quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre as Palavras

A palavra é de prata, o silêncio é de ouro.
As boas palavras custam pouco e valem muito.
A palavras loucas, orelhas moucas.
Boca fechada não fala.
Diz a boca o que o coração sente.
Falas de mel, coração de fel.
Palavras leva-as o vento.
Palavra de rei não volta atrás.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
Palavra puxa palavra.
Palavra dada, escritura assinada.
Pela boca morre o peixe.
Por falar se ganha, por falar se perde.
Quem tem boca vai a Roma.
Quem conta um conto, acrescenta um ponto.
Quem muito fala, pouco acerta.
Quem diz o que quer, ouve o que não quer.

Provérbios árabes
Quem refreia a língua, defende a cabeça.
Há palavras que ferem mais do que espadas.
É melhor uma escorregadela do pé do que da língua.
A palavra doce não fere a língua.
Sábio é o que observa antes de falar.
Provérbios chineses
Não são os que melhor falam que têm mais coisas para dizer.
Quanto mais o coração se enche, mais as palavras se esvaziam.
Uma palavra vinda do coração mantém-se quente três invernos.
Se tens a palavra na ponta da língua, guarda metade.
A língua pode dar bons conselhos, mas também provoca as guerras.
Provérbios judeus
A flecha que a língua atira, mata sempre mais longe.
Fala pouco e age muito.
Fala sempre com a tua própria língua.
Palavras saídas do coração voltam ao coração.
De boca em boca a notícia chega a Roma.
Provérbios africanos
O pássaro apanha-se pelas patas, o homem pela boca.
Todas as notícias são interessantes se forem ouvidas da boca de quem as traz.
Quem não quer ouvir o que a mãe lhe diz, perceberá o que a desgraça lhe disser.
Dizer não é fazer.
As palavras não apodrecem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Primeira Advogada Portuguesa


Regina da Glória Pinto de Magalhães Quintanilha de Sousa Vasconcelos, nasceu em Santa Maria, Bragança, a 9 de Maio de 1893, filha de Francisco António Fernandes Quintanilha e de Josefa Ernestina Pinto de Magalhães, cuja família se dizia descendente do navegador Fernão de Magalhães.
Estudou em Bragança até aos 16 anos, partindo depois para o Porto a fim de terminar os estudos liceais. Em 1910, pede a sua matrícula na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, o que obrigou o Conselho Universitário a reunir-se propositadamente para deliberar sobre o ingresso de um aluno do sexo feminino, dado que a advocacia estava vedada às mulheres, pelo artigo 1354, nº2, do Código Civil português de 1867. A 24 de Outubro desse mesmo ano, com 17 anos de idade, Regina Quintanilha torna-se na primeira caloira a atravessar a porta férrea da Universidade, sendo recebida por toda a Academia formada em alas com as capas no chão a dar-lhe passagem.
Em apenas 3 anos termina o Curso, sendo a primeira mulher licenciada em Direito e a exercer a advocacia em Portugal.
Estreou-se como advogada, oficiosamente (apesar de lhe faltar fazer ainda a cadeira de Medicina Legal), a 14 de Novembro de 1913, no Tribunal da Boa Hora, a defender duas mulheres acusadas de agredirem uma outra, depois do Supremo Tribunal de Justiça lhe ter dado autorização para advogar. Com o título “A primeira advogada portuguesa”, o jornal "A Luta", de 15 de Novembro, relatava da seguinte forma a sua estreia:
"…inquiriu as testemunhas e, apezar de ter sido apanhada de surpreza, mostrou as suas faculdades de intelligência, fazendo salientar em favor das rés todas as circunstâncias favoráveis à defesa. Ao ser-lhe dada a palavra, d’ella usou durante algum tempo com muito brilhantismo, deixando em todos a impressão de que de futuro, a dedicar-se à carreira da Advocacia, muito há a esperar da sua intelligência".
Apenas em 1918 o Decreto n.º 4676, de 19 de Julho, viria a consagrar a abertura plena da Advocacia às mulheres.
Não nos podemos esquecer que só em 1890 as raparigas são autorizadas a frequentar os liceus públicos e só 16 anos depois é criado o primeiro liceu feminino. Em 1910, a escolaridade obrigatória era dos 7 aos 11 anos. Para as mulheres, estava normalmente destinada uma instrução elementar, não lhes sendo pedido mais do que as funções de mulher e de mãe. As mentalidades da sociedade portuguesa da altura não estavam preparadas para dar lugar às mulheres no exercício de profissões liberais.
Ainda em 1933, ao médico e escritor Dr. Júlio Dantas lhe “custa a admitir que uma mulher se forme em Direito”.
Para além de Advogada, exerceu sucessivamente os cargos de Notária, Conservadora e Conservadora do Registo Predial, sendo assim, não só em Portugal, como também na Península Ibérica, a primeira mulher a desempenhar tais cargos.
Casa em 1917 com o Juiz Vicente de Vasconcelos, mais tarde Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, de quem tem dois filhos. Parte para o Brasil onde colabora na reforma da Lei Brasileira e exerce advocacia não só no Rio de Janeiro, mas também nos Estados Unidos da América. Volta mais tarde a Portugal, e em 1957 requer a suspensão da sua inscrição na Ordem dos Advogados. É autora de diversos trabalhos de natureza jurídica
Regina Quintanilha faleceu em Lisboa, na sua casa da Rua Castilho, a 19 de Março de 1967.

