Segunda-feira,
26 de Abril de 1937, dia de mercado na cidade basca de Guernica.
A vida decorre
normalmente para os seus cerca de 7.000 habitantes, embora agora acrescidos de
tropas lealistas e de civis que retiravam frente ao avanço das tropas
nacionalistas, quando às 16,30h a paz desse dia foi subitamente interrompida
pelo ruído das explosões das bombas largadas pelas vagas sucessivas dos aviões
Heinkel 111, dirigidos pelos pilotos alemães da Legião Condor, enviados por
Hitler para apoiar o general Francisco Franco, durante a Guerra Civil Espanhola.
A seguir aos Heinkel 111, vieram os Junker 52, metralhando sem piedade os civis
indefesos.
Quando tudo
terminou, ao fim de quatro horas de bombardeamento, a maior parte da cidade estava
destruída ou em chamas, cerca de 1654 dos seus habitantes estavam mortos e
quase outros 1000 feridos, embora estudos actuais baixem bastante estas cifras.
70% dos edifícios ficaram destruídos e 20% seriamente danificados.
Assim começou e
terminou o massacre de Guernica, que ficou para a história como o primeiro
bombardeamento aéreo sobre civis de que há memória!
O mais trágico
de tudo isto é que Guernica não se encontrava directamente na frente de
batalha, nem tinha qualquer interesse militar, serviu apenas para testar o
efeito dos bombardeamentos sobre as populações civis, e como um aviso do general
Franco à autonomia demonstrada pelo governo basco…
Dois dias depois
as forças de terra nacionalistas ocuparam a cidade e queimaram todos os
arquivos que encontraram na igreja, tornando impossível a contagem final dos
mortos.
Provavelmente
este episódio nunca ficaria tão conhecido internacionalmente, se nessa noite não
estivessem em Bilbau quatro jornalistas profissionais,
todos eles estrangeiros: George Lowther Steer, do "The Times", Noel
Monks, do "The Daily Express", Christopher Holme, da agência Reuters,
todos de Londres, e Mathieu Corman, correspondente do "Ce Soir", de
Paris, que ao saberem do sucedido, se deslocaram a Guernica.
Escreveu George Steer:” Às duas horas da manhã
de hoje, quando visitei a cidade, o seu conjunto apresentava uma visão
aterradora, ardendo de ponta a ponta. O reflexo das chamas podia ser visto nas
nuvens de fumaça acima das montanhas a dez quilómetros de distância. Durante
toda a noite caíam casas e as ruas tornavam-se longas pilhas de destroços
vermelhos impenetráveis. Muitos dos sobreviventes civis iniciaram a longa
caminhada de Guernica a Bilbau em antigas e sólidas carroças bascas puxadas por
bois. As carroças repletas de todo o tipo de utensílios domésticos, obstruiram
as estradas durante toda a noite. Outros sobreviventes foram evacuados em
camiões do Governo, mas muitos foram forçados a permanecer nas redondezas da
cidade incendiada deitados em colchões ou procurando parentes e crianças
perdidas, enquanto unidades dos bombeiros e da polícia basca motorizada, sob
orientação pessoal do ministro do Interior, senhor Monzon e sua esposa,
continuavam o trabalho de resgate até o amanhecer".
Embora todo o mundo se sentisse
indignado, não houve reacções ao sucedido, e durante décadas assistiu-se a
discussões infindáveis sobre os motivos do bombardeamento e quem seriam os
verdadeiros responsáveis, e só em 1975 foi oficialmente reconhecido que
Guernica tinha sido bombardeada pelos aviões da Legião Condor.
Em 1997 por ocasião do 60º
aniversário do ataque, o então Presidente da República Federal Alemã, Roman
Herzog, em carta lida pelo embaixador alemão em Espanha pediu publicamente
desculpa pela manifesta autoria alemã do bombardeamento.
Guernica tornou-se não só um símbolo
dos horrores da guerra, mas também uma antevisão do que iria acontecer mais
tarde a cidades como Londres, Berlim, Varsóvia, Tóquio…
Esta atrocidade encheu de indignação
o pintor espanhol Pablo Picasso, na altura a residir em Paris, levando-o a
pintar o seu famoso mural “Guernica” obra-prima da pintura universal, para ser exposto
no pavilhão da Republica Espanhola durante a Exposição Internacional de Paris
de 1937, como um autêntico libelo contra a violência e sofrimento infligidas a
vitimas inocentes.
Fontes: www.wikipedia.pt
www.expresso.pt