sábado, 30 de março de 2013

PIETÀ

Pietà- Salvador Dali




De todas as imagens que ilustram a Semana Santa, para mim a mais dramática e comovente, é sem dúvida a de Maria abraçando o corpo morto do Seu Filho. Toda a agonia da infinita dor de uma Mãe perante a perda consumada está expressa no Seu rosto e num mundo cada vez mais em convulsão, quantas Pietà não estarão chorando…
As primeiras Pietà surgiram em finais do século XIII na Alemanha, expandindo-se depois para outras regiões da Europa ao longo da Idade Média, expressando-se frequentemente tanto na escultura como na pintura. Aparentemente, as imagens medievais eram destinadas à contemplação mística dos fiéis, permitindo que o devoto se sentisse presente no momento pungente da descida de Jesus da Cruz e da entrega do Seu corpo a Maria.
Nesse sentido, a Pietà era uma imagem de devoção como o crucifixo, e por isso era representada isolada de outros personagens da Paixão de Cristo. Com o passar do tempo começaram a surgir representações de Maria e Jesus morto acompanhados por José de Arimateia, Nicodemos, Maria Madalena e outros personagens, a que os historiadores de arte deram o nome de Lamentações de Cristo.
Apesar de a Pietà mais conhecida ser a de Miguel Angelo, esculpida em 1499 e localizada no interior da Basílica de S. Pedro, em Roma, achei por bem apresentar hoje imagens de artistas mais modernos para acompanhar o belíssimo poema de um dos meus poetas preferidos, Miguel Torga.


Pietà

Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.

Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.

Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;

Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.

Miguel Torga in (Poesia Completa)


Pietà - Paula Rego

Pietà - Botero

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