sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Samurais, os Senhores da Guerra – III

Oda Nobunaga (1534-1582), alcunhado o Tolo de Owari, pelo seu comportamento bizarro na infância, era filho de um senhor feudal de Bishu, conquistou o reino depois de esmagar os dáimios rivais e as instituições religiosas. Em 1568 tomou Kyoto dominando as tropas da corte imperial e as do xogun, demite as chancelarias da corte, e estabelece em nome do imperador uma espécie de paz nacional numa parte considerável do país. Repôs no poder o décimo quinto xogun Yoshiaki Ashikaga, mas demiti-lo-ia ao fim de pouco tempo, acabando assim com o xogunato.
Pequeno e feio, Nobunaga além de ser excelente estratega, era também cruel. Como génio militar, estreou-se aos vinte e sete anos na batalha de Okehazama, em 1566, onde não só derrotou um exército bastante maior, o clã Imagawa, considerado a maior força militar daquela época, como também capturou o próprio chefe dáimio. Em 1571 chacinou cerca de 3.000 monges Tendai e laicos, no monte Hei, arrasando o mosteiro, sem se incomodar com o que muitos consideraram um sacrilégio. Em 1574, em Nagashima, província de Owari, Nobunaga cercou cerca de 20.000 seguidores de Ikkoshu (devotos da escola da Terra da Verdade Pura, uma poderosa força espiritual e militar sob a alçada do complexo monástico de Honganji, opositores de Oda), homens mulheres e crianças e lançou-lhes fogo. Em 1575 trava a batalha de Nagashino, em Mikawa, decisiva para derrotar os dáimios rivais e onde, pela primeira vez, se assiste ao uso intensivo das armas de fogo. Em 1578 todo o Japão central está sob o seu poder e em 1580, após dez anos de cerco, consegue a capitulação da grande fortaleza que servia de quartel-general da seita Ikko, em Ishiyama (Osaca).
É no seu tempo que se dá o encontro com os missionários portugueses, que só tolera porque procura um equilíbrio religioso contra as comunidades monásticas do seu próprio país. Usando-os como instrumento político, dá-lhes todas as facilidades para a propagação da fé católica, chegando mesmo a doar-lhes em Kyoto, a capital, a mais imponente das cercas de 200 igrejas até aí construídas pelos jesuítas, a “Nambanji”.
No que respeita à Corte, Nobunaga manda reconstruir o palácio imperial ao mesmo tempo que impõe de novo ao país a figura reabilitada do imperador, que durante todo esse tempo de guerra e anarquia estava quase esquecida.
Como demonstração do seu poder, Nobunaga manda construir para si um castelo magnífico, o castelo de Azuchi, nas margens do Lago Biwa, que, juntamente com o que o seu seguidor mandou também edificar, define a Era dos Ditadores como o Período Azuchi-Momoyama.
O castelo de Azuchi, que se tornou num dos símbolos culturais desta época assim como as festas magníficas que aí se celebravam deixaram o missionário português Luís Fróis (1532-1597), que viveu no Japão mais de trinta anos, completamente assombrado. Construido no cimo do monte que dominava a cidade, era rodeado por muralhas com mais de sessenta palmos de altura. Dentro delas, além de vários edifícios decorados a ouro e estátuas, situava-se uma torre de sete andares a que chamavam tenshu. No seu interior havia salas com pinturas magníficas e decoradas a folha de ouro feitas pelo artista Kano Eitoku, enquanto que no exterior cada andar era pintado de várias cores. Infelizmente este castelo ardeu em 1582, depois de ter sido saqueado a seguir à morte do seu dono.
A 21 de Junho de 1582, Oda Nobunaga encontrava-se com uma escolta reduzida a descansar no templo budista de Honnô-ji, em Kyoto, quando um dos seus generais, Mitsuhide, por razões ainda hoje não totalmente conhecidas, o cercou à traição, impondo-lhe que se rendesse. Sem meios para se defender, Oda prefere matar-se, cometendo sepukku, ao mesmo tempo que manda incendiar o templo para que não se pudessem apoderar do seu corpo, uma vez que naquela altura, ainda se exibiam as cabeças cortadas aos inimigos. Este acontecimento ficou conhecido como o Incidente de Honnô-ji.
O sonho de Nobunaga para a reunificação do país não acabou com a sua morte, pois um dos seus melhores generais, Toyotomi Hideyoshi, um homem de origem humilde, filho de um camponês de Owari, que tinha subido a pulso na carreira, devido às suas próprias capacidades, derrotou o general rebelde, tornando-se no novo senhor do poder.
O mesmo jesuíta português Luís Fróis que chegou a ser seu amigo escreve:
"Nobunaga não acredita em vida após a morte nem em nada que ele não possa ver com seus próprios olhos". "[...] Nobunaga faz muito segredo quanto aos seus planos, é um especialista na arte da guerra, muito pouco ou nada disposto a aceitar conselho ou admoestação de seus subordinados, muito temido e respeitado por todos. [...] Possui grande capacidade de discernimento, pensamento claro, e despreza as deidades e todas as formas de idolatria e superstição. Ele é um adepto nominal da seita Hokke (Lotus) mas declara publicamente que não existem coisas como um Criador do Universo ou a imortalidade da alma, ou vida após a morte. Extremamente refinado e limpo em sua vestimenta e na nobreza das suas ações".
Uma frase pode resumir o estilo de Oda Nobunaga: "Se o pássaro não canta, eu o mato"




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