Após
a morte do rei Ricardo,que não deixou descendência, sobe ao trono o
seu irmão mais novo, João Sem-Terra, coroado como João I, de
Inglaterra.
Embora no
início do seu reinado procurasse reorganizar as finanças do país,
a sua natureza violenta e cruel, a arrogância e o desprezo com que
tratava os nobres – irlandeses, ingleses e normandos – e a
impopularidade que já o acompanhava, depressa o tornaram odiado pela
maior parte dos seus súbditos.
Uma
má estratégia política e militar resultou na perda da quase
totalidade das suas possessões no norte da França em 1204 e uma
última tentativa em 1214 para recuperar o ducado da Normandia
resultou num fracasso total. Em 1211 entrou também em conflito com o
Papa Inocêncio III ao recusar-se aceitar o candidato nomeado por
este para Arcebispo da Cantuária e ao confiscar os bens
eclesiásticos, o que lhe valeu a excomunhão.
As
desastrosas campanhas militares exigiam cada vez mais dinheiro e se
em 1207, o rei controlava a sexta parte de todo o dinheiro em
circulação no país, por volta de 1213 era já a metade desse todo
que a Coroa arrecadava, o que não impedia que estivesse arruinada e
o reino a braços com uma forte recessão económica.
Aproveitando-se
desta debilidade interna, os barões do Norte (os chamados
Northeners), ainda não esquecidos do poder que tinham adquirido
durante o período da Anarquia revoltaram-se, pelo que por volta de
1212 o país encontrava-se num quase estado de guerra civil.
O
humilhante desfecho do conflito que pôs frente a frente o monarca
inglês e o autoritário Papa acabou por levar ao rubro a cólera de
todos os ingleses. Além da excomunhão, Inocêncio III ameaçou
destronar João I e dar a coroa ao seu rival, o rei Filipe Augusto,
de França, que preparava uma expedição para invadir a Inglaterra.
Perdendo toda a coragem, o rei ajoelhou-se em frente ao legado do
Papa e estendeu-lhe a coroa, o que significava que aceitava a
Inglaterra como um feudo do sumo pontífice, prometendo também pagar
um tributo anual a Roma.
Em
1215, os vassalos romperam o juramento de fidelidade ao rei apoiados
pelos burgueses de Londres e outras cidades seguiram-lhe o exemplo,
tais como Bury, St. Edmunds e St. Albans, conhecidas como Charter
Towns (as cidades da Carta). Liderados pelo Arcebispo da Cantuária,
Stephen Langton, apresentaram ao rei, a 10 de Junho de 1215, um
documento de 63 cláusulas, a que então se deu o nome de “Artigos
dos Barões” (Articles of the Barons), e que foi assinado por ambas
as partes a 19 desse mesmo mês, sendo enviadas cópias para as
cidades mais importantes do país, existindo hoje apenas quatro
delas.
A
cláusula 61, a que os historiadores conhecem como “cláusula de
segurança” e que estipulava a criação de uma comissão de 25
barões encarregada de vigiar a aplicação da Magna Carta,
pressupunha uma humilhação inaceitável para qualquer governante,
pois tornava-o formalmente num refém dos seus próprios súbditos.
Imediatamente
depois de ser assinada, a Carta foi praticamente ignorada por ambas
as partes; os barões não levantaram o cerco a Londres e o rei
apelou para o Papa, que excomungou tanto o Arcebispo como os
revoltosos, declarando que o documento “era nulo e vazio de
qualquer conteúdo”, o que levou ao começo da Primeira Guerra dos
Barões que durou de 1215 a 1216, altura da morte de João I.
Para
os seus contemporâneos a Magna Carta foi um fracasso, com aplicação
problemática uma vez que nenhuma das partes tinha a intenção de
cumprir o acordado. Mas os compromissos que continha foram
retomados nas décadas seguintes e, com algumas alterações, acabou
por ser integrada na legislação inglesa.
Curiosamente,
embora as cláusulas da Magna Carta na sua grande maioria tenham sido
anuladas ao longo do tempo, substituídas ou simplesmente tornadas
irrelevantes, 800 anos depois três delas - sobre a liberdade da
igreja de Inglaterra, sobre as liberdades da cidade de Londres e
sobre a recusa da privação de liberdade de forma arbitrária -
continuam em vigor na lei inglesa, provando a imortalidade e invulgar
atualidade de um dos mais importantes documentos da história
universal.
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