É no dia 6 de Janeiro que se celebra a chegada dos Reis Magos a Belém, a fim de adorarem o Menino e oferecerem-lhe os seus presentes: ouro, incenso e mirra.
Para estes Magos, o recém-nascido seria um dia o Rei do Mundo. Ora, um rei era o detentor de toda a vida humana e cósmica, o intermediário entre o Céu e a Terra. Por isso as suas ofertas atestavam o reconhecimento das suas funções: real (ouro), sacerdotal (incenso) e profética (mirra).
Para homenagear estes Reis, alguém criou uma iguaria particularmente deliciosa: o Bolo-Rei.
De forma redonda com um grande buraco no meio, enfeitado de frutos secos e cristalizados, de cores variadas, assemelha-se a uma coroa incrustada de pedras preciosas…
E até há bem pouco tempo, dentro da sua massa fofa e saborosa, escondiam-se uma fava e um brinde. Quem encontrasse a fava, teria de pagar o jantar ou então um Bolo-Rei no ano seguinte. Quanto ao brinde, era engraçado ver a alegria da pessoa que o recebia, por muito pequeno ou insignificante que fosse!
Infelizmente, a União Europeia, por alegados motivos de segurança, proibiu a sua inclusão.
Por detrás do bolo-rei está toda uma simbologia com mais de 2000 anos de existência. De uma forma muito resumida, pode dizer-se que esta doce iguaria representa os presentes que os três Reis Magos deram ao Menino Jesus aquando do seu nascimento: assim, a côdea simboliza o ouro; as frutas, cristalizadas e secas, representam a mirra; e o aroma do bolo assinala o incenso.
Ainda na base do imaginário, também a fava tem a sua "explicação". Reza a lenda que, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino. Com vista a acabar com aquela discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava. O Rei Mago a quem calhasse a fatia de bolo contendo a fava seria o primeiro a entregar o presente. O dilema ficou solucionado, embora não se saiba se foi Gaspar, Baltazar ou Belchior o feliz contemplado.
Historicamente falando, a versão é bem diferente. Os romanos usavam as favas para a prática inserida nos banquetes das Saturnais, durante os quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também designado Rei da Fava. Este costume terá tido origem num jogo de crianças muito frequente durante aquelas celebrações e que consistia em escolher entre si um rei, tirando-o à sorte com as favas.
Este inocente jogo acabou por ser adaptado pelos adultos, que passaram a fazer uso das favas para votar nas assembleias.
Dado aquele jogo infantil ser característico do mês de Dezembro, a Igreja Católica decidiu relacioná-lo com a Natividade e, depois, também com a Epifania (os dias entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro). Esta última data acabou por ser designada pela Igreja como Dia de Reis, e simbolizada por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece.
Em Espanha e noutros países da Europa, procuram manter a tradição, não só comendo o bolo-rei como aproveitando a ocasião para distribuir os presentes pelas crianças.
Para além desta, havia uma outra tradição, da qual poucos terão conhecimento, que afirmava que os cristãos deveriam comer 12 bolos-reis, entre o Natal e os Reis, festa que muito cedo começou a ser celebrada na corte dos reis de França.
O bolo-rei terá, aliás, surgido neste país, no tempo de Luís XIV, para as festas do Ano Novo e do Dia de Reis. Com a Revolução Francesa, em 1789, a iguaria foi proibida, mas, como bom negócio que era, os pasteleiros continuaram a confeccioná-lo sob o nome de gâteau des san-cullottes.
Vários escritores da época escreveram sobre esta iguaria, e até mesmo o pintor francês Jean-Baptiste Greuze (1725-1805), o imortalizou num famoso quadro com o nome Epiphanie (Le Gâteau des Rois), datado de 1774, e que apresento no fim deste post (clicar no quadro para abrir).
Com isto parece não haver dúvidas que o Bolo-Rei tem verdadeiras origens francesas, apesar do Bolo-Rei popularizado em Portugal no século passado nada ter a ver com o bolo simbólico da festa dos Reis existente na maior parte das províncias francesas a norte do rio Loire, na região de Paris, onde o bolo é uma rodela de massa folhada recheada de creme, que se vende acompanhado de uma coroa.
Tanto quanto se sabe, a primeira Casa a vender e confeccionar o Bolo-Rei em Portugal foi a Confeitaria Nacional, em Lisboa, por volta do ano de 1870, bolo esse feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.
A pouco e pouco, outras confeitarias também passaram a fabricá-lo o que deu origem a várias versões.
No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890 por iniciativa da Confeitaria Cascais feito segundo receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.
Mas foi com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 que vieram os piores tempos para o Bolo-Rei ficando em risco a sua existência, tudo por causa da palavra “rei”, símbolo do poder supremo que tinha sido derrubado. Ora morto este símbolo, o bolo tinha que desaparecer ou arranjar outra designação.
Os pasteleiros continuaram a fabricá-lo mas com o nome de bolo de Natal ou bolo de Ano Novo.
A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal, e também por estar relacionado com o país, o que ficava bem em período revolucionário.
Não contentes com nenhuma destas ideias, os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente.
Com o passar do tempo, o bolo, felizmente, recuperou o seu nome original e apesar da proibição da fava e do brinde, continua a ser um dos símbolos da quadra natalícia e a encher de clientes as pastelarias nesta altura do ano.
Fontes: www.jornaldascaldas.com
Excelente
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