O Pensador - Rodin |
O PENSADOR DE RODIN
Queixo apoiado à mão em postura severa,
Lembra-se o Pensador que é da carne uma presa;
Carne fatal, desnuda ante o fado que o espera,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza;
Que estremeceu de amor na primavera ardente
E hoje, imersa no outono, a tristeza conhece.
A ideia de morrer dessa fronte consciente
Passa por todo o bronze, à hora em que a noite desce.
De angústia os músculos se fendem, sofredores;
Os sulcos de seu corpo enchem-se de terrores;
Entrega-se, folha outoniça, ao Senhor forte
Que o plasma. E não se crispa uma árvore torcida
De sol nos plainos, nem leão de anca ferida,
Como esse homem que está meditando na morte.
Queixo apoiado à mão em postura severa,
Lembra-se o Pensador que é da carne uma presa;
Carne fatal, desnuda ante o fado que o espera,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza;
Que estremeceu de amor na primavera ardente
E hoje, imersa no outono, a tristeza conhece.
A ideia de morrer dessa fronte consciente
Passa por todo o bronze, à hora em que a noite desce.
De angústia os músculos se fendem, sofredores;
Os sulcos de seu corpo enchem-se de terrores;
Entrega-se, folha outoniça, ao Senhor forte
Que o plasma. E não se crispa uma árvore torcida
De sol nos plainos, nem leão de anca ferida,
Como esse homem que está meditando na morte.
Gabriela Mistral, (1889-1957)
Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda, (1904-1973)
PRESENÇA
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
Mário Quintana, (1906-1994)
Pintura de Sofia Dyminsky |
Mas não é só no
fado, na pintura, na prosa ou na poesia que a “saudade” se encontra.
Em botânica, “saudade”
é o nome vulgar de várias plantas da família das Dipsacáceas e das Compostas,
como as saudades-brancas, que aparecem nos campos e nas vinhas do
Sul de Portugal, e é também conhecida por suspiros-brancos-do-monte, as saudades-perpétuas, cultivadas no Sul de Portugal e as saudades-roxas
(plantas da família das Dipsacáceas,
que aparecem nos terrenos secos e pedregosos, também conhecidas por suspiros-roxos).
E termino este
tema com um dos poemas lindos da minha poetisa preferida:
NOITE DE SAUDADE
“A noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
Por que és assim tão’scura, assim tão triste?!
É que, talvez, a Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!...Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!”
“A noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!
Por que és assim tão’scura, assim tão triste?!
É que, talvez, a Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!...Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!”
Florbela Espanca, (1894-1930)
Saudades-roxas |
Fontes:
ww.wikipédia.org
Alves,
Adalberto – Al-Mu’tamid poeta do destino
Correia,
Natália – Trovas de D. Dinis
Espanca,
Florbela – Sonetos
Garrett,
João d’ Almeida – Lirica Completa
Imagem
da flor: riscas83.blogspot.com scabiosa marítima
Restantes
imagens: Internet
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