sábado, 29 de setembro de 2012

Património Mundial e Cultural da Humanidade


Fundada em Novembro de 1945, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), tem como objectivo contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.
Uma das suas atividades iniciais no campo da cultura foi a Campanha da Núbia, lançada em 1960 com o objectivo de salvaguardar o Grande Templo de Abu Simbel e vários outros complexos arquitectónicos no Egipto, da destruição inevitável que a construção da Barragem de Assuão lhes causaria.
O trabalho da Organização sobre o Património levou à adopção, em 1972, da Convenção sobre a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, através de um tratado internacional que envolve mais de 150 países. O Comité do Património Mundial foi criado em 1976 e as primeiras classificações inscritas na Lista do Património Mundial em 1978.
O programa de classificação visa catalogar e preservar locais de excepcional importância cultural ou natural, obras incontornáveis e recantos do Globo onde a natureza ou a mão humana geraram paisagens e obras que fazem parte da nossa herança colectiva.
Os locais da lista podem obter fundos do World Heritage Fund sob determinadas condições.
A conservação do património mundial é um processo contínuo. Se um país não protege os locais inscritos, corre o risco de que esses locais sejam retirados da Lista do Património Mundial. Os países devem informar periodicamente o Comité do Património Mundial sobre o seu estado de conservação.
Se o comité do Património Mundial é avisado sobre possíveis perigos para um sítio, ele é incluído na Lista do Património Mundial em Perigo, com o fim de chamar a atenção mundial sobre as condições, naturais ou criadas pelo homem, que ameaçam as características pelas quais inicialmente se inscreveu o lugar na Lista do Património Mundial
Em 2011, faziam parte desta lista cerca de 936 lugares, sendo 725 culturais, 183 naturais e 28 mistos, em 153 países diferentes.
Fazendo, portanto, parte da nossa História ao longo dos séculos, incluirei alguns destes locais nas minhas próximas mensagens, dentro da rubrica “Lugares com História”, começando pelas Igrejas Rupestres de Ivanovo, na Bulgária, onde se pode apreciar a pintura búlgara medieval no seu melhor.
Fontes e imagem: www.wikipedia.org

sábado, 22 de setembro de 2012

O Equinócio do Outono

A palavra equinócio vem do latim, aequus (igual) e nox (noite), e significa "noites iguais", ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo. Ao medir a duração do dia, considera-se que o nascer do Sol (alvorada ou dilúculo) é o instante em que metade do círculo solar está acima do horizonte, e o pôr do Sol (crepúsculo ou ocaso) o instante em que o círculo solar está metade abaixo do horizonte. Com esta definição, o dia e a noite durante os equinócios têm igualmente 12 horas de duração.

Os equinócios ocorrem nos meses de março e setembro quando definem mudanças de estação.

Nas culturas pré-cristãs, o culto associado ao Equinócio de Outono era baptizado com o nome da divindade celta "Mabon" e corporizava uma das épocas de festa na roda do tempo. O nome Mabon veio de um dos deuses Celtas (também conhecido como Angus), o Deus do Amor.

A poesia celta, em especial a dos tempos mais antigos, celebrava principalmente a Natureza, e no poema irlandês do sec. XI, intitulado “As Quatro Estações”, o Outono é assim descrito:

 - Era uma vez um senhor chamado Athairne, que no Outono andava de jornada e chegou a casa do seu irmão de leite Amhairghen. Aí passou a noite e na manhã do dia seguinte aprestou-se para partir. Mas Amhairghen para o deter, disse-lhe:

 

O Outono é uma boa estação para gozar o sossego e a paz.

Para todos há trabalho que baste e os dias ainda contam muitas horas de sol.

Os gamos malhados, nascidos da corça, acham abrigo nas moitas vermelhas dos fetos do bosque.

Ao soarem os guizos do rebanho de corças, os veados machos correm dos outeiros.

Nos bosques espessos é grande a fartura de doces bolotas.

Por toda a lonjura da terra castanha se alongam searas de aveia e cevada.

No pátio em ruínas crescem as ervas e moitas espinhosas de bagas silvestres.

E pelo chão se espalha fruta de sumo, madura e pesada.

Grandes avelãs, de bom sabor, pendem aos cachos de aveleiras velhas e bem alinhadas.

 

Autor desconhecido

 

Fontes:


astral.sapo.pt

Morais, José Domingos – “A Perfeita Harmonia” Poemas Celtas da Natureza.

