sexta-feira, 19 de junho de 2015

MAGNA CARTA – II

Henrique I






Em 1066, Guilherme, duque da Normandia, invade a Inglaterra, derrotando o rei Harold Godwinson na Batalha de Hastings e sobe ao trono com o nome de Guilherme I, o Conquistador.
Para poder cumprir as suas promessas feitas aos cavaleiros ávidos de saque que o acompanhavam, declarou traidores todos os que pegaram em armas contra ele, e todas as terras que o rei não conservou para si, distribuiu-as pelos seus vassalos normandos, a título de feudos, introduzindo assim o sistema feudal na Inglaterra.
Embora Guilherme permitisse inicialmente aos nobres ingleses manter suas terras em troca da sua submissão. em 1070 a nobreza nativa tinha deixado de ser parte integrante da paisagem inglesa, e em 1086, apenas controlava 8% das suas propriedades originais.
Oprimidos, espoliados das suas terras e dos bens, vendidos como escravos ou reduzidos à situação de servos dos grandes senhores, os Anglo-Saxões, desesperados, por diversas vezes se revoltaram, mas as suas revoltas foram afogadas em sangue.
O ódio aos conquistadores exprime-se nas narrativas populares relativas ao nobre salteador Robin Hood, que vivendo à margem da lei, distribuía pelos pobres o dinheiro que tirava aos ricos
Apenas com o decorrer do tempo o ódio entre Anglo-Saxões e Normandos diminuiu; foi preciso século e meio para que estes dois povos se fundissem num único povo inglês e que o idioma misto, que se transformou na língua inglesa, se consolidasse.
Os sucessores de Guilherme, o Conquistador foram os seus outros filhos, que herdaram do pai a força brutal e o egoísmo impiedoso, assim como parte do seu talento de homem de estado, principalmente o mais novo, que subiu ao trono como Henrique I, reinou de 1100 a 1135 e consolidou o reino de Inglaterra frente a galeses e escoceses.
De acordo com a tradição inglesa e para legitimar o seu reinado, Henrique emitiu uma carta régia, também conhecida como Carta das Liberdades (Charter of Liberties), em que garantia os direitos da nobreza e prometia “abolir todos os maus costumes pelos quais o Reino de Inglaterra era injustamente oprimido.” Apresentou-se como tendo restaurado a ordem a um país devastado por dificuldades e anunciou que iria abandonar as políticas de Guilherme em relação à igreja, que eram vistas como opressivas pelo clero; prometeu também evitar os abusos reais dos direitos de propriedade dos barões, garantindo uma volta aos costumes gentis de Eduardo o Confessor, afirmando também que iria “estabelecer uma paz firme" por toda a Inglaterra, e ordenando que essa paz fosse mantida.
Apesar da Carta das Liberdades ser praticamente ignorada durante mais de um século (até ser recuperada para servir de base à Magna Carta),Henrique I sempre se esforçou por consolidar a sua autoridade mais pela força do Direito do que pela força das armas. Em 1120, sofre uma tragédia pessoal e política com a morte do seu único filho varão de apenas 17 anos de idade, Guilherme Adelin (1103-1120), no naufrágio do “White Ship”, no rio Sena, pelo que para evitar uma guerra de sucessão, e apesar de ter vários filhos ilegítimos, nomeia como sucessora a sua filha Matilde, viúva de Henrique V, imperador do Sacro Império, casada em segundas núpcias com um conde angevino Godofredo de Anjou, obrigando os nobres, por duas vezes, a jurarem-lhe fidelidade.
As consequências foram terríveis; após a morte do rei em 1135 devida a uma intoxicação alimentar provocada pela ingestão de lampreias estragadas, o acesso de uma mulher ao trono, facto inédito em Inglaterra, provocou uma insurreição popular apoiada por grande parte dos nobres e pela igreja, que depressa deflagrou numa guerra civil, entre os partidários da rainha, que se intitulou de Imperatiz Matilde, apoiada pelo seu meio-irmão Robert, conde de Gloucester, e os de Estêvão de Blois, sobrinho do falecido monarca, que na ausência de Matilde se fez coroar rei de Inglaterra e era apoiado pela maioria dos nobres e pelo clero.
Entre 1135 e 1154, a Inglaterra esteve a ferro e fogo, numa guerra tão selvagem que ficou conhecida como “A Anarquia”. Por incrível que pareça, a guerra terminou, não pela vitória militar de uma das partes, mas porque, alguns barões e notáveis do país se recusaram a continuar uma luta inútil, dispendiosa e excessivamente longa e impuseram aos dois monarcas em litígio, em 1153 o Tratado de Winchester (o Wallingford), em que após a morte de Estêvão de Blois, o sucessor seria, não o seu herdeiro, mas o filho de Matilde, o jovem Henrique, coroado em 1154 como Henrique II Plantagenet.
Esta imposição dos nobres seria, em grande medida, o gérmen da atitude que os barões tomariam em 1212...




Godofredo e Matilde

Sem comentários:

Enviar um comentário