O
Cheiro da comida e o som do dinheiro
Certo dia, ao
ver que o dono de um restaurante estava a agredir um pobre, Hocanasgar
(Personagem bem conhecida pelas suas aventuras, da minoria étnica kazak)
decidiu intervir.
- O que está a
fazer? – perguntou ao dono do restaurante.
- Este pobre não
quer pagar o que comeu.
- O que comeu
ele? E quanto lhe deve? – quis saber Hocanasgar.
- Ele entrou no
meu restaurante, tirou um pão do bolso, e ficou a contemplá-lo durante muito
tempo. Só depois do cheiro da cozinha se infiltrar no pão é que ele começou a
comer. O cheiro da minha comida não é de graça, por isso ele tem que me pagar!
- Tem toda a
razão – disse Hocanasgar. E voltando-se para o pobre, perguntou: - Qual é a sua
versão dos acontecimentos?
- De facto,
entrei no restaurante. Queria pedir um prato, mas como são muito caros, o meu
dinheiro não chega para eles. Ainda pedi algumas sobras, mas o dono do
restaurante não quis dar-mas. Assim, fiquei a comer o meu pão, sentado à porta.
Como se atreve ele a cobrar-me dinheiro por isso?
- Também está
cheio de razão…Mas, diga-me, tem algum dinheiro por pouco que seja?
- Só tenho duas
moedinhas.
- Dê-mas, que eu
resolvo o assunto.
O pobre tirou o
dinheiro do bolso e entregou-o a Hocanasgar. Este fez soar as moedas ao ouvido
do dono do restaurante, devolvendo-as depois ao pobre, dizendo:
- Pode ir-se
embora.
- Como pode
deixá-lo ir sem pagar? – gritou o dono, furioso.
Então Hocanasgar
explicou calmamente:
- Gosto de defender
a justiça. Ele não comeu a sua comida, cheirou-a. Mas agora você também ouviu o
som do dinheiro dele! Estão quites.
Fonte:
Suoying, Wang e
Ana Cristina Alves – Contos da Terra do Dragão – Ed. Caminho