Pietà- Salvador Dali |
De todas as imagens que ilustram a Semana Santa, para
mim a mais dramática e comovente, é sem dúvida a de Maria abraçando o corpo
morto do Seu Filho. Toda a agonia da infinita dor de uma Mãe perante a perda
consumada está expressa no Seu rosto e num mundo cada vez mais em convulsão,
quantas Pietà não estarão chorando…
As primeiras Pietà surgiram em finais do século
XIII na Alemanha,
expandindo-se depois para outras regiões da Europa ao longo
da Idade Média,
expressando-se frequentemente tanto na escultura como na pintura.
Aparentemente, as imagens medievais eram destinadas à contemplação mística dos
fiéis, permitindo que o devoto se sentisse presente no momento pungente da
descida de Jesus da Cruz e da entrega do Seu corpo a Maria.
Nesse
sentido, a Pietà era uma imagem
de devoção como o crucifixo, e por isso era representada isolada de outros
personagens da Paixão de Cristo. Com o passar do tempo começaram
a surgir representações de Maria e Jesus morto acompanhados por José de Arimateia, Nicodemos,
Maria
Madalena e outros personagens, a que os historiadores de arte deram
o nome de Lamentações de Cristo.
Apesar de a Pietà mais conhecida ser a de Miguel
Angelo, esculpida em 1499 e localizada no interior da Basílica de S. Pedro, em
Roma, achei por bem apresentar hoje imagens de artistas mais modernos para
acompanhar o belíssimo poema de um dos meus poetas preferidos, Miguel Torga.
Pietà
Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.
Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.
Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;
Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.
Miguel Torga in (Poesia Completa)
Pietà - Paula Rego |
Pietà - Botero |
Sem comentários:
Enviar um comentário