Fontes:
www.oa.pt/cd
www.wikipedia.pt


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Custódia de Belém


A mais famosa obra da ourivesaria portuguesa, quer pelo seu mérito artístico, quer pelo seu significado, foi mandada lavrar pelo rei D. Manuel I, com o primeiro ouro trazido do reino de Quiloa (500 moedas enviadas pelo Sultão deste reino como tributo), por Vasco da Gama na sua 2ª viagem à India em 1503, e doada depois ao Mosteiro de Santa Maria de Belém (Jerónimos).
Esta obra-prima do gótico final, atribuída a Gil Vicente, demorou 3 anos a ser executada, conforme se pode ler na legenda que corre em torno da base:
O. MVITO. ALTO. PRI(N)CIPE. E. PODEROSO. SE(N)HOR. REI. DÕ. MANVEL.I. A. MANDOV.FAZER. DO OVRO. I .DAS.PARIAS. DE. QVILOA. AQVABOV. E.CCCCCVI
A palavra custódia significa em latim guarda, e em linguagem sacra designa o vaso usado para guardar e expor à veneração dos fiéis o Filho de Deus, eucarísticamente presente na Hóstia Consagrada, em torno da qual, nesta peça prodigiosa, se ajoelham os doze apóstolos perfeitamente individualizados. Sobre eles paira uma pomba oscilante em ouro esmaltado a branco, símbolo do Espírito Santo, e, no plano superior, a figura de Deus Pai sustenta o globo do Universo, materializando-se deste modo, no sentido ascensional, a representação das três pessoas da Santíssima Trindade, o Novo e o Antigo Testamento.
As esferas armilares, divisa de D. Manuel I, que definem o nó, como que a unir dois mundos (o terreno, que se espraia na base e o sobrenatural, que se eleva na estrutura superior), surgem como a consagração máxima do poder régio nesse momento histórico da expansão oceânica, confirmando o espírito da empresa do Rei Venturoso e o propósito documental que o grande mestre teve em vista.
A base, polilobada e de perfil elíptico, é preenchida nas suas faces por meio-relevos esmaltados, com motivos naturalistas zoomórficos - caracóis e pavões - e de cariz vegetalista - frutos e flores.
A haste hexagonal apresenta um trabalho vazado de fenestrações do gótico flamejante e um nó ressaltado, onde foram aplicadas seis esferas armilares em esmalte.
O corpo da custódia é marcado pela composição de doze esmaltadas figurinhas de Apóstolos, ajoelhados e em oração, rodeando o cilindro de cristal. Cobre-o um alto e esbelto baldaquino hexagonal, magnificamente trabalhado com arcarias góticas e pináculos cogulhados. Dividido em dois andares, o primeiro encerra a pomba do Espírito Santo e o superior possui a figura do Padre Eterno, rematando a composição uma cruz latina esmaltada.
Lateralmente, duas esguias pilastras sustentam o baldaquino central e apresentam uma série de arcos, onde se inserem estátuas miniaturais de anjos e profetas e ainda uma "Anunciação" - com as minúsculas figuras da Virgem e de S. Miguel Arcanjo.
Esta profusão decorativa, encerra na sua disposição iconográfica, uma eminente carga simbólica, oscilando entre o poder real e o poder divino, entre a esfera terrestre e a esfera celeste. Na base subsiste o mundo terreno e natural, que é presidido pelo poder régio de D. Manuel I, simbolizado pelas esferas armilares no nó da peça. O divino povoa toda a parte superior da Custódia, aludindo explicitamente à Santíssima Trindade.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, a custódia foi retirada do Mosteiro dos Jerónimos e enviada à Casa da Moeda para fusão. Salva da destruição pela acção esclarecida de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II de Portugal esta preciosidade da ourivesaria nacional passou a integrar as colecções de arte que este rei mecenas possuía no Palácio das Necessidades. Com o advento da República, a custódia foi transferida para a sua actual morada, o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Há poucos anos foi alvo de uma intervenção de limpeza, tratamento e consolidação do ouro e dos esmaltes sendo totalmente desmontada peça a peça e restaurada com grande cuidado.

Fontes:
www.mnarteantiga-ipmuseus.pt
www.infopedia.pt
www.wikipedia.org

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Dia de S. Martinho

Este ano não tivemos o tradicional bom tempo do chamado Verão de S. Martinho, mas, mesmo com chuva e pouco sol, as castanhas assadas, quentinhas, sabem sempre bem!
E para animar o serão, aqui vão umas adivinhas:

Qual é a coisa, qual é ela,
Tem três capas de Inverno:
A primeira mete medo
A segunda é lustrosa
E a terceira é amargosa?

Alto foi meu nascimento
De donzela recolhida;
Quando ia para me rir
Tal foi a queda que dei,
Que a casa não mais voltei!

Qual é a coisa qual é ela
Está no alto pendente,
Abre a boca
Cai-lhe o dente?


Não adivinham?
É a……




BOM MAGUSTO!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Poemas M. Torga


LIÇÃO

Oiço todos os dias,
De manhãzinha,
Um bonito poema
Cantado por um melro
Madrugador.
Um poema de amor
Singelo e desprendido,
Que me deixa no ouvido
Envergonhado
A lição virginal
Do natural,
Que é sempre o mesmo, e sempre variado.

Miguel Torga – Diário X (1968)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Consequências das invasões árabes


Depois da conquista da Península, que passará a ser designada por “Al-Andaluz”, as terras foram repartidas pelos conquistadores, cabendo um quinto das mesmas ao califa como presa de guerra.
Em apenas cinco anos (711 a 716), os árabes completaram a ocupação do território, com excepção da região montanhosa das Astúrias, onde se refugiaram os cristãos, comandados por Pelágio.
Os nobres visigodos que se submeteram ao novo poder puderam conservar os seus domínios com autonomia política e em alguns casos especiais, a prática da sua religião; os que opuseram alguma resistência foram obrigados a uma completa submissão em condições mais ou menos duras, consoante o grau de oposição.
Quanto à população não muçulmana (moçárabes, cristãos e judeus), os árabes mostraram-se em geral tolerantes para com os usos e costumes locais, incluindo a prática da religião, mas impondo para isso, um tributo.
Sob o ímpeto do islamismo a Península recupera a sua vocação mediterrânica, voltando às antigas rotas comerciais, as cidades e os negócios florescem; a indústria renova-se. Artesãos e comerciantes associam-se em grémios, abrem-se mercados e novas redes comerciais. Os judeus, sob a protecção dos califas, dedicam-se ao comércio e á indústria, à diplomacia, à medicina e à administração, onde alcançam cargos elevados.
Na sequência das várias lutas pelo poder, estabeleceram-se também na Península vários grupos étnicos como os negros, os eslavos e também sírios e iemenitas.
As cidades árabes do Al-Andaluz no sec. X alcançam grande esplendor, com destaque para Córdova, que chega a possuir 250.000 habitantes.
Sob a influência da brilhante civilização árabe, traduzem-se obras científicas, desenvolvem-se a filosofia, a medicina e as matemáticas, cujos princípios foram buscar a Euclides. A eles devemos o nosso sistema de numeração, com a introdução do uso dos algarismos árabes. A álgebra, a trigonometria, a física, a química, a arquitectura e a arte decorativa também sofreram um grande avanço sob o seu domínio. Além das matemáticas, tinham uma grande predilecção pela astronomia, sendo também excelentes geógrafos e navegadores.
À língua árabe fomos buscar palavras como álcool, arabesco, algodão, sofá, almofada, azul, algarismo, anilina, açúcar, garrafa, jasmim, açafrão, espinafre, ou termos comerciais: bazar, armazém, tarifa. Termos marítimos: almirante, barca, fragata, arsenal…Nomes de terras: Almada, Alcácer do Sal, Algeciras…
Retomaram a exploração das minas de prata e ouro, mas é principalmente na área da agricultura e da propriedade rústica que a influência árabe mais se fez sentir na Península Ibérica. O desenvolvimento das técnicas de regadio e a construção dos moinhos de água e das azenhas, assim como a introdução da nora e da cegonha para extracção da água dos poços, transformaram por completo o aspecto agrícola do Sul andaluz:


Deus meu! A nora transborda de água doce num jardim cujos ramos estão cobertos de frutos já maduros.
As pombas contam-lhes as suas penas, e ela responde repetindo notas musicais…
Sad al-Khair, de Valência, em A Nora.


O centro da produção agrícola do Al-Andaluz foi constituído pelas principais culturas mediterrânicas: cereais, videiras e oliveiras. Mas trouxeram-nos, entre outros, o cultivo do algodão, do arroz, deram-nos a tamareira, a cana-de-açúcar, a beringela, a alcachofra, a amendoeira (que ainda hoje nos deslumbra com as suas flores brancas), e as sumarentas laranjas cantadas pelo poeta Ibn Sara, nascido em Santarém:


Serão brasas que mostram sobre os ramos as suas cores vivas, ou rostos que assomam entre as verdes cortinas dos palanquins?
Serão os ramos que se balançam, ou formas delicadas por cujo amor sofro o que sofro?
Vejo que a laranjeira nos mostra os seus frutos, que parecem lágrimas coloridas de vermelho pelos tormentos de amor…


Apesar de tudo isto, os vestígios da arquitectura islâmica em Portugal são relativamente escassos, ao contrário do que sucede em Espanha, principalmente em Córdova, Sevilha ou Granada, e estão centrados principalmente no sul do país, onde a ocupação efectiva foi mais prolongada. Os vestígios da Cerca Moura em Lisboa, os castelos de Santa Maria da Feira e de Silves com a torre datada de 1227 e um poço-cisterna do sec. XII são alguns dos que chegaram até aos dias de hoje. Mas é na antiga mesquita de Mértola, transformada depois na Igreja de Santa Maria da Assunção que esses traços são mais visíveis, dando-nos uma ideia do que seria a arquitectura religiosa.
O seu domínio durou cerca de oito séculos, mas a derrota árabe em Poitiers, o avanço da Reconquista Cristã e principalmente as frequentes lutas internas pelo poder, levaram a que em 1492 o reino nasrida de Granada, ultimo reduto árabe na Península, fosse conquistado pelos Reis Católicos, Isabel e Fernando de Aragão.
Em Portugal, esse domínio terminou com a conquista do reino do Algarve (Gharb Al-Andaluz) em 1249, quando o rei D. Afonso III tomou Silves.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Coelho, António Borges – Portugal na Espanha Árabe
Alves, Adalberto – O meu coração é Árabe
História Universal, vol IX, editada pelo Jornal “Público”




terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dia de Finados


Amiga

Para muitos, a Morte talvez seja
Aquela figura sinistra, que de gadanha,
Ignorando idades, crenças ou riqueza,
Sem dó, toda a gente arrebanha.

Mas para mim, não! Não é assim
Que penso nela, que a imagino,
Quando soar a derradeira hora, enfim,
De terminar na Terra o meu destino…

É uma figura etérea, mas não sombria,
Que me chama dizendo:”Amiga vem,
Não temas, a tua vida chegou ao fim…”

E pegando-me com a sua mão alva e fria
Leva-me, sorrindo, para algures no Além
Onde alguém, há muito espera por mim!

N.G.