quarta-feira, 22 de abril de 2015

A TERRA


O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Cora Coralina


O Dia da Terra foi criado pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, um activista ambiental, tendo por finalidade criar uma consciência comum para os problemas que afligem a Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Na primeira manifestação que teve lugar no dia 22 de Abril de 1970, para a criação de uma agenda ambiental, participaram duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e centenas de comunidades. A pressão social teve sucesso e o governos dos Estados Unidos criaram a Agencia de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) e uma série de leis destinadas à proteção do meio ambiente. Em 2009 as Nações Unidas instituíram o Dia Internacional da Mãe Terra.
...A informação sobre as possíveis ameaças em resultado do desenvolvimento insustentável parece não assustar a humanidade. Afinal, a Terra continua a dar-nos água, alimento (mais para uns do que para outros), recursos vários.
O ponto de não retorno ainda não foi atingido e a “teoria de Gaia”, proposta por James Lovelock, parece continuar a resultar: o planeta Terra mostra resiliência, como se se tratasse dum superorganismo, apesar de todos os riscos que o Homem lhe faz correr. Lembra a história de Pedro e o Lobo. Os lenhadores não acreditavam nas partidas que o Pedro pregava, porque não havia lobo, o problema foi quando ele apareceu mesmo. No caso do nosso planeta, os cientistas avisam, não para pregar partidas, mas para alertar para os riscos e consequências das nossas opções...” - (Excerto de um Artigo publicado no Jornal “O Público” na coluna Opinião, pela Prof. Dra. Maria Amélia Martins-Loução).
Astronomicamente, a nossa Mãe Terra é o terceiro planeta a contar do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar, sendo também conhecido por Planeta Azul. É também o maior dos quatro planetas telúricos e (até agora), o único onde é conhecida a existência de vida tal como a concebemos.
Mitologicamente, a Terra é a substância universal Prakriti, o caos primordial, a matéria-prima separada das águas, segundo o Génesis; trazida à superfície das águas pelo javali de Vixnu; coagulada pelos heróis míticos do xintoísmo; matéria com que o Criador (na China, Niukua) molda o homem.
A Terra simboliza a função maternal: Tellus Mater. Ela dá e tira a vida. Prostrando-se no chão, Job escreve: Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para ele (1, 21), identificando a terra-mãe com o colo maternal. Na religião védica, a terra simboliza também a mãe, fonte do ser e da vida, protectora contra todas as forças do aniquilamento. Segundo os ritos védicos dos funerais, no momento em que a urna funerária contendo os restos da incineração é enterrada, são recitados versos:
Vai para esta Terra, tua mãe,
para as vastas moradas, para os bons favores!
Suave como a lã a quem a soube dar,
que ela te proteja do Nada!
Forma uma abóbada para ele e não o esmagues;
recebe-o Terra, acolhe-o!
Cobre-o com uma orla do teu vestido
como uma mãe protege o seu filho”. (Rig Veda, Grhyasutra, 4, 1)
Segundo a Teogonia, de Hesíodo, ela (Gaia) deu à luz o próprio Céu (Úrano), que deveria cobri-la a seguir para dar origem a todos os deuses. Os deuses imitaram esta primeira hierogamia, depois os homens, e os animais; a Terra revelou-se a origem de toda a vida, e foi-lhe dado o nome de Grande Mãe.
No Japão supõe-se que a terra é transportada por um enorme peixe; na Índia, por uma tartaruga; entre os Ameríndios por uma serpente; no Egipto, por um escaravelho; no Sueste da Ásia, por um elefante, etc. Os sismos explicam-se pelos movimentos repentinos desses animais geóforos que correspondem às fases da evolução.
Na literatura identifica-se muitas vezes a terra fértil com a mulher: sulcos semeados, lavoura e penetração sexual, parto e colheita, trabalho agrícola e acto gerador, colheita dos frutos e aleitamento, a relha do arado e o falo do homem.
Paul Diel esboçou toda uma psicogeografia dos símbolos na qual a superfície plana da terra representa o homem enquanto ser consciente; o mundo subterrâneo com os seus demónios e os seus monstros ou divindades malevolentes, representa o subconsciente; os cumes mais elevados, mais próximos do céu, são a imagem do supraconsciente. Ela é a arena dos conflitos da consciência do ser humano.


Poema da Terra Adubada

Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.

António Gedeão, in 'Linhas de Força'

Fontes: www.wikipédia.org
Jornal “O Público”
Chevalier, Jean, Alain Gheerbrant – Dicionário dos Símbolos
Imagem: internet

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