primeiro europeu a navegar no Oceano Índico, provando assim a intercomunicabilidade desse oceano com o Atlântico.

Em fins de Agosto de 1487, D. João II, no seu afã de atingir a Índia e estabelecer relações com o Preste João, o mítico rei cristão oriental, enviou, com esse fim, uma frota composta por duas naus e uma naveta com mantimentos sobressalentes (para os navegadores não terem de voltar para trás por falta de mantimentos), sob o comando de Bartolomeu Dias, cavaleiro da sua casa e já navegador experimentado na costa africana.

A nau de comando, a S. Cristovão, era portanto, chefiada por Bartolomeu Dias, tendo como piloto Pero de Alenquer (nomeado depois piloto da nau de Vasco da Gama), um veterano nestas lides, a 2ª nau, a S. Pantaleão, foi confiada a João Infante, tendo como piloto Álvaro Martins e a naveta, a Diogo Dias, irmão de Bartolomeu, tendo como piloto João de Santiago.

Descendo ao longo da costa africana, ao sul do equador, iam nela colocando padrões, mas não só…A bordo seguiam 6 escravos, dois negros do Congo e quatro negras da costa da Guiné, já com instruções precisas do que deveriam fazer e que iriam ser desembarcados, um por um, em vários pontos dessa mesma costa. Diz o cronista João de Barros:

“…A causa de el-rei mandar lançar esta gente por toda aquela costa, vestidos e bem tratados, com mostra de prata, oiro e especiarias, era para que, indo ter a povoado, pudessem notificar de uns em outros a grandeza do seu reino, e as cousas que nela havia, e como por toda aquela costa andavam seus navios; e que mandava descobrir a Índia e principalmente um príncipe que se chamava Preste João, o qual lhe diziam que habitava naquela terra: tudo a fim que pudesse ir ter esta fama ao Preste, e fosse azo para ele mandar de lá de dentro, de onde habitasse, a esta costa do mar. Porque para todas estas cousas os negros e as negras, que, como não eram naturais da terra, ficavam com a esperança de tornarem os navios por ali, e as trazerem para este reino. Que entretanto elas entrassem pelo sertão, e aos moradores notificassem estas cousas, e aprendessem muito bem as que pudessem saber das que lhes eram encomendadas; e que podiam ficar seguras, porque, como eram mulheres, com quem os homens não têm guerra, não lhes haviam de fazer mal algum.”

A primeira negra ficou na Angra dos Ilhéus, onde o navegador assentou o primeiro padrão, a segunda foi lançada na Angra das Voltas; a terceira morreu; a quarta seria deixada, no final da viagem, na Angra dos ilhéus de Santa Cruz, ao pé de duas nativas que andavam mariscando.

Na Angra das Voltas, (29º. S), foram assaltados por um temporal que os fez andar de capa treze dias por mares mais frios. Quando o mau tempo amainou, decidiram tomar o rumo de leste, cuidando que ainda corriam na linha norte-sul a fim de poderem encontrar terra, como até então. Navegaram assim uns poucos de dias, mas como nada encontrassem, rumaram ao norte, e vieram ter, na outra costa, a uma angra, a que deram o nome “dos Vaqueiros”, por nela terem visto muitas vacas guardadas pelos seus pastores. Ao vê-los, os negros retiraram o gado para dentro…




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