 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

AMAR OU ODIAR

Amar ou odiar: ou tudo ou nada!
O meio termo é que não pode ser
A alma tem d’estar sobressaltada
P’ra o nosso barro se sentir viver.
Não é uma cruz a que não for pesada,
Metade dum prazer não é um prazer;
E quem quiser a alma sossegada
Fuja do mundo e deixe-se morrer.
Vive-se tanto mais quanto se sente;
Todo o valor está no que sofremos…
Que nenhum homem seja indiferente!
Amemos muito, como odiamos já:
A verdade está sempre nos extremos,
Porque é no sentimento que ela está.
Fausto Guedes Teixeira
 


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Dos Filhos


E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.


 Khalil Gibran – “O Profeta”

 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Viagem de Bartolomeu Dias – III

 
 
 
Painel de Domingos Rebelo, 1945 – Bartolomeu Dias dobrando o Cabo das Tormentas.

…Lançaram fogo à naveta e seguindo viagem aportaram à ilha do Príncipe, onde encontraram Duarte Pacheco Pereira, doente com febres, que levaram de volta à capital do reino.
Bartolomeu Dias chegou a Lisboa em Dezembro de 1488. Descobrira, para além do navegado, 600 léguas de costa africana que apontou, légua a légua numa carta de marear, para apresentar ao seu rei!
A primeira representação cartográfica das zonas exploradas por Bartolomeu Dias é o planisfério de Henricus Martellus. Em 1652, o mercador holandês Jan van Riebeeck fundaria um posto comercial na região que, mais tarde, se tornaria a Cidade do Cabo.
Tinha resolvido, náutica e geograficamente, o problema do caminho marítimo para a Índia, a chamada Rota do Cabo. Por este feito extraordinário, não recebeu de D. João II quaisquer honras ou recompensas…Durante os cerca de quatro anos seguintes não volta ao mar, ficando como recebedor no Armazém da Guiné, em Lisboa.
Por sua vez, o rei, até à assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494, para com as missões navais, embora comece a delinear a expedição à Índia, que não chega a terminar, pois falece em 1495.
Com a subida ao trono de D. Manuel I, este envia-o para os estaleiros da Ribeira das Naus, a fim de orientar os trabalhos de construção dos barcos que iriam fazer a viagem até à Índia, dada a sua experiência na descoberta marítima do Cabo. Mas não foi a ele que o rei deu o comando da expedição…Quando a altura chegou, o capitão escolhido foi Vasco da Gama e a Bartolomeu foi ordenado que acompanhasse a expedição, sim, mas só até S. Jorge da Mina.
 A amargura e a frustração que sentiu devem ter sido enormes… mas não seria a última vez!
Em 1500, nova expedição é enviada até à Índia, e novamente é preterido em favor de Pedro Álvares Cabral! Bartolomeu segue nesta viagem comandando um dos navios, mas o seu destino é Sofala, na costa oriental africana. A Índia continuava a ser uma miragem…Tem, no entanto, a consolação de participar no descobrimento das Terras de Vera Cruz, onde permaneceram cerca de nove dias, continuando depois a sua derrota, no início de Maio desse ano.
Cerca do dia 23 do mesmo mês avistaram o Cabo da Boa Esperança, quando um forte temporal causou o naufrágio de quatro naus, entre elas, a de Bartolomeu Dias, que por mais uma ironia do Destino, veio a falecer precisamente junto da sua descoberta mais famosa - o Cabo das Tormentas.

O medonho gigante lá no fim do mar tinha finalmente a sua desforra…

 “Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança..”

 Luís de Camões - Os Lusíadas, Canto V  


Mas se “O Navegador da Passagem”(como muito bem lhe chama a escritora Deana Barroqueiro no seu romance histórico com o mesmo nome), foi esquecido pelos reis que serviu, já os dois maiores poetas da língua portuguesa o lembraram através dos seus versos:
Luís de Camões, acima citado, e Fernando Pessoa, que no seu livro “A Mensagem”, lhe escreve o seguinte epitáfio:


"Jaz aqui, na pequena praia extrema

O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,

 O mar é o mesmo: já ninguém o tema!

 Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro."

 (Depois do desaparecimento do navegador, o rei D. Manuel concedeu uma tença de 12.000 réis anuais aos filhos de Bartolomeu Dias).

Fontes:

Barroqueiro, Deana – O Navegador da Passagem

Saraiva, José Hermano – História de Portugal

Coelho, António Borges – Largada das Naus, Vol. III História de Portugal

Pessoa, Fernando – Mensagem

Camões, Luís – Os Lusíadas