Articles of the Barons 1215 |
“Nenhum
homem livre poderá ser detido, preso, declarado fora da lei, exilado
ou punido de qualquer outra forma sem primeiro ter sido julgado pelos
seus pares, segundo as leis do reino”.
É
este artigo que diz respeito à protecção da liberdade pessoal do
cidadão contra o abuso do poder, o ponto principal do histórico
documento chamado de “Articles of the Barons” apresentado a 10 de
Junho de 1215, ao rei inglês João Sem-Terra pelos revoltados barões
ingleses que cercavam Londres, e assinado pelo monarca a 15 do mesmo
mês, faz hoje 800 anos, nos prados de Runnymede, nas margens do rio
Tamisa, e que ficou conhecido pelo nome de Magna
Carta.
Depois
de aposto o selo real, os barões extraíram várias cópias do
documento que enviaram para todos os condados e a 19 de Junho os
nobres renovaram os seus votos de lealdade para com o rei.
Embora
na realidade, neste documento, homem
livre
significasse homem nobre,
e sancionasse os privilégios dos senhores feudais e dos príncipes
da Igreja, com o andar dos tempos, a consciência popular
considerou-o como extensível a todo o povo inglês, e apesar de,
naquela altura, ter sido ignorado por ambas as partes, tornou-se
séculos depois, um dos fundamentos do constitucionalismo.
Escrita
em latim, o documento assinado e cujo nome completo é Magna
Charta Libertatum, seu Concordiam inter regem Johannen at barones pro
concessione libertatum ecclesiae et regni angliae (Grande Carta das
liberdades, ou concórdia entre o rei João e os barões para a
outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês),
continha mais 62 artigos, que focavam aspectos muito concretos,
considerados então igualmente importantes, garantia certas
liberdades políticas inglesas e continha disposições que tornavam
a Igreja livre da ingerência da monarquia, reformavam o direito e a
justiça e regulavam o comportamento dos funcionários reais:
O
art. 40 diz: "A ninguém venderemos, a ninguém recusaremos ou
atrasaremos, direito ou justiça."
O
art. 35, impunha uma única de medida para o vinho, a cerveja e o
cereal a vigorar em todo o reino, o chamado “quarto de Londres”
(London quart).
Os
arts. 30 e 31, proibiam a confiscação arbitrária de carros,
cavalos, casas ou bosques, pelo rei ou pelos barões.
Nos
arts. 2 e 3 estipulava-se uma forma primitiva do Direito das
Sucessões.
O
art. 8 garantia que nenhuma viúva seria obrigada a contrair novo
matrimónio contra a sua vontade.
No
art. 17 estabeleciam-se tribunais de justiça geográficamente
estáveis, isto é, não seguiriam a Corte itinerante do rei, e no
art. 45 exigia-se a que as autoridades judiciais nomeadas para essas
zonas tivessem um conhecimento profundo das leis e dos costumes
locais.
A
Carta declarava também que o suserano não seria autorizado a lançar
impostos, além daqueles há muito considerados legais, sem a
aprovação de um Grande Conselho composto pelos vassalos do rei e
pelos dignitários eclesiásticos. Esta assembleia, que em breve
receberia o nome de Parlamento,
seria convocada por decreto real. Como a burguesia tinha participado
no movimento pela liberdade, a Magna
Carta confirmava
os antigos direitos e privilégios das cidades.
Mas,
sem dúvida alguma, o artigo mais gravoso para o rei, que limitava a
sua autoridade e lhe impunha uma humilhação inaceitável para
qualquer monarca, era o art. 61, o chamado “artigo de segurança”,
que estipulava a criação de uma comissão de 25 barões
encarregados de assegurar que a Carta seria respeitada por ambas as
partes, e o direito à rebelião armada por parte desses mesmos
nobres caso o rei faltasse à palavra dada.
Devido a
uma união perfeita, as classes emancipadas da nação inglesa
conseguiram forçar o tirano a inclinar-se perante a lei. Este facto
iria contrabalançar o princípio feudal da fidelidade incondicional
dos vassalos. Na realidade, a Magna Carta representou na altura, não
tanto uma carta de liberdades, mas uma vitória simbólica da
aristocracia contra um rei odiado por todos.
Mas
porquê? Como foi possível que em pleno sec. XIII um documento
destes pudesse ser firmado e quem era João Sem- Terra?
Para o
compreendermos teremos de voltar cerca de um século atrás...
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