Henrique I |
Em 1066,
Guilherme, duque da Normandia, invade a Inglaterra, derrotando o rei
Harold Godwinson na Batalha de Hastings e sobe ao trono com o nome de
Guilherme I, o Conquistador.
Para
poder cumprir as suas promessas feitas aos cavaleiros ávidos de
saque que o acompanhavam, declarou traidores todos os que pegaram em
armas contra ele, e todas as terras que o rei não conservou para si,
distribuiu-as pelos seus vassalos normandos, a título de feudos,
introduzindo assim o sistema feudal na Inglaterra.
Embora
Guilherme permitisse inicialmente aos nobres ingleses manter suas
terras em troca da sua submissão. em 1070 a nobreza nativa tinha
deixado de ser parte integrante da paisagem inglesa, e em 1086,
apenas controlava 8% das suas propriedades originais.
Oprimidos,
espoliados das suas terras e dos bens, vendidos como escravos ou
reduzidos à situação de servos dos grandes senhores, os
Anglo-Saxões, desesperados, por diversas vezes se revoltaram, mas
as suas revoltas foram afogadas em sangue.
O
ódio aos conquistadores exprime-se nas narrativas populares
relativas ao nobre salteador Robin Hood, que vivendo à margem da
lei, distribuía pelos pobres o dinheiro que tirava aos ricos
Apenas
com o decorrer do tempo o ódio entre Anglo-Saxões e Normandos
diminuiu; foi preciso século e meio para que estes dois povos se
fundissem num único povo inglês
e que o idioma misto, que se transformou na língua inglesa, se
consolidasse.
Os
sucessores de Guilherme, o Conquistador foram os seus outros filhos,
que herdaram do pai a força brutal e o egoísmo impiedoso, assim
como parte do seu talento de homem de estado, principalmente o mais
novo, que subiu ao trono como Henrique I, reinou de 1100 a 1135 e
consolidou o reino de Inglaterra frente a galeses e escoceses.
De
acordo com a tradição inglesa e para legitimar o seu reinado,
Henrique emitiu uma carta régia, também conhecida como Carta das
Liberdades (Charter of Liberties), em que garantia os direitos da
nobreza e prometia “abolir todos os maus costumes pelos quais o
Reino de Inglaterra era injustamente oprimido.” Apresentou-se
como tendo restaurado a ordem a um país devastado por dificuldades e
anunciou que iria abandonar as políticas de Guilherme em relação à
igreja, que eram vistas como opressivas pelo clero; prometeu também
evitar os abusos reais dos direitos de propriedade dos barões,
garantindo uma volta aos costumes gentis de Eduardo o Confessor,
afirmando também que iria “estabelecer uma paz firme" por
toda a Inglaterra, e ordenando que essa paz fosse mantida.
Apesar
da Carta das Liberdades ser praticamente ignorada durante mais de um
século (até ser recuperada para servir de base à Magna
Carta),Henrique I sempre se esforçou por consolidar a sua autoridade
mais pela força do Direito do que pela força das armas. Em 1120,
sofre uma tragédia pessoal e política com a morte do seu único
filho varão de apenas 17 anos de idade, Guilherme Adelin
(1103-1120), no naufrágio do “White Ship”, no rio Sena, pelo que
para evitar uma guerra de sucessão, e apesar de ter vários filhos
ilegítimos, nomeia como sucessora a sua filha Matilde, viúva de
Henrique V, imperador do Sacro Império, casada em segundas núpcias
com um conde angevino Godofredo de Anjou, obrigando os nobres, por
duas vezes, a jurarem-lhe fidelidade.
As
consequências foram terríveis; após a morte do rei em 1135 devida
a uma intoxicação alimentar provocada pela ingestão de lampreias
estragadas, o acesso de uma mulher ao trono, facto inédito em
Inglaterra, provocou uma insurreição popular apoiada por grande
parte dos nobres e pela igreja, que depressa deflagrou numa guerra
civil, entre os partidários da rainha, que se intitulou de Imperatiz
Matilde, apoiada pelo seu meio-irmão Robert, conde de Gloucester, e
os de Estêvão de Blois, sobrinho do falecido monarca, que na
ausência de Matilde se fez coroar rei de Inglaterra e era apoiado
pela maioria dos nobres e pelo clero.
Entre
1135 e 1154, a Inglaterra esteve a ferro e fogo, numa guerra tão
selvagem que ficou conhecida como “A Anarquia”. Por incrível que
pareça, a guerra terminou, não pela vitória militar de uma das
partes, mas porque, alguns barões e notáveis do país se recusaram
a continuar uma luta inútil, dispendiosa e excessivamente longa e
impuseram aos dois monarcas em litígio, em 1153 o Tratado de
Winchester (o Wallingford), em que após a morte de Estêvão de
Blois, o sucessor seria, não o seu herdeiro, mas o filho de Matilde,
o jovem Henrique, coroado em 1154 como Henrique II Plantagenet.
Esta
imposição dos nobres seria, em grande medida, o gérmen da atitude
que os barões tomariam em 1212...
Godofredo e Matilde |
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