Símbolo da
resistência francesa à ocupação inglesa durante a Guerra dos Cem Anos, Joana, a
antiga pastora de Domrémy que se tinha autoproclamado “a enviada de Deus”,
conseguiu o impensável: Derrotar o poderoso exército inglês de Henrique VI, rei
de França e de Inglaterra, e fazer coroar em Reims o delfim Carlos, conde de
Ponthieu, filho de Carlos VI de França, o pobre rei louco, e de Isabel da
Baviera, que não hesitou em afastá-lo (há quem o considere bastardo dado os
vários amantes atribuídos à rainha), para conjuntamente com a mão da sua bela filha
Catarina, oferecer o trono de França ao então rei de Inglaterra, Henrique V, o
vencedor de Azincourt, nomeando-o como regente e herdeiro do infeliz rei
francês, conforme o acordado no Tratado de Troyes.
Tanto Carlos VI
como Henrique V já tinham falecido, e os seus descendentes, o hesitante delfim apoiado
pela sua enérgica sogra, Yolanda de Aragão, e o seu sobrinho Henrique VI, de
apenas 10 anos de idade, tendo como regente seu tio, o Duque de Beaufort, estavam
em guerra desde então.
Nesta época, Carlos
tinha a sua corte na cidade de Burges, no coração da França, sendo reconhecido
como rei nas poucas províncias do centro do país que permaneceram fieis aos
Armanhaques, de quem o delfim era o chefe, sendo por isso chamado de “rei de
Burges”.
No Outono de 1428
os Ingleses cercaram a cidade de Orleães, que constituía a via de acesso ao sul
da França.
Quando tudo
parecia perdido para o Delfim, eis que Joana se apresenta em seu socorro,
apresentando-se como enviada por Deus para o fazer sagrar em Reims. Dirige-se
depois a Orleães à frente do exército real, chefiando comandantes como o duque
de Alençon, Dunois, o Bastardo de Orleães, o almirante Louis de Culan ou Gilles
de Rais, futuro marechal de França obrigando os ingleses a levantar o apertado
cerco à cidade. O caminho para Saint-Rémy fica então livre, e em Julho, ao
entrar na cidade ao lado do soberano, envergando uma armadura brilhante e de
viseira levantada, no meio dos gritos de alegria dos seus soldados, Joana viveu
o momento mais emocionante da sua curta vida.
A 17 de Julho de
1429, o arcebispo de Reims depois de o ter ungido com os santos óleos, colocou
a coroa na cabeça de Carlos VII, sagrando-o como legítimo rei de França.
Os ingleses
cometeram um erro grave ao não terem feito o mesmo ao jovem rei Henrique, e
quando o fizeram em 1431 na Catedral de Notre-Dame, em Paris, era tarde demais.
A França já tinha o seu rei legítimo
Em
reconhecimento por este feito, Carlos VII eleva Joana e a sua família à nobreza
em Dezembro desse mesmo ano, mas a partir daí a sua simpatia por ela começa a
esfriar.
Agora que já tem
uma base segura de onde pode prosseguir as suas operações, Carlos VII quer ser
ele mesmo a comandar as suas actuações e não tem qualquer intuito de andar às
ordens de uma mulher... Por outro lado, a popularidade e simpatia de que a
Donzela goza junto do povo e do seu próprio exército não agradam ao seu
caracter taciturno e desconfiado, e muito menos ao círculo dos seus
conselheiros que lutam pelas suas próprias conveniências pessoais!
À impaciência de
Joana para conquistar Paris, o rei opõe a apatia habitual e à sua revelia
inicia uma série de conversações com o duque da Borgonha, Filipe o Bom, aliado
dos Ingleses, para a obtenção da paz.
Pode, por isso,
imaginar-se a alegria dos ingleses quando a 24 de Maio de 1430, numa surtida
após ter conquistado Compiègne, a Donzela de Orleães foi capturada pelos
borguinhões, partidários do rei inglês. Vendida por estes aos seus aliados,
Joana teve de suportar um processo atroz e iníquo que durou meses, acabando os
seus dias na fogueira, em Ruão, a capital inglesa do reino de França.
Carlos VII
continua a reconquista e em 1450 ao retomar Ruão, o rei faz a sua entrada com
um fausto extraordinário na cidade onde vinte anos antes tinha perecido aquela
que havia jurado restituir-lhe a coroa e a quem ele tinha pago com o mais
completo abandono!
No dia seguinte,
a 15 de Fevereiro, o soberano evoca oficialmente, pela primeira vez, o caso de
Joana d’Arc, mandando proceder à abertura de um inquérito para revisão do seu
processo. Mas só a 11 de Junho de 1455, o Papa Calisto III, que sucedera a
Nicolau V, ordenou essa revisão, que culminará na sua absolvição em 1456, sendo
as actas do julgamento de 1431 solenemente destruídas. O seu antecessor sempre
se tinha recusado a fazê-lo, apesar dos insistentes pedidos do rei francês.
Em 1869, o bispo
de Orleães juntamente com os restantes bispos franceses pedem ao Papa Pio IX a
beatificação da Donzela, o que só acontece a 18 de Abril de 1909, durante o papado
de Pio X. A 9 de Maio de 1920, cerca de 500 anos depois da sua morte,
Joana d'Arc é finalmente canonizada pelo Papa Bento XV, e em 1922 é
declarada a Padroeira de França.
Fontes: Pernoud,
Régine e Marie-Veronique Clin – Joana D’Arc
Imagens:
Wikipédia